sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Timbre de Guitarra - Como Avaliar? (Parte 3)


Aproveitei um post no fórum da GP (onde o pessoal realmente discute os tópicos) e vou colocá-lo aqui.
Uma dúvida frequente: Guitarra sólida, semi acústica e acústica - quais as diferenças?


A diferença básica entre uma semi acústica e acústica é que a primeira, além de mais fina, tem um bloco sólido (geralmente maple) no centro, que permite a colocação de pivôs de fixação da ponte e retentor de cordas. As semi acústicas às vezes podem soar um pouco "magras", pois a câmara não é alta o suficiente pra amplificar as frequências mais baixas e, justamente por serem em grande parte ocas, falta-lhes densidade no corpo.


        Câmaras - aí está uma confusão muito comum: as câmaras têm o propósito de amplificar os sons provenientes da vibração das cordas e das madeiras. Dependendo do material, formato e tamanho, algumas frequências são mais amplificadas que outras. Frequências baixas/graves necessitam de espaço, por isso os instrumentos graves têm câmaras maiores - é só pensar em violino, cello e contra baixo de orquestra... Assim, câmaras tem o objetivo primordial de amplificar. São passivas, não geram sons, mas podem modificar a relação de volume dos sons gerados.
       Pequenas cavidades são irrelevantes para os nossos ouvidos. Imaginem então micro cavidades, como os poros. A Gibson deixa bem claro que os 9 furos (diâmetros quase de uma moeda de 1 real) que ela faz para alívio de peso nas Les Paul não interferem na sonoridade da guitarra - "a cavidade é muito pequena para criar reflexões"...
        As ondas sonoras, como aprendemos na escola, propagam-se mais rápido quanto mais sólida for a matéria. Uma das características das madeiras é a "velocidade de condução" sonora. Poros, obviamente, atrasam a condução das ondas. Quanto mais sólidas e próximas forem as fibras, mais rápida a passagem do som. Além disso, as ondas manifestam-se em frequências - quanto maior a frequência de vibração, mais agudo e mais rápido é o som (trovoada: ouvimos primeiro o estalo e depois o grave). Por que uma guitarra com corpo de maple (mais denso, menos e menores poros) soa mais aguda que uma de mogno (fibras mais espaçadas, mais e maiores poros)?


        Uma das características mais marcantes das Les Paul é o "timbre tridimensional, complexo". Ouvimos primeiro o ataque, punch de médios e agudos firmes do maple e uma fração de segundo depois, o corpo, grave e agudos macios do mogno... Nossos ouvidos entendem como um único som, mas na verdade são dois, por isso a beleza do timbre.

       O primeiro protótipo de 1952/53 era todo de mogno e o Ted McCarty (presidente da Gibson) disse: "falta ataque e agudo" (lembrem-se que eles estavam fazendo uma resposta à Telecaster, sucesso da Fender na época). Fizeram o segundo todo de maple e ele: "Falta grave - juntem as duas madeiras". E daí nascia a lenda (o Les Paul não participou dessa etapa importantíssima).


        Numa guitarra sólida, 99% do timbre (de sua estrutura) estará relacionado à VIBRAÇÂO do corpo + braço, em resposta ao movimento das cordas. Ela vai ressoar (nesse caso, criar) frequências próprias (mais fracas), que serão acrescentadas às das cordas (mais fortes). Pensem no captador como um microfone (e uma antena também) que é ativado eletricamente pelo movimento das cordas de metal (princípio do gerador eletromagnético). Ao ser ativado, ele capta tudo que está próximo: as frequências da corda (fonte mais forte), palheta, deslizar dos dedos, impactos E a vibração das madeiras. Numa guitarra semi acústica, capta também os sons que a câmara amplifica.

       Não tenham dúvida - ao tocarmos um lá na 5ª corda, quase tudo que ouvimos vem da frequência fundamental (440 Hertz) e seus harmônicos (múltiplos dela). Mas aqueles 5 a 10% de frequências da estrutura da guitarra são o tempero da coisa. Numa audição grosseira, desatenta, leiga, esse mesmo "Lá" pode parecer idêntico numa Les Paul Gibson Custom Shop de 15.000 reais e numa Les Paul Michael de 500 reais. A saturação, quando adicionada, condensa, achata e comprime as frequências, deixando tudo ainda mais semelhante.
Captadores de alto ganho traduzem com tanta força as frequências das cordas que não sobra "espaço" nem no circuito de input do amp e nem nos nossos ouvidos para as nuances das outras frequências.

"Nuance" é o termo. Eu vejo caras testando guitarras com captadores de 12k pra cima - a maioria cerâmico - pedais e/ou amps acrescentando saturação e fico pasmo como eles ainda tem a audácia de julgar as madeiras :). Até um toco de lenha vai ficar parecido com um mogno hondurenho de ressonância divina.
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        Bem, eu poderia continuar postando sobre como avaliar timbre de guitarra, mas o universo de variáveis que existe entre a mão do guitarrista e o alto-falante do amplificador é infinito. Multiplique pela também infinidade de gostos e preferências pessoais e... Nem pensar! :)

Captadores são importantíssimos mas já fiz dois posts bem completos sobre eles (Parte I e Parte II), além das demos em vídeo de vários tipos que utilizo. Portanto, paramos por aqui. Tipos de guitarras, madeiras e captadores são os 3 elementos essenciais a serem dominados e já fiz meu dever de casa. :)




terça-feira, 11 de setembro de 2012

Guitarras Caras? Pergunte Para o Tom Morello

        Embora o considere um guitarrista inovador, não sou fã, não curto a banda. Mas acabei de ver um vídeo de suas guitarras e apareceu essa Saint George da década de 60, japonesa, provavelmente feita pela Shiro ou Kawai Teisco. Tom Morello a comprou numa loja de penhores no Canadá por 40 dólares!


Colocou um DiMarzio Hot Rail na ponte, compôs, gravou e ganhou um Grammy em 1997 (música "Tire Me" - Melhor Performance Metal) com essa guitarra e um amplificador transistorizado de 20 watts!!
Ele mesmo admite que na época comprava guitarras mais pelo aspecto que timbre, porém surpreendeu-se com o som dela.

Mais um ponto pra ideia de que pelo menos 80% do timbre tá na mão (e alma) do guitarrista... :)
Aqui, o vídeo:


domingo, 9 de setembro de 2012

Timbre de Guitarra - Como Avaliar? P2: Braços e Frequência de Ressonância

      Aproveitando que tinha quatro braços soltos por aqui, verifiquei a frequência de ressonância de cada um deles. Pra minha surpresa, o braço de maple/maple de uma strato Fender Squier soou muito grave. O primeiro, de maple canadense, é mais agudo. Isso me fez voltar à mente a velha suspeita de que até o maple que os chineses usam nos braços não é americano/canadense... Nada de novo por aí... KKKK!

O braço de Marfim com escala de Jacarandá brasileiro é o mais agudo. Nenhuma surpresa: o jacarandá brasileiro é bem mais ressonante que o indiano.

      Chamo a atenção de vocês para um detalhe importante: A FR é somente a frequência dominante, aquela que nossos ouvidos identificam como "tom". Quando avaliei no analisador de espectro do Sound Forge, pude perceber o quanto as outras frequências variam - e influenciam no "timbre" geral, inclusive na percepção de volume. E pra nós, o que interessa é o timbre final, que é o conjunto e interação das frequências.
Geralmente as frequências secundárias são múltiplas da principal. Com exceção do braço Squier de maple/maple, que tinha a segunda frequência mais alta perto de 84 Hz, a segunda frequência de todos é sempre o dobro da FR , aproximadamente.
No analisador de espectro, o braço que tem mais equilíbrio na amplitude e distribuição das frequências é o último (um Mighty Mite).

Segue o vídeo: