sábado, 25 de agosto de 2012

Timbre de Guitarra - Como Avaliar?

Êta perguntinha capciosa! :)

Timbre é subjetivo. Pessoal. Assim como gosto, varia de ouvido para ouvido, de pessoa para pessoa e até uma mesma pessoa pode, dependendo do seu estado de espírito (ou idade :) ), mudar de opinião em relação a timbres.
Assim, antes mesmo de começar a falar sobre diferentes timbres, temos que tentar destrinchar o básico: como o timbre é formado? Quais são os componentes principais e secundários?
Acredito que o primeiro item, crucial, é a madeira. Vamos nos organizar então:

1) - MADEIRAS
Cada madeira tem um "timbre" específico, relacionado com a sua "frequência de ressonância" (FR - a frequência mais alta que ela emite quando vibra). A densidade, dureza e tamanho da peça (entre outras coisas), determinam a frequência que ela vai gerar. Quem já ouviu a ressonância (parece um sino) do Jacarandá da Bahia entende porque ele é considerado o cálice sagrado das madeiras. Mas uma guitarra é composta de corpo, braço e hardware. Um corpo, isolado, tem uma frequência de ressonância (FR). Um braço tem outra. Junte os dois e teremos uma terceira. Acrescente ponte, tarraxas, captadores e tudo muda novamente...
Mas vamos entender como as madeiras soam isoladas. Acabei de colocar legendas nesse didático vídeo da Fender Custom Shop, onde o luthier, músico e diretor de marketing da Fender, Mike Eldred, nos mostra as diferenças entre um corpo de strato de alder e outro de ash. Veja:


No próximo vídeo, Mike Eldred explica como o pessoal da Custom Shop da Fender seleciona/combina determinados braços com corpos, também baseando-se nas frequências de ressonância de cada peça.

Ressalta a importânica do tipo de corte da madeira de braço - o corte radial (Quarter Sawn) é o que forneçe maior rigidez e resistência à peça, além de geralmente soar mais aberto, agudo:



O corte plano (Flat Swan), o mais comum em guitarras de linha, é menos resistente e tende a soar mais grave:



Essas imagens foram surrupiadas do blog da querida luthier Paula Bifulco (clique aqui). Para maior compreensão sobre esse assunto, dê uma passada lá.

ADENDO: O Daniel Menezes esclareceu alguns detalhes sobre os cortes. Está nos comentários mas é tão importante que copiei também aqui:

RadialSawn ou Violin Sawn:
É o corte perfeito, onde as fibras são paralelas e onde se consegue o melhor da força da madeira e onde ela tem a menor probabilidade de empenar. ( a diferença do radial sawn do violin sawn, é que na violin sawn a madeira é retirada em cunhas ao invés de pranchas)

Quarter sawn ou quartier:
É corte mais próximo do perfeito, é preferido das indústrias por não ter perda alguma de madeira, o nome é derivado do corte do tronco em "quartas", se consegue uma madeira de excelente qualidade e com o melhor custo benefício.

Plain sawn ou (vulgo) Industrial sawn:
O tronco é cortado de forma homogênea (salvo engano, com uma lâmina a cada 15cm), as pranchas próximas ao alburno ficam com veios de aspecto "montes" ou "cumes" e as pranchas próximas a medula ficam "radial sawn" com veios paralelos.

*medula: e o centro de onde se gerou toda a árvore.

Vamos então ao segundo vídeo sobre timbre de madeiras da Fender Custom Shop:



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        Aqui, uma outra comparação, entre madeiras geralmente usadas para violão. Sitka Spruce, Walnut e Rosewood (Jacarandá) Indiano. Observe a sonoridade ressonante do jacarandá (o de baixo). De acordo com testes realizados por especialistas, o nosso Jacarandá é cerca de 30% mais ressonante que o Indiano!



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Bem...
Já que agora temos uma compreensão mais científica sobre madeiras de guitarra, amanhã vamos continuar mergulhando nos demais itens que compõem o timbre....



quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Telecaster de Mogno - update

Já postei aqui anteriormente sobre o dia que fui na oficina do luthier Roberto Cavalheiro pegar minhas duas Telecasters (Alder e Ash) e ele me deu de "presente" um corpo de Telecaster de mogno - peça única, sem emendas. O vídeo do making off desse corpo tá aqui: CLIQUE
Mogno, todo mundo sabe, é uma madeira fantástica para guitarras e violões, a alma das Les Paul e Gibsons de corpo sólido em geral.
O problema aí é uma TELECASTER de mogno. A própria Fender já fez teles de mogno (ppte na série Thinline), mas obviamente não fez sucesso, porque o timbre clássico de telecaster é dependente do Ash ou Alder. O Mogno soa um pouco mais "macio"... Equilibrado, mas macio, com menos "snap" e ataque típico das teles.
Logo que cheguei em casa, coloquei um braço (de uma Roland antiga) de maple com escala de jacarandá/rosewood. É um braço relativamente fino, com pouca massa.
Ela inicialmente ficou assim:


O som? Lindo, definido e equilibrado, mas considerando o timbre clássico, ela apanhava legal das outras Teles de alder e ash. Coloquei um Rosar Dual Blade, o Screamin' Distortion T, na ponte. Assim, com um humbucker na ponte, poderia tocar coisas mais pesadas e deixaria o timbre clássico de lado. Ficou legal, com aquela distorção "instantânea" e eficiente, mas agora, como uma guitarra com humbucker na ponte, ela também não conseguia superar as outras, como a PRS com Supershred ou até mesmo a Strato com outro Screamin' Distortion
Voltei para a configuração de Telecaster, mas dessa vez usei dois captadores Seymour Duncan "Quarter Pound" - imãs mais largos e alta saída. O da ponte rebobinei para cerca de 9k. Humm.... Tava faltando alguma coisa... O braço com escala de rosewood talvez estivesse com pouca projeção. Como a combinação Mogno+Maple gera um timbre muito peculiar e rico (vide as Les Paul). Coloquei um braço todo de maple, mais gordo, portanto, com mais massa. Rapaz! Melhorou muito! A guitarra começou a criar uma identidade. Tá com mais estalo e viva.
Ela então agora está assim:



Tô achando meio estranho esteticamente essa combinação de cores das madeiras. Pensei em retirar a fina camada de verniz do mogno e tingi-lo de preto... Não sei. Preguiça básica... :)

Update 13/11/2012:

 Depois que descobri um solvente/removedor de verniz em spray (Chemicolor), ficou mais fácil - era apenas uma camada fina. Retirei o verniz, tingi de preto (com o marrom da madeira ficou com uma cor tipo tabaco) e cobri novamente com verniz. Ficou assim:


        Beleza, o som é esse mesmo, muito bom, lembra muito uma telecaster, porém AINDA inferior ao que considero o timbre clássico. Mas foi estupidez minha - historicamente as Teles de mogno sempre soaram "menos tele" que as originais. Nem deveria ter tentado :)
Quem acha o som da Telecaster muito magro e estalado, vai adorar essa de mogno. :)
Tava pensando em comprar uns caps TV Jones e transformá-la numa "Cabronita", igual a essa da Fender:


Mas os TV Jones sempre me pareceram mais legais em guitarras semi acústicas. Não descartei a idéia... Pensando.

Colocar humbucker e/ou P90, seria repetição. Essa Telecaster (acreditem se quiserem) de CEDRO (Ahá!) com top de marfim tá mandando ver com um Seymour Duncan JB (raro, branco, de 1990, feito pra uma Fender tipo superstrato) na ponte e um P90 no braço. Vejam:


Tô com muita Telecaster por aqui :)...
A idéia de colocar os TV Jones na de mogno ainda tá de pé. O que vocês acham?


UPDATE 07/05/2014:

O vídeo demonstração da Telecaster de mogno, tocada aqui pelo meu amigo luthier/guitarrista Alex Arroyo:


Algumas mudanças: Captador da ponte: Sérgio Rosar Screamin' Distortion T. Captador do braço: Seymour Duncan Quarter Pound. Ela ficou "gorda" - cansei de brigar e resolvi deixá-la seguir sua natureza: fat tele!:) Os dois captadores estão fora de fase pra conseguir um som magro, proposital, na posição do meio.