Parece uma guitarra boa, não? Bem, vamos ver...
Rapaz, eu estava evitando tocar nesse assunto, mas esse comentário do Folli (na Strato Lipstick), praticamente me obrigou a fazê-lo. Leia o que ele escreveu:
Folli: "Eu tenho uma Tagima T 735 Special (made in china). Foi minha primeira guitarra depois que reatei com essa paixão. Não sabia nada sobre guitarras. A aparência é de uma guitarra bem construída, precisa, tem boa pintura e um acabamento que impressiona pelo preço, mas nunca me conformei com ela. Até tentei algumas coisas que andei pesquisando na internet... troquei os captadores por caps Cabrera Screaming Blues, regulei as oitavas, abaixei a ação das cordas, regulei o tensor, troquei as tarraxas, só ficou faltando mesmo trocar a ponte (talvez o mais importante). Essa foi a minha "cobaia", como vc disse aí em cima. Mas não teve jeito. Num dado momento até achei que ela ficaria razoável, até o dia que eu comprei uma Fender usada lá na Teodoro (rua de SP). A Fender precisou de algumas regulagens, tais como substituição dos saddles, regulagem de oitavas, e altura das cordas. Depois ficou excelente, como toda Fender deve ser. Bem... pra quem não sabia nada sobre guitarras, acabei aprendendo alguma coisa. Guardei a Tagima e nunca mais consegui tocar com ela. Ainda não desisti. Vou continuar tentando fazer dela uma boa guitarra. Será isso possível?"
Bem meu caro, POSSO TE GARANTIR QUE NÃO, não será possível. Espero que esse post te ajude e aos guitarristas que visitarem o blog.
Quando comecei a me interessar, em 2006, pela parte "física" das guitarras - tudo por causa de uma strato de luthier caríssima e muito bonita mas que soava horrível (descobri depois que era graças ao corpo de Cedro), o primeiro passo, já que o meu problema inicial era com uma strato, era focar em um guitarra com corpo de Alder ou Ash, as madeiras clássicas da Fender. Como não queria investir muito, procurei pela internet e encontrei esse vídeo do Zaganin, na época diretor técnico da Tagima, falando do corpo de "Alder" da 735 Special :
Comprei-a no mesmo dia. Os captadores cerâmicos imediatamente foram trocados (escudo também) por caps Rosar, tarraxas, saddles com roller... Ela ficou assim:
Nessa foto, não dá para notar, mas ela era "transblack", a parte de cima ligeiramente transparente, e, pela transparência, a madeira realmente parecia ser alder.
Mas o som... que porcaria! Magro, desequilibrado e sem agudos, mesmo com os captadores Rosar. Não fazia sentido. Tudo que eu li sobre o Alder me dizia uma coisa e o som da Tagima outra - era ainda pior que o Cedro.
Decidi esclarecer de uma vez por todas e retirei (com removedor, muita sujeira, irritação no nariz e na pele) a pintura/verniz dela.
Como eu temia, a madeira do corpo era uma "lenha" qualquer disfarçada com uma plaquinha fina de alder. Veja as fotos:
Observe na última foto nitidamente a placa e a madeira por baixo. A placa de alder era tão fina que dez passadas de lixa 100 e ela ia embora.E a picaretagem não acaba aí - aquela coisa horrorosa que a Tagima diz ser alder ainda apresentava 5 colagens!!!
Para quem não conhece a textura do Alder, é só procurar na internet por fotos dessa madeira. Existe uma variação (que nem é usada em guitarras) até um pouco mais escura. Mas jamais esse "malhado" aí.
Uma foto de um corpo de alder à venda na StewMac:
Liguei para a Tagima... (editado). Ainda não consegui esclarecimento ou suporte adequado sobre esse problema.
PS: Folli, lamento muito, mas deves ter sido tão enganado quanto eu...
Porém, existe o lado positivo, e essa decepção foi uma das razões do blog existir. Tá bem mais difícil alguém me enganar com guitarras hoje em dia...
PS2: Atualmente tudo mudou no site da Tagima - o corpo agora é anunciado como Basswood e o vídeo não está mais lá, mas ainda existem as de "Alder" à venda por aí. Até no Submarino (clique em "saiba mais sobre esse produto"):
http://www.submarino.com.br/tagima735s
ADENDO 07/10/10: Até alguns dias atrás, todas as minhas pesquisas e as pessoas que questionei, luthiers incluidos, confirmaram a minha suspeita de que aquela madeira não é alder. Porém, um luthier, Fábio Seiji, através do fórum Cifra Club mencionou que "pode ser" Alder, independente do aspecto.
Já que não há mais unanimidade, e o luthier tem o respaldo técnico, eu não posso mais afirmar sem uma definitiva análise em laboratório.
Outra hipótese que deve ser mencionada aqui é que, caso não seja alder, a própria Tagima pode ter sido enganada pelo fabricante chinês, mas acredito que ela tem plena responsabilidade sobre o que anuncia e vende.
Então, deixo as fotos e o meu relato para cada um tirar sua própria conclusão.
ADENDO 18/04/2011: A "Audiência Conciliatória" foi hoje. Para saber a proposta da Tagima, siga o link: http://guitarra99.blogspot.com/2011/04/tagima-parte-ii.html
ADENDO: 03/2013: Leia o final desse caso aqui (CLIQUE)