Timbre é subjetivo. Pessoal. Assim como gosto, varia de ouvido para ouvido, de pessoa para pessoa e até uma mesma pessoa pode, dependendo do seu estado de espírito (ou idade :) ), mudar de opinião em relação a timbres.
Assim, antes mesmo de começar a falar sobre diferentes timbres, temos que tentar destrinchar o básico: como o timbre é formado? Quais são os componentes principais e secundários?
Acredito que o primeiro item, crucial, é a madeira. Vamos nos organizar então:
1) - MADEIRAS
Cada madeira tem um "timbre" específico, relacionado com a sua "frequência de ressonância" (FR - a frequência mais alta que ela emite quando vibra). A densidade, dureza e tamanho da peça (entre outras coisas), determinam a frequência que ela vai gerar. Quem já ouviu a ressonância (parece um sino) do Jacarandá da Bahia entende porque ele é considerado o cálice sagrado das madeiras. Mas uma guitarra é composta de corpo, braço e hardware. Um corpo, isolado, tem uma frequência de ressonância (FR). Um braço tem outra. Junte os dois e teremos uma terceira. Acrescente ponte, tarraxas, captadores e tudo muda novamente...Mas vamos entender como as madeiras soam isoladas. Acabei de colocar legendas nesse didático vídeo da Fender Custom Shop, onde o luthier, músico e diretor de marketing da Fender, Mike Eldred, nos mostra as diferenças entre um corpo de strato de alder e outro de ash. Veja:
No próximo vídeo, Mike Eldred explica como o pessoal da Custom Shop da Fender seleciona/combina determinados braços com corpos, também baseando-se nas frequências de ressonância de cada peça.
Ressalta a importânica do tipo de corte da madeira de braço - o corte radial (Quarter Sawn) é o que forneçe maior rigidez e resistência à peça, além de geralmente soar mais aberto, agudo:
O corte plano (Flat Swan), o mais comum em guitarras de linha, é menos resistente e tende a soar mais grave:
Essas imagens foram surrupiadas do blog da querida luthier Paula Bifulco (clique aqui). Para maior compreensão sobre esse assunto, dê uma passada lá.
ADENDO: O Daniel Menezes esclareceu alguns detalhes sobre os cortes. Está nos comentários mas é tão importante que copiei também aqui:
RadialSawn ou Violin Sawn:
É o corte perfeito, onde as fibras são paralelas e onde se consegue o melhor da força da madeira e onde ela tem a menor probabilidade de empenar. ( a diferença do radial sawn do violin sawn, é que na violin sawn a madeira é retirada em cunhas ao invés de pranchas)
Quarter sawn ou quartier:
É corte mais próximo do perfeito, é preferido das indústrias por não ter perda alguma de madeira, o nome é derivado do corte do tronco em "quartas", se consegue uma madeira de excelente qualidade e com o melhor custo benefício.
Plain sawn ou (vulgo) Industrial sawn:
O tronco é cortado de forma homogênea (salvo engano, com uma lâmina a cada 15cm), as pranchas próximas ao alburno ficam com veios de aspecto "montes" ou "cumes" e as pranchas próximas a medula ficam "radial sawn" com veios paralelos.
*medula: e o centro de onde se gerou toda a árvore.
Vamos então ao segundo vídeo sobre timbre de madeiras da Fender Custom Shop:
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Aqui, uma outra comparação, entre madeiras geralmente usadas para violão. Sitka Spruce, Walnut e Rosewood (Jacarandá) Indiano. Observe a sonoridade ressonante do jacarandá (o de baixo). De acordo com testes realizados por especialistas, o nosso Jacarandá é cerca de 30% mais ressonante que o Indiano!
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Já que agora temos uma compreensão mais científica sobre madeiras de guitarra, amanhã vamos continuar mergulhando nos demais itens que compõem o timbre....