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terça-feira, 27 de maio de 2014

Rapidinha: Amp PRS Dual Channel "C" + AFD VIntage e Sheptone Tribute Set

Oscar Isaka Jr

     Tenho o costume de aos sábados pela manhã fazer uma excursão pelas lojas que mais frequento e bater papo com meus amigos e lojistas. É uma ótima terapia, pois acabo sempre encontrando outros amigos e um bom papo sobre guitarras e assuntos aleatórios sempre se desenrola. Há cerca de duas semanas estava conversando com o Carlos da Loja do Músico aqui de Curitiba, quando olhei na sala de amps da loja um amplificador PRS. Como são amps de difícil aparição por essas bandas, resolvi dar uma olhada mais de perto e constatei que se tratava de um PRS Two Channel "C".


     Claro que fui pesquisar um pouco e descobri que esse amp faz parte de uma série que Paul Reed Smith idealizou para ser a versão Vintage da linha de 2 canais de seus amps, normalmente de canal único. Como tudo que a PRS solta a construção do AMP é incrível numa abordagem quase ponto a ponto, mas ainda assim hand-wired na planta de Maryland nos EUA, além de transformadores de boutique da Cinemag (famosa fabricante de trafos Hi-Fi nos EUA) entre outras coisinhas.



      Pluguei na loja um pouco e fiquei intrigado com os timbres que ele produzia pois não é um amp genérico dois canais. Ao invés disso, Paul idealizou-o para que cada canal trabalhe idividualmente como um amplificador, tendo sua própria linha de EQ, Ganho e volume. A diferença no caso é que um canal tem mais ganho que o outro mas ambos conseguer distorcer em níveis diferentes. Veja a demonstração do próprio Paul Reed Smith:



     Note como cada canal se comporta de maneira dinâmica como se fosse um amp Single Channel. O detalhe é que ele nunca fica 100% clean, é sempre semi-sujo bem ao estilo VOX com todo o chime e detalhe dinâmico.  O Canal Lead é pura cremosidade britânica com ganho de sobra pra solos a la Eric Johnson até ganhos mais Bluesy. Não fiquei tempo o suficiente com o AMP para fazer uma REVIEW completa, mas durante a tarde que o Carlos deixou ele comigo gravei um videozinho com a Vintage AFD equipada com Sheptone Tribute PAFs pra dividir com vc`s os timbres do amp. Normalmente nos atemos às marcas tradicionais e vem uma PRS e entrega um amp com essa qualdiade de timbre, sem ser um clone de nenhum modelo, mas sim imprimindo sua própria personalidade. Realmente muito legal! O teste foi feito numa caixa 1 x12 com falante Eminence GB128.

 

     Que timbrera que ficou essa Vintage AFD.... Fala sério... Os Sheptone também fazem jus à fama que possuem. Antes que perguntem, comparados aos Rolph 58 que tanto amamos, acho que os Sheptone tem um pentelho menos de dinâmica, complexidade e detalhe, mas os outros atributos como definição, ataque e beleza no timbre estão todos cravados no DNA PAF desse set, e o cap de ponte mais forte ajuda muito a dar maior versatilidade ao set. Seria tranquilamente um set que eu teria numa guitarra "workhorse" pau pra toda obra!

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PS: A Loja do Musico é talvez uma das mais antigas de Curitiba (se não a mais antiga). É onde trabalham o Carlos e o Zeco, que cuida dos amps valvulados da maioria dos guitarristas barulhentos da região. A loja se especializou em equipamento "hi-end" e sempre tem coisas diferentes em termos de amp e guitarras. Vale a pena conhecer a loja! :-)

Contato: www.lojadomusico.com.br


domingo, 25 de maio de 2014

FAQ-003: Orientações para perguntas



         Pessoal, estamos já com 175 posts publicados e mais de 8.000 comentários -  pelo menos metade desses são perguntas, e dessas, pelo menos 30%, repetidas - quando o visitante faz a pergunta sem pesquisar no texto do post e/ou ler os comentários relacionados.
Imagino que, por baixo, três a quatro mil perguntas foram respondidas.
Por isso, com certeza, mais de 80% do tempo que dedicamos ao blog é gasto respondendo perguntas... Teríamos muito mais posts interessantes com maior tempo livre para postar e não ficar respondendo quase sempre a mesma coisa.

Tentem colocar-se no nosso lugar. Esse blog tem por objetivo relatar as nossas experiências de aprendizado "leigo" como guitarristas com interesse em luthieria. Não somos profissionais dessa arte, portanto as perguntas devem relacionar-se somente e especificamente com o post em questão.

Blogs acabam sendo abandonados por seus autores justamente por isso: quando deixam de ser um prazer e tornam-se um incômodo. Perguntem para o Rafael Gomes, cujo blog "Zona do Humbucker" foi um dos que inspirou o "Louco Por Guitarra", por que ele parou de postar...

Nós temos leitores aqui que são fantásticos. Apoiam, contribuem e quando fazem perguntas, são objetivos, específicos e complementares.
Por outro lado, pra citar um dos inúmero exemplos, eu já fiz vários posts sobre as guitarras SX e volta e meia alguém pergunta "Mano, o que tu achas da SX? Será que vale a pena?" Nesses momentos eu me pergunto se vale a pena tudo isso.

Existem dois campos de pesquisa do blog: um no topo da página à esquerda e outro na coluna da direita. Lá tem o aviso: "Pesquise antes de perguntar". Infelizmente poucos fazem isso.
E o pior de tudo é quando a pergunta é feita clicando no link "resposta" de outra pergunta. Exemplo: no post "Guia Para Tunar Guitarras Baratas" existem 236 comentários/perguntas/respostas. Não dá pra ler o comentário 135 e fazer uma pergunta ali, clicando em "resposta" - nós simplesmente não conseguimos localizar sem correr toda a página com os 236 itens... E já fizemos isso inúmeras vezes.
É extremamente cansativo e, desculpem o termo, broxante! Vá até o final da lista, clique em "ADICIONAR COMENTÁRIO" e faça sua pergunta ali. (Se precisar citar algum comentário anterior, o faça localizando a data)

Para que o blog continue ativo, somos obrigados a estabelecer novas regras para perguntas. Só responderemos às perguntas:

1 - Diretamente relacionadas aos posts. Se o post é sobre uma strato SX, não pergunte sobre uma strato Tagima, ou Michael ou até mesmo uma SX de outro modelo.

2 - TODAS as guitarras que temos foram postadas e a nossa opinião sobre elas está clara. Não adianta perguntar sobre guitarras que não foram postadas e que, portanto, não conhecemos.

3 - Perguntas do tipo "o que você acha de tal guitarra...?" não serão respondidas. Novamente, TUDO que nós achamos sobre o que conhecemos já está postado. Seria irresponsabilidade falarmos sobre guitarras que não possuímos ou conhecemos bem.

4 - Não somos luthiers, não fazemos/montamos guitarras para terceiros e não comercializamos nada nesse blog.

5 - Perguntas cuja respostas estão no próprio post são quase ofensivas. Demonstram no mínimo preguiça/indolência e falta de educação. 

6 - A ordem sequencial é essa: Leia o post, procure posts relacionados e faça uma boa pesquisa. Depois pergunte.

Gratos pela atenção!


E já que parece que quase ninguém lê a coluna fixa da direita da página, vamos repetir:


As opiniões sobre timbres (e madeiras, captadores, etc.) são estritamente pessoais. Isso é um blog e não uma revista. Não aceitaremos críticas e julgamentos sobre o nosso gosto pessoal, já que respeitamos o dos outros. Posts anônimos serão geralmente deletados.

Os demais comentários são sempre bem vindos e os agradecemos imensamente, mas perguntas "off topic", discussões específicas, dúvidas e assuntos mais complexos podem eventualmente não ser respondidos.

O tempo que dispomos para atualizar o blog é pequeno. Se tivermos que responder muitas perguntas ou assessorar assuntos de guitarra não ou pouco relacionados aos tópicos do blog, aí não sobrará tempo para nada. Adoramos falar de guitarras, mas às vezes simplesmente não é possível...

Não disponibilizamos e-mails pessoais por razões óbvias.
Não responderemos a contatos feitos pelo Facebook ou qualquer outra rede social.
Temos nossas profissões não relacionadas à música, nossas famílias, etc. O fator que mais prejudica a dinâmica do blog são as perguntas gratuitas fora do contexto dos tópicos e solicitações de opiniões sobre equipamentos e configurações.
O intuito do blog é passar informações pessoais que possam ser úteis para os leitores tirarem suas próprias conclusões.

O Louco Por Guitarra é um blog e não um "Fórum de Discussão".


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Conserto do HeadStock Quebrado numa Gibson LesPaul - Por Tom Castelli

          Oscar Isaka Jr.

         Continuando um pouco os posts sobre os nossos Luthiers que tanto nos salvam de enrascadas, escolhi um assunto meio assustador para os amantes de Gibson... rsrs!

Talvez a maior "falha" (entre aspas pois é uma característica na verdade) da Gibson é o ângulo no headstock de seus modelos. Praticamente todas as guitarras da Gibson têm o headstock angulado em 17 graus em relação ao braço numa peça única de madeira o que torna o ponto bastante sensível a qualquer batida um pouco mais forte (mais de 90% das quebras é nesse local).

Durante sua história a Gibson tentou de diversas maneiras remediar esse problema mudando a construção dos seus braços e especialmente na era Norlin (1968 a 1986) é possível notar isso com a redução do ângulo e o uso do "Volute"(volume/dobra) e a construção do braço de maple com 3 partes. O maple é muito mais forte que o mogno, e o volute servia de reforço na região mais sensível do braço, reduzindo assim o número de quebras de headstock na época...

Típico headstock "Norlin" com volute.


Enfim, mas quem já não sofreu com um Strap que não prendeu direito e de repente a sua guitarra maravilhosa está indo ao chão.... e acontece isso.....



A razão pra isso é relativamente simples de descrever, observem, nesse corte no centro/longitudinal, a quantidade de madeira que sobra no headstock....



         O Tom Castelli é um conhecido especialista em fazer esse tipo de reparo e fez uma série de fotos para descrever como é possível consertar esse desastre de maneira quase perfeita e de quebra aumentar a resistência do local. É um conserto complexo e que requer muita experiência e precisão por parte do Luthier, mas quem conhece o trabalho do Tom sabe que isso não é problema.


O estrago: assustador...



Depois de juntar os cacos do desastre o primeiro e mais lógico passo é a colagem das peças que restaram. É importante que todas as trincas e farpas sejam devidamente cobertas e coladas. O Tom usa a Titebond 50, que é a mesma cola que a Gibson usa na fabricação de suas guitarras para a colagens dos tampos, braços, etc.






Montado o quebra cabeça, as partes são todas devidamente coladas e ficam nos grampos por alguns dias (normalmente 72 horas) para a completa colagem e secagem. 

Retirados os grampos, o resultado fica assim:




Só a cola no entanto não é suficiente para aguentar o tranco no braço e aí é que o trabalho do mestre Castelli entra em cena. Ele coloca duas "travas" de uma madeira bem dura (jacarandá, imbuía, pau ferro, todas servem) para reforçar a região:



Nesse caso em específico, a quebra ocorreu do começo do ângulo do headstock em direção ao começo do buraco das primeiras tarraxas e o Tom preferiu também reforçar essa parte, fazendo um TOP de jacarandá no headstock. Isso garante mais resistência mecânica em ambos os lados do braço afetado:



Aqui já colado, tupiado e furado. Nem preciso dizer pra notar o capricho... :-)



Depois disso a guitarra vai para a pintura para receber uma nova camada no braço e headstock e ganhar vida novamente. Nesse caso, ganhou tarraxas Gotoh também:


É importante frisar que depois do conserto o headstock fica mais forte que anteriormente. Há inclusive relatos de clientes que "infelizmente" tiveram que submeter suas Gibsons a esse procedimento, que notaram mudança na resposta da guitarra pra melhor. Tecnicamente faz sentido. Com o reforço, o headstock passa a absorver menos as vibrações das cordas e transferindo mais vibrações para o conjunto braço/corpo. 


         Quem acompanha o Blog sabe que o Tom é quem mexe em todas as minhas guitarras e tenho 4 guitarras feitas por ele. Isso por si só mostra a grande confiança e admiração que eu tenho pelo seu trabalho, além de ser um grande amigo pessoal. 

 Tom Castelli

www.dicastellis.com.br
Fone: 41 3342.5154
Fone/fax: 41 3082.7015
Rua Pedro Collere, 220 . Vila Izabel . 80320-320 . Curitiba . PR


terça-feira, 13 de maio de 2014

Dicas do Inaldo: centralizando o braço

Paulo May


Conforme prometido, iniciamos com esse post uma série com dicas do luhtier Inaldo Souza. 

Eu e o Oscar costumamos montar e modificar nossas guitarras sempre utilizando a segunda diretriz do blog que é "Faça você mesmo, se possível". Porém, a primeira e mais importante diretriz é "Leve para um luthier se você não sabe o que está fazendo!" KKK! 
O Oscar sempre leva as dele, em Curitiba, para o luthier Tom Castelli (posts relacionados aqui e aqui).

A strato "KNE" começou com um corpo de hard ash da KNE, que evoluiu assim:


Eu fiz o tingimento (anilina em álcool) e o Inaldo finalizou com um sunburst de duas cores (2-tone sunburst, do preto para o amarelo, sem passar pelo vermelho, que é o 3-tone sunburst) em nitrocelulose (mais sobre pinturas e envernizamento aqui).
Eu tenho crise de ansiedade sempre que vou colocar um braço ou ponte em uma guitarra. Um milímetro fora do ponto e tudo fica torto. A ponte, os captadores e o braço devem ficar perfeitamente alinhados no centro. Confio plenamente no trabalho do Mitch da KNE (California, EUA) portanto já sabia que a furação da ponte estava correta em relação ao tróculo. Era só questão de colocar o braço (também de um bom fornecedor: Olivewood Guitar Company, do Canadá) que tudo deveria ficar naturalmente centralizado, pois em ambas as peças as medidas têm o padrão "Fender".
Mas como o braço sofreu uma variação de 45 ou mais graus (do inverno do Canadá para o verão torresmo do Brasil), certamente precisaria de cuidados profissionais e o luthier faria o acabamento de nitrocelulose, deixei tudo nas mãos dele (o escudo já foi com os captadores montados e soldados).

O grande macete pra centralizar tudo é prender o braço (sem parafusar), já com as tarraxas, no tróculo usando um grampo de pressão, no Brasil conhecido como "sargento":


O braço é preso pelo sargento, a ponte é parafusada e colocamos a primeira e sexta cordas, que vão traçar os limites externos do alinhamento. O alinhamento pode servir também para as primeiras (e essenciais) marcas das ranhuras do nut (essa strato ganhou um nut de osso):


Se o braço estiver desalinhado, geralmente há um pequeno espaço de manobra no tróculo para angular lateralmente. Caso esteja muito fora do alinhamento, ou o tróculo ou a ponte foram cortados/posicionados no local incorreto e aí é mais complicado...
Aprendi a alinhar de outra maneira: colocava o braço no corpo, ambos sobre uma mesa e sem prender o braço, passava uma linha/cordão que ia do centro do nut/braço até o centro da ponte. Se o fio passasse durante o trajeto no meio de todos os marcadores/bolinhas, o alinhamento "deveria" estar correto. Então fazia a marcação do braço (com uma haste/chave de metal com ponta, passando pelos furos do tróculo e marcando os locais de furação na base do braço), mas ai é que dava merda: como o braço não estava preso, mesmo com muita atenção ao movimentá-los (corpo e braço) para a posição de marcar/furar/parafusar, podia desviar um milímetro ou mais. E um milímetro em alinhamento de guitarra é a diferença entre um trabalho bem feito e outro amador. Dois milímetros não é nem amador, é trabalho porco mesmo!
Nesse método do Inaldo, como o braço está preso e não se movimenta, tudo permanece como está. 

Veja na parte de trás. Na foto, apenas para ilustrar, os parafusos já estão colocados, mas o sargento é utilizado só pra marcar a furação do braço. Daí retiramos o sargento, separamos o braço e fazemos os quatro furos (de preferência, sempre com furadeira de bancada) de fixação um pentelho menores que os parafusos e no final é só parafusar. Tudo estará alinhado :)


Dica extra: em guitarra tudo é parafusado sob pressão. Pra facilitar (e como!) a penetração do parafuso na madeira, passe um pouco de cera de abelha (lojas de suprimentos para marcenaria) nos parafusos antes (numa emergência, um sabonete umedecido ajuda também):

Cera de abelha e chave com ponta, utilizada para marcar e/ou  fazer o furo guia do parafuso.



sexta-feira, 9 de maio de 2014

Inaldo e o Blog

Paulo May


Inaldo Souza, luthier.

         Pra começar, é provável que esse blog nem existisse não fosse esse cara de nome estranho. Já o mencionei várias vezes, invariavelmente dizendo que ele solucionou algum problema ou besteira que fiz.
Também já expliquei como mergulhei nessa cachaça de tunagem, montagem e timbragem de guitarras, mas preciso explicar novamente para colocar o Inaldo, que foi o catalisador de tudo. Vamos lá:
         Assim como a maioria de vocês, sempre fui apenas um guitarrista comum, daqueles que não perde muito tempo analisando ou tentando entender a guitarra enquanto instrumento. Sempre preferi Telecaster e, exceto por um breve e sofrido início com uma Telecaster Finch e uma SG Giannini, sempre tive boas: uma Tele Fender 1974 e outra de 1968.

Fender Telecaster Custom 1974 (com tremolo Bigsby)

Havia uma terceira guitarra por um tempo, a também excelente Carvin V220 (só agora sei que ela era toda de maple). Assim, protegido por boas guitarras, nunca tive que batalhar muito por um bom timbre, pois já o tinha de bandeja. O guitarrista base da minha banda era meu primo e ele havia adquirido, em 1985, uma Stratocaster 1983 americana (aqui começam as pegadinhas: era uma strato de 1983 - talvez o pior ano da Fender). A Tele 74 dava de dez naquela strato, por isso nunca me interessei por stratos. Até 2002, quando resolvi ter uma. Blackmore, Clapton, Mark Knopfler e SRV  não podiam estar errados...

Nesse momento, toda a minha ignorância voltou-se contra mim e, encurtando a história, fiz uma "stratocaster custom" com um luthier, paguei quase o mesmo que pagaria por uma americana e fiquei com uma porcaria nas mãos. A guitarra era linda, com hardware caro e importado, aparentemente idêntica a uma strato Fender, mas o som era uma porcaria. Durante um ano tentei por várias vezes tocá-la, mas sempre vinha aquele timbre morto, desequilibrado e sem ressonância.
Que merda! Fiquei de saco cheio e resolvi pesquisar... Descobri que a minha "Fender de Luthier" tinha corpo de cedro, braço de marfim, ponte Wilkinson VS50 e captadores Seymor Duncan SSL-6. Por incrível que pareça, ela tinha tudo que eu mais detesto em stratos!
Enquanto aprendia, minha cabeça ficava: "Cedro? Mas que porra é essa? Deveria ser alder ou ash..."

Bem, daí em diante tudo evoluiu até esse blog, que existe primariamente porque não quero que outras pessoas cometam os mesmos erros que eu. Tu podes até gostar e querer uma strato com corpo de cedro, mas precisas SABER o que é isso e como ele vai influenciar no teu timbre. Idem para o resto... Vinte anos tocando guitarra e eu nem sabia o que era e pra que servia o "TENSOR" do braço. Foda!

(Inaldo e a strato de ash. Obs: contato: celular: 84632630)

         No meio desse caminho encontrei o Inaldo, depois de um frustrante contato com outro luthier, que acredito, não tinha o menor interesse - ou saco - pra me explicar pelo menos se "dava pra trocar o braço" da minha strato porcaria. Aos poucos, o Inaldo foi explicando alguns detalhes de setup, madeiras, braços e um belo dia, quando levei uma guitarra pra trocar os captadores - pela terceira vez - ele disse: "Cara, estás gastando muito comigo... 80% do que eu faço aqui tu podes fazer em casa. Volte no sábado que eu te ensino a soldar e trocar o braço, pelo menos"

Por aí já dá pra perceber a índole de uma pessoa, não? :) Nos tornamos grandes amigos, (continuo gastando bastante com ele, mas tenho desconto de cliente vip, hehehe), hoje em dia discutimos as coisas mano a mano mas ainda aprendo uma barbaridade naquela oficina em Santo Amaro da Imperatriz, pertinho de Floripa e da serra catarinense. Essa é a vista da janela:


Quando pensei em um nome para esse blog - e nem sabia que seria tão acessado - cogitei:"Meu Luthier Toca Melhor Que Eu". Ele já foi metaleiro e sabe fritar muito bem :).

Preparei um "making of" da minha strato KNE postada há pouco tempo com algumas dicas do Inaldo - coisas que parecem simples mas só o são quando sabemos como fazê-las, tipo centralizar o braço de uma guitarra, por exemplo... Mas vou parar esse post aqui e fazer o próximo especificamente para isso.

Valeu, Inaldo. O blog te agradece! :)


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PS: Pra quem é da região: a oficina do Inaldo é em Sto Amaro, mas ele e seu sócio Alex Arroyo (guitarrista e luthier) que ultimamente está nos brindando com suas habilidades nas demos de guitarra, têm uma outra, para pequenos trabalhos e setups, no centro - Felipe Schmidt, galeria Jaqueline, em frente a uma loja de instrumentos musicais: "Officina Luthieria" (Tel:32098780).

domingo, 4 de maio de 2014

The 60's Strat

 Oscar Isaka Jr.

         Em 1959 a Fender introduziu a escala de rosewood (jacarandá) na já famosa Stratocaster com o objetivo primariamente estético, pois a escala de Maple envernizado gasta e "suja" com o uso, o que causava reclamações dos clientes na época. De brinde, os guitarristas perceberam que além do "feeling" mais liso e agradável ao tocar do Rosewood, o timbre também ficava levemente mais cheio e encorpado, em comparação ao ataque rápido e snappy conhecido do maple.

Associado a uma leve mudança nos captadores também, nascia talvez o som mais famoso da Stratocaster, imortalizado por mestres como Stevie Ray Vaughan, Rory Galagher, Jimi Hendrix . O som rockeiro de Strato, um timbre que é gordo e seco nos graves e médios e tem agudos mais redondinhos, com um pouco menos de brilho que o característico som 50's. Excelente para uso com overdrive e distorção pois mantém toda a definição sem se tornar muito fizzy.

Sou absolutamente FÃ desse timbre! As posições 2 e 4 ficam lindas e sempre muito suaves, o captador da ponte tem um twang seco e cortante, ótimo para leads mais agressivos, o do braço soa grande e bonito com um som quase mid-scooped (atenuação de médios, médios cavados) sem perder o ataque. John Mayer utiliza esse DNA sonoro, de onde vem grande parte do mid-Scoop que ele tornou tão popular.
Fender Rory Gallagher
Conversando com o Paulo, decidi por uma Strato TRUE 60's que capturasse esse som que tanto ouvimos por diversas gravações dos melhores strateiros do mundo. Mas qual? Uma 60 "slab board"? Uma 63 "veneer board"? Uma 69 Hendrix style? Todas com o mesmo DNA mas com leves diferenças nos timbres e características. Em uma conversa rápida com o Mr. Jim Rolph, ele comentou como as veneer board (escala fina) soavam bem... Eu não tinha ainda ouvido/tocado numa então resolvi que montaria uma "Partscaster 63 Tribute".

Corpo KNE de Alder
Mãos à obra. Decidi que seria totalmente VOS (Vintage Original Specs).
OK, para começar, preciso de um BOM corpo de Alder! Encomendei da KNE Guitars nos EUA, por sinal, excelente em tudo. O Mitch é um cara extremamente gente fina e fácil de trabalhar. É só mandar por email o que vc quer que ele responde sempre prontamente!
O braço inicialmente foi um problema, pois poucos fabricantes hoje produzem os veneer board.

A escala "slab board" é grossa e colada reta no maple, a curvatura/raio é feito posteriormente. Portanto, fica com mais rosewood no centro.

Braço 60s, sem "Skunk Stripe"
Achei no ebay um da All Parts exatamente do jeito que eu queria. Escala com 7,25" de raio, braço de maple com Veneer board sem o Skunk Stripe (característica dos anos 60 também, onde o tensor era colocado antes da colagem da escala, eliminando assim aquele corte longitudinal), mais gordinho e com trastes vintage. Eu sei que a tocabilidade fica um pouco comprometida pois o raio mais acentuado requer uma ação mais alta e os trastes mais finos dificultam bends etc., mas o plano era realmente montar uma VOS!

Os captadores usados foram os Jim Rolph Pretenders 62 e comprei todo o hardware próprio da Fender, desde tarraxas vintage, escudo 11 furos, knobs, chave e potenciômetros, incluindo um capacitor NOS/New Old Stock cerâmico de alta voltagem. Esses capacitores eram conhecido na época como Orange Pancakes pelo seu formato redondo e tamanho. Muitos strat maníacos afirmam categoricamente que eles fazem a diferença no som e pelo que eu pude constatar, fazem mesmo. Claro que isso é tão subjetivo como a discussão dos BumbleBees nas LesPaul e não vamos entrar no mérito, mas quero deixar registrado que PRA MIM, sim, eles fazem a diferença no som. Montei toda a elétrica como manda o figurino! Não podia ficar ruim... rsrs






A ponte é um capítulo à parte. A intenção era usar a Fender 57/62 vintage mesmo ( a mesma usada nas American Vintage) mas acabei trocando o bloco por um Manara (sim é melhor que o Fender de aço original) e os saddles pelos da marca japonesa Raw Vintage (mesmo grupo da Xotic) que é conhecida pelas melhores reproduções dos saddles originais. Como eu estava nos EUA, comprei pra testar mesmo, mas a diferença não é assim tão grande, talvez o som/ataque com um pouco mais de coesão do que os Fender mas não sei se justifica os 50 dólares a mais. O DNA dos Bent Steel está lá de qualquer forma.



PINTURA - O corpo e o braço receberam uma pintura fina com nitrocelulose e pedi pro Luciano (responsável pela pintura da Castelli) fazer um Daphne Blue, cor muito típica dos anos 60 também.


Daphne Blue
Depois de montada .....


O resultado sonoro final ficou muito melhor do que eu esperava!! A pegada ficou animal, e o som então ... Levei essa strato pra ensaiar várias vezes na minha bandinha de Blues/Rock (tocamos ZZ TOP, Lynyrd Skynyrd e etc) e não só ela segurou bem a onda com todos os níveis de drives  usados, mas todo mundo gostou e elogiou o som! Uma TRUE 60's com o melhor do DNA Fender clássico gastando menos do que uma Fender Mexico Std custa aqui no BR.




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Comentário adicionado ao post:

ALEX FRIAS: "Quanto à captação, esse período dos anos 60 é bem variado, pois há boas mudanças de número de espiras, a entrada do Plain Enamel no lugar do Formvar e da metade da década em diante o uso de máquinas automáticas. Pelo material que pesquisei, se for o som dos captadores da Strat principal do SRV que a pessoa quer então pups mais na onda dos 59 serão o alvo, de preferência enrolados em folha de cobre aterrada e contando com um dummy coil pra ajudar a exterminar em parte o ruído de 60 Hertz e seus harmônicos. Os captadores Epic 59 da Klein parecem se aproximar bastante dessa ideia."