quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Perseguindo um timbre!! The "Mid Scoop Strat Tone" e o Sérgio Rosar CBS 64

Oscar Isaka Jr.

         Alguns amigos me perguntam como eu faço pra chegar nas conclusões sobre os equipamentos e etc. Da onde vc tira essas idéias? Da onde vc imagina que o bloco da Strato vai fazer essa diferença toda?
A resposta é que eu nunca imagino nada, rsrs, mas vou juntando pecinhas e tentando deduzir as coisas com base em muita pesquisa, em fóruns e tudo mais que você possa imaginar. Muitas vezes as conclusões não estão prontinhas lá pra você sair implementando. Muito teste e montagem de quebra cabeças tem que acontecer até que a gente entenda as variáveis de um timbre. Quem acompanha o blog sabe das nossas odisseias.

         Eu sempre fui um fanático em perseguir o timbre do John Mayer. O chamado timbre "Mid-Scoop (médios escavados)" (que de mid-scoop não tem nada rsrs) característico do DVD ao vivo "Where the Light Is" estão pra mim no top 3 de timbres de strato e eu queria a todo custo entender como ele conseguia aqueles sons cremosos com extrema definição e clareza. As stratocaster dos anos 60 têm esse DNA, mas o som que Mayer tira é diferente, tem uma cremosidade e equilíbrio, com ataque contundente e definido que a strato normalmente não mostra de maneira tão polida. Como? Mãos à obra!
         A primeira variável que vem em mente quando falamos de timbre são os captadores. Começando a ler sobre o assunto, a primeira informação que se acha é que ele usou por muito tempo uma strato SRV Signature com Texas Specials. Ok, faz até um certo sentido, uma vez que captadores um pouco mais "hot" de fio Enamel (como o TX Specials) tem agudos redondinhos e mais graves. O "problema" é que qualquer single com mais de 6.5k começa a desenvolver uma linha de médios que entopem o som e tiram o ar do timbre mais clean. Quem conhece o TX Specials sabe que ele é um ÓTIMO captador pra tocar com um Tube Screamer ou qualquer drive, mas ele tem médios estranhos, um pouco graves demais no clean, e ele soa qualquer coisa menos arejado e bonito nesse setup.

Depois de já ter pesquisado muito sobre construção de captadores, feito muitas experiências com o Sérgio e etc., a gente sabe que o fio Enamel tem uma característica menos aguda mesmo pois cria uma capacitância na bobina que 'limita' os agudos. Fez todo o sentido pegar meus TX Specials feitos de enamel e desenrolar algumas voltas, o que teoricamente removeria médios e graves e colocaria um pouco mais de agudos e brilho de volta .
O resultado foi legal, mas ainda não era aquilo que eu ouvia. Ainda faltava o ataque preciso e a dinâmica.


          Os captadores mantinham-se como o caminho mais óbvio pra mim já que tinha chegado perto com os "Texas Specials Underwound" e eu resolvi ir atrás dos captadores da Fender stratocaster John Mayer Signature. Descobri os famosos Big Dippers bombando nos fóruns gringos e no ebay sendo vendidos pela bagatela de U$ 450,00.
Fiquei com pena de pagar a quantia alta e fui pesquisar o que tinham, do que eram feitos e etc. pra saber se eram os principais responsáveis pelo timbre do nosso amigo. Descobri que o timbre que eu gostava veio depois do álbum Continuum (de onde saíram Gravity e outras) e ele já não estava usando mais a sua SRV. Fez sentido novamente, pois os sons do registro ao vivo "Any Given Thursday" bem anterior ao Continnum, são normais e eu ouvia o texas specials claramente. Bastante graves, e uma linha de médio agudos que chega a soar como um brilho cristalino quase vítrico (ressaltado pela escala de Pau-Ferro) dependendo do amp e regulagens. Ótimo para drives, mas é a razão pela qual os Texas Special geram relações de amor e ódio....
  
       
          Bem, de posse dessas informações e tudo mais, fui testar as coisas. Empunhei minha strato (Alder, Maple e Rosewood) com um set de Rosar Fullerton, meu Egnater Renegade no clean e toquei usando um Tube Screamer Clone como um boost (ganho baixo). Verifiquei que o pedal realmente deu uma diferença no som, atuando como um leve compressor e arredondando tudo. Os agudos não sobravam tanto, os graves ficaram bem redondinhos e o médios idem. O som veio cheio, bonito, detalhado,  mas ainda longe do som do nosso amigo Mayer.
Pensei: "lógico, eu quero fugir de médios e o Fullerton foi desenvolvido pensando justamente no ataque de médios"... Percebi que o captador tinha sim um papel importante naquilo tudo e comecei a experimentar. Tinha trocado alguns modelos sem sucesso (Seymour SSL-1, Fralin Blues Specials, Sérgio Rosar Blues, Sérgio Rosar Vintage Hot), quando consegui um set de (Fender) Custom Shop 69. Instalei já meio sem esperanças e quando liguei tudo o som que ouvi foi algo próximo do que eu esperava: Redondinho nos graves, médios meio ocos (olha o scoop mid aí...) e agudos bem comprimidinhos e percussivos.

Claro, como eu pude esquecer de um captador super popular da Fender que atendia aos requisitos que identifiquei lá no começo? Enamel, fraco, bobinamento regular, timbre anos 60. Tinha tudo pra soar melhor que meus Texas Specials desbobinados, obviamente!
Depois disso eles ficaram um bom tempo na minha guitarra e eu tocando e experimentando, sempre chegando nos 60% do som, mas algo ainda faltava. O timbre da posição 2 (caps meio e braço em paralelo) de Gravity ainda não estava lá. Cheguei a ler que os Big Dippers tinham sido inspirados numa Strato Vintage anos 60 que o Mayer tinha e que ele gostava muito, mas nada me dizia exatamente o que rolava... Era bem claro pra mim que a sonoridade era Fender 60's CBS, mas resolvi tirar o escorpião do bolso, aproveitar que uma amiga estava nos EUA e comprar os malditos Dippers (foto abaixo).


Deixei toda a parafernália de lado (por hora) e esperei chegarem. Quando os recebi pareciam um set de Texas Specials. Como eu imaginava, fio Plain Enamel e perto de 6K de resistência. Estava pronto pra me jogar do 10º andar se soassem igual aos Custom 69 ou os Texas desbobinados que eu tinha feito, mas não, UFA! rsrs.
Quando instalei-os na minha Strato o som veio diferente do que eu já havia ouvido nos últimos meses de pesquisa e busca. O ataque mais firme e percussivo, graves sequinhos mas bem presentes, e agudos redondinhos estavam todos lá. A clareza das notas e dinâmica também estavam presentes e de maneira nenhuma ele soava embolado. Mas qual a diferença dele pro Texas e pro Custom 69? Os médios!! :-) Mid-Scoop é uma percepção, pois no Big Dipper eles estão lá presentes, mas tunados numa faixa mais alta da EQ (médio agudo) que no Texas por exemplo e isso faz com que ele tenha o som gordo e redondo dos caps um pouco mais fortes sem o corpo de médio graves que faz com que esses soem mais fechados e entupidos. O som deles ligados no amp direto era um pouco mais próximo do que eu ouvia no CD e por isso os Dippers e a Fender John Mayer Signature são tão cobiçados. O som clean soa grande e presente, com muita dinâmica e ar, e o com drive é definido e firme também.
Claro, não temos a cristalinidade dos sons de Strato dos anos 50 (nem pense em Sultans of Swing com esses) mas pra sons de Blues com muita dinâmica, esse é o captador e o mais legal que obtive respostas semelhantes com praticamente qualquer amp valvulado.
Na mesma semana mandei pro Sérgio Rosar analisar tecnicamente e clonarmos os Dippers. Várias barreiras foram quebradas e técnicas descobertas nesse árduo processo, mas depois de uns 3 meses de testes e uns 8 protótipos chegamos no modelo final. Com algumas técnicas novas desenvolvidas durante o processo, o Sérgio conseguiu replicar as nuances dos Dippers usando o material moderno e acertou a curva de ressonância dos originais.  Nascia aqui o (Rosar) CBS 64.

 

A loja não está mais no ar e não tive tempo de editar o vídeo. A guitarra é uma Castelli ( www.dicastellis.com.br ) feita pelo meu amigo Tom com corpo de Alder, braço de maple e escala em Jacarandá. Uma Strato clássica!
         Os Big Dippers entregam o som com o DNA do timbre do Mayer prontinho, sem muita pestana com praticamente qualquer Strato de Alder/Maple/Rosewood plugada num amp valvulado com características Fender. Acredito que a Fender tenha pensado exatamente nisso quando desenvolveu os Big Dippers pra equipar a guitarra assinatura do Mayer (Acho que o que ELE MESMO usa é coisa diferente e molda tudo com pedais e amps, mas isso é pra um próximo post :-) ). Os CBS 64 do nosso estimado Sérgio Rosar alcançam o mesmo objetivo por uma fração do preço, além é claro de serem fabricados aqui em SC. Todas as pessoas que usam e/ou já usaram o CBS 64 ficaram extremamente satisfeitas com resultado. Não me canso de falar bem do Sérgio pois tendo trabalhado com ele tanto como lojista bem como desenvolvendo captadores, pude contemplar sua seriedade e competência para entregar nada menos que o melhor possível a seus clientes sempre procurando aprimorar e esculpir os pickups, por um preço justo!
Nós todos agradecemos!
Abraço!
Júnior

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Tunando uma Guitarra SX: Guia Definitivo

          Paulo May & Oscar Isaka Jr.



(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


          Pois bem, achamos que esse era o post que faltava pra complementar a anterior e inúmeros outros posts aqui do blog.

Eu e o Oscar faremos aqui um "exercício" de tunagem de uma SX. Colocaremos em questão os pontos essenciais (e outros opcionais) para um upgrade de qualidade numa stratocaster SX.

Já especificamos no post anterior os modelos disponíveis. A diferença de preço entre a linha "Vintage SST", de alder chinês e a linha "American Alder" e "American Ash" não é tão grande, então, o primeiro passo é conseguir uma SX de alder ou ash americano.
Agora vamos fazer uma análise da guitarra como vem de fábrica. Nos círculos, os detalhes que devemos focar - em vermelho, essenciais. Em amarelo, opcionais, mas recomendados:

 1) Braço e Trastes: Nunca tocamos numa SX que estivesse com todos os trastes bem acabados e/ou nivelados. Eventualmente há necessidade de ajuste no tensor (nesses modelos o ajuste é por trás - temos que retirar o braço para isso), por causa das mudanças de temperatura, viagem, etc. Até aí tudo bem. Já nos trastes o negócio pega - trastes desnivelados são o horror de qualquer guitarrista: trastejamentos, notas mortas... Já sofremos tanto com trastes chineses (mesmo Fender e Gibson podem ter problemas também - não é raro) que acabamos aprendendo a fazer pequenas correções, mas o que já gastamos de dinheiro em luthier com isso... Bem, vamos deixar essa questão dos trastes num hiato por enquanto, pois estamos planejando um post especial só sobre isso. Por enquanto aconselhamos que levem no seu Luthier de confiança já que mexer nos trastes de maneira equivocada pode comprometer os mesmos e aí o custo de uma troca fica bem mais salgado! (Oscar Jr: Acreditem, já fiz isso 2 vezes...)
Como referência, via de regra (acho que mais de 80%) os braços chineses e a cavidade do/tróculo nos corpos são 2 a 3 mm mais largos que o padrão Fender. Assim, geralmente um braço padrão Fender vai ficar meio solto num corpo chinês e um braço chinês não entrará num tróculo padrão Fender.

2) Ponte: Há um farto material sobre pontes de strato aqui no blog. Se ainda não leu, recomendamos que o faça antes de continuar a ler esse post. Na sequência (clique nos números) (1)  (2)  (3)  (4).
Bem, o truque que faríamos aqui seria a troca - ESSENCIAL - do bloco da ponte. Sem sombra de dúvida, a opção com o melhor custo/benefício é o bloco MANARA, que tem a qualidade de um Callaham (considerado por muitos o melhor do mundo), é feito no Brasil e o Carlos Manara tem um modelo específico para essa ponte da SX. Mão na roda total.
Os carrinhos/saddles não são tão essenciais quanto o bloco, mas se a grana pra tunagem tá legal, recomendamos os saddles de aço da Guitar Fetish. 13 dólares o jogo com 6. (Paulo May: Eu compro dois jogos de cada vez pra não pagar impostos. Acho que já comprei uns 10 desses... :) Os saddles de Zinco que vem nas SX absorvem a vibração transmitindo menos para o corpo e deixam o som mais mole. Escolha entre Bent-Steel ou Block (desde que de aço) de acordo com a sua preferência.
Os famosos String-Saver da GraphTech dividem opiniões pela maior durabilidade e resistência a corrosão, mas o graphite é um material mais "mole" que o aço e tende a amaciar o som. Eu só recomendaria se você tem problemas com seu suor oxidando seu instrumento demais e/ou no caso de guitarras muito brilhantes. Fora isso, prefiro os de aço sejam Bent-Steel ou block! :-)
Existe também a possibilidade de trocar a ponte inteira (Wilkinson, Gotoh, etc.). O que pode ocorrer aí é o não alinhamento dos furos dos parafusos de fixação da ponte. Nesse caso, temos que tapar os furos existentes e fazer novos - não é complicado, mas é chato :)


3) Captadores: Os originais chineses são muito ruins. Imãs cerâmicos, excesso de parafina, etc. A troca por captadores melhores é o segundo upgrade essencial nessas guitarras. O problema aí é que existem dezenas, talvez centenas de captadores bons e ótimos pra escolhermos. Vai depender do gosto pessoal e da disponibilidade de dinheiro pra isso. Existem opções de configurações clássicas, intermediárias e modernas:

a) Clássica/Vintage: 3 single coils de alnico (SSS)

b) Vintage Modern: 2 singles e 1 Humbucker / Dual Blade (HSS)

c) Moderna: 3 Dual Blade ou 2 Dual blade e 1 Humbucker (HHH)

Não vamos abordar aqui modelos de captadores específicos pois a variedade é imensa, assim como os gostos dos guitarristas. Vocês já sabem das nossas preferências de captadores pelas inúmeras vezes que abordamos esse tema aqui no blog. É importante ressaltar a adequação dos valores de potenciômetros e capacitores de acordo com o tipo de captador utilizado. Como regra geral, pots de 250K e capacitor de .047mf para singles e pots de 500k com capacitor de .022mf para humbuckers/dual blades.

4) Tarraxas As tarraxas não são de todo ruins e podem ser mantidas dependendo da disponibilidade de dinheiro. Não são confiáveis para shows ao vivo, entretanto. Uma boa e barata opção de upgrade é a linha Wilkinson "EZ Lock". Talvez até melhores que as Grover Mini Rotomatics.

5) Elétrica:  Normalmente as SX vêm com a elétrica feita de maneira bem relaxada usando componentes baratos que podem comprometer o funcionamento geral da coisa. Pode-se utilizar os pots e chave por um tempo sem problemas, mas já encontrei potenciômetros extremamente duros e outros extremamente "soltos", assim como chaves falhando com mal contato, sobras de fios e etc. O jack também não demora muito a começar a causar problemas com os contatos. Aqui a dica é "use até dar problema", uma vez que tenha que trocar algo, aproveite o embalo e coloque potenciômetros (Alpha e Gotoh são suficientes e com ótimo custo benefício, além de muitas vezes serem melhores que os CTS americanos tão famosos) e chaves de qualidade (nesse caso a chave Fender SwitchCraft é a melhor. Não estraga nunca! :-)

         Obs.1: FIOS: os fios utilizados na parte elétrica de guitarras podem variar bastante, mas recomenda-se a utilização de fios comuns de cobre trançado (para maleabilidade) envolto em plástico ou tecido. O diâmetro ideal do fio é de AWG (American Wire Gauge) 22 (cerca de 0,65 mm). Aqui o link para uma tabela de conversão de AWG para MM. Qto maior o valor AWG, menor o diâmetro - os captadores utilizam fios de cobre de AWG 42/43. Raramente 44 ou 41. Tecnicamente, não há diferença entre um fio com capa de plástico e outro com tecido - acho até que o plástico isola mais. A Gibson utiliza um fio especial onde uma malha metálica (destinada para o terra) recobre um fio de plástico AWG 22, que é o "hot"/sinal.
          Obs.2: Na hora de fazer a fiação sempre deixe os fios cortados no tamanho "certo" para as conexões, ou seja o mais curto possível evitando excessos. Muito fio acumulado pode gerar micro capacitâncias que denigrem o som. Eu sempre deixava os fios dos Single do tamanho que vinham de fábrica, ous eja mais compridos e amarrava tudo com uma braçadeira e pronto. Quando re-fiz uma fiação e resolvi cortar tudo no tamanho certinho pra deixa "bonito" (esse foi o pretexto que usei rsrs), notei um som mais claro do que antes. Fui ler a respeito e achei um artigo do Dirk Wacker da Premier Guitar falando sobre isso. Fios sempre do tamanho certo! :-)

        Basicamente, os upgrades técnicos são esses. O headstock "bico de papagaio" é meio feio e pode ser adaptado para um visual mais "Fender", porém é uma alteração que exige certo domínio do trabalho com madeiras. Na dúvida, leve para um luthier experiente. A questão da tocabilidade é fortemente dependente da qualidade de posicionamento e finalização dos trastes. Talvez esse seja o único detalhe onde a intervenção de um bom luthier seja necessária.
       
         É importante ressaltar que muitas vezes uma modificação pequena pode ser exatamente aquilo que seu ouvido sente falta no som. Experimentar é a única maneira de achar todos os detalhes que fazem (ou não) diferença pra você.

domingo, 18 de agosto de 2013

Guitarras SX - identificando as madeiras dos modelos

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


Paulo May

         Já conversamos muito sobre as stratos (e teles) SX e o fato é que existe uma linha feita de Alder chinês (inferior em tudo ao americano, mas soa melhor que o basswood), uma de Alder americano e outra de Swamp Ash americano. Ao comprar as madeiras, a SX não conseguiu o Swamp ash de espessura correta, portanto a grande maioria das guitarras do swamp ash tem espessura de no máximo 41,5 mm, ao contrário dos standard 44,5 mm.

Os braços (exceto a SST62, com escala de rosewood) são de "maple one piece"/escala e braço de uma peça apenas (ideal): padrão dos anos 50/60 da Fender, com ajuste do tensor na parte final do braço (região do tróculo). Ponto positivo pela fidelidade vintage, mas o que não sei é se é maple canadense (ou do norte dos EUA). Provavelmente não, já que eles adoram citar "Canadian Maple" quando de fato é. Maple chinês é a minha aposta.

Obviamente eles estão especificando "American Alder" e "American Swamp Ash", mas seguem as fotos e nomes para uma melhor identificação:

1) Linha Vintage Series: as famosas "SST57 e 62", que são de Alder chinês. As cores variam bastante, mas basicamente encontramo-las no Brasil nas cores preta, creme e sunburst.

Eu tive duas dessas, uma na cor "Antique Sunburst", muito boa, ótima pra tunar, mas atualmente está desmontada. Foi postada aqui (clique). A outra, uma creme que depois pintei de preto (clique), tem uma peça central que não é alder chinês (só descobri, é claro, depois de retirar a tinta) e soa inferior à sunburst.
Também foi desativada... :)


2) Linha American Alder:
Alder americano (até prova em contrário :) ). Eu tenho uma Telecaster dessas (STL/Alder/3TS - clique para o link) e posso garantir que soa e parece realmente com Alder americano. Muito boa depois de tunada, por sinal.



3) Linha American Swamp Ash:
A minha, uma SST/ASH/R também já foi postada aqui (clique para o link). Todas as que eu vi tinham espessura menor que 42 mm. Mas é Swamp Ash americano, 95% de certeza. Se for chinês, PQP - é igual!!


Concluindo, depois de ter pelo menos um modelo de cada tipo, posso afirmar que as de alder e ash realmente soam como alder e ash e são guitarras que valem a pena um investimento em tunagem.
Lembro que as de ash têm corpo mais fino - atenção para as pontes de strato - o bloco pode ficar de fora. OBS: o Carlos Manara faz blocos de aço que cabem certinho nessas :)

Ultimamente tenho experimentado bastante com as madeiras brasileiras Marupá e Freijó e posso dizer que o alder chinês soa semelhante ao marupá, com menos ataque de médios e graves um pentelho mais definidos.

Mas definitivamente o Alder (e o Ash) é superior quando o assunto é guitarra tipo Fender...

PS1: A empresa/importadora brasileira HABRO é a revendedora das guitarras "Shelter" e "SX". As SX são produzidas na china pela empresa TEAM INTERNATIONAL MUSIC CO. Provavelmente é também a fábrica que produz as "Shelter". Como já expliquei aqui, a coisa funciona assim: uma importadora cria um nome qualquer (Shelter, Michael, Memphis, a criatividade não tem fim) e em seguida especifica cores, modelos, headstock, etc.) de guitarras nessas fábricas chinesas.
As guitarras vêm da china, acredito que desmontadas, sob o pretexto de "insumo" e aqui são milagrosamente "fabricadas" da noite para o dia, em um galpão qualquer...

PS2: Hoje (29/12/2014), um leitor do blog chamou a atenção para discrepâncias em relação aos dados das guitarras SX nos diversos sites: nacional e internacional. Num deles - e isso apenas na linha "Vintage" - a madeira do corpo é "basswood" mas nos outros dois, "alder".
Acho justo que finalmente a SX tenha parado de chamar de alder à madeira do corpo da linha Vintage (SST 57 e 62). Eles já têm uma linha de alder e ash originais.
Porém o mais importante - e essa informação encontra-se de forma direta e subliminar ao longo de todo o blog - é sempre considerar que não existem garantias nas guitarras chinesas mais baratas. Sempre há um risco e devemos estar cientes disso. Aproveitem as informações do blog e avaliem bem a guitarra antes de comprar.

Obs: O comentário do leitor "myself", com os links, pode ser localizado pela data - 28/12/2014.



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Rapidinha... Fender "FSR" Blonde Mexicana

Oscar Jr.

          Pessoal, fui dar uma regulada numa stratocaster de um colega e achei algumas coisas interessantes pra compartilhar rapidamente.
Ele havia me pedido pra dar uma olhada pois achava que a ação estava estranha e que a sustentação morria rápido, etc. Num primeiro momento achei se tratar de uma guitarra ruim simplesmente mas disse que poderia ver se tinha algo errado. A guitarra era uma Fender F.S.R. (Factory Special Run) White Blonde, feita no México.

Nota: As FSR são edições especiais que a Fender lança esporadicamente com alguma característica diferenciada das linhas de produção normais. Podem ser "American", Custom Shop, mexicana ou mesmo asiáticas (japonesas, coreanas e etc), mas via de regra são instrumentos "melhores" que a linha standard.

Segue um video demo do pessoal "bem humorado" da Andertons explicando esse modelo.

O acabamento chamado Blonde é um branco opaco mas que deixa um pouco dos veios da madeira à vista, como na foto abaixo. Tradicionalmente, a Fender só utiliza essa cor em corpos de Ash, que tem veios bem mais aparentes (e bonitos) que o Alder.



Quando peguei a guitarra e toquei um pouco dava pra perceber que realmente o som estava lá mas algo estava estranho, e olhando o braço notei que o neck-pocket/tróculo estava com uma folga, na base, de quase 1 mm entre o braço e a madeira do corpo. Olhem só o que eu encontrei:
                                   


No hora de regular o instrumento, foi colocado um calço no tróculo inteiro de umas 5-6 folhas de lixa 600 o que dá quase 1 mm de espessura. Embora isso resolva o problema da altura do braço, que ocorre às vezes nas guitarras, remove também a área de contato do braço com o corpo, absorvendo boa parte das vibrações transmitidas. Isso é sentido especialmente no ataque das cordas. O ideal nesse caso é utilizar folhas de madeira laminada, mas podemos usar folhas de lixa fina para regulagem do ângulo do braço como já explicado nesse post.

Removi o calço completamente para deixar apenas 1 folhinha perto do captador do braço para conseguir o ângulo e poder regular legal a guitarra, mas quando removi o braço encontrei uma surpresa:

                


Na verdade não deveria ser surpresa. Já sabíamos de que as mexicanas de um tempo pra cá usavam o artifício do top para acabamentos translúcidos, mas juro que por um momento pensei que essa seria diferente por ser uma Factory Special Run. Na foto acima nota-se claramente pelo menos 2 pedaços de Alder e um top de 2 mm da madeira "de fachada", nesse caso algo parecido com o Ash.
Em suma, o corpo é de vários pedaços de alder com lâminas de ash no top e back.

Aproveitei e dei uma olhada na parte elétrica e encontrei os caps cerâmicos básicos de Strato Standard MIM (Made In Mexico). Na hora até meio que desanimei pensando quantas peças teria debaixo das lâminas, mas montei e regulei a guitarra toda mesmo assim e pra minha surpresa ela soou muito bem. Bem melhor que as outras Strato México que eu estava acostumado e muito melhor do que quando peguei ela.

Devia ter tirado fotos dela inteira, mas depois que montei o cara ficou tão empolgado com a diferença que ficamos tocando e eu acabei esquecendo.

Juro que se eu não tivesse visto o truque eu afirmaria que a guitarra era mesmo feita de 2 partes de ASH tamanha a consistência da sonoridade. As vezes observar essas coisas são interessantes mas não devemos criar preconceitos antes de ligar a guitarra e ouvi-la. Podemos nos surpreender com os resultados!


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Em busca do Cálice Sagrado - Epílogo: ouça as guitarras

         Paulo May

          Como já falamos, gravamos as comparações meio às pressas, aos 44 do segundo tempo - e isso graças ao Rodrigo, que deu a ideia das fotos agrupadas e insistiu na gravação. O ideal seria um teste mais amplo, etc., mas optamos por uma sequência de arpejos, acordes e um pequeno lick de solo, algo que pudesse ser repetido igualmente para todas.
O áudio da minha R9 (2013) que está nesse vídeo foi gravado no outro dia, após a troca dos captadores (daí aproveitei e gravei também a minha STD 81). A gravação original estava com os Gibson Custom Bucker, que não são ruins mas perdem feio para os Rolph na dinâmica e clareza. Depois eu posto a comparação dos dois captadores.

Podemos comparar o timbre de guitarras de forma generalizada ou específica. Para um maior detalhamento, recomendamos deixar o vídeo rodar até o final, ouvindo sem compromisso. Depois que ele estiver carregado no buffer do navegador, fica mais fácil dar pulos rápidos entre uma guitarra e outra, entre partes específicas, etc.


Ouvindo agora, depois de duas semanas e após analisar os áudios também  no Sound Forge, dá pra perceber que os Gibson Burstbucker têm menos amplitude dinâmica, ou seja, não há tanta diferença de timbre entre as notas fracas e fortes. E há uma predominância das notas fortes, que soam mais "explosivas". Isso traduz-se nos ouvidos como "artificial", pouco natural e por aí vai.
Por isso quase nunca usamos saturação nos testes. A saturação comprime/diminui a amplitude dinâmica e as guitarras começam a soar mais parecidas.

Em relação à dinâmica, o Rodrigo tinha razão e pude checar agora - os Gibson Custom da Beano são bem melhores que os outros Gibson, mas foram propositadamente tunados para soarem mais fechados. Eu tinha certeza que eles eram iguais aos novos Custom Bucker, mas estava errado.

Vamos deixar esse post em separado do anterior por enquanto, depois agrupamos os dois.

PS: Convém lembrar aqui que dá mais trabalho tocar com um captador como o Rolph, extremamente dinâmico, do que com um Burstbucker Pro (e principalmente captadores de alto ganho), por exemplo. Temos que ter muito mais atenção na dinâmica do ataque das notas. Se bobear, o som não sai... :). Em compensação entretanto, ganhamos na beleza do timbre.
Confesso que dificilmente levaria uma Les Paul com Rolphs para um show comum de rock - e nas últimas vezes que toquei ao vivo, de fato utilizei a PRS com o Supershred Rosar - os erros aparecem menos :)

sábado, 10 de agosto de 2013

Em busca do Cálice Sagrado - Epílogo: "Aqui só entra Les Paul!"

       

Paulo May

         E a dita cuja, o nosso suposto "Cálice Sagrado", finalmente chegou. Veio de Miami, trazida pelo meu grande (e de longa data, desde os tempos de surf) amigo Alencar Silvestre, aqui de Florianópolis.

Meu aniversário foi no dia 26 de julho e combinei com o Oscar e outro amigo nosso em comum, o Rodrigo Rassele, de Itajaí, de comemorarmos tudo ao mesmo tempo no sábado, dia 27.

O Rodrigo é outro "Louco por Guitarra", mas daqueles espertos, que só pega os filezinhos: tem uma LP Custom Shop Beano/Eric Clapton, uma strato Fender CS Rory Gallagher e uma Telecaster Fender CS Relic, entre outras pérolas. Combinamos de fazer um festival de Les Paul: o Oscar traria a R9 2003 dele (a R8 não coube no carro lotado), o Rodrigo traria sua Beano, uma Standard 2009, uma Deluxe 1973 toda original e uma R7 de um amigo de Itajaí. Acrescente a minha tão esperada  R9 2013 e a Standard 1981 e teríamos uma festinha de arromba, com sete Les Pauls diferentes!! :)

Obs: Pra quem ainda não sabe, a nomenclatura Gibson: "R", significa "Reissue/Relançamento" e o número do lado refere-se ao ano do qual ela é copiada: 9: 1959, 8: 1958, 0: 1960, etc. Portanto, "R9" quer dizer "Relançamento de 1959". A "Beano" é tecnicamente uma "R0".

Uma visão geral da coisa toda:


Em cima, as burst. Da esquerda para a direita: R9 2013, Standard 2008, Beano/R0 2010, R9 2003
Embaixo, as goldtop, da esquerda para direita: Deluxe 1973, R7 2006, Standard 1981.

A gente não sabia se olhava, conversava, tocava, bebia.. Pra mim foi ainda mais complicado porque eu havia pegado a minha R9 naquela tarde. De fato, o Rodrigo e o Júnior chegaram no meu apto junto com a guitarra!
Enfim, isso era coisa para um final de semana inteiro - uma noite apenas não deu nem pra começar. E a nossa ideia inicial era fazer um "roundup", uma comparação de todas, com gravações, filmagens e fotos detalhadas. Imaginem se deu certo!! KKK! Nem pensar! Conseguimos fazer algumas gravações rápidas no final, apenas comparando o captador do braço de todas elas (mas isso é assunto pra outro post).

Imaginem 3 loucos por guitarra trancados numa sala com sete Les Pauls (isso sem falar nas minhas outras 34 guitarras que estavam por perto!), vinho à vontade e quilômetros de papo pra colocar em dia. Ficamos que nem crianças hiperativas no meio da Disneylândia! KKK!


Pedi para o Oscar e o Rodrigo inserirem aqui um resumo dos comentários deles, mas como o assunto é Les Paul, o "resumo" que eles enviaram é bem mais que isso :) ... Bem, como o pessoal que navega por aqui é geralmente também fissurado por guitarras, acho que não me perdoariam se omitisse algo, então vou transcrevê-los na íntegra (o meu comentário agora parece espartano demais, rsrs):



Paulo May:
 "O importante é que todas soaram legais, cada uma à sua maneira. Mas as R9 e a Beano têm claramente maior complexidade no timbre. Não é à toa que são "Custom Shop". A R7 não pôde ser avaliada mais profundamente, mas eu acredito que com uma troca de captadores - um par de Rolphs, por exemplo - ela poderia arrasar. A minha Standard 81 é um caso à parte - uma Les Paul que soa mais "Fender" do que muitas Fender por aí. O braço de maple/rosewood é o responsável por isso, provavelmente :).

A Beano já vem pronta, com um braço daqueles que eu já rezei pra uma Les Paul ter e o "Woman Tone" do Clapton no período Bluesbrakers: é só plugar (de preferência num Marshall, rsrs) e sair para o abraço. A R9 2003 do Oscar é magnífica - nota 11 numa escala de 10, além de ter o top com o flame mais bonito entre as burst. A minha R9 ainda estava com os captadores Custom Bucker e cordas Gibson - só pude ouvi-la em sua plenitude ( e que plenitude) depois que coloquei os Rolph 58 e os bumblebees vintage originais. A Deluxe 73, toda original, é uma senhora de 40 anos e mereceu todo o nosso respeito. Corpo "pancake" comum da época, relic real e um braço bastante fino para uma Les Paul, muito interessante...

Como curiosidade, nós tínhamos duas guitarras entre as sete que representam os dois extremos da "sonoridade Les Paul": a minha Standard 81 e a Beano do Rodrigo.

No final, após ter tocado todas, exceto a 81 que nós 3 já conhecíamos, eu pessoalmente considerei a R3 do Oscar a com melhor sonoridade, mas tive que dar um desconto pois era a única que estava com os magníficos captadores do Jim Rolph. No domingo coloquei os Rolph na minha e pude comparar então as gravações (inclusive da minha própria R9 com os Custom Bucker). As duas R9 são absurdamente equilibradas, com timbres complexos que respondem quase que acusticamente à dinâmica. Mas elas têm personalidades diferentes, principalmente nos médios.
Pra mim, é impossível agora dizer qual a melhor, por que nesses caso estamos num nível de qualidade onde as diferenças não são mais verticais. São horizontais e estão muito próximas, como cores iguais com tons diferentes.

Finalizando, captadores, como bem sabemos, têm o dever de reproduzir o melhor de cada guitarra e na minha opinião, os Rolph Pretender 58 estão um nível acima de qualquer Gibson (exceto os PAF vintage, é claro). Para um teste desses ser mais fidedigno, para que ele possa realmente comparar as guitarras, seria necessário que todas tivessem os mesmos captadores. Ficou então a vontade de ouvir a R7 ou até a Beano com um par de Pretenders... :)

Oscar Jr.:
Quando reunimos 7 Les Paul numa mesma sala é preciso ter calma e respirar pra fazer uma análise. Caceta, todas soam bem, cada uma na sua praia. Nenhuma das 7 aqui apresentadas soou ruim de qualquer forma. Vamos às participantes:

Gibson Les Paul USA Standard 1981 Goldtop : Entidade à parte. Uma mistura de Tele e Les Paul única.. Realmente nada que eu ouvi até hoje tem o ataque que essa guitarra tem. Uma Les Paul que tem Twang na ponte é complicado mesmo, rsrsrs! 

Gibson Les Paul USA Deluxe 1973 Goldtop : Uma Norlin com letras maiúsculas. Gibson Dark Age? Que nada! Corpo Pancake pegada e timbre característicos dos Mini Humbuckers. Histórica e como disse o Paulo, uma senhora que merece respeito. Não dá pra comparar com as demais também por conta dos Mini humbuckers que têm uma sonoridade mais restrita de frequências e menos dinâmica que os Humbuckers full-Size. 

Gibson Les Paul Standard Custom Shop 1957 Reissue Goldtop: Dentre as Custom Shop testadas ela foi a que soou mais discreta. Os Burstbuckers 1 e 2 têm mais força e um timbre um pouco mais direto e sem tanta nuance que com drive fica simplesmente matador. É um cap que a Gibson não deveria ter tirado das Custom Shop na minha humilde opinião. Acho que soam melhores que os Custom Buckers que equipam as 2013. 

Gibson Les Paul USA Standard 2008: É o som moderno da Gibson. Os BurstBucker Pro casam com essa guitarra (chambered) como uma luva e assoviam bonito sob boas doses de ganho. Não tem tanta complexidade como as Reissue até pelas diferenças de estrutura e hardware, mas não é esse seu propósito e sim de ser uma guitarra "Pau pra toda obra" do músico. Nesse quesito ela se sai extremamente bem, desde o Blues até o Hard Rock mais pesado. 

Gibson Les Paul Standard Custom Shop 2013 1959 Reissue: Essa é o resultado da saga nos ultimos posts. Talvez a Les Paul mais "aberta" e transparente que já ouvi e toquei. Mesmo com os Custom Buckers que não tem o ataque e estalo bonito dos Rolph, ela já soava bem. O Paulo deve fazer um post só dela no futuro, mas com certeza as R9 tem algo especial. A Gibson tem alguma macumba pra essas guitarras. 

Gibson Les Paul Standard Custom Shop 2003 1959 Reissue: Sou suspeito pra falar dessa guitarra (ja abordamos ela no post anterior), mas basta dizer que toquei 3 notas nela e sabia que seria minha. Soa um pouco mais grave que a do Paulo mas com a mesma complexidade e transparência dos médios. Já testei uns 4-5 captadores nela e todos soam com o mesmo DNA.

Gibson Les Paul Standard Custom Shop Beano 1960 Reissue: Woman tone pronto no captador do braço e crunch total no da ponte. Que guitarra interessante, a Gibson realmente toma cuidado nessas edições especiais e comemorativas. Braço fino e rápido, tampo com um lado flame e outro plain (como a original) e tudo mais que essa guitarra merece. 

Resumo sucinto de todas as meninas da foto. Poderíamos fazer um post completo de cada uma delas! :-)


Rodrigo Rassele:
R9 2013: quando peguei ela na mão e toquei ainda desligada, senti imediatamente o pouco peso e o som aberto e ressonante dessa guitarra. Plugada, isso se confirmou.  Óbvio que se tratava de uma guitarra escolhida a dedo. Quando comprei minha custom shop cheguei a testar mais de 20, e era isso que procurava. Pensei: esta é a guitarra certa pro cara certo... Porém o Paulo apresentava uma cara de estranheza... Me deu a impressão dele ainda não saber o que tinha em mãos...

R0 Beano: Guitarra da linha custom shop signature que oferece o timbre que se propõe, o famoso "woman tone". Sempre tive essa impressão mas agora ela ficou muito mais clara nesta comparação lado a lado com as R9.  Braço fino com excelente tocabilidade - o tal do "Thin Clapton Profile".

R9 2003: Essa veio pra ganhar. Uma R9 2003, considerada a melhor safra das reediçoes, já tunada pra mostrar todo seu potencial. Que som! Tudo perfeito na medida certa, definiçao, dinamica, corpo e toda complexidade que ouvimos nos videos com as originais. LP perfeita. Esses captadores Rolph...

R7 GoldTop Legítima reedição de uma LP 57. Não é feita para soar como uma burst, o som é mais fechado e encorpado. Braço gordo, robusto e um lindo tampo com acabamento Gold Top. Os captadores burstbuckers é que não estão no nível da guitarra. Tem grande potencial para ser tunada. A R7 é uma excelente relação custo X beneficio pra quem quer uma LP custom shop sem ter que vender um rim, podendo custar a metade de uma R9.

73 e 81: Duas Gold Top com aged original, feitas numa época em que a Gibson não tinha muita preocupação de ser fiel às dos anos 50, por isso mesmo com especificações diferentes das clássicas. A 81 já esta devidamente tunada com som de strato no braço bem evidente. A 73 também teve o teste um pouco prejudicado por estar totalmente original e sua parte elétrica deixando a desejar. Mesmo assim, as duas produziram som com o DNA puro de LP.

Standard: foi interessante levá-la para essa comparação. Deu pra ver exatamente o que a Gibson quer com a standard. Guitarra feita em série com acabamento e tampo que não perde em nada pras custom shop. DNA de LP sem frescuras para o cara que quer uma LP com visual quase idêntico às originais porém não é exigente com a complexidade do timbre.

Todas soaram com o DNA Gibson Les Paul. Todas reproduziriam em um ensaio um timbre muito próximo ao seu ídolo que usa LP. A R9 do Junior, já com caps Rolph, está perfeita: definição, dinâmica e complexidade tipica de uma burst original. Aliás, esse som não sai da minha cabeça... A Beano é uma guitarra com uma proposta especifica e desempenha seu papel ao reproduzir o famoso "Woman Tone". Os captadores, ao meu ver, se mostraram os melhores da Gibson presentes no teste. A R9 do Paulo é fantástica. Pra quem já testou varias custom shop basta pegá-la e tocá-la ainda desligada que se percebe que é uma LP especial. Claro, faltou aquela tunada assinatura Paulo... A R7 é a mais charmosa, com o seu GoldTop lindo - apresentou grande potencial para tunagens, mas os burstbuckers deixaram a desejar. As veteranas 73 Deluxe e 81 Standard assistiram tudo sem nenhuma pretensão de serem melhores ou piores, mas sim diferentes. Pertencem a uma outra época, com outras especificações e não fizeram feio. A corajosa Standard (chambered)  apresentou nitidamente o timbre mais pobre e simples com seus burstbuckers Pro. Porém vi com exatidão a proposta da Gibson com essa guitarra. Oferecer uma guitarra leve, com acabamento excelente,  top belíssimo, digno de uma CS, porém com um timbre descompromissado, sem complexidade e sem muita definição, mas ainda com o DNA "Les Paul".


Conseguimos fazer um vídeo rápido - e só fizemos porque alguém lembrou do blog na última hora! :). Trilha sonora: ZZTop Down Brownie. Pearly Gates  na veia.



 Les Paul sunburst... Tem coisa mais instigante que isso? :)

Bem, imaginamos que muitos aqui estão ávidos por detalhes dessas guitarras, sons, etc. Ao longo da semana, de acordo com as perguntas, voltaremos aqui e editaremos o post aos poucos, acrescentando essas informações, tipo "on demand"...
E ainda preciso editar o áudio que gravamos pra ver se dá pra fazer um post interessante.

Oscar Isaka Jr., Paulo May e Rodrigo Rassele: um brinde à todos! :)


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Tarraxas: O que é "Relação de Giro / Gear Ratio"?


  Paulo May 

         Primeiro, um pouco de história: as engrenagens são conhecidas e utilizadas desde pelo menos 350 anos antes de Cristo, ou cerca de 2.500 anos. A foto abaixo é de um sistema de engrenagens primitivo encontrado em escavações no Iraque.


A engrenagem é uma invenção talvez mais importante que a própria roda. Quase tudo que gira no mundo tem engrenagens, de moinhos primitivos a motores de fórmula 1.




As tarraxas de guitarra são formadas basicamente por duas engrenagens e a quantidade de "dentes" dessas engrenagens caracteriza o tipo de funcionamento/giro.

A maioria dos fabricantes de tarraxas quase sempre especifica essa relação com o termo "gear ratio" (relação de transmissão /giro /engrenagem). Por exemplo, uma relação de giro/gear ratio de 12:1, típica das tarraxas mais antigas, significa que o eixo da cravelha (onde seguramos para girar) precisa dar 12 voltas para fazer o eixo principal (onde a corda é inserida) girar uma volta completa/360 graus.


A relação das tarraxas Fender (feitas pela alemã Schaller) das minhas Telecaster de 1968 e 1974 é de 12:1 (ou menos). É uma relação funcional, mas meio chata, pois com os afinadores digitais modernos, podemos perceber que às vezes o ponto ideal de pitch está entre um dente e outro! :)

Relações de 18:1 ou mais são bem melhores e não precisamos perder tanto tempo pra achar o centro da afinação. Fico bem mais confortável com a relação de 18:1 das Planet Waves. As Sperzel são ótimas, mas a relação da maioria delas é de 12:1. O único inconveniente das tarraxas com relações maiores é que temos que girar mais vezes quando estamos colocando as cordas, mas isso é plenamente compensado nas afinações seguintes.

O Rafael Casagrande, leitor do blog, fez um comentário importante ( e de quem é profissional do ramo, pelo jeito) que transcrevo pra cá:
"A relação de engrenamento nas tarraxas funciona com um sistema sem fim. Ou seja, na teoria independente da posição, sempre haverá um ponto de contato entre um dos dentes da engrenagem do poste onde a corda é enrolada e o eixo sem fim onde aplicamos o torque. Se há folga, ou há desgaste no conjunto ou o mecanismo está mal projetado. Uma relação maior, no caso de 18:1, também necessita de menor torque aplicado ao sistema, ou seja, menos cansativo. "

Imagino que a tradução técnica correta em português para "Gear Ratio" seja "Relação de Engrenamento", Rafael... :)

PS: antes que alguém pergunte, há dúvidas sobre a grafia correta da palavra, mas historicamente "TARRAXA", com x, parece a mais adequada.