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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Falência da Hamer Guitars - a verdadeira história

No dia 6/12/2012, a famosa marca de guitarras Hamer declarou falência. À princípio, já que não estava vendendo bem nos últimos anos e enfrentando a corrosiva concorrência das guitarras orientais, parece um fato corriqueiro, mas não é.
A Hamer é uma das muitas subsidiárias da Fender (que por sua vez é controlada pelo grupo de investimento Weston Presidio, que detém 43% da ações. A Yamano Music do Japão tem 14%). E foi aniquilada devido à dificuldade da Fender para saldar suas dívidas.

Quem diria... Falamos mal da da CBS e sua política corporativista, que entre 1965 e 1985 diluiu a qualidade da Fender e poucos sabem que desde 2001 a Fender voltou a ser controlada por uma corporação...

Recomendo, para quem domina o inglês, essa reportagem da CNN e também a do New York Times.



A Fender gastou 117 milhões de dólares em 2007 para comprar a Kaman (leia Ovation), que por sua vez havia comprado a Hamer em 1988. A Fender tem sérias dívidas e aparentemente está num beco sem saída. O primeiro passo da faxina necessária nesses casos, é cortar despesas, e a Hamer, inicialmente direcionada para guitarras de médio/alto custo foi a primeira da fila. Quem iria comprar uma Hamer Talladega Pro pelo preço atual?
Os economistas e afins de plantão aqui poderiam ajudar na interpretação, mas acredito que basicamente seja isso - a Fender tá cortando um dedo pra não ter que cortar o braço.

Assim, resumindo, o grupo de investimentos Weston Presidio manda na Fender, que manda na Kaman, que manda na Hamer. Jol Dantzig é que foi esperto - pulou fora em 2010 :)




terça-feira, 13 de novembro de 2012

Instrumentos musicais ficarão mais caros em janeiro de 2013

Post rápido.
Resumindo, o governo brasileiro pretende, à partir de 2013, aumentar (ainda mais) os impostos sobre instrumentos musicais. Ridículo!
Leia a notícia aqui: CLIQUE
Assine a petição aqui: CLIQUE

Se não fizermos nada agora, o barco vai continuar afundando. Assine a petição e peça para seus amigos assinarem também, por favor!

PS: O Pedro Ditz colocou um link interessante.  É um projeto de lei (de 2004 - ainda não votado!) do senador Morazildo Cavalcanti que sugere a isenção do imposto de importação para músicos:  CLIQUE.




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Les Paul 1959 - O Mito Revisitado

     

        Inaugurei esse blog em 2010 falando sobre o "Cálice Sagrado" das guitarras: o mito "Les Paul 1959"
Realmente, parece que houve alguma confluência mágica de fatores para gerar uma guitarra que é considerada a melhor de todos os tempos. Essa mágica durou apenas três anos, de 1958 a 1960 e teve o ápice em 1959. Uma Les Paul Sunburst 1959 hoje em dia não custa menos de 200.000 dólares, Pode chegar a 400, 500 mil e se acrescentarmos o fato de ter sido de algum músico famoso, como a Peter Green/Gary Moore, pode chegar (dizem) perto de um milhão de dólares.

Li todos os livros, artigos e fofocas que encontrei sobre as famosas "burst" como são apelidadas, mas recentemente me deparei com uma entrevista do Gary Moore falando sobre suas guitarras, mais especificamente as 59 e me surpreendi quando ele mencionou essa Les Paul 59:


Transcrevo suas palavras:
I had another ’59 Les Paul that I sold in the ’90s and that one sounded like shit,” Moore laughs.
“It’s the one that’s on the cover of the After Hours album, and I only kept it for a year or two. It had a nice light body, looked really good and played really nice, but it wasn’t until I tried it in the studio that I realised it just didn’t sound very good. It sounded very flat and dull and was probably the worst-sounding one that I’d come across in a long time."

Tradução livre: "Eu tive outra Les Paul 59 que vendi nos anos 90 que soava como uma merda, ri Moore. É a que está na capa do album "After Hours" (foto abaixo) e eu fiquei com ela apenas um ou dois anos. Ela tinha um corpo legal e leve, um visual realmente bom e ótima tocabilidade. Mas foi somente quando a ouvi no estúdio que percebi que não soava muito bem. Ela soava muito "flat" (linear) e apagada/sem graça e foi provavelmente o pior timbre de Les Paul que ouvi em muito tempo"


O Gary Moore nunca foi de meias palavras, mas era um cara esperto. Só falou a real da guitarra depois de vendê-la... Bem, vários colecionadores e guitarristas já mencionaram que "nem todas" as burst são excelentes guitarras, mas até então nunca tinha lido alguém falar que era uma "merda"!

Ele vendeu também a "Peter Green", mas manteve essa 59:


Foi com essa Les Paul Sunburst 1959, comprada em 1989, que Moore gravou seus maiores clássicos. A primeira música que ele gravou com ela foi o hit "Still Got The Blues".
Não sei se essa (mais provável)) ou a "merda" é a que teoricamente pertenceu ao guitarrista Ronnie Montrose (roubada em 1972). Montrose entrou com uma ação legal contra Moore em maio de 2009 (a petição está aqui, em PDF). Com a morte do Moore, não sei como ficou a coisa.
(Obs: Ronnie Montrose suicidou-se com um tiro em março de 2012 - ele sofria de câncer de próstata e depressão. Gary Moore morreu em fevereiro de 2011)
Bem, não estou tentando desmistificar um ícone já cristalizado na cultura musical do mundo, mas é interessante confirmar, através de uma fonte legítima, que realmente nem todas soam bem. Quase um alívio :)

Ela também não tem o poder de enfeitiçar os guitarristas de maneira irreversível. Inclusive dois dos guitarristas que iniciaram a hiper valorização das bursts na década de 1960, Keith Richards e Eric Clapton, optaram por simples e mais mundanas Fender... Jimmy Page é uma exceção clara, mas em qualquer lista dos "maiores guitarristas de todos os tempos", veremos que apenas alguns são fiéis às Les Paul clássicas.


Bem, não interessa. Independente de qualquer coisa, clássico é clássico e uma Les Paul sunburst 1959 "boa" ainda é o Cálice Sagrado das guitarras... :)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Telecaster Castelli Custom




         Quando o meu amigo Oscar Isaka Júnior, outro louco por guitarra, me enviou a foto de uma maravilhosa Telecaster Custom feita pelo mestre luthier Tom Castelli de Curitiba, fiquei de queixo caído, não só pela beleza exuberante mas também pelas especificações. Acho que nunca vi um top de quilted maple tão tridimensional quanto esse... Luxo absoluto! :) 
Ela tem aspectos técnicos muito interessantes e ninguém melhor que o Júnior pra falar sobre essa obra de arte. Pedi pra ele fazer o texto porque eu precisava colocar essa Tele no meu blog! :) Segue:
_____________________

OSCAR ISAKA JR.:

        "Sempre que eu encontro algo interessante converso com o Paulo e trocamos muitas figurinhas, e sendo ambos compulsivos por guitarras e tudo o que gira as 6 cordas seria natural que eu roubasse um post ou outro deste que considero um dos mais informativos blogs de Guitarras da Internet. 

        Desde quando comecei a tocar guitarra em meados dos anos 90, o nome DiCatellis tem sido uma constante pra mim. Sendo de Curitiba, ainda mais tendo começado no meio metaleiro, as guitarras Castelli sempre foram sinônimo de qualidade entre músicos e guitarristas. Lembro que tinha um companheiro de banda que havia recém mandado fazer uma réplica do famoso modelo "Kelly" da Jackson, na época utilizada por Marty Friedman. Mais e mais instrumentos DiCastellis apareciam nas mãos de amigos e conhecidos do mundo guitarrístico, mas eu por alguma razão não havia ainda ido lá efetivamente até uns 3 anos atrás, quando voltei a tocar e desde então já fiz algumas guitarras com ele e sempre levo meus instrumentos para regulagens ou vou simplesmente para um (ótimo) papo sobre guitarras e afins.

Sexta Feira passada fui até a Castelli para trocar uma ideia com o Tom, e essa Telecaster estava sentada na bancada depois da montagem e regulagem final. Foi impossível não reparar a beleza e capricho dessa guitarra e questionei o Tom.
O cliente (vou me referir aqui como John :-) ) queria uma guitarra para tocar Rock/Hard Rock, então a clássica combinação mogno/maple foi a escolhida. O formato escolhido para o corpo foi a Tele pelo gosto do próprio John e o braço/escala seria parafusado, de maple. Ponte String Through Body hard tail e escala padrão Fender de 25,5 polegadas garantem o final da composição timbrística da menina. Mas ainda falta a estética.



A combinação de Mogno com top de Maple para o corpo garantem um timbre quente sem perder a definição, acentuado ainda mais pelo braço/escala de maple. 
Como uma Les Paul? Humm, mais ou menos pois a escala longa de 25,5 e a ponte hard tail com String Through Body aumentam o comprimento de corda deixando-a com um pouco mais de tensão, fazendo o ataque aparecer mais rapidamente e secar os graves. Tudo o que se precisa para não embolar em timbres mais distorcidos. 

Mas o braço parafusado não compromete o sustain nessa configuração? Não necessariamente. Nesse caso a junção e fixação são cruciais para garantir uma boa ressonância do conjunto e portanto assegurar boa sustentação. 
O Tom faz uma fixação bem justa no "Neck pocket" (tróculo), assegurando o máximo de contato possível nas paredes no braço e da cavidade no corpo, juntamente com 5 parafusos para garantir a pressão necessária para eficaz transferência das vibrações do braço. Parafusos de INOX, com 3 mm a mais de comprimento e 1 mm a mais na largura do que os tradicionais usados pela Fender. Embora isso remova um pouco do estalo característico de guitarras com braço parafusado, o aumento da pressão proporcionado por esse padrão de 5 parafusos faz com que a sonoridade ganhe corpo de médios e uma sustentação melhor desde o ataque das notas, trazendo-a mais próxima das observadas nas guitarras de braço colado. 


O Tom faz esse tipo de "upgrade" em guitarras de braço de braço parafusado em que essa característica é mais procurada como por exemplo Jackson, Ibanez, etc. com excelentes resultados. O upgrade é simples e consiste em adicionar 2 parafusos sob o neck plate para aumentar a pressão da fixação do braço e corpo. 

Em Strato/Tele clássicas, esse upgrade tira um pouco do estalo e quack característicos dos sons clássicos com single coils, mas os resultados são muito bons com uso de humbuckers. Paul Gilbert já relatou que costumava sentar em suas guitarras na hora de apertar os parafusos dos braços de suas Ibanez a fim de deixar a junção mais firme.
Como a intenção de sonoridade desejada era ter a maior densidade possível sem perder a definição, o pedaço de mogno escolhido para o "back" do corpo é bem denso e com veios bem próximos. Isso gera um som gordo e quente, mas também aumenta consideravelmente o peso da guitarra (a sonoridade e peso desse tipo de mogno é bem conhecida nas Gibson dos anos 80). Para cortar um pouco desse peso, foram feitas câmaras no corpo antes da colagem do top de Maple. A técnica já é utilizada pela Gibson, Tom Anderson e muitos outros e conhecida como "Tone Chambers". Se executada corretamente, além de reduzir o peso do instrumento, aumenta a ressonância geral modificando levemente a resposta sônica do conjunto. Em geral o ataque fica um pouco mais macio, sem comprometer a definição. Nem melhor nem pior, só diferente!



       A parte elétrica estava definida com 2 humbuckers, 1 volume e 1 tone e chave de 5 posições. Os captadores escolhidos foram o Seymour Duncan 59 para o braço e (Seymour) Duncan Distortion para a ponte formando um conjunto bastante versártil, com bastante potência na ponte e algo mais ameno no braço para sons mais suaves. De ultima hora foi adicionado um Seymour Duncan Vintage Rails logo acima do captador da ponte (onde Steve Morse usa um também) para uma versatilidade ainda maior, permitindo a utilização deste sozinho ou em paralelo com os humbuckers.



Com a parte técnica toda delineada chegava a hora de definir os detalhes estéticos. O John fez questão de ter uma atenção redobrada nessa parte do projeto e escolheu a dedo os componentes. O mogno do corpo, foi o brasileiro de um estoque antigo da própria Castellis, de coloração avermelhada e veios bem bonitos. O top, um Quilt Maple de graduação 4A "book matched" e o braço e a escala, Bird's Eye Maple também muito figurados, todos importados dos EUA especialmente para esse projeto. A pintura foi feita utilizando as mesmas técnicas de tingimento que a PRS, Anderson, Suhr, Gibson e etc utilizam para realçar o efeito tridimensional. O resultado pode ser visto nas fotos, que não fazem jus à beleza desse instrumento ao vivo. O 3D do top é algo simplesmente impressionante e a figuração Bird's Eye do braço idem. Sem brincadeira, eu não me lembro de ter visto um top e braço tão figurados e com um 3D tão bonito!!



Tive a oportunidade de tocar por alguns minutos com ela, e a sonoridade ficou incrivelmente equilibrada. O Distortion estava soando forte e preciso sem a estridência às vezes observada. O 59 definido e até mais detalhado do que eu estava acostumado a ouvi-lo e o VintageRails realmente adiciona um Q diferente ao timbre quando combinado com os humbuckers. 
Comparando a sonoridade com uma boa Les Paul, todo o calor do mogno com a definição e mordida do maple estavam presentes, com excelente sustentação. Os graves menos soltos e talvez um pouco mais de extensão e detalhe de agudos e um ataque mais rápido são as maiores diferenças para o clássico modelo da Gibson, o que já era de se esperar dadas as diferenças técnicas já abordadas. Os trastes INOX médio-jumbo fornecem maciez aos bends e permanecem brilhantes e polidos o tempo todo. A pegada do braço é fenomenal. O shape é um "C" médio copiado com exatidão de uma Music Man Axis. Acredito que os objetivos delineados lá na parte do projeto foram plenamente alcançados.

Todos devem estar se perguntando quanto custou esse brinquedo? O valor final ficou em torno de R$8.000,00 com hard case personalizado. O valor é realmente alto, mas dada a qualidade dos componentes e madeiras (só de maple para o top, braço e escala foram quase R$2.000,00 ) o capricho e beleza dessa guitarra, acho que o proprietário ficou extremamente satisfeito com o resultado. "


(Texto de Oscar Isaka Jr.)


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Olha, mesmo sendo um aficionado por Telecaster clássica e captadores vintage, acho que eu seria muito feliz com uma guitarra dessas... :)
O Tom Castelli é um mestre e embora não o conheça pessoalmente, TODAS as guitarras que vi/ouvi/toquei dele são de uma qualidade ímpar. A guitarra que ele fez para o Oscar é absurdamente linda e tecnicamente perfeita. Pedi algumas fotos dela e postarei aqui como complemento em breve.

E o Tom Castelli é aqui do Brasil, ali em Curitiba... :)
Visite o site: Castelli

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Montando uma Strato Fender...

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)




       Já postei aqui várias "montagens" e "tunagens" de guitarras. A Telecaster "Black Jack" ficou linda e não deve nada para uma Fender autêntica.
Mas, e se eu montasse uma Stratocaster somente com componentes (diretos e indiretos) Fender? Seria uma Fender? E quanto custaria essa brincadeira?
Bem, já posso adiantar que custa bem menos do que comprar uma Fender americana aqui no Brasil...

       Nas minhas andanças pelo ebay, conheci uma empresa que faz corpos de guitarra mas também vende corpos Fender "ponta de estoque" (se não sabes o que isso significa, pergunte para tua namorada, mãe ou irmã). Lá eles chamam de "factory outlet" - são corpos que estavam na linha de produção e, por algum motivo estético (pequenas lascas, defeitos na madeira, etc.), foram reprovados na inspeção final.
Analisei e continuo analisando sempre esses outlets da Fender. A maioria já está na fase final apenas faltando a pintura e todos são plenamente funcionais. A Fender é honesta o bastante pra não preencher uma ranhura com cola ou filler de madeira e tocar tinta por cima, mas pra mim, um corpo Fender 95% finalizado na fábrica, com um pequeno detalhe estético, custando 80 a 100 dólares é um puta negócio... Putz!


(Obs: hoje, pela primeira vez, não há peças à venda no ebay da B.Hefner. Estranho...
Como opção na mesma faixa de preço, há os corpos da licenciada Fender Mighty Mite na Guitar Center. Clique aqui para o link.)

        Aproveitei a viagem de um parente para os EUA, comprei um corpo ultra leve de alder (o mais leve que vi nos últimos meses), já com a tinta condutiva aplicada e pronto para pintura e pedi para a B.Hefner entregar no hotel em Miami, junto com todo o hardware Fender comprado na Guitar Center (no esquema pick up at the store). Poderia tranquilamente colocar os excelentes captadores Rosar Fullerton que não devem nada para os Custom Shop Fender, mas fixei na idéia de montá-la com tudo "Fender". O braço, eu havia comprado aqui no Brasil, um Mighty Mite licenciado pela Fender (mais sobre isso depois)

Bem, eis aqui a guitarra, um quebra cabeças espalhado no sofá:



A única coisa "Fender" que me arrependo de ter colocado foi o pot de tonalidade "No Load" - uma bobagem inútil que havia comprado há uns 2 anos e coloquei só por causa da brincadeira.

No detalhe, o "defeito" (com a marcação em vermelho do inspetor da Fender) que retirou esse corpo da fábrica e me possibilitou comprá-lo por 97 dólares:


Uma pequena rachadura, extremamente fina e de pouca profundidade, na extremidade traseira. Essas pequenas rachaduras incomodam muito na pintura porque a tinta tende a penetrar ali e fica uma irregularidade na supefície. Pô, é só colocar um pouco de massa de madeira e lixar... Em casa, preenchi essa ranhura e uns 2 ou 3 pequenos amassados, tipicamente provocados pelo empilhamento e manuseio posterior dos corpos. Como nunca havia feito isso, não percebi que é um processo que deve ser feito, esperar secar (há uma retração na secagem) e refeito mais uma ou duas vezes. TODO luthier que pinta, assim como TODO pintor de carro sabe que a superfície tem que estar absolutamente plana para receber a pintura. Lixar, lixar e lixar...
Como sempre, eu não tenho muita paciência e levei o corpo para o pintor de carros já no segundo dia... E, como sempre, pedi o mínimo de camadas de verniz. O cara diz: "Olha, isso aqui e aquilo ali não estão bem planos... Se queres apenas poucas camadas... Na hora, resolvi deixar assim - até porque, já falei, não gosto de guitarra brilhando demais e minha intenção era fazer uma relicagem nela depois.



O resultado ficou muito melhor do que eu esperava, até "bonita demais"... duas pequenas depressões microscópicas e um belo corpo "all black" :)
Na foto acima, a guitarra montada. O mais legal de montar uma "Fender" dessas é que tudo encaixa perfeitamente. O corpo e o braço estão com a junção PERFEITA.
A sonoridade? Fender na veia!
Vocês queriam o que? O som de uma Tagima 735 Special? :)

O corpo (levíssimo) de alder comparado com o da minha 97 (bem mais pesado, duas peças) tem menos projeção e ataque, porém é um pouco mais estalado e agudo. Autêntica sonoridade strato, sem nenhuma dúvida.
Na última hora acabei usando as tarraxas Fender com lock na minha Fender 97. Ia colocar as tarraxas Fender antigas nessa, mas tinha um jogo de Planet Waves sobrando e, por mais que quisesse que ela fosse toda Fender, uma tarraxa Fender comum perde feio para a Planet Waves... :)

Esse corpo tem 3 peças de alder. A terceira só consegui ver depois de dois dias. Eu aposto que ele é da linha da American Special ou até da Standard, considerando o tipo de cavidade frontal.
No total, gastei menos de 1.500 reais, mas não paguei impostos do corpo e hardware. O mais caro foi o braço, 560 reais  - bem pagos, pois é um excelente braço e o acabamento do luthier do Ceará é fantástico. Por cima se tivesse que pagar os impostos e transporte, acho que teria que acrescentar uns 800 a 1.000reais. Humm... 2.500 reais por uma Fender, aqui no Brasil? Só mexicana com captadores cerâmicos e corpos com 6 peças...

O decalque Fender no braço (tinta metálica, padrão original) e o acabamento foram feitos pelo guitarrista/luthier Vitor Tavares, de Fortaleza/Ceará ( vitor_tavares_ce@hotmail.com ). O Vitor adquire os braços da Mighty Mite e faz um acabamento realmente profissional neles. Um braço desses custa por volta de 100 dólares lá nos EUA. Coloque transporte, impostos... A gente acaba pagando 400 ou mais reais. 560 reais pela finalização e sem o stress da compra e espera, acho um excelente negócio. Ele também monta guitarras inteiras com peças originais e/ou licenciadas da Fender, da mesma forma que eu fiz.
Me esqueci de perguntar para o Vitor se poderia colocar link, mas aqui vai:
http://lista.mercadolivre.com.br/_CustId_17984361

Observem o padrão de qualidade do logo:



Minha black strat...:) Acho que todo guitarrista, no fundo, gostaria de ter uma stratocaster preta, não? :)




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Me esqueci: a pintura custou a bagatela de 75 reais. Os captadores são os Fender Custom Shop 54,  meus preferidos, mas tem gente que não gosta dos médios deles. O Rosar Fullerton tem DNA desses 54 misturado com o DNA do 57/62 - estupidamente Fender mas um pouco mais macios que os 54


PS: Não faço propaganda paga, muito pelo contrário, os links que coloco aqui são para os guitarristas e só para eles. Se acho alguma coisa legal, justa, barata e principalmente honesta, passo a dica adiante.

Sei do sonho de muito guitarrista de ter uma Fender ou uma Gibson. E sei que para a imensa maioria, pagar os impostos brasileiros é inviável. Não acho que a culpa seja dos lojistas finais (pelo menos uma boa parte deles), pois eles também pagam impostos pra tudo, até para as vendas por cartão, mas diante do impasse, mesmo uma pequena luz no fim do túnel já ajuda. Quanto custa uma Fender "John Mayer" aqui no Brasil? Quanto custa essa John Mayer?
        A Fender americana mais barata do Brasil (com todos os impostos devidamente pagos) tu encontras provavelmente em Fortaleza, no Ceará... :). Não é uma Fender oficial, mas é uma Fender na soma das partes, com qualidade similar (senão maior, já que algumas variáveis nem a Custom Shop domina) às originais.
Não perguntei o preço final, mas pela lógica, aposto que...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Uma Les Paul Boa e Barata? (Vintage V100 AFD)

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


O que torna uma Les Paul boa? Além de um pouco de sorte e mágica na combinação das madeiras, sua construção, quanto mais próxima do período clássico (1958-1960), maior a chance de ser excepcional... Antes de discutir, aqui seguem as fotos das duas guitarras em questão:

Epiphone Slash "Appetite" Les Paul Standard (cerca de 4.000 reais aqui no Brasil):


Vintage "AFD" Paradise (paguei 1.450 reais no Brasil):


Por favor, chequem as especificações da Epiphone aqui (Clique)
Diferenças óbvias (sem considerar o desenho do headstock e o cutway inferior): Captadores Seymour Duncan na Epiphone e Wilkinson (também de qualidade, alnico, etc.) na Vintage. Pots algo melhores e capacitor Orange Drop na Epiphone. E o resto? Muito, mas muito similar. Por que a diferença tão estúpida de preço? As especificações da Vintage (não é mencionado lá, mas ela tem o braço com long tenon/deep joint) estão aqui (corra até o meio da página, mais ou menos - Vintage V100 Series Paradise)...
Comparem as madeiras, acabamento e construção...

E já que estamos confrontando diretamente as Les Paul Epiphone e Vintage, não deixe de checar o review comparativo entre as versões "Joe Bonamassa Gold Top" Epiphone e Vintage na revista digital "iGuitar Magazine". A Epi ganhou 4 estrelas (de 5 totais) mas a Vintage chegou a 4 e 1/2 :). Siga o link: (CLIQUE)

Next post, vamos às considerações...

25/10/2012:
Bem, não tem muito o que considerar. As especificações de madeira e construção são praticamente as mesmas. Considere que a Vintage especifica o mogno do corpo como sólido (sem câmaras ou buracos de alívio de peso). A minha guitarra pesa 4,1 kg - leve para um corpo de LP sólido com esse preço.

O hardware? Como falei, a diferença está nos captadores - os Seymour Slash teoricamente são melhores, mas isso não justifica de forma alguma os 2.500 reais de diferença do preço.
Esses 2.500 reais a mais pagos por uma guitarra praticamente IGUAL estão provavelmente na ganância humana - começando pela Gibson (que supervaloriza sua submarca Epiphone) e terminando nos exploradores brasileiros, pois o preço lá fora é quase equivalente - pelo menos não há essa diferença absurda.
É uma guitarra com custo-benefício insano, mesmo se comparada com as novas Cort CR280. Nem troquei as tarraxas. Coloquei captadores excelentes - um Rolph 58 na ponte e um Rosar Mojo 13 (custom, com alnico V) no braço. Confesso que foi difícil timbrar o captador do braço, mas isso porque eu gosto de timbre menos gordo e mais definido e estalado nessa posição - coisa difícil de conseguir mesmo numa Les Paul Gibson. O Rosar Mojo 13 customizado pelo próprio Sérgio Rosar, com alnico V resolveu o dilema e a guitarra tá falando uma barbaridade! :)



Nessa demo, tocada pelo Oscar, os captadores são Sheptone Tribute PAF

(Obs: para ouvir essa guitarra, numa comparação com duas Les Paul Gibson, clique aqui)

Claro, não gosto do excesso de brilho do verniz PU das guitarras modernas e estou tentado a mexer um pouco no visual dela, mas isso fica pra depois :)

Aqui, uma foto da cavidade do captador do braço, mostrando a junção profunda/longa do braço com o corpo (quando uma marca em forma de sorriso aparece no meio):


PS: Não confundam esse modelo (Vintage V100 AFD Paradise) com a Vintage V100 comum, que não tem top sólido de maple - apenas mogno e uma folha fininha de maple figurado. Mesmo assim, a V100 ainda é uma ótima guitarra e custa menos que 1.000 reais. Na maioria das V100 o corpo é todo de mogno e o "flame maple" é só uma casquinha, pra dar o visual. Já a AFD e a "Lemon Drop", por exemplo, têm a camada de maple real (maple cap) e por último a folha de maple figurado. Há uma grande diferença sonora entre as Les Pauls (e suas cópias) com (mais aberta) e sem (mais fechada) top de maple.
No site da JHS, quando eles colocam: Body: Mahogany with Maple Cap / Top: Flame Maple Veneer , é top de maple real.
Se especificam apenas: Body: Mahogany / Top: Flame Maple - é só a folha de maple.

PS2: Tava bom demais pra ser verdade... :) No dia 18/8/13 o leitor do blog Isaías Faleiro mencionou que havia uma colagem no braço de sua AFD recentemente comprada. Pedi para que ele enviasse fotos:


Pois bem, o braço da minha recebeu uma quantidade extra - e suspeita - de tinta vermelha nessa região e num papo com meu luthier, o Inaldo, imaginamos que de fato deveria haver uma colagem ali - quase certo que do tipo "colagem espanhola". A foto do Isaías confirmou o truque. Entretanto, isso não necessariamente piora ou modifica o som do braço, mas com certeza aumenta um bocado sua resistência. Como o nome diz, a "colagem espanhola" refere-se a uma técnica (não apenas limitada ao braço) desenvolvida pelos mestres luthier espanhóis e aplicada em violões.
Grandes empresas utilizam essa colagem, bastante comum nas Ibanez, por exemplo. Ela tem duas utilidades: fornecer o ângulo necessário para inclinação do headstock usando um bloco mais fino (economiza madeira) e aumentar a resistência do braço. O método está rapidamente ilustrado aqui (fotos emprestadas do blog do Flávio Gomes):

Bem, não é uma manobra que, na minha opinião, modifica de forma tão perceptível a ressonância do braço. Além disso, se formos considerar a história da verdadeira "AFD" do Slash, a mesma teve uma ruptura do braço próxima ao headstock e uma colagem foi feita durante o conserto. Ao utilizar um truque não pernicioso para economizar, a Vintage acabou criando um detalhe extra de semelhança com a LP original do Slash... :)
Eu não devolveria a guitarra por causa desse detalhe, Isaías. A Epiphone também faz isso frequentemente.

Mesmo considerando essa colagem, ainda acho que a relação custo/benefício da Vintage AFD é a melhor do Brasil.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

O grande problema de guitarras com singles e humbuckers continua - Parte2

Seria interessante ler pelo menos a parte inicial do primeiro post:
http://guitarra99.blogspot.com.br/2010/12/o-grande-problema-da-guitarra-com.html

A solução apresentada nesse post antigo funciona, mas envolve o acréscimo de uma mini chave e um segundo potenciômetro de volume.
Pois bem, meu grande amigo e também viciado em guitarra, Oscar Jr., me chamou a atenção para o esquema usado pelo mestre luthier John Suhr, que resolve esse impasse de forma muito elegante e com mínimas alterações da fiação padrão.

John Suhr aproveitou-se de uma lei da física e colocou resistores em paralelo com o potenciômetro de volume (que em essência é um resistor). Usamos um pot de volume de 500k, mas acoplamos resistores com valor aproximado (utilizei de 460k) nos singles (apenas neles). Da forma como é feita, esses resistores ficam em paralelo com o pot de 500k. Seguindo essa fórmula (clique), vemos que o resultado (no meu caso, com resistores de 460k) é uma resistência final de  239.58k - bem próxima dos ideais 250k para singles. Como os resistores não são acoplados no humbucker, ele continua "vendo" apenas um pot de 500k. PERFEITO! :)

Claro que os esquemas do Suhr são bem mais complexos, permitindo combinações diversas, mas o foco aqui é um só: 250k para os singles e 500k para o humbucker.
Aqui uma foto da atual fiação da minha Cort G260 (lembro-lhes que eu utilizo apenas um pot de tonalidade para poder colocar o pot de volume mais embaixo, fora do alcance da mão direita):


Observem que os resistores são ligados no hot dos singles e no aterramento. Poderia até colocá-los no próprio captador, mas sempre tem o problema de espaço, capinha, etc. Então liguei-os nos respectivos terminais da chave e fiz um ponto de aterramento nela.

Como já falei inúmeras vezes, sou péssimo em física/elétrica/etc., mas à princípio tá correto - até porque estou "ouvindo" isso funcionar. A sibilância dos singles em pots de 500k não existe mais :)
A foto é bem grande - clique nela pra ampliar e ver os detalhes.
Basicamente, é só levantar o escudo de uma strato HSS e acrescentar os resistores naqueles pontos.

É isso. Enquanto não aparece nenhum expert em elétrica por aqui, essa é uma excelente solução para guitarras HSS. Obrigado ao Oscar Jr. e ao John Suhr :)
Qualquer novidade, aviso! :)

19/10/2012: Já que o pessoal tá pedindo, segue o esquema (adaptado de um do Seymour Duncan) para stratos com 2 pots de tonalidade. O pot de volume TEM que ser de 500k, mas os de tonalidade podem ser mantidos em 250k. Basicamente, trocamos o pot de volume e acrescentamos os resistores (R1 e R2 - cerca de 500k) como no esquema. Uma das pontas dos resistores vai para o terra. Achei melhor criar um ponto de aterramento na própria chave e dali partir para a carcaça do pot de tonalidade (ou direto para o de volume) com um fio. Segue:

06/09/13: O circuito que estamos discutindo (esse da imagem acima) tem um "pequeno" problema, percebido pelo nosso amigo Ramsay lá do fórum da GP e também pelo Alex Frias, do fórum handmades.com.br. O problema é na posição "4" do seletor (captadores do meio e braço juntos). Nessa posição, os dois resistores estarão atuando e teremos uma resistência final por volta de apenas 160k, o que, além de baixar ainda mais o volume (os captadores juntos ficam em paralelo e o volume diminui naturalmente), pode filtrar demais os agudos. Putz! Tava bom demais pra ser verdade!

Bem, eu raramente utilizo a posição 4, então vou manter os esquemas que já fiz assim, mas o Alex Frias sugeriu uma excelente opção e teve a gentileza de nos permitir a reprodução do esquema dele, que utiliza apenas um resistor, engenhosamente posicionado. Segue:



Segundo o Alex: "O resistor só não entra em ação na posição 1, deixando o valor do potenciômetro em 500k. Já em todas as outras posições ele entra em paralelo com o potenciômetro resultando algo próximo a 250k. O esquema usando dois resistores cria uma resistência ainda mais baixa na posição 4. "

01/10/15: O RENAN RIBEIRO nos passou outro excelente esquema.
"Pessoal tentei o esquema do Alex Frias para instalação de um DiMarzio Tone Zone S, posição ponte, em uma Fender Standard. O resultado não ficou muito satisfatório para mim, pois ficou uma boa diferença do ganho na chave em posição 2 (ponte + meio). Mas foi de grande ajuda, pois utilizei um esquema da própria DiMarzio, acrescentando algumas alterações indicadas no desenho do Alex. O resultado ficou ótimo! Com timbres bem legais e o volume bem equilibrado em todas as posições."
Veja abaixo:

Mais uma opção, então. Se alguém tiver alguma outra ideia testada, o espaço tá aberto! :)

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Timbre de Guitarra - Como Avaliar? (Parte 3)


Aproveitei um post no fórum da GP (onde o pessoal realmente discute os tópicos) e vou colocá-lo aqui.
Uma dúvida frequente: Guitarra sólida, semi acústica e acústica - quais as diferenças?


A diferença básica entre uma semi acústica e acústica é que a primeira, além de mais fina, tem um bloco sólido (geralmente maple) no centro, que permite a colocação de pivôs de fixação da ponte e retentor de cordas. As semi acústicas às vezes podem soar um pouco "magras", pois a câmara não é alta o suficiente pra amplificar as frequências mais baixas e, justamente por serem em grande parte ocas, falta-lhes densidade no corpo.


        Câmaras - aí está uma confusão muito comum: as câmaras têm o propósito de amplificar os sons provenientes da vibração das cordas e das madeiras. Dependendo do material, formato e tamanho, algumas frequências são mais amplificadas que outras. Frequências baixas/graves necessitam de espaço, por isso os instrumentos graves têm câmaras maiores - é só pensar em violino, cello e contra baixo de orquestra... Assim, câmaras tem o objetivo primordial de amplificar. São passivas, não geram sons, mas podem modificar a relação de volume dos sons gerados.
       Pequenas cavidades são irrelevantes para os nossos ouvidos. Imaginem então micro cavidades, como os poros. A Gibson deixa bem claro que os 9 furos (diâmetros quase de uma moeda de 1 real) que ela faz para alívio de peso nas Les Paul não interferem na sonoridade da guitarra - "a cavidade é muito pequena para criar reflexões"...
        As ondas sonoras, como aprendemos na escola, propagam-se mais rápido quanto mais sólida for a matéria. Uma das características das madeiras é a "velocidade de condução" sonora. Poros, obviamente, atrasam a condução das ondas. Quanto mais sólidas e próximas forem as fibras, mais rápida a passagem do som. Além disso, as ondas manifestam-se em frequências - quanto maior a frequência de vibração, mais agudo e mais rápido é o som (trovoada: ouvimos primeiro o estalo e depois o grave). Por que uma guitarra com corpo de maple (mais denso, menos e menores poros) soa mais aguda que uma de mogno (fibras mais espaçadas, mais e maiores poros)?


        Uma das características mais marcantes das Les Paul é o "timbre tridimensional, complexo". Ouvimos primeiro o ataque, punch de médios e agudos firmes do maple e uma fração de segundo depois, o corpo, grave e agudos macios do mogno... Nossos ouvidos entendem como um único som, mas na verdade são dois, por isso a beleza do timbre.

       O primeiro protótipo de 1952/53 era todo de mogno e o Ted McCarty (presidente da Gibson) disse: "falta ataque e agudo" (lembrem-se que eles estavam fazendo uma resposta à Telecaster, sucesso da Fender na época). Fizeram o segundo todo de maple e ele: "Falta grave - juntem as duas madeiras". E daí nascia a lenda (o Les Paul não participou dessa etapa importantíssima).


        Numa guitarra sólida, 99% do timbre (de sua estrutura) estará relacionado à VIBRAÇÂO do corpo + braço, em resposta ao movimento das cordas. Ela vai ressoar (nesse caso, criar) frequências próprias (mais fracas), que serão acrescentadas às das cordas (mais fortes). Pensem no captador como um microfone (e uma antena também) que é ativado eletricamente pelo movimento das cordas de metal (princípio do gerador eletromagnético). Ao ser ativado, ele capta tudo que está próximo: as frequências da corda (fonte mais forte), palheta, deslizar dos dedos, impactos E a vibração das madeiras. Numa guitarra semi acústica, capta também os sons que a câmara amplifica.

       Não tenham dúvida - ao tocarmos um lá na 5ª corda, quase tudo que ouvimos vem da frequência fundamental (440 Hertz) e seus harmônicos (múltiplos dela). Mas aqueles 5 a 10% de frequências da estrutura da guitarra são o tempero da coisa. Numa audição grosseira, desatenta, leiga, esse mesmo "Lá" pode parecer idêntico numa Les Paul Gibson Custom Shop de 15.000 reais e numa Les Paul Michael de 500 reais. A saturação, quando adicionada, condensa, achata e comprime as frequências, deixando tudo ainda mais semelhante.
Captadores de alto ganho traduzem com tanta força as frequências das cordas que não sobra "espaço" nem no circuito de input do amp e nem nos nossos ouvidos para as nuances das outras frequências.

"Nuance" é o termo. Eu vejo caras testando guitarras com captadores de 12k pra cima - a maioria cerâmico - pedais e/ou amps acrescentando saturação e fico pasmo como eles ainda tem a audácia de julgar as madeiras :). Até um toco de lenha vai ficar parecido com um mogno hondurenho de ressonância divina.
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        Bem, eu poderia continuar postando sobre como avaliar timbre de guitarra, mas o universo de variáveis que existe entre a mão do guitarrista e o alto-falante do amplificador é infinito. Multiplique pela também infinidade de gostos e preferências pessoais e... Nem pensar! :)

Captadores são importantíssimos mas já fiz dois posts bem completos sobre eles (Parte I e Parte II), além das demos em vídeo de vários tipos que utilizo. Portanto, paramos por aqui. Tipos de guitarras, madeiras e captadores são os 3 elementos essenciais a serem dominados e já fiz meu dever de casa. :)




terça-feira, 11 de setembro de 2012

Guitarras Caras? Pergunte Para o Tom Morello

        Embora o considere um guitarrista inovador, não sou fã, não curto a banda. Mas acabei de ver um vídeo de suas guitarras e apareceu essa Saint George da década de 60, japonesa, provavelmente feita pela Shiro ou Kawai Teisco. Tom Morello a comprou numa loja de penhores no Canadá por 40 dólares!


Colocou um DiMarzio Hot Rail na ponte, compôs, gravou e ganhou um Grammy em 1997 (música "Tire Me" - Melhor Performance Metal) com essa guitarra e um amplificador transistorizado de 20 watts!!
Ele mesmo admite que na época comprava guitarras mais pelo aspecto que timbre, porém surpreendeu-se com o som dela.

Mais um ponto pra ideia de que pelo menos 80% do timbre tá na mão (e alma) do guitarrista... :)
Aqui, o vídeo:


domingo, 9 de setembro de 2012

Timbre de Guitarra - Como Avaliar? P2: Braços e Frequência de Ressonância

      Aproveitando que tinha quatro braços soltos por aqui, verifiquei a frequência de ressonância de cada um deles. Pra minha surpresa, o braço de maple/maple de uma strato Fender Squier soou muito grave. O primeiro, de maple canadense, é mais agudo. Isso me fez voltar à mente a velha suspeita de que até o maple que os chineses usam nos braços não é americano/canadense... Nada de novo por aí... KKKK!

O braço de Marfim com escala de Jacarandá brasileiro é o mais agudo. Nenhuma surpresa: o jacarandá brasileiro é bem mais ressonante que o indiano.

      Chamo a atenção de vocês para um detalhe importante: A FR é somente a frequência dominante, aquela que nossos ouvidos identificam como "tom". Quando avaliei no analisador de espectro do Sound Forge, pude perceber o quanto as outras frequências variam - e influenciam no "timbre" geral, inclusive na percepção de volume. E pra nós, o que interessa é o timbre final, que é o conjunto e interação das frequências.
Geralmente as frequências secundárias são múltiplas da principal. Com exceção do braço Squier de maple/maple, que tinha a segunda frequência mais alta perto de 84 Hz, a segunda frequência de todos é sempre o dobro da FR , aproximadamente.
No analisador de espectro, o braço que tem mais equilíbrio na amplitude e distribuição das frequências é o último (um Mighty Mite).

Segue o vídeo:


sábado, 25 de agosto de 2012

Timbre de Guitarra - Como Avaliar?

Êta perguntinha capciosa! :)

Timbre é subjetivo. Pessoal. Assim como gosto, varia de ouvido para ouvido, de pessoa para pessoa e até uma mesma pessoa pode, dependendo do seu estado de espírito (ou idade :) ), mudar de opinião em relação a timbres.
Assim, antes mesmo de começar a falar sobre diferentes timbres, temos que tentar destrinchar o básico: como o timbre é formado? Quais são os componentes principais e secundários?
Acredito que o primeiro item, crucial, é a madeira. Vamos nos organizar então:

1) - MADEIRAS
Cada madeira tem um "timbre" específico, relacionado com a sua "frequência de ressonância" (FR - a frequência mais alta que ela emite quando vibra). A densidade, dureza e tamanho da peça (entre outras coisas), determinam a frequência que ela vai gerar. Quem já ouviu a ressonância (parece um sino) do Jacarandá da Bahia entende porque ele é considerado o cálice sagrado das madeiras. Mas uma guitarra é composta de corpo, braço e hardware. Um corpo, isolado, tem uma frequência de ressonância (FR). Um braço tem outra. Junte os dois e teremos uma terceira. Acrescente ponte, tarraxas, captadores e tudo muda novamente...
Mas vamos entender como as madeiras soam isoladas. Acabei de colocar legendas nesse didático vídeo da Fender Custom Shop, onde o luthier, músico e diretor de marketing da Fender, Mike Eldred, nos mostra as diferenças entre um corpo de strato de alder e outro de ash. Veja:


No próximo vídeo, Mike Eldred explica como o pessoal da Custom Shop da Fender seleciona/combina determinados braços com corpos, também baseando-se nas frequências de ressonância de cada peça.

Ressalta a importânica do tipo de corte da madeira de braço - o corte radial (Quarter Sawn) é o que forneçe maior rigidez e resistência à peça, além de geralmente soar mais aberto, agudo:



O corte plano (Flat Swan), o mais comum em guitarras de linha, é menos resistente e tende a soar mais grave:



Essas imagens foram surrupiadas do blog da querida luthier Paula Bifulco (clique aqui). Para maior compreensão sobre esse assunto, dê uma passada lá.

ADENDO: O Daniel Menezes esclareceu alguns detalhes sobre os cortes. Está nos comentários mas é tão importante que copiei também aqui:

RadialSawn ou Violin Sawn:
É o corte perfeito, onde as fibras são paralelas e onde se consegue o melhor da força da madeira e onde ela tem a menor probabilidade de empenar. ( a diferença do radial sawn do violin sawn, é que na violin sawn a madeira é retirada em cunhas ao invés de pranchas)

Quarter sawn ou quartier:
É corte mais próximo do perfeito, é preferido das indústrias por não ter perda alguma de madeira, o nome é derivado do corte do tronco em "quartas", se consegue uma madeira de excelente qualidade e com o melhor custo benefício.

Plain sawn ou (vulgo) Industrial sawn:
O tronco é cortado de forma homogênea (salvo engano, com uma lâmina a cada 15cm), as pranchas próximas ao alburno ficam com veios de aspecto "montes" ou "cumes" e as pranchas próximas a medula ficam "radial sawn" com veios paralelos.

*medula: e o centro de onde se gerou toda a árvore.

Vamos então ao segundo vídeo sobre timbre de madeiras da Fender Custom Shop:



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        Aqui, uma outra comparação, entre madeiras geralmente usadas para violão. Sitka Spruce, Walnut e Rosewood (Jacarandá) Indiano. Observe a sonoridade ressonante do jacarandá (o de baixo). De acordo com testes realizados por especialistas, o nosso Jacarandá é cerca de 30% mais ressonante que o Indiano!



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Bem...
Já que agora temos uma compreensão mais científica sobre madeiras de guitarra, amanhã vamos continuar mergulhando nos demais itens que compõem o timbre....



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Telecaster de Mogno - update

Já postei aqui anteriormente sobre o dia que fui na oficina do luthier Roberto Cavalheiro pegar minhas duas Telecasters (Alder e Ash) e ele me deu de "presente" um corpo de Telecaster de mogno - peça única, sem emendas. O vídeo do making off desse corpo tá aqui: CLIQUE
Mogno, todo mundo sabe, é uma madeira fantástica para guitarras e violões, a alma das Les Paul e Gibsons de corpo sólido em geral.
O problema aí é uma TELECASTER de mogno. A própria Fender já fez teles de mogno (ppte na série Thinline), mas obviamente não fez sucesso, porque o timbre clássico de telecaster é dependente do Ash ou Alder. O Mogno soa um pouco mais "macio"... Equilibrado, mas macio, com menos "snap" e ataque típico das teles.
Logo que cheguei em casa, coloquei um braço (de uma Roland antiga) de maple com escala de jacarandá/rosewood. É um braço relativamente fino, com pouca massa.
Ela inicialmente ficou assim:


O som? Lindo, definido e equilibrado, mas considerando o timbre clássico, ela apanhava legal das outras Teles de alder e ash. Coloquei um Rosar Dual Blade, o Screamin' Distortion T, na ponte. Assim, com um humbucker na ponte, poderia tocar coisas mais pesadas e deixaria o timbre clássico de lado. Ficou legal, com aquela distorção "instantânea" e eficiente, mas agora, como uma guitarra com humbucker na ponte, ela também não conseguia superar as outras, como a PRS com Supershred ou até mesmo a Strato com outro Screamin' Distortion
Voltei para a configuração de Telecaster, mas dessa vez usei dois captadores Seymour Duncan "Quarter Pound" - imãs mais largos e alta saída. O da ponte rebobinei para cerca de 9k. Humm.... Tava faltando alguma coisa... O braço com escala de rosewood talvez estivesse com pouca projeção. Como a combinação Mogno+Maple gera um timbre muito peculiar e rico (vide as Les Paul). Coloquei um braço todo de maple, mais gordo, portanto, com mais massa. Rapaz! Melhorou muito! A guitarra começou a criar uma identidade. Tá com mais estalo e viva.
Ela então agora está assim:



Tô achando meio estranho esteticamente essa combinação de cores das madeiras. Pensei em retirar a fina camada de verniz do mogno e tingi-lo de preto... Não sei. Preguiça básica... :)

Update 13/11/2012:

 Depois que descobri um solvente/removedor de verniz em spray (Chemicolor), ficou mais fácil - era apenas uma camada fina. Retirei o verniz, tingi de preto (com o marrom da madeira ficou com uma cor tipo tabaco) e cobri novamente com verniz. Ficou assim:


        Beleza, o som é esse mesmo, muito bom, lembra muito uma telecaster, porém AINDA inferior ao que considero o timbre clássico. Mas foi estupidez minha - historicamente as Teles de mogno sempre soaram "menos tele" que as originais. Nem deveria ter tentado :)
Quem acha o som da Telecaster muito magro e estalado, vai adorar essa de mogno. :)
Tava pensando em comprar uns caps TV Jones e transformá-la numa "Cabronita", igual a essa da Fender:


Mas os TV Jones sempre me pareceram mais legais em guitarras semi acústicas. Não descartei a idéia... Pensando.

Colocar humbucker e/ou P90, seria repetição. Essa Telecaster (acreditem se quiserem) de CEDRO (Ahá!) com top de marfim tá mandando ver com um Seymour Duncan JB (raro, branco, de 1990, feito pra uma Fender tipo superstrato) na ponte e um P90 no braço. Vejam:


Tô com muita Telecaster por aqui :)...
A idéia de colocar os TV Jones na de mogno ainda tá de pé. O que vocês acham?


UPDATE 07/05/2014:

O vídeo demonstração da Telecaster de mogno, tocada aqui pelo meu amigo luthier/guitarrista Alex Arroyo:


Algumas mudanças: Captador da ponte: Sérgio Rosar Screamin' Distortion T. Captador do braço: Seymour Duncan Quarter Pound. Ela ficou "gorda" - cansei de brigar e resolvi deixá-la seguir sua natureza: fat tele!:) Os dois captadores estão fora de fase pra conseguir um som magro, proposital, na posição do meio.


domingo, 15 de julho de 2012

Logotipo Fender - Decalque

Nunca havia ficado tanto tempo sem postar nada, mas ultimamente a conjunção de dois fatos foi determinante pra essa demora:
Primeiro, o de sempre - tempo sobrando praticamente inexistente :)
Segundo, toda vez que penso em postar algo, começo a responder as várias perguntas diárias e acabo desistindo, pois isso cansa um bocado.
Uma das perguntas mais repetidas (e poucos se dão ao trabalho de pesquisar no blog) e respondidas é sobre o logotipo Fender que coloco em algumas guitarras tunadas. Então vou postar rapidamente um tópico só sobre isso.
Eu mesmo fiz os logos no Photoshop, utilizando arquivos que achei na internet. Imprimo-os num papel especial para decalque, comprado aqui: http://sirapvisual.webnode.com.br/
É um papel específico para decalque com água (waterslide). Ele tem uma fina cobertura de plástico que pode ser impressa em jato de tinta (a que eu uso) ou laser. Eles vendem uma versão transparente (a que eu uso) e outra com fundo branco.
Após a impressão, tem que usar verniz spray em lata (3-5 demãos) para proteger e evitar que a tinta borre quando mergulhamos o decalque na água.
Uma folha A4 dá pra pelo menos uns 18-20 logos. No Photoshop, agrupei-os e fui testando a impressão em papel comum até que os logos ficassem do tamanho natural. Por exemplo, o logo da Strato tem 8,6 cm de comprimento, medindo (atravessado) da ponta extrema do "F" de Fender até o "R" final de "Stratocaster".
A folha impressa fica mais ou menos assim:
Esse método é semelhante ao antigo usado pela Fender. Hoje em dia o processo é mais bonito e eficiente.
Não dá pra conseguir o efeito real de cores como dourado ou prata em impressora comum de jato de tinta. Cores mais claras lidam com certa transparência do plástico, portanto a cor da madeira onde o decalque será colado irá influenciar a cor final. Uma cor que tem funcionado bem em madeiras claras (maple) é essa:
Essa imagem aí de cima é do tamanho real que criei (bem maior que a impressa, para boa resolução) e fica como brinde pra quem quiser se aventurar, mas não se esqueça que ela deve ser reduzida (na impressão) para o tamanho correto: 8,6 cm.  :)
Se não tens prática no Photoshop ou com impressões, é melhor comprar os decalques já prontos - procure no Mercado Livre. Acho que custam cerca de 20 reais cada logo. Parece caro, mas se precisas apenas de um, é mais prático e menos trabalhoso :)
Como preparar e aplicar decalques de água (waterslides) encontrarás no Youtube.

Na verdade, eu só queria um decalque (estilo CBS anos 70) para a  minha Telecaster 1974, que foi retirado por um luthier após uma reforma do braço. Como tava com a mão na massa, resolvi fazer o modelo moderno para as Stratos também :) 

Existem algum vendedores de decalque no Brasil, vários no Mercado Livre, mas todos até agora fazem um método similar ao meu. E alguns cobram meio caro por uma coisa relativamente barata.
Mas existe um vendedor na Inglaterra que faz logotipos/decalques IGUAIS aos originais, com tinta metálica. Já comprei dele e posso garantir que ficam idênticos. Procure pelo link na coluna da direita aqui no blog ou clique aqui: "CROX GUITARS". O Crox envia por carta e os que eu comprei até agora chegaram direto pra mim, sem paradas na alfândega, ou seja, sem impostos.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Velha Condor RX20 - uma homenagem dourada!

         Essa minha história com a parte técnica das guitarras só começou por volta de 2004, depois de comprar uma strato de luthier. Pra abreviar, transcrevo um recente post que fiz no FGP:

 "A minha segunda guitarra já foi uma Tele Fender 74, comprada em 80. Como tinha exatamente o som que eu gostava, fiquei 23 anos tocando sem saber absolutamente nada da parte técnica de guitarras.
Ao longo desse período, me deparei com inúmeras outras e com exceção de uma LP Gibson 58 original, nenhuma soava melhor que a minha. Em 89 ouvi uma outra Tele (a 68) que me impressionou. Com a ajuda da sorte e do destino, consegui, quase de graça, essa guitarra (a primeira coisa que fiz foi trocar vários itens vintage dela - e estupidamente joguei-os fora).
E assim fui, com duas fantásticas Teles, achando que o mundo era isso e timbre bom era fácil de conseguir.
Até 2003, quando resolvi ter uma Strato e gastei 3.500 reais numa porcaria de cedro e marfim. Fiquei um ano tentando tirar som dela. Pegava, tocava 5 minutos e desistia. Coisa horrível!
 

Um belo dia, em 2004, resolvi entrar na internet e pesquisar sobre a Stratocaster. Alder? Ash? Cedro? Captadores? Tensor? Impressionante como havia coisa pra aprender. E não parei mais.
O conhecimento me permitiu/permite apreciar uma guitarra ou timbre também de forma consciente e lógica, potencializando o prazer de tudo o que eu já gostava antes. Agora eu disponho da intuição somada ao conhecimento. Uma combinação suprema.
Me arrependo profundamente de não ter buscado esse conhecimento antes, desde o início
."

Em 2004 também estava há uns bons 5 ou 6 anos sem entrar em lojas de guitarra. Não sabia que a qualidade (automatização, CNC, etc.) das guitarras havia aumentado e o preço diminuido.
Na primeira loja que fui, dei de cara com uma Condor RX20 que custava cerca de 290 reais. Eu sou do tempo que mesmo uma guitarrinha nacional vagabunda custava mais que o dobro desse preço... Fiquei impressionado ppte com a qualidade do braço e comprei uma, igual a essa aqui:
Claro, ainda não sabia detalhes sobre captadores (são cerâmicos chineses) e o basswood (madeira do corpo) estava listado nas minhas "pesquisas" iniciais como uma das madeiras usadas pela Fender (ao contrário do cedro). Mesmo com corpo de basswood, cavidade universal (piscinão) e captadores cerâmicos, essa RX20 soava muito mais "strato" que a minha de cedro e marfim, de 3.500 reais. Daí em diante, cada vez que aprendia alguma coisa, tentava colocar em prática e depois de 25 anos com apenas 2 ou 3 guitarras, hoje tenho 32! :)
O Basswood não tem o punch e a clareza do Ash ou Alder. Por volta de 2007 coloquei o braço dela numa SX e o corpo ficou guardado até semana passada, quando resolvi dar uma geral no "depósito" e me deparei com aquele corpo "azul duvidoso" :), que me trouxe agradáveis lembranças.
Como essa RX20 foi a guitarra do "day one" da minha decisão de aprender sobre elas, resolvi homenageá-la:


Não queria retirar o braço original dela que está na SX SST57 preta e saí em busca de um braço bom e barato. Como falei, com as máquinas CNC e a automatização atuais, não é difícil encontrar braços baratos bem razoáveis e até bons por aí. Encontrei uma Shelter California por 230 reais com um braço bem legal, de maple/rosewood (ou madeiras bem similares - podemos esperar qualquer coisa dessas madeiras chinesas). Apenas um traste estava um pentelho mais alto e foi fácil arrumá-lo.
Tinha algum hardware dourado sobrando por aqui (saddles, capinhas, parafusos e tarraxas) e resolvi dourá-la! :)

Como sempre, refiz o headstock com serrinha, grosa e lixas. Lixei parcialmente o corpo azul e pintei de dourado (spray de lata). Captadores de alnico (dois Condor e um Fender 97), ponte com bloco de metal de peso intermediário. A idéia era usar somente o que tinha disponível aqui - a canoa do jack, o neck plate e a base superior da ponte também receberam spray dourado. Até pensei em comprar uma canoa dourada mas essa pintada com a mesma tinta do corpo ficou discreta e tá combinando bem.

Por alguma razão (pots velhos?) ela ficou com muito ruído. Pensei: "Olha a lei de Murphy aí... Era pra ser rápido e simples!". Maníaco compulsivo que sou, retirei e refiz toda a fiação e acrescentei uma blindagem. Como a cavidade era piscinão retangular, a blindagem é mais fácil, mas mesmo assim não deixa de ser cansativa:


Depois disso, tá tão silenciosa quanto corredor de hospital :)
(dois links legais pra quem quer fazer uma blindagem em casa: clique 1 e clique 2 )
O timbre ficou muito bom, considerando que quase tudo aqui é de "segunda linha". Strato clássico com aquele leve déficit de punch e clareza do Basswood - que muita gente gosta e até prefere. O braço é ótimo de pegada, a regulagem e entonação da guitarra estão perfeitos, levinha... Um prazer de tocar!

Tô me sentindo muito bem por ter feito isso. Aquele velho corpo azul sempre me passava uma sensação agradável. Não sou (muito) supersticioso, mas sinto uma energia boa nessa guitarra... :)