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sexta-feira, 16 de março de 2012

Les Paul Chinesa: dá pra encarar ou não?



         O Fernando Conde, que acompanha e participa do blog, recentemente comentou que seu tio havia comprado uma Les Paul "Gibson" chinesa num desses sites de produtos chineses tipo e-bay.
Quem já visitou esses sites percebe que as fotos dos clones de Les Paul são geralmente fantásticas, parecem realmente com as originais e deixam a gente babando de vontade de comprar uma dessas "Chibson" por 200-300 dólares.
Caso ainda não conheças, siga esse link e digite "Les Paul" no campo de "Search Products": DHGate
Quem entra nesse site fica pelo menos meia hora - praticamente TODOS os possíveis clones de Gibsons, Fenders, Gretsch, PRS, etc. estão lá.
Antes de mostrar as fotos e os comentários do Fernando, posso adiantar algumas coisas essenciais:

1) - Por favor, não perca um minuto do teu tempo pensando se uma dessas cópias chinesas pode sequer chegar perto de uma Gibson (ou qualquer outra americana ou japonesa) original. Sério!
2) - A maioria das fotos - ppte das "Custom Shop" - são fotos de Gibsons reais que eles pegam "emprestado".
3) - A qualidade das madeiras, hardware e construção é muito inferior e razoavelmente bem disfarçada pelos acabamentos sintéticos e truques estéticos (que veremos adiante)
4) - Aparentemente, eles de fato enviam o que compramos (os calotes tipo comprar e não receber são raros), mas existe um universo de diferença entre o que vemos/imaginamos nas fotos do site e o que chega em nossa casa.
5) - O americano tem um ditado que sintetiza tudo isso: "You get what you pay for" ou seja "Voce recebe o que você paga". No Brasil temos uma muito boa também: "Quando a esmola é demais, até o santo desconfia" kkkk!

Acompanho essas Les Paul Chinesas há anos, já fui vítima de uma (clique aqui) e postei a análise de uma Epiphone também.
Existe um vídeo famoso no YouTube: "How to Spot a Fake Gibson" (como identificar uma gibson falsa):


Mas certamente os chineses já assistiram esse vídeo...:)... Imagino uma cena assim:


Mas vamos lá  - segue o relato com  as fotos e comentários do Fernando Conde - os meus adicionais estão em vermelho):

"A guitarra e realmente uma cópia descarada, com direito a adesivos "Original Gibson USA", mas analisando com calma encontramos alguns pontos que entregam sua origem asiática.

Braço: Bem acabado e confortável,para outros...eu estranhei pois estou acostumado com minha GX GG1 que tem o braço "gordo" e foi o que até hj melhor me adaptei por ter virado "guitarrista" a pouco tempo (Tocava Violão)e ter a mão exageradamente grande, Head estilo Gibson com assinatura "Les Paul" e o verso o serial e Gibson USA gravados em baixo relevo, meio estranho pois a madeira fica a mostra e dá um grande contraste com o preto e aquele mogno asiático claro.

Marcação Escala: Escala perfeita trastes grandes, polidos e bem instalados, não necessitaram de alinhamento ou retifica, a marcação de trapézio em madre-perola sem marcas de Cola... agora a marcação lateral deixa a desejar, aqueles "dots" estavam desalinhados principalmente no fim do braço quase rente o corpo, na 12º casa então muito inclinados.

Corpo: Ele optou pela preta então fica mais difícil dizer se é inteiriço ou se tem emendas. A junção do corpo e braço, conforme informações do próprio luthier dele estava Ok.

Ferragens: Cromadas sem defeitos, estavam perfeitas... as tarraxas são estilo vintage Kluson Tulipa, gravado o nome Gibson no verso, são boas e não comprometem em nada e vão ficar, sem problemas.

Captação: Não vi a guitarra com captação original mas segundo ele são boas e na etiqueta diziam ser Gibson Alnico mas pude ver que estavam gravadas como Epiphone, mas ainda duvido que sejam originais... o metal de baixo muuito amarelo e a solda do aterramento do cover com a carcaça muito mal feita.

Elétrica: Ponto negativo, as soldas são terríveis, inclusive um "pot" de volume estava com mau contato e teve de ser reposto.

Acabamento: Pintura sem detalhes muito boa, só não gostei muito dos frisos pq em partes estão branquinhos e em outras meio amarelados.

Som: Não posso falar muito pq meu contato com ela foi de +- 40 mim. já com a captação trocada (captadores GFS de alnico) mas achei muito boa e com bom sustain.

Resumo: Apesar dos problemas encontrados ainda achei uma boa compra pelo valor final(+- R$ 900,00 com impostos). Inclusive achei superior as Epiphones.
"


 "Visão geral da guitarra"


"A tampa do tensor seguindo o mesmo desenho e fixação das Gibson (2 parafusos) já que a maioria das chinesas são fixados com 3."
(Bem, essa daí eles já se tocaram  - foi só tirar um parafuso, hehehe)


"Nessa vc pode ver claramente as marcações/bolinhas laterais desalinhadas, infelizmente com a câmera não deu pra capturar a diferença de coloração no friso lateral, mas acredito que depois a cor vai se igualar no tom amarelado"


"Detalhe aqui para as tarraxas com a logo Gibson e o serial em baixo relevo."


"Comparação dos braços desses 2 modelos, o da SX visualmente mais gordo que o da LP."
 (A angulação do headstock não é de 14º, mas maior que 10º)


"Aqui é pra mostrar o detalhe do acabamento extra do tailpiece - vc pode ver uma arruela que foi colocada pra cobrir aquele erro de 2mm que comentei no blog."


"Nessa vc pode notar a escala e os trastes que comentei no Blog que não necessitaram de retífica e/ou nivelamento, vieram 100%"


 No detalhe, o acabamento ruim da cavidade, com uma "lasca" aparecendo por baixo da moldura

Existem inúmeros artigos e sites na internet comparando as chinesas com as Gibson. A maioria mostrando dicas de como identificar uma cópia.
Esse blog do luthier neozelandês Glyn Evans tem fotos bem legais. Um dos pontos mais fáceis de identificar uma chinesa era a ausência de cobertura do binding nas extremidades dos trastes. Nenhuma chinesa tem isso....Ou tinha... Eles já perceberam e as mais recentes TEM as pontas dos trastes por baixo do binding:

As Gibsons são assim (com fret edge binding):

As chinesas ERAM assim:

Agora estão assim:
Ainda entupidas de verniz, mas como diz  próprio Glyn: "It's getting harder to spot them!"... Realmente, pode chegar o dia em que só um cara muito experiente vai identificá-las... :)

A não ser, claro, que a gente se depare com esse selo:

 "Bench Tesred  - Buikkit Approvud"???  Meu Deus!! Só isso já basta. Não precisa nem olhar a guitarra kkk!:)
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Sessão Especial de meia noite: HORRORES ESCONDIDOS

Alguns caras mais ousados retiram o verniz pra ver o que tem "embaixo" dessas guitarras chinesas. Eu mesmo radiografei uma e descobri que o mogno dela tinha 144 furos!


Essa seguinte é uma Les Paul até muito bonitinha. Pela foto inicial de longe, parece ok, mas daí o cara removeu a tinta:

 Ele retirou a fina camada superior e inferior (folha ou veneer) que é usada para esconder emendas ou defeitos nas madeiras. Observe que o top de maple tem áreas bem feias e irregulares


 O mogno posterior. Como sempre, com várias emendas,geralmente de pedaços de árvores diferentes, com densidades e sonoridades distintas.


Nessa Les Paul SX, um dos blocos tinha um buraco que foi preenchido com epóxi, serragem e pequenos pedaços de madeira. Coisa feia!



SOCORRO!

E as Epiphones

São feitas na china (numa fábrica própria atualmente) - será que também têm alguma gambiarra?
Bem, pelo menos no quesito "vamos esconder essas emendas" as Epiphones jogam no mesmo time das outras chinesas. Já postei sobre uma que pude analisar aqui em casa

Aqui, o cara se deu ao trabalho de remover a tinta:
Talvez 4 emendas, todas de aspecto diferente. Pelo menos o bloco do meio é relativamente grande.


E esse outro infeliz, que descobriu que o suposto braço de mogno de sua Epi era na verdade maple (com uma grossa (põe grossa nisso) cobertura de verniz colorido.
Observem a espessura do verniz. No post, o cara diz que o braço passou de grosso pra fino! kkkk:)

Pelo menos é um maple até que bonitinho:)

O Caio acabou de postar um comentário levantando a questão das cópias japonesas dos anos 70/80: Burny e Greco, ppte.
Essas são outro papo. Algumas eram até melhores que as Gibsons da época, inclusive com specs vintage.
Eu compraria uma Greco ou Burny antigas sem pestanejar. Atualmente a Greco produz guitarras tipo Les Paul, mas feitas na china...
Essas guitarras merecem um post só pra elas.

E, pra finalizar, não estou "malhando" os chineses. Eles estão aproveitando um hiato de mercado (se é que podemos considerar assim). Conforme mencionado pelo Anderson em seu comentário, "a China é país com o maior número de certificações ISO do mundo".
Culturalmente, para a China, o ato de copiar não tem o mesmo grau de "pecado" que para nós ocidentais. 

Não os condeno, mas também não os absolvo :)

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quarta-feira, 7 de março de 2012

Timbrando uma strato: Lindy Fralin Blues Specials X Sergio Rosar Blues


Meu amigo Oscar Isaka Jr. Postou no seu blog uma interessante comparação entre esses dois captadores. Sem ele saber, roubei o post e trouxe pra cá :)
Divirtam-se:


Lindy Fralin Blues Specials

Algum tempo depois de começar a estudar a compreender sonoridades, testar captadores e guitarras virou um vício difícil de controlar e a pesquisa por diferentes designs e técnicas de construção a fim de obter um som específico não acaba nunca. Isso já me levou a testar quase toda a linha da Seymour Duncan, uma grande parte dos DiMarzio, todos os modelos (lançados e não ) do Sérgio Rosar, todos os singles da Fender, etc. Com o tempo essa coisa toda vira uma espécie de biblioteca sonora, e que ajuda muito na hora de alcançar um certo timbre.

Pois bem, eis que em uma das minhas caminhadas pelas lojas de música de Curitiba, revendo amigos e batendo papo vi em uma vitrine um set de singles com capinha "Old White". Quando perguntei ao Carlos (Loja do Músico) o que era ele me disse que era um set de Lindy Fralins Blues Specials.

Abrindo um parênteses, Lindy Fralin é um dos mais renomados Pickup Winders dos Estados Unidos e é extremamente famoso pelos seus singles, tanto para Strato como para Tele. Vale a pena dar uma conferida no site www.fralinpickups.com , onde ele tem videos e especificações de seus modelos.

Os Blues Specials estão entre os modelos mais famosos de Lindy Fralin, conhecidos pela sua clareza sonora, complexidade harmônica e timbre mais "gordo", que o próprio Fralin define como ideal para solistas melódicos. Não é a toa que esse set leva esse nome. Como eu nunca havia testado um set do Fralin e não se acha esses pickups por aqui, num acesso de G.A.S. comprei os bichos.

Chegando em casa, maluco para escutar o que eles realmente falavam ( e verificar se são mesmo tudo aquilo que os Forums gringos clamam) tirei-os da caixa de instale-os na minha Strato de ASH com braço e escala de Maple, onde estava um set de Sergio Rosar Blues. O Blues Specials é feito com magnetos de Alnico V, e fio Plain Enamel 42AWG tenho perto de 6k nos caps do braço e meio e quase 7k na ponte. Essas especificações são características da famosa era 60s da Fender, especialmente pré-CBS até 63, com aquele som característicamente mais "gordo" e com mais ataque e estalo que as dos anos 50. Se você pensou em Stevie Ray Vaughan você acertou em cheio. Sua Number #1 mais famosa, era uma Strato 62.



O fio Plain Enamel (enamel é um tipo de esmalte), possui características muito peculiares de condução e capacitância do isolamento que interferem diretamente na sonoridade do captador. Tecnicamente é um fio "inferior" aos modernos fios revestidos de polysol, mas é justamente esse detalhe que lhe confere sua sonoridade tão peculiar. É facilmente identificado pela coloração mais escura, meio marrom e as vezes avermelhada:


Instalados, guitarra afinada, pluguei no meu amp e toquei as primeiras notas. O som era mais ou menos o esperado das especificações: um timbre focado, com ataque bem definido e amplo, graves firmes um pouco menos de agudos e mais força que um single tradicional como o Seymour SSL-1, por exemplo. Em comparação ao Texas Specials (famoso por vir na Fender SRV) ele soa bem mais claro e articulado, com menos informação de graves e um pouco mais de agudos que dão ao som uma compressão muito bonita e agradável. Com drive ele mostra sua cara MUITO bem, com muita definição e sem quase nenhuma magreza que alguns singles tradicionais como o 57/62 as vezes podem apresentar, e de novo remetem ao bom e velho SRV (especialmente se usarmos um Tube Screamer para isso). Nada de timbres cristalinos de Fender por aqui, eu diria que eles são sinônimo de timbres gordos de Strato, com corpo mas mantendo toda definição dinâmica e articulação tão essenciais para os Strateiros de plantão.
Gravei a introdução de Texas Flood rapidamente pra vcs poderem ouvir o que eu escrevi:

Lindy Fralin Blues Specials:






Tudo isso já era esperado e batia com o que eu havia lido em todas as reviews deles em Forums etc. O que eu não esperava era que eles soassem TÃO PRÓXIMOS ao set Blues do nosso mestre Sergio Rosar que estavam na mesma guitarra. Pra falar a verdade, só saberia diferenciar de fato porque eu mesmo havia trocado os captadores, tanto que gravei exatamente a mesma frase na mesma guitarra com o Rosar Blues pra ouvir o A/B e tirar a prova:

Sergio Rosar Blues: