Oscar Isaka Jr.
Decidimos (eu e o Paulo) contar a saga em partes pois nessa viagem, além da busca pela Les Paul do Paulo, teve muita coisa interessante. Foram duas semanas de intensa atividade guitarrística que vamos tentar dividir com vocês. Descrever timbres em palavras é meio complicado podendo soar até ridículo e engraçado em alguns momentos mais metafóricos, mas temos alguns vídeos pra auxiliar nessa tarefa.
O destino era Austin, no estado do Texas, onde morei e fiz meu intercâmbio cultural em 2000. Fui justamente visitar a família que me acolheu e com a qual mantenho contato até hoje.
A decoração do próprio aeroporto já sugere que estamos no lugar certo!
Para poder achar uma guitarra foda, eu precisava construir algumas referências e nada melhor que ir às lojas e testar guitarras. Meu plano era visitar as grandes Guitar Center e lojas locais na esperança de encontrar algumas Reissues e quem sabe alguma vintage de verdade.
Essa era a primeira vez que eu estava nos EUA depois que virei um fanático por timbres e queria por em prática, direto na fonte, tudo aquilo que tinha experimentado e lido nos últimos 4 anos.
Como soaria uma Strato velha? Um P90 dos anos 60? Uma Tele dos anos 50? Será que os timbres que temos hoje à nossa disposição com as "Reissue" é realmente próximo ao das originais antigas? Todas essas perguntas estavam com prioridade alta nas minhas sinapses enquanto vagava por Austin e parava em qualquer beco com uma placa que dizia "Guitars", mas confesso que minha esperança maior era achar uma Gibson Les Paul Sunburst original com PAFs (o verdadeiro Cálice Sagrado das guitarras) e constatar pessoalmente o som intangível e mágico que a combinação LesPaul + PAF gera.
Eu e o Paulo passamos incontáveis horas, dias, meses discutindo, lendo e pesquisando sobre o assunto, mas nenhum de nós tinha a referência real e definitiva.
A Gibson SG 1961 com dois P90 foi a escolhida para começo das atividades. Pedi pra testar essa mais pela curiosidade por ser uma 61, pois nunca tinha me entendido bem com os P90. Ainda bem que a testei.
Muito já li sobre a diferença dos P90 vintage e atuais e pude constatar isso com essa SG. O som rude, sem frescuras e direto veio esmurrando o coitado do Deluxe Reverb com aquele médio agressivo bem característico, sem sobras! Captador da ponte com um certo twang com médios característicos de Tele e o cap do braço com um som de single gordo e agressivo, quase como um humbucker, mas muito articulado! Notem no vídeo o ataque das notas graves na região baixa da escala - em nenhum momento sobram agudos e nem sibilância e os médios mordem como um cão raivoso!!
E a saturação então?? POOOTTZZ!!! AGORA SIM experimentei o real sabor do P90 clássico e confesso que gostei bastante do que ouvi. Dá pra tocar de tudo com esses captadores, desde um Blues até um Rock/Hard Rock!! Preço: US$ 5.000,00. Se eu não tivesse ambições maiores nessa viagem, teria levado a guitarra pra casa. Adorei essa SG!
Gibson SG Special 1961
A próxima foi a Gibson 345 1963 que pedi pra testar com o maior medo de levar uma invertida (trauma de algumas lojas por aqui) mas pra minha surpresa o vendedor disse "Sure"!
Pausa: A Gibson 345 é uma semi-acústica parecida com a famosa 335 em construção, mas que contém um seletor de 5 posições que aciona capacitores para vários timbres diferentes, chamado "Varitone" (a famosa Lucille de BB King possui esse sistema) e saída estéreo para dar a possibilidade de ligar em dois amps distintos e obter assim maior diversidade timbrística.
Na prática, o sistema não foi um grande sucesso e a maioria dos guitarristas da época a deixava MONO e desabilitava o Varitone.
Poderia escrever um livro aqui somente sobre eles (faremos em breve um post completo sobre humbuckers clássicos), mas vamos dizer por hora que esses foram os primeiros humbuckers logo depois dos PAFs autênticos e portanto mantém várias características de construção (se não todas) dos PAFs originais.
Patent # e P.A.F.
Para o teste escolhi um Fender Deluxe Reverb Reissue (foto abaixo) modificado com falante Eminence Texas Heat, trafos Mercury Magnetics e alguns capacitores substituidos pelos famosos Sozo, num conjunto de "mods" muito famoso nos EUA. Vários "modders" adquirem amps novos e instalam sua mágica antes mesmo de chegarem às lojas, possibilitando comparações com o amp padrão de fábrica. Nesse caso as mods realmente deixam um ótimo amp ainda melhor!
Esse amp tinha uma excelente profundidade nos graves (como todo BOM Fender BlackFace) e quando empurradas, as 6V6 saturavam de maneira extremamente cremosa e musical. Equilibrado em todos os sentidos. Nos FDRR "stock" que testei em outras lojas (mais tarde na viagem), havia um "fizzy" nos agudos, quase como um "FUZZ" nas frequencias mais altas e os graves eram mais magros e chochos. Ainda um bom timbre Fender, mas como minha referência estava nesse FDRR modificado, percebi que as mods realmente fazem diferença.
Com a guitarra em mãos pluguei a bichinha e logo na primeira nota já gostei do que ouvi. O estalo do ataque dos médios seguido da compressão, detalhamento de agudos e o "bloom" que tanto li a respeito estava saindo do amp ali na minha frente. Tudo encaixou na minha referência do som do humbucker clássico! Incrível! A dinâmica impecável, resposta à palhetada, o drive... Tudo estava lá, associado claro, à característica fumacenta e oca (smoky hollow) da natureza da semi-acústica. Nada do que experimentei de captadores até hoje chega nesse som que ouvi (culpa dos captadores...), perto, mas não 100% lá!
Pela sua própria natureza e características de construção, a semi-acústica não tem o HONK nos médios complexo da Les Paul, mas é um timbre muito bonito, bem "single coilish" e clean! O preço era US$ 7.500,00.
Gibson ES-345 Stereo 1963
Encerrando os testes relevantes dessa primeira loja, foi a vez da Fender Stratocaster 1969. O corpo de alder bem leve, braço de maple com escala de Rosewood (veneer board) e headstock grande ainda sem o bullet no tensor. Braço gordinho e confortável, tradicional "Full C". Essa Strato tem um timbre bem percussivo e claro, com uma leve sobra de médio-agudos característica da época.
Engraçado que na hora me veio o som dos captadores Custom Shop 69 da Fender, sem muitos graves e até meio magro mas com bastante percussão, que ouvimos nas gravações da Funk Music e até mesmo de Jimmy Hendrix. Mas é notável o som das madeiras nessa guitarra com o ataque seco e "woody" que só uma Strato antiga entrega. Definitivamente um timbre clássico de Strato! Preço: US$ 15.000,00 (OUCH!). As Stratos do período de 1969 são conhecidas como "CBS Transition" por ainda manter a boa qualidade dos anos 60, antecedendo o período CBS crítico conhecido como "Dark Years" pela qualidade instável dos instrumentos. Pra vocês terem uma ideia, uma Strato 1973 (apenas 4 anos depois) pode ser achada por US$ 4500,00.
Fender Stratocaster 1969
Acho que dei uma sorte danada por essa oportunidade de testar 3 guitarras clássicas com timbres ótimos, todas juntas! A agressividade do P90, a delicadeza dos Pat# na 345 e o estalado percussivo da Strat 69...Todos são timbres imortais e clássicos!
PS: Até Cigar Box Guitar genérica (U$300,00) não soou tão ruim assim !:-)
Cigar Box Guitar
Continua.....
Parabéns Paulo e Oscar. Tá um barato acompanhar essa aventura em busca da LP perfeita. Abraços
ResponderExcluirObrigado cara! :-) Vem mais por aí !!
ExcluirAbraço!
Comprei uma Vintage icon v52 graças a você, e estou muito feliz, seu trabalho é fenomenal nunca desista, sou seu f'ã !!! Abração...
ResponderExcluirCara parabéns mesmo, acho que e uma aventura em busca da lp sagrada.
ResponderExcluirabraços.
Putz, que sonho!!! Preciso ir a Austin um dia também. A "Live Music Capital of the World" segundo eles. Deve ser emocionante tocar em guitarras da década de 60.
ResponderExcluirNossa eu também adoraria ter a oportunidade ir até a origem para testar guitarras e amplis vintage de verdade. Quem sabe um dia!
ResponderExcluirNada contra quem gosta de equip. vintage "fabricados" mas não tem a menor comparação.
Gostei demais da ES-345, sua tocada realçou o som limpo e equilibrado que nem sempre é fácil encontrar numa semi-acústica, muito legal.
A SG é um sonho, tb achei forte o som dela e pelo visto com drive pesado ela balança o bolso do peão mesmo.
A strato não chama atenção pelos graves mas é o som clássico, estalado, e puxam muito o preço dela por isso.
Por fim, os vídeos mostram que ter um ampli bom é fundamental, independentemente da guitarra.
Curiosidade: qual o nível de volume nesse Fender envenenado que você usou na loja para gravar os sons? O ampli estava a venda tb e por qto?
Marçal.
Marçal, a 345 foi a minha preferida tbem seguida da SG de perto :-)! Dois sons que não ainda não conhecia ao vivo!
ExcluirO Deluxe Reverb Reissue estava com volume no 4-5 quassseee crunch. Eu acho que é onde ele fala melhor !:-)
Desculpe, sim o ampli estava a venda por U$1200,00!
ExcluirLegal, considerando os mods poderia estar até mais caro.
ExcluirImagino eu com desses em um quarto querendo fazer um barulhinho sem incomodar tanto..rsrsrs.
Até mais.
Duas coisas:
ResponderExcluir1- Quero conhecer Austin. Só o aeroporto já diz tudo.
2- Eu não sirvo pra esse tipo de busca. Já teria torrado o dinheiro todo nessa primeira loja. kkkkkk
Eu também!! :) :)
ExcluirHahahaha!! Manter o foco lá é realmente complicado!! rsrs!
ExcluirOlá, Paulo. Vc conhece as guitarras da marca alemã Hofner?
ResponderExcluirDe nome sim, como todo mundo. Mas nunca toquei com nenhuma por isso não me atrevo a comentar nada:)
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