sexta-feira, 31 de maio de 2013

Guthrie Govan - Técnica a serviço da música.

Oscar Isaka Jr.

POOOTZZ , lá vem os puristas malhar um fritador... Calma gente não é bem isso.... kkk !

         Quando estava na minha viagem de férias meu "cumpadi" Frederico enviou um e-mail avisando que ia ter Workshop do Guthrie Govan aqui em Curitiba e perguntando se eu não tava a fim de ir que ele compraria nossos ingressos. Se tem uma coisa que eu gosto tanto quanto ir em lojas de instrumentos comprar minhas guitarras é ir em shows e workshops, especialmente do escalão nosso nosso amigo londrino, então prontamente aceitei.

     
         Contando um pouco da sua história, Guthrie Govan disse que começou a tocar aos 3 anos de idade e  sempre tentava reproduzir as melodias e acordes que escutava na guitarra  mesmo sem saber direito o que estava fazendo e que ao contrário do que parece, ele nunca foi uma criança que ficava horas tocando com um metrônomo. A técnica que possui hoje é um resultado de tocar muito sim, mas aquilo que gostava. Lembro de ele ter enfatizado umas 4-5 vezes durante o workshop que todos nós deveríamos usar a guitarra (ou qualquer outro instrumento) como um meio pra fazer a música dentro da gente sair pelo amplificador. Até aí nada de anormal, quase todos eles falam isso, mas eu veria mais pra  frente que esse cara tinha algo diferente, além da capacidade de tocar fusas...


Entre tocar músicas de maneira perfeita seja de seu álbum solo ou com sua banda "The Aristocrats", algumas perguntas da platéia eram feitas e duas se destacaram pra mim...
A primeira:

Pessoa: Gostaria de saber se vc tem uma rotina de estudos com palhetada alternada, escalas e etc....
Guthrie Govan: Não, isso é como tirar a diversão daquilo que eu gosto de fazer, que é música. Sempre toquei as músicas que eu gostava e tentava tocar da maneira mais limpa e perfeita que eu podia. Acho que assim desenvolvi minha técnica naturalmente. Tirava os acordes de Jazz de ouvido e em algum momento eu quis saber os nomes daqueles trecos que eu fazia (referindo-se aos acordes) e por isso estudei um pouco de teoria, mas estudar técnica pra mim é como o Bart Simpson (de castigo) escrevendo no quadro negro "Não vou mais fazer isso, não vou fazer mais isso..." .

Depois de responder ele emendou ainda: "Nós homens temos esse treco chamado testosterona que diz que sempre temos que ser melhores que o outro cara. Tive alunos que estudavam horas de técnica só pra dizer que tocavam tão rápido quando o Malmsteen, mas cadê a música?"

Seguindo a pergunta 2:

Pessoa 2: Vc conheçe Allan Holdworth?
Guthrie Govan : Sim, já toquei com ele uma vez.
Pessoa 2:  Vc poderia falar sobre o estilo dele e tocar um pouco?
Guthrie Govan : Até poderia, mas acho que você está no Workshop errado. Estou aqui pra ajudá-los, não pra ficar fazendo pirotecnias na guitarra....

Esses dois pequenos diálogos fizeram com que esse cidadão esguio e de barba estranha ganhasse 100% do meu respeito e atenção.

          Hoje gosto muito de um Blues e da espontaneidade do Rock mas aprendi a tocar guitarra escutando metal, já tive meus períodos em que guitarrista bom era guitarrista técnico. Guthrie Govan claramente não está nem aí pra tocar rápido ou mostrar sua exuberante técnica, mas sim para fazer SUA MÚSICA. E daí que ela tem muitas notas? É a música que o cara faz! Concordo que essa pode eventualmente ser "meio chata", que é "música pra músico" e etc, mas Steve Vai e Satriani também não sofrem do mesmo mal muitas vezes? Como todo exímio guitarrista de Fusion, ele incorpora todos os ornamentos possíveis no seu tocar, aplicando com muita propriedade os múltiplos elementos a fim de gerar um vocabulário guitarrístico abrangente, que tanto pode ser chato como um poema de Camões ou uma obra prima como uma pintura de Picasso. Ao invés de explorar as cores de uma Les Paul com timbres complexos e dinâmicas bluseiras, prefere saborear os modos gregos e sonoridades dos intervalos das escalas e campos harmônicos mais rebuscados com técnica exuberante, mas sempre com coerência e propósito.

Aqui uma aula do mestre Govan. Muito interessante como ele faz a metamorfose de uma pentatônica:


terça-feira, 28 de maio de 2013

Gibson SG 61 e 345 Stereo 63 e Fender Stratocaster 69 - Em Busca do Cálice Sagrado (Parte 2)

Oscar Isaka Jr.



          Decidimos (eu e o Paulo) contar a saga em partes pois nessa viagem, além da busca pela Les Paul do Paulo, teve muita coisa interessante. Foram duas semanas de intensa atividade guitarrística que vamos tentar dividir com vocês. Descrever timbres em palavras é meio complicado podendo soar até ridículo e engraçado em alguns momentos mais metafóricos, mas temos alguns vídeos pra auxiliar nessa tarefa.

         O destino era Austin, no estado do Texas, onde morei e fiz meu intercâmbio cultural em 2000. Fui justamente visitar a família que me acolheu e com a qual mantenho contato até hoje.

A decoração do próprio aeroporto já sugere que estamos no lugar certo!

Para poder achar uma guitarra foda, eu precisava construir algumas referências e nada melhor que ir às lojas e testar guitarras. Meu plano era visitar as grandes Guitar Center e lojas locais na esperança de encontrar algumas Reissues e quem sabe alguma vintage de verdade.

Essa era a primeira vez que eu estava nos EUA depois que virei um fanático por timbres e queria por em prática, direto na fonte, tudo aquilo que tinha experimentado e lido nos últimos 4 anos.
Como soaria uma Strato velha? Um P90 dos anos 60? Uma Tele dos anos 50? Será que os timbres que temos hoje à nossa disposição com as "Reissue" é realmente próximo ao das originais antigas? Todas essas perguntas estavam com prioridade alta nas minhas sinapses enquanto vagava por Austin e parava em qualquer beco com uma placa que dizia "Guitars", mas confesso que minha esperança maior era achar uma Gibson Les Paul Sunburst original com PAFs (o verdadeiro Cálice Sagrado das guitarras) e constatar pessoalmente o som intangível e mágico que a combinação LesPaul + PAF gera.
Eu e o Paulo passamos incontáveis horas, dias, meses discutindo, lendo e pesquisando sobre o assunto, mas nenhum de nós tinha a referência real e definitiva.


A primeira loja que parei tinha um aspecto de Pawn Shop (Casa de Penhores), com guitarras usadas, e amps empoeirados de marcas que eu nunca tinha ouvido falar, por todos os cantos. A SouthAustinGuitars me parecia o lugar perfeito para achar raridades e coisas bacanas! Logo na entrada vi uma parede onde estavam penduradas uma Gibson 345 Stereo 1963, uma Gibson SG Special 1961 e uma Fender Strato 1969! Comecei bem a minha caminhada. :-)

A Gibson SG 1961 com dois P90 foi a escolhida para começo das atividades. Pedi pra testar essa mais pela curiosidade por ser uma 61, pois nunca tinha me entendido bem com os P90. Ainda bem que a testei.
Muito já li sobre a diferença dos P90 vintage e atuais e pude constatar isso com essa SG. O som rude, sem frescuras e direto veio esmurrando o coitado do Deluxe Reverb com aquele médio agressivo bem característico, sem sobras! Captador da ponte com um certo twang com médios característicos de Tele e o cap do braço com um som de single gordo e agressivo, quase como um humbucker, mas muito articulado! Notem no vídeo o ataque das notas graves na região baixa da escala - em nenhum momento sobram agudos e nem sibilância e os médios mordem como um cão raivoso!!
E a saturação então?? POOOTTZZ!!!  AGORA SIM experimentei o real sabor do P90 clássico e confesso que gostei bastante do que ouvi. Dá pra tocar de tudo com esses captadores, desde um Blues até um Rock/Hard Rock!!  Preço: US$ 5.000,00. Se eu não tivesse ambições maiores nessa viagem, teria levado a guitarra pra casa. Adorei essa SG!
Gibson SG Special 1961


         A próxima foi a Gibson 345 1963 que pedi pra testar com o maior medo de levar uma invertida (trauma de algumas lojas por aqui) mas pra minha surpresa o vendedor disse "Sure"!
Pausa: A Gibson 345 é uma semi-acústica parecida com a famosa 335 em construção, mas que contém um seletor de 5 posições que aciona capacitores para vários timbres diferentes, chamado "Varitone" (a famosa Lucille de BB King possui esse sistema) e saída estéreo para dar a possibilidade de ligar em dois amps distintos e obter assim maior diversidade timbrística.
Na prática, o sistema não foi um grande sucesso e a maioria dos guitarristas da época a deixava MONO e desabilitava o Varitone.
Quando me trouxe a guitarra, o vendedor contou que ela havia sido modificada levemente com uma troca de trastes (era uma "player" obviamente e não uma mera peça de coleção) e seu Varitone havia sido modificado para "splitar" os dois humbuckers que pra minha sorte eram os chamados "Early PAT# Purple Wire".
Poderia escrever um livro aqui somente sobre eles (faremos em breve um post completo sobre humbuckers clássicos), mas vamos dizer por hora que esses foram os primeiros humbuckers logo depois dos PAFs autênticos e portanto mantém várias características de construção (se não todas) dos PAFs originais.

Patent # e P.A.F.

Para o teste escolhi um Fender Deluxe Reverb Reissue (foto abaixo) modificado com falante Eminence Texas Heat, trafos Mercury Magnetics e alguns capacitores substituidos pelos famosos Sozo, num conjunto de "mods" muito famoso nos EUA. Vários "modders" adquirem amps novos e instalam sua mágica antes mesmo de chegarem às lojas, possibilitando comparações com o amp padrão de fábrica. Nesse caso as mods realmente deixam um ótimo amp ainda melhor!


Esse amp tinha uma excelente profundidade nos graves (como todo BOM Fender BlackFace) e quando empurradas, as 6V6 saturavam de maneira extremamente cremosa e musical. Equilibrado em todos os sentidos. Nos FDRR "stock" que testei em outras lojas (mais tarde na viagem), havia um "fizzy" nos agudos, quase como um "FUZZ" nas frequencias mais altas e os graves eram mais magros e chochos. Ainda um bom timbre Fender, mas como minha referência estava nesse FDRR modificado, percebi que as mods realmente fazem  diferença.

Com a guitarra em mãos pluguei a bichinha e logo na primeira nota já gostei do que ouvi. O estalo do ataque dos médios seguido da compressão, detalhamento de agudos e o "bloom" que tanto li a respeito estava saindo do amp ali na minha frente. Tudo encaixou na minha referência do som do humbucker clássico! Incrível! A dinâmica impecável, resposta à palhetada, o drive... Tudo estava lá, associado claro, à característica fumacenta e oca (smoky hollow) da natureza da semi-acústica. Nada do que experimentei de captadores até hoje chega nesse som que ouvi (culpa dos captadores...), perto, mas não 100% lá!

Pela sua própria natureza e características de construção, a semi-acústica não tem o HONK  nos médios complexo da Les Paul, mas é um timbre muito bonito, bem "single coilish" e clean! O preço era US$ 7.500,00.
Gibson ES-345 Stereo 1963


          Encerrando os testes relevantes dessa primeira loja, foi a vez da Fender Stratocaster 1969. O corpo de alder bem leve, braço de maple com escala de Rosewood (veneer board) e headstock grande ainda sem o bullet no tensor. Braço gordinho e confortável, tradicional "Full C". Essa Strato tem um timbre bem percussivo e claro, com uma leve sobra de médio-agudos característica da época.
Engraçado que na hora me veio o som dos captadores Custom Shop 69 da Fender, sem muitos graves e até meio magro mas com bastante percussão, que ouvimos nas gravações da Funk Music e até mesmo de Jimmy Hendrix. Mas é notável o som das madeiras nessa guitarra com o ataque seco e "woody" que só uma Strato antiga entrega. Definitivamente um timbre clássico de Strato! Preço: US$ 15.000,00 (OUCH!). As Stratos do período de 1969 são conhecidas como "CBS Transition" por ainda manter a boa qualidade dos anos 60, antecedendo o período CBS crítico conhecido como "Dark Years" pela qualidade instável dos instrumentos. Pra vocês terem uma ideia, uma Strato 1973 (apenas 4 anos depois) pode ser achada por US$ 4500,00.

Fender Stratocaster 1969


         Acho que dei uma sorte danada por essa oportunidade de testar 3 guitarras clássicas com timbres ótimos, todas juntas! A agressividade do P90, a delicadeza dos Pat# na 345 e o estalado percussivo da Strat 69...Todos são timbres imortais e clássicos!

PS: Até Cigar Box Guitar genérica (U$300,00) não soou tão ruim assim !:-)

Cigar Box Guitar

Continua.....



domingo, 26 de maio de 2013

Les Paul Gibson R9 - Em Busca do Cálice Sagrado (Parte 1)

Paulo May        



         Para o primeiro post desse blog, em abril de 2010, decidi falar não sobre a Telecaster, minha paixão, mas sobre a lenda da Les Paul 1959, considerada a "Stradivarius" das guitarras, o "Cálice Sagrado".
Uma 59 burst original não custa menos do que 250.000 dólares e pelo menos uma já foi vendida por um milhão de dólares.

Li (quase) tudo a respeito dessa guitarra e sua lenda e concordo com o consenso geral de que suas características únicas foram fruto de uma coincidência de fatores aleatórios que provavelmente jamais se repetirão. Madeiras, captadores PAF, construção... Aparentemente essa fórmula não pode ser repetida.
Mas a própria Gibson, ciente do absurdo valor de mercado de tal instrumento, vem tentando desde pelo menos 1969 (e mais seriamente após 1986), reproduzi-lo. Não é uma tarefa fácil... A Custom Shop Gibson foi criada para essa missão e agrega vários dos melhores luthiers dos EUA em pesquisa e produção constantes.
Tecnicamente, sabemos que nem todas as burst de 58,59 e 60, os 3 únicos anos em que foram produzidas, soam bem. Algumas são até ruins (leia aqui).
O mesmo acontece com as cópias feitas pela Custom Shop da Gibson, as famosas "R" (Reissue). Uma "Gibson Les Paul Custom Shop R9" é uma cópia de altíssimo nível, feita à imagem e semelhança de uma original de 1959. Todos os fanáticos por Les Paul Reissue sabem que apenas uma pequena porcentagem delas tem a "mágica" da original.

Dito isso, se alguém (leia eu... :) ) desejar adquirir uma R9, deve necessariamente testar o maior número possível para encontrar a melhor delas. A mais ressonante, com timbre mais complexo e equilibrado, sustain, etc. Acho uma loucura gastar de 5 a 7 mil dólares (sem contar os impostos) numa guitarra sem testá-la antes. Testar e comparar as R9 não parece tão complicado, desde que se tenha a grana: é só ir até os EUA, pois é lá (e no Japão) que encontramos as melhores Custom Shop.

Mas eu tenho um sério problema com aviões. Pânico é pouco pra descrever o que sinto só de pensar em entrar num bicho desses.
Assim, minha tão desejada R9 estava há tempos num plano apenas utópico até eu conhecer um cara que tem praticamente o mesmo gosto timbrístico que eu: o meu grande amigo Oscar Isaka Jr., de Curitiba, pertinho de Floripa. Ele já veio aqui em casa várias vezes, tocou minhas guitarras, conhece muito bem o timbre da minha Les Paul 81 e da Telecaster 68 e tem uma noção exata do tipo de som que procuro numa Les Paul.
Em janeiro desse ano ele me ligou e disse: "Vou para os EUA em abril"... Putz! Imediatamente comecei a maquinar um plano pra conseguir uma R9 no mínimo, muito boa. E o Oscar teria a missão de encontrar e comprar essa guitarra :). Responsa total pra ele! :)

Missão (quase) impossível do Jr. : encontrar uma R9 "do cara***" nos EUA...

Depois de tocar em pelo menos 20 Reissues, minha R9 2013 já foi escolhida e comprada pelo Jr.. Ainda não chegou (está vindo com um outro amigo), mas consegui fazer isso sem entrar num avião! KKKK!

Essa aventura do Oscar Jr. nos EUA à procura da minha R9 e os fatos guitarrísticos mais interessantes serão postados à partir de hoje, sequencialmente. Espero que divirtam-se! :)


Com a palavra, OSCAR ISAKA JR. :

         Todos nós sabemos que nuncas duas guitarras soam da mesma maneira, não interessa quão similar sejam em sua construção. O fator orgânico das madeiras cria uma identidade de DNA às guitarras quase como acontece nos humanos e faz com que cada instrumento seja único. E quando falamos de Les Paul, a coisa fica ainda mais complicada.
A grande variação do mogno e do maple, associada às pequenas e milimétricas diferenças de construção de uma pra outra fazem da Les Paul um bicho complicado, cheio de nuances e a compra de um exemplar sem a devida audição do mesmo torna-se quase impossível.

Pois quando contei pro Paulo que iria aos EUA de férias recebi prontamente a missão de achar "A LES PAUL" pra ele. Pensei comigo: "FU***! Como vou fazer isso? E se eu comprar uma que o cara não gosta ou que não é BEM aquilo?"
Os malucos da revista ToneQuest Report  falam o tempo todo de R9s soando mortas e sem a  magia da Les Paul, ao mesmo tempo que acham verdadeiras jóias nas Reissues... Eles estabeleceram estatisticamente que de cada 10 Reissues em média, uma é mágica, oito são normais e uma ruim (avaliações feitas em 2008, quando do lançamento das VOS). Com certeza todas são boas mas como diz o Paulo: " POOTZZ! E o medo de gastar os 6 mil dólares numa "normal" ???

Continua...



domingo, 19 de maio de 2013

Ponte de Telecaster: entrando nos detalhes (parte 2)

Oscar Isaka Jr.



          Continuando a saga das variações de timbre causadas por pontes e etc, talvez o post de hoje continue explicando porque esse componente representa a maior variação tonal entre todos.
O foco agora é ponte Telecaster, a mãe de todas as guitarras sólidas, criada no início dos anos 50 por Leo Fender. Um dos meus passatempos preferidos tem sido a pesquisa de timbres da Fender. Strato e Tele têm tomado muito das minhas pesquisas sobre como e de onde os timbres clássicos são gerados. A Telecaster é incrivelmente versátil e pode gerar uma infinidade de timbres diferentes com as mais diversas aplicações que vão literalmente do Country ao Metal.

A simplicidade da Tele talvez seja também sua maior complexidade. De onde vem o Twang Clássico? Quais as variáveis? Madeiras do corpo e braço? Captadores? Tarraxas? Ponte? A resposta é.... TODAS AS ANTERIORES, mas hoje vamos nos ater somente à importância da ponte nessa confusão toda.

Senta que lá vem a história.....

          Fazia muito tempo que eu brigava com a minha Tele. Desde que ouvi a Fender Telecaster 1968 do meu amigo Paulo May eu achava que a minha era estranha e não chegava nem perto do som que eu considerava ideal. Cheguei a dizer pro Paulo que ele nunca ia gostar de uma tele de Alder, pois não tinha nem de perto o timbre das Teles que ele estava montando.

Essa em questão é uma Tele Mexicana ano 99 onde foram feitos os chanfros de corpo e apoio de braço de Strato e toda repintada em azul metálico, uma das características das teles nos anos 60. Quando a comprei, era tudo o que eu queria, pois as quinas da tele me incomodam e esse azul era uma das minhas cores preferidas. Ela tinha um par de Seymour Quarter Pounder para Tele que, pensei, troco e pronto!

A realidade não foi bem assim. Experimentei de tudo nessa guitarra e ela só falava legal com humbuckers Dual Blade na ponte. Testei os dois do Sérgio Rosar, True Vintage e Vintage Hot, dois Seymour Duncan sendo um Antiquity 55 e um Vintage for Broadcaster, Fender Texas Specials e nada do twang aparecer.

Depois de muita pesquisa, essa semana achei um artigo do mestre Bill Lawrence (foto abaixo) que falava sobre os materiais das pontes de Tele e diferenciava-os em ferrosos e não ferrosos. Os ferrosos (onde o imã gruda) interferem diretamente no campo magnético do captador de ponte, alterando a indutância, aumentando a capacitância (mais metal) e portanto influindo diretamente no som do mesmo.

Bill Lawrence

Juro que pensei Será? Vai ver é o mesmo efeito "sutil" das pontes de Strato com e sem bloco etc. Muda mas não drasticamente.

Pesquisando um pouco mais me deparei com o seguinte parágrafo do nosso querido Seymour W. Duncan (tradução livre):
Seymour Duncan

"Uma ponte ferrosa provoca a expansão do campo magnético dos single coils, gerando uma sonoridade única, clássica. Numa ponte não magnética, sem ferro, (latão/brass) não há expansão do campo magnético, deixando o captador com um som mais claro/agudo, limpo. Com captadores dual blade, uma ponte ferrosa não vai funcionar bem porque a placa atrai os dois campos magnéticos opostos (característica dos captadores humbuckers/dual blades) e essa combinação interfere com a qualidade e eficiência do captador. Captadores desse tipo funcionam melhor em pontes não magnéticas (aço não magnético ou latão). 
Eu não gosto de ponte de latão/brass porque ela modifica o timbre do single coil. 
Para uma sonoridade tradicional de Telecaster, certifique-se que a ponte seja ferrosa (atraia imãs)".

Ok, dois mestres argumentando... Eu tive que pagar pra ver...

Fiz o teste na minha Gotoh Modern Tele Bridge (foto à esq.) com 6 saddles/carrinhos e o imã não grudou na placa/plate, mas grudava nos saddles. Conclusão, material não ferroso no plate e saddles de aço. No seu artigo, o Bill Lawrence (assim como Seymour Duncan) comenta que esse magnetismo da ponte vintage/ferrosa não é legal pra captadores humbucker tipo dual blade e que um plate não ferroso é mais apropriado pra esse tipo de captador.
Não é a toa que ela falava bem com humbuckers....
Leia o artigo do Bill Lawrence

Fui atrás de uma ponte vintage, saddles de latão. Exatamente o contrário do que eu tinha na minha. Achei uma Wilkinson by Gotoh Vintage. Fiz o teste e positivo, o imã grudou no plate. 
Instalei a ponte vintage, com o mesmo True Vintage Sergio Rosar, afinei e com duas notas eu havia achado o timbre. Os médios que eu tanto queria estavam lá. O DNA da guitarra estava alterado, tanto que gravei o segundo set de samples pra ter certeza que a mudança tinha mesmo sido tudo aquilo. E não só eu percebi como todos que ouviram perceberam as mudanças!

Ponte Vintage

Nesse vídeo dá para perceber as diferenças de sonoridades (clean e crunch) das duas pontes:


A variável da equação que eu não estava considerando era justamente a que faltava pro timbre que eu estava procurando. 

Conclusão: agora minha tele estava soando como eu sempre quis que ela soasse. Ficou um meio termo entre uma Tele Country Twangger e com a rispidez agressiva de uma Tele Rocker!


Resumão de ponte de Tele:

Plate:
Aço Ferroso (Imã gruda): Twang Clássico, ataque com característica mais "Tóin", com agudos mais redondos devido a interação do magneto do captador com a ponte que aumenta sua indutância. Ótimo para obtermos os timbres clássicos do Twang Country. Jerry Donahue é um ótimo exemplo dessa sonoridade. 

Latão: Timbre mais seco e ataque mais preciso e sem interação magnética. Ótimo pra sons com maior dose de ganho e uso de captadores mais fortes como humbuckers por exemplo. Todas as Fender American Std vem com esse plate de latão e Keith Richards utiliza-o até hoje em suas Teles! 

Saddles:
Latão: Ataque mais preciso e sequinho, com tendência de segurar agudos. Junto com o plate de aço, faz a combinação clássica da Tele 52 amarelinha. 

Aço: Introduzido em meados dos anos 60, produz um som com mais conteúdo de agudos e mais força/punch, sendo novamente ótimo para sons com drive pela maior definição sonora. Novamente é a escolha da Fender para a American Standard, numa concepção mais moderna dos sons de tele!

... É realmente incrível e fascinante como de novo um pouco de pesquisa e informação conseguem transformar uma guitarra normal em um ótimo instrumento!!

____________________________________________Oscar Isaka Jr.


PS:
Pois é, convidei o meu amigo Oscar Isaka Jr. para dividirmos os posts e responsabilidades nesse blog :)
Já havia copiado para cá outros posts do blog dele, sempre repletos de informação crítica e analítica de alta qualidade.

Em relação à essas características das pontes ferrosas e não ferrosas de Telecaster, foi ele quem me chamou a atenção. Eu tenho ambos os tipos de pontes em diversas teles e não havia me tocado dessa ENORME diferença. O post é sensacional e acrescenta ainda mais informação para a timbragem de guitarras. 

Paulo May.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Telecaster Butterscotch "Relic" de Marupá

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


         Assim como ocorreu com a strato Wally (clique pra o link), a ideia de fazer uma guitarra com corpo de madeira brasileira ainda continua. Fiquei impressionado com a sonoridade da Wally e o Marupá, até então uma madeira que pra mim soava triste e travada como o Basswood, revelou-se uma grata surpresa.
A Wally tem ponte "hardtail" (fixa) e uma sonoridade bem peculiar - é mais forte que uma strato de ponte flutuante mas não dá pra dizer que seja um híbrido de strato/tele. 
Na minha opinião, as stratos com ponte fixa deveriam ser consideradas uma "espécie" própria.

Pois bem, depois que descobri o luthier Adriano Ramos em BH/MG, que faz corpos de Marupá (e outras madeiras nacionais) bons e baratos, encomendei logo de cara dois corpos de telecaster com ele: um clássico, que resultou nessa tele e outro no formato "La Cabronita", pois pretendo comparar o Marupá com o Sugar Pine/Pinho americano da minha primeira "Cabronita", a Custom Golden Leaf.

         Um lembrete importante pra quem já tá pensando em comprar um corpo de Marupá: Ambos os corpos que comprei são de peças inteiras de Marupá. Isso parece legal (e é), mas historicamente é recomendado que madeiras menos densas e mais flexíveis sejam usadas sempre em duas partes coladas. Mesmo com a peça inteira disponível, devemos cortar e colar no centro. Essa manobra diminui consideravelmente a possibilidade de empenamentos (e isso ocorre, eventualmente) no corpo. A perda de ressonância é ínfima, pois são duas partes "irmãs" - mesmas características.
Praticamente a mesma ressonância com o dobro de estabilidade.


O Marupá é uma madeira abundante no Brasil, de densidade baixa à média, relativamente porosa, cor esbranquiçada e quase sem veios/lisa. Não tem resistência e dureza para ser utilizada em braços, apenas em corpos. 

A primeira característica que olhamos numa madeira é sua densidade (em g/cm³, que está diretamente relacionada ao peso) e o Marupá tem densidade próxima do Basswood (0,3-0,6 g/cm³)  e algo maior que o Poplar. Está um pouco abaixo do Alder (0,4-0,7 g/cm³) e Ash (o Swamp Ash pode ter densidade similar, entretanto). O Marupá é uma madeira geralmente utilizada no Brasil para palitos de picolé e fósforo, cabos de vassoura, brinquedos e caixas de frutas. Todo mundo conhece o Marupá :). "Caxeta" ou "Caixeta" é um nome genérico dado a várias espécies similares, entre elas o Marupá.

Madeiras muito ou pouco densas são geralmente ruins. As mais musicais estão entre 0,3 e 0,7 g/cm³. Claro que outras características também determinam a condução e ressonância sonora, mas a densidade é o ponto de partida. Na foto abaixo, os dois corpos de Marupá feitos pelo Adriano:


É bom lembrar, que, para manter o preço baixo, o Adriano não faz o lixamento/nivelação final, que é necessária antes da pintura. Em alguns pontos usei lixa 120/150, mas finalizei com 220 e 400. Para que a pintura não fique com irregularidades, a superfície tem que estar bem plana e lisa. Ao lixar, é legal de vez em quando umedecer com um pouco de álcool, que melhora a visualização das irregularidades e arranhões.

Após lixar, pintei com tinta (esmalte à base de água) à água, um pouco que restou da pintura da casa de praia da minha família (não lembro a marca, mas a cor era "Marrocos"). Achei a cor muito similar ao "Butterscotch" (doce de caramelo) americano, que a Fender utiliza desde a década de 50.

Repeti o mesmo processo de relicagem que fiz na Wally... Novamente, não documentei porque o processo é muito instintivo. Basicamente, pintar, sujar, lixar, pintar novamente, mudando um pouco a cor e diluição, sujar, envernizar, riscar/furar/arranhar, sujar, envernizar mais um pouco, lixa leve, polir levemente.
Pra sujar, nada melhor do que pó de grafite, cinza de cigarro, tinta à óleo (dessas para pintura em tela, que vêm em tubinhos) marrom, cinza e numa cor próxima à da pintura. Devemos "sujar" em tempos diferentes, principalmente no verniz, pra não ficar uniforme demais.
Esse padrão de relicagem que eu fiz é considerado "pesado"/heavy relic, pois além do aspecto antigo, ela também parece bastante surrada :). Ainda falta envelhecer um pouco o headstock. Não fiz porque fiquei na dúvida se colocava esse braço ou outro de maple/maple com tensor de acesso traseiro. Seria mais fidedigno (exceto pela ponte) do período (anos 50) mas eu não gosto muito de braços de maple/maple, infelizmente.

O braço é o dessa guitarra (clique e veja o dia 2). SX, mudei o headstock para strato e agora resolvi mudar para Tele... :). Raio de 14 polegadas (clique para saber o que é raio da escala), como 95% dos braços chineses. Êta! Sua "Frequência de Ressonância" /tom é perto de F3 (oitava casa, quinta corda), portanto tende para o agudo.
Ponte Condor/Chinesa ferrosa (liga de zinco - sofre ação magnética), carrinhos de aço da GFS, escudo chinês pintado de preto.



Liguei para o meu luthier, o Inaldo, para combinarmos de fazer a furação da ponte com a furadeira de bancada dele, mas na pressa de acabar (como sempre), novamente fiz à mão, ou seja, mesmo com muito cuidado, é quase certo que eles ficam um pouco desalinhados na parte de trás (se serve de consolo ou não, várias teles Fender da década de 50 tinham furos desalinhados...).
Tarraxas Wilkinson (muito boas e baratas). As peças de tele e strato, em geral, compro direto da china no e-bay (tudo muito barato) ou no ML.

O timbre? Muito bom! Mesma personalidade da Wally: o Marupá tem graves sim (li várias vezes que tem mais médios - não é verdade), médios centrais mais contundentes porém menos complexos que o alder e o ash pesado. Agudos  equilibrados e obedientes, mas talvez soem melhor com pots de 250k (quase sempre uso de 500k nas teles). Não tem o buraco de médio-agudos (centro em 1,8 kHz) do Cedro, portanto, na minha opinião até o momento, é a melhor madeira nacional para teles e stratos.

Aqui, uma pausa para lembrar que a maior parte do som da guitarra está na região dos médios (300 a 2.400 Hertz). Não dá pra simplesmente falar "médios bonitos" sem especificar uma sub-faixa, principalmente quando falamos de Telecaster, a rainha dos médios. Então temos que considerar:
MÉDIO-GRAVES:  300 - 600 Hz
MÉDIOS:                 600 - 1.200 Hz
MÉDIO-AGUDOS:  1.200 - 2.400 Hz
O médio do Marupá é dominante no centro: 600 - 1.200 Hz, por isso a sensação de maior projeção sonora. O Alder geralmente tem mais médio-graves, mas não costuma acentuar nem bloquear muita coisa. O Ash varia bastante, mas a marca registrada da minha Tele 68 de Hard Ash é de uma curva maior, porém suave, nos médio-agudos, com uma também suave concavidade nos médio-médios. Obviamente ela soa mais complexa e sutil que a Tele de Marupá... As outras duas Teles de Hard Ash que tenho são muito semelhantes, mas falta-lhes a concavidade dos médios-médios, por isso soam algo mais pobres e lineares nessa região.
E nem vou mencionar o que rola depois dos médios, pois agudo é tão complicado quanto.

Só gravando e ouvindo as diversas Telecaster podemos perceber esses detalhes essenciais. É assim que aprendemos a timbrar guitarra. Por exemplo, posso trocar esse captador Sérgio Rosar Vintage Hot (7,2k) por um True Vintage (6,47k). Quanto menor a saída/força, menos médios. Nesse caso, provavelmente vai sobrar um pouco mais de agudos e por isso terei que diminuir o valor do potenciômetro para 250k  para filtrá-los. Se vai funcionar? Não sei, mas essa é a lógica que devemos seguir. Se der certo, terei uma referência de ouro para Teles de Marupá: pots de 250k e captadores de baixo ganho na ponte :)

Sei que tô parecendo meio prolixo e detalhista, mas médio é FODA! Nas guitarras consigo diferenciar (na verdade, aprendi a ouvir) tudo quanto é tipo de médio. Tem o médio "chute no saco", o médio "feijão com arroz", o "médio irritante"... Mas eu tô sempre atrás é daquele médio que só a Telecaster (algumas delas) pode dar: "crocante e delicioso"! E vem com molho de twang e estalos! KKK!

Ainda vou tocar um pouco mais ambas as guitarras de Marupá e depois volto aqui pra complementar minha opinião sobre essa madeira. Mas com certeza é melhor que o Cedro e o Basswood para guitarras tipo Fender.

O captador da ponte é um magnífico Rosar Vintage Hot T (7,2k), mas customizado pra mim, com escalonamento dos pinos de alnico (é o mesmo captador da Tele 68 e de várias outras aqui):

Toco Telecaster há mais de 25 anos. Pra mim, essa é a configuração ideal dos pinos. Dessa forma, não precisamos inclinar tanto o captador e tudo fica mais equilibrado. Funciona muito bem para braços com raio de até 12", mas o ideal é raio de 9 ou 10 polegadas. 14" dá apertado. Não entendo como as pessoas não percebem a falta de força da 4ª corda/Ré nos captadores com pinos "flat", equidistantes... Bem, nas Telecasters eu só uso cordas de calibre 0.09 (maximum twang, hehehe). Nas demais, 0.10. Cada um com a sua mania :)
A ponte ferrosa interfere no campo magnético, ao contrário das pontes de latão/brass (Gotoh, por exemplo) e de certa forma aumenta o ataque e força do captador, podendo acentuar um pouco a ponta dos médio-agudos e agudos. Como o ataque de médios pode soar irritante, principalmente em se tratando de Telecaster, a combinação madeiras/captador/ponte tem que ser precisa.
É muito difícil saber qual a ponte ideal para determinada telecaster/captador. Se desejarmos um som mais estalado e comprimido, com um pouco menos de graves, a ponte de latão é ideal. Mas se a tele está soando meio anêmica, uma ponte ferrosa pode resolver.

Observações/FAQ:
1 - Pintei com rolinho... Guitarra se pinta com compressor/pulverizador profissional e o acabamento/polimento é feito com politriz. É a única maneira possível para deixá-la com aspecto brilhante e reflexivo. Mas se a ideia é fazer um relic/envelhecimento artificial, podemos pintar à mão ou com spray em lata. Nunca dá certo na primeira vez. E talvez na segunda... :)

2 - Vários problemas e intercorrências surgem no processo de montagem e acabamento e boa parte delas só um luthier resolve. À medida que vamos ganhando experiência, podemos nos arriscar, mas sempre há o risco de fazermos cagadas :). Posicionamento e furação da ponte, por exemplo, só consegui fazer sem me desesperar depois de dois anos mexendo e mesmo assim ainda não gosto. Sempre fico estressado com isso.

3 - O braço,  na região de encaixe no corpo (tróculo) era 1,5 mm mais largo que o padrão Fender. O Adriano deixa, por segurança, o tróculo um pentelho mais fechado para o braço encaixar na pressão (ideal). Assim, fiquei com um belo problema nas mãos - que eu detesto tanto quanto posicionar e furar pontes. Mas aprendi errando que não devemos mexer no tróculo do corpo, exceto quando muito fora do padrão. Lixei o braço até entrar... :)

4- Nunca faça furos que atravessam o corpo usando furadeira de mão. NUNCA. A madeira desvia a broca e raramente o furo sai reto do outro lado. Eu faço uma pequena furação guia com a Dremmel + suporte/guia e mesmo assim fica meio torto. Sempre utilize furadeira de bancada/fixa.

5 - Existem dois padrões de ponte e furos para Telecaster: Vintage, para pontes de 3 saddles e/ou modernas  adaptadas de 6 saddles/carrinhos para essas medidas (Gotoh, por exemplo) e Moderna com 6 saddles. Os furos da vintage não batem com os da moderna, pois são localizados mais atrás no corpo. Desconheço pontes modernas de latão. A única que reúne esses requisitos é a Gotoh, pois tem 6 saddles e obedece a furação antiga (os saddles são mais longos para compensar).

6 - Lixas (de todos os grãos) são nossas melhores amigas... Aprenda a usá-las e elas nunca te deixarão. :)


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O próximo post, do meu amigo e colaborador/co-autor desse blog, Oscar Isaka Jr., vai abordar os detalhes  das pontes de Telecaster. Post essencial.

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Adendo 4/7/13: Fiz um áudio com ela pra comparar com uma Fender Custom Shop, por causa de uma discussão no fórum da GP.


Aqui o vídeo da Fender CS:



quarta-feira, 1 de maio de 2013

Teste Cego entre 5 Les Pauls - "The Doug and Pat Show"

         Novamente, um post sobre o timbre mágico das Les Pauls clássicas (58/59/60) e seus captadores PAF inatingíveis.
Descobri recentemente vários posts dessa dupla fantástica de fanáticos por guitarra, de Portland/USA, Doug and Pat. O primeiro vídeo que assisti era um teste "cego" (a fonte não é identificada) entre 5 Les Pauls. Eles desafiavam o ouvinte a tentar adivinhar a guitarra pelo som. Entre elas, duas caríssimas LPs, uma Gold Top de 1958 e outra sunburst de 1960, duas cópias de alto nível (Heritage H150 e LP custom do luthier Gary Hines) e uma cópia japonesa "barata" dos anos 70, a já clássica Tokai "Love Rock".

Todas já haviam sido demonstradas em vídeos anteriores, mas eu fiz o teste sem assisti-los. Achei que poderia identificar pelos captadores que conheço: PAFs (58 e 60) Seymour Duncan Seth Lover (Gary Hines) e humbuckers genéricos antigos, talvez até com imãs cerâmicos (Tokai).
De fato, meus palpites estavam corretos e mesmo sem ver os vídeos anteriores, acertei 3 delas - eu só não sabia qual das duas Gibsons era a "mágica", mas apostava na 58, pois geralmente o braço mais fino das 60 as coloca em desvantagem frente às 59 e 58.

Para o deleite dos leitores do blog, entrei em contato com Doug Fraser e ele me autorizou a fazer uma versão editada e traduzida desses vídeos. E de quebra já convidou o pessoal aqui pra assistir a uma entrevista com o Bonamassa que eles fizeram recentemente e vão postar em breve. O canal do Doug and Pat Show no Youtube é aqui (clique). Se dominas bem o inglês, vale a pena assistir os originais também.

Antes de começar, gostaria de lembrar-lhes que esse "som maravilhoso" de uma Gibson clássica com PAFs é apenas sutilmente diferente dos outros/cópias. O timbre de uma excelente (sim existem ruins dessa época) LP vintage é complexo, sem nenhum excesso de graves (definidos e articulados) e agudos (perfeitos). Os médios são tridimensionais, uma mistura de guitarra/sax/voz humana, que soam diferentes a cada dinâmica do ataque. Sempre há a percepção da "madeira" ressoando e interagindo harmonicamente com o som das cordas. É difícil descrever em palavras, mas nesse vídeo fica claro o momento onde essa mágica aparece com toda a sua glória.

Veja/ouça (num monitor/fone decente) o vídeo e anote sua opinião enquanto ouve cada guitarra: graves, agudos, dinâmica, complexidade... Em seguida compare sua opinião com a de Pat e Robert/Bob Stull. 90% das vezes, minha opinião era a mesma do Bob.

Vamos lá:


Aqui está o que anotei de cada guitarra enquanto ouvia:
1ª: Quase gorda, boa dinâmica, agudos ok mas não são "PAF"
2ª: Equilibrada nas frequências, mas ataque da nota muito dominante (pouca dinâmica)
3ª: Linear demais, muito comprimido, ruim... Tokai?
4ª: Equilíbrio perfeito, dinâmica complexa - melhor até agora...
5ª: Graves embolados, dinâmica prejudicada, Seth Lover?

Já fez a sua fezinha? Vamos ao vídeo com os resultados:


O timbre da Les Paul 58 é extraordinário. Há alguns anos eu talvez não tivesse paciência para apreciá-lo devidamente, mas depois que a gente percebe um timbre desses, não tem mais volta... :)

Um vídeo extra, editado do segundo, com o Doug Fraser explicando como gravou o teste:


:)