Comecei esse assunto "telecastermaníaco" sobre os corpos de Teles que o luthier Roberto Cavalheiro fez pra mim, postei a de Ash e a de Mogno e quase esqueci da de Alder! :)
Confesso que eu não colocava muita fé no Alder para Telecaster, já que a minha experiência é 99% com Ash, mas novamente, mordi a língua e comprovei que a Fender é f.... Quando passaram a usar também o Alder em 1959 para as Teles (até então eram só de Ash) é porque sabiam o que estavam fazendo.
Aqui, uma lembrança dos 3 corpos feitos pelo luthier Cavalheiro assim que chegaram aqui em casa (o de Alder é o do meio):
Como o Alder geralmente é mais liso e sem muita figuração, é a madeira ideal pra receber uma cor sólida. Inicialmente pensei no famoso "Candy Apple Red" e poderia tê-la pintado com o próprio Cavalheiro, mas como ele já havia aberto uma brecha na agenda pra fazer aqueles corpos, resolvi pintá-la aqui em Florianópolis mesmo, com um cara de uma oficina que já fez milagres nos arranhões do meu carro... :)
Pra quem não sabe, a grande maioria das guitarras atualmente usa a mesma tinta dos automáveis (PU). A Fender sempre fez isso (o catálogo de cores da década de 50 era o mesmo da GM, mas na época era Nitrocelulose ou "Duco"). O pintor, Marcelo, ficou preocupado de início, já que nunca pintara uma guitarra. Pedi apenas que usasse poucas camadas, pois o verniz PU em excesso mata o som da madeira. Padrão "metálico", ou seja, com um fundo prata ou dourado e um vermelho (pedi mais escuro) em cima.
Deveria, mas não fui, checar o teste de cor e a mistura final ficou mais escura, caindo para o vinho. Tudo bem, adorei essa cor e o fundo dourado a deixou com um aspecto lindo com o vinho cintilando sob determinados ângulos da luz.
Coloquei o braço de maple com escala de rosewood da Tele Preta "Black Jack" (que receberá um braço de maple em breve), Aqui, o som dela (captador da ponte: Rosar Vintage Hot T). Usei a mesma base (baixo e bateria) da demo da Tele 68 pra vocês observarem as similaridades.
Como ela tá um pentelho mais macia que a Tele 68, resolvi gravar alguma coisa na praia de "Mistery Train" (com palheta, sou roqueiro:) ) com um eco tipo slapback bem clássico. Bem "Telecaster", na verdade. Veja:
Mas não se enganem com o clima country/rock. Essa guitarra (e as teles em geral) é uma máquina mortífera pra rock clássico também.
Nesse vídeo, o som do captador Rosar Fullerton (para strato, mas fica divino no braço de uma Tele), num solo em double stops (sou guitarrista base, sorry:) ) com leve saturação. Acho muito legal a opção de usarmos um captador de stratocaster na posição do braço de Telecaster (lembrando que o escudo tem que ter a cavidade um pouco maior - esse foi comprado na Guitar Fetish). Assim ficamos com o melhor das duas, som de Tele na ponte e de strato no braço:
O preço? Por volta do que custou a Tele de Ash (veja nos posts anteriores), menos de 1.400 reais no total.
Sempre falei e repito: uma boa guitarra começa com boas madeiras.
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PS1: Dá tranquilamente pra pintar uma guitarra em oficina de carro especializada em pintura (em SP já existem empresas especializadas em pintura de guitarra, como a Music Kolor), desde que o pintor seja caprichoso... Recomendo especificar poucas camadas (metade do padrão) e, de preferência, usar uma cor de algum carro nacional, pois não haverá erro na mistura (as oficinas têm as misturas de todos os fabricantes). Foi divertidíssimo ficar na rua só olhando as cores dos carros. Cheguei a fotografar um Clio porque gostei muito do tom de verde dele, hehehe. Mas esse "Red Wine" ficou legal.
O catálogo de cores atual da Fender tá aqui, pra quem quiser alguma inspiração.
Em tempo: o Marcelo me cobrou apenas 150 reais pela pintura... :)