Meu grande amigo e guitarrista Faraco aqui de Floripa trouxe essa guitarra pra eu dar uma olhada. Essa maravilha foi comprada (se não me engano) na Two Tone (leia: cara, coisa de 5 dígitos) em SP.
Pra quem não sabe, a Fender volta e meia inventa alguns nomes curiosos para suas linhas Custom Shop. "Closet Classic" seria uma guitarra antiga (no caso 1956) que pouco foi usada e ficou guardada no "armário". Eles imaginam como seria uma guitarra dessas, pegam as especificações de 1956 e...
Precisava tocar essa guitarra, top das tops, pra ter certeza de que stratos com escalas de maple e jacarandá/rosewood são de fato dois bichos distintos.
O maple soa mais macio e o rosewood, mais claro, com mais ataque/força. 90% das vezes percebi essas diferenças.
Numa guitarra desequilibrada (corpo ruim, desencontro de ressonâncias entre corpo e braço, etc.), o maple soará sem vida/presença e sustain e o rosewood poderá soar agudo demais, até sibilante.
Strato é f***! Uma coisinha de nada pra lá e ela é magra e estridente. Um pentelho pra cá e os médio graves embaralham tudo e ela fica sem graça, meio morta. Bem... Tele é ainda mais complicada - não tem os extremos da sua irmã mais nova, porém a zona de equilíbrio do seu timbre é ainda mais estreita.
Posso me considerar um cara realizado nesses dois quesitos, pois sempre tive teles excelentes e tenho duas stratos que me satisfazem 100%. As duas com escala de rosewood. Por alguma razão, não sou fanático pelo som do maple, mas essa Closet Classic quase me fez mudar de ideia. Quase. :)
Percebam na foto acima o craquelado do acabamento de nitrocelulose, escudo de apenas uma camada e ajuste posterior do tensor - tudo correto para a época. No case tinha a chave original de 3 posições - atualmente ela está com a de cinco.
Captadores com uma sonoridade vintage (óbvio), bem semelhantes aos CS57/62 e sem o ataque de médios arrogante dos CS54, meus favoritos. Braço GORDO (e eu achava o da SX gordo), pegada cheia, pra mãos pesadas. Nas especificações (essa guitarra me parece ser de 2001) mais recentes, o braço é citado como "soft V", mas esse é um "C" largo.
Não deu tempo de gravar nada, mas achei um vídeo da Two Tone onde uma guitarra igual a essa é demonstrada (outro guitarrista brasileiro que prefere mostrar mais a si do que o instrumento). Talvez até seja a mesma:
O som é bem esse. Pena que o cara não tocou outros grooves, bases e estilos.
Como toda Custom Shop, madeiras selecionadíssimas. Leve e ressonante.
Excelente guitarra, excelente sonoridade. Mas fiquei feliz em constatar que as minhas duas stratos ainda me satisfazem 100%, ou seja, o botão de emergência da GAS não foi disparado... :)
Com essa história da Tagima, além de outros pequenos perrengues com guitarras chinesas, ficou óbvio pra mim que o ideal, se eu não quiser gastar muito, é comprar tudo separadamente e montar eu mesmo.
Obviamente foi necessário adquirir conhecimento e sempre que aprendo algo, passo adiante aqui no blog.
Recentemente resolvi montar duas guitarras seguindo esse princípio. Sempre quis uma strato na cor "Sonic Blue" (tipo azul celeste). Pesquisei na internet, ppte no ML, e encontrei um corpo de Marupá por 200 reais (na loja virtual do Érico Malagoli - captadores.com.br). A primeira lei de Murphy pegou pesado: o corpo chegou com uma rachadura que ia do tróculo (pior lugar possível) até quase a metade... Bem, depois eu conto essa história, mas o objetivo era o post - colei com Superciano e comecei o trabalho. Queria exercitar o processo de envelhecimento artificial (Relic), pois já havia conseguido bons resultados anteriormente e dessa vez a ideia era competir com a Fender - não quero passar por pretencioso, mas já vi alguns relics muito ruins deles. A maioria entretanto, é muito bem feita.
Seguem várias fotos de stratos Fender Custom Shop Relic, custando entre 2.500 e 4.500 dólares. No meio delas está a minha (que custou no máximo 450 reais) e uma original, de 1964 (essa obviamente, custa uma fortuna).
Vamos ver quem mata a charada e encontra o Wally de marupá e... Qual será a original de 1964?
Ao posicionar o mouse sobre a foto, o nome (com identificação) dela vai aparecer no link lá embaixo - por favor, não olhe! :)
(Quem conhece bem o blog vai descobrir qual é a minha por um detalhe pessoal, mas tô contando com a distração de vocês :) )
São 6 guitarras - ao dar sua opinião, considere uma numeração, de cima para baixo, de 1 a 6.
Já que a maioria acertou - e alguns com muita propriedade e conhecimento de causa - vamos lá:
A minha é a 6... Claro, a indefectível ausência do primeiro botão me entregou legal... O Petri percebeu que as bordas deveriam ser mais arredondadas (preguiça minha). O Rodrigo tá correto, esse "Azul Celeste" da Resicolor bate mais com o "Daphne Blue":
O Fernando lembrou bem a questão do tensor - todas teriam que ter acesso por trás. E a Thaís (bem vinda ao blog - já tava achando que isso aqui era o clube do Bolinha :) ) foi esperta ao chamar a atenção para o padrão dos parafusos - só faltou organizar as datas :)
Alguns detalhes técnicos/históricos:
A Fender mudou para escudos de 3 camadas por volta de julho de 1959 (quando também passou de 8 para 11 parafusos de fixação).
Em janeiro de 1965, o plástico ABS substituiu o antigo material à base de Celulóide, mas o ABS já era utilizado nos escudos de camada única. Nunca existiu escudo de "bakelite" (poliestireno), mas as capinhas e botões eram desse material.
À partir de 1958, a escala passou a ser predominantemente de Rosewood (brasileiro até 66, depois indiano) e durante a década de 60, escalas de maple apenas por encomenda direta na fábrica.
Em meados de 1956, TODAS as stratos, exceto as "blonde" passaram a ter corpo de alder.
Até 1967: Nitrocelulose.
Em 1960 a Fender introduziu 14 cores extras, entre elas, as 3 da imagem acima.
Assim, aquela com braço de maple e escudo single layer com 8 parafusos (imagem 4: Custom Shop 56 Heavy Relic: 4.000 Euros) é uma impossibilidade histórica.
A guitarra real de 1964 é a "5", mas o escudo deveria ser mais amarelado ou esverdeado (detalhe também percebido pelo Rodrigo). Até o final de 1964, as 3 camadas eram de celulóide, que não tinha esse aspecto branco "OMO". Conjecturo que talvez ela seja do final de 64 e a Fender já havia iniciado o uso do ABS/Vinil. Ou o dono trocou o escudo em algum momento depois de 1964.
Interessante ressaltar que a maioria das sonic blue originais da década de 60 que pesquisei tinham paradoxalmente pouco "relic".
Mas aqui tem uma foto da Sonic Blue 1961 de Ike Turner (a foto é dos anos sessenta também) já bem "baleada". Coitada da guitarra - apanhou mais do que a Tina Turner :)
Achei linda a relic "3" (Custom Shop: 4.600 dólares) e horrível a "2" (também Custom Shop: 3640 dólares). Lixar as bordas e deixá-las com esse aspecto regular e com pouca randomização não é relicagem. Parece coisa de amador.
Deixo bem claro que pra mim, fazendo em casa, sem politriz e com spray em lata, é mais fácil o acabamento "relic" que o ultra brilhante e perfeito. Não sou nem muito fã de relicagem, por sinal.
Bem, voltando à strato "classe econômica", ela é hardtail. O corpo não tem a cavidade para o tremolo. Melhor assim, já que a madeira é Marupá. A idéia era fazer uma coisa bem caseira no acabamento do corpo, por isso usei uma lata de tinta à óleo Resicolor "Azul Celeste" e um rolinho de lã (espuma não é bom):
Nunca pintei com rolo antes (nem parede), mas no processo descobri que é melhor diluir um pouco mais (escorre mais, mas dá pra controlar se prestarmos atenção, ppte nas bordas inferiores) nas primeiras demãos. Acho que foram umas 4 ou 5 passadas com algumas horas de intervalo.
O corpo veio rachado e eu não estava botando muita fé nessa ideia, então não anotei os detalhes do processo, mas é basicamente tinta com rolo, lixa 360 e 600, relicagem - aí usei até cinza de cigarro + corantes amarelo e ocre + óleos+ pó, verniz, lixada irregular e aleatória, mais relic e corante amarelo, verniz novamente, lixas 600 e 1200 com passadas uniformes e um leve polimento final com Grand Prix automotiva. A parte do rolo é meio demorada por causa da tempo de secagem. E olhe que eu procurei tinta spray "azul celeste" - pqp!
Poderia ter misturado um pouco de branco para o azul ficar mais "Sonic" e menos "Daphne". Preguiça de voltar na loja :)
O braço é de uma RX20 (headstock modificado), extremamente confortável com trastes bem nivelados e frequência de ressonância em Ré (D3), que é baixa, mais grave. O corpo estava bem seco e mais agudo que o esperado do Marupá, por isso os dois fecharam bem no timbre final. Coloquei tarraxas chinesas com trava (sim com trava) recentemente compradas no ebay por 17 dólares (não as recomendo - muito rudimentares). A ponte é uma hardtail Condor. Os saddles são de zinco mas vou colocar de aço, pois o timbre dessa guitarra me agradou demais. O Marupá é relativamente claro e articulado, com mais médios-graves que o alder e até o ash. Soa mais "na frente" e mais forte. A ausência da ponte - elemento crucial da sonoridade strato - torna o timbre algo híbrido de strato e tele. Captadores do braço e meio são Rosar Fullerton (timbre entre o Fender CS 54 e CS 57). O da ponte, um Rosar Custom com 6,7k e fio enamel 42 - cara de Telecaster! :)
A sonoridade dela foi uma surpresa muito agradável, tanto que vai receber tarraxas mais decentes e carrinhos de aço :)
E o corpo rachado?
Chegou assim:
Putz! Mandei e-mail para o Érico Malagoli, que redirecionou para o fabricante (não vou colocar o link agora), muito educado e cordato, que ficou de enviar um outro mas, por alguma razão que me foge à razão, não fez mais contato. Let it be.
Podem falar o que quiserem dos chineses, mas até hoje recebi tudo que comprei deles conforme descrito nos anúncios. Já aqui no Brasil...
PS: E, é claro, depois disso tudo, essa guitarra já tem um nome: Wally. E sobrenome:"Wally de Marupá" KKKK!!
(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)
A Tagima/Marutec não aceitou a alegação de dano moral e eu não tenho mais saco pra essa empreitada.
Eles ofereceram o ressarcimento do que foi gasto com a compra da guitarra (500 reais), mais um corpo de strato de ash (pesadão) em duas peças, outro de alder (guitarra montada + bag) com seis (!) peças, e um corpo de cedro peça única. Todos os corpos são padrão "Tagima", ligeiramente diferente do Fender e com rebaixo traseiro. Com a orientação da minha advogada, resolvi aceitar a oferta, porém não acredito que vou ter algum uso para um corpo de cedro e outro paliteiro de alder.
Mas tá legal, a mensagem já foi passada e creio que a Tagima, ao longo desse processo, tenha deixado de vender muita guitarra em função do que foi propagado aqui no blog.
Agradeço, sinceramente, a todos que me deram apoio moral (e até técnico), desde o início dessa história.
Pois bem, segunda-feira, dia 11/03/2013, às 14:00 hs, ocorrerá a audiência de instrução e julgamento da minha ação contra a Tagima/Marutec. Mesmo que não ganhe nada, nem o reembolso da guitarra, acho que o objetivo foi alcançado.
Esse blog provavelmente não existiria se não fosse o imbróglio com a Tagima, pois a frustração e revolta por ter sido enganado foi um motivo de perseverança e estudo. Como dizia a minha avó: "Há males que vêm para o bem" :)
Segunda-feira eu posto o resto (e espero que seja o final mesmo) da história... :)
O post anterior, do Oscar, sobre pontes de strato, é daqueles pra guardar no HD, de tão bom.
Um dos leitores do blog, o Carlos Manara, comentou sobre os blocos que ele mesmo faz, de aço brasileiro, do bom.
Conversamos em "off" e ele me enviou dois magníficos blocos de aço para fazer um teste. Um, o mais pesado, com 315g, é de aço "AC"e o outro, com 285g, aço "FN" (Fundido Nodular - tem mais carbono/grafite e parece ser esse o tipo de aço utilizado pela Fender). O Carlos bem que tentou me explicar rapidamente a diferença entre os dois, mas essa missão eu deixo pra ele postar aqui :)
Na foto, bloco de aço AC, mais brilhante e claro, aço FN e por último, um bloco de Zinco de uma ponte Fender Mexicana (o mesmo usado nos testes)
Os blocos foram feitos nas medidas da ponte de uma SX que ele possui e para uso próprio - já adianto que não sei se haverá a possibilidade (tomara) de comercialização. Como eu tenho várias placas de pontes SX sobrando aqui, foi moleza. Felizmente, o Carlos teve o cuidado de posicionar o ponto de trava das bolinhas das cordas bem na base do bloco, como os originais vintage Fender.
Resolvemos utilizar um setup "chinês barato", onde só o bloco (e os captadores - me nego a usar singles cerâmicos) seria trocado. Escolhi a minha Condor RX20 (a história dela está postada aqui - CLIQUE) e depois de muitas e cansativas trocas, o post finalmente ficou pronto.
Vou postar o link para o vídeo, mas antes quero deixar a minha impressão dos testes, já que toquei bastante a guitarra com cada um dos blocos.
O bloco de aço "AC", o mais pesado, é, de longe, o melhor. O timbre ganhou corpo e grande definição de frequências. Entendi quando o Carlos mencionou que o aço "FN" até poderia soar melhor em algumas guitarras. Sim, concordo. Numa strato muito grave (ou de cedro, com médios bichados), esse pode ser o bloco ideal. Mas, embora não tenha testado o bloco de aço AC numa strato "top", de alder/ash, o equilíbrio de frequências que ele gera é do tipo "não dá mais pra ouvir os outros". Fantástico.
O bloco FN equilibra também (não há aquela friturinha de agudos do Zinco), mas não gera os graves definidos (corpo) do aço AC.
Os blocos de Zinco, como o Oscar Isaka Jr. falou e eu pude constatar novamente, tendem a gerar uma sibilância/aspereza nos agudos. O bloco chinês, fininho e leve de doer, pela pouca massa, tem pouca definição - as frequências soam "embaralhadas" e comprimidas e a impressão que temos é de um timbre mais magro e "lo fi". Numa audição superficial, ele, o de aço FN e o Fender méxico de zinco, soam meio parecidos, mas basta um pouco de atenção para perceber o estrago que a falta de massa/peso faz no timbre.
Tenho inúmeros blocos chineses (SX, Condor, etc.) sobrando por aqui. Um deles (de uma Shelter California, eu acho) pesa 35 gramas. 35 gramas!! Putz!
Tive que desmontar uma ponte Wilkinson WVPC para pesar o seu bloco de zinco: 210 gramas. Diante dessas novas observações, serei obrigado a passar o selo do blog dessa ponte de ouro para prata! KKK!
O ideal seria a WVPC/WVP-SB (steel block) com bloco de aço.
Aqui, uma foto dos blocos brutos, antes do excelente trabalho do Carlos:
Os blocos de aço da Callaham são considerados o melhores do mundo e garantia de que a ponte de uma strato terá máxima fidelidade, ressonância e sustain. O Oscar utilizou um bloco Callaham no vídeo do post anterior.
Já encomendei um bloco Callaham para substituir o Fender da minha strato principal, mas a razão de ter feito isso é porque vou enviar o bloco Fender original (também de aço, mas...) para o Carlos Manara copiar as medidas/furação e, dependendo da boa vontade dele, fazer um de aço (AC) brasileiro para eu poder comparar. Tenho quase 100% de certeza que vai ser uma briga de igual para igual. :)
Eu tenho duas stratos fantásticas - uma delas montada recentemente (CLIQUE) e a outra, também postada aqui (CLIQUE), a Standard 97, cujo corpo (com piscinão, hábito pernicioso da Fender entre 1992 e 98), de alder Candy Red, foi trocado por um da WD. O braço dela é um absurdo de bom.
Pois bem, o corpo piscinão (mas nem por isso ruim, pelo contrário) foi usado pra fazer uma terceira strato (CLIQUE).
Coloquei uma ponte Wilkinson WVP (bloco de Zinco) de dois pivôs - comprei várias dessas pontes Wilkinson por menos de 190 reais há algum tempo.
Depois desse post, após ouvir e captar o DNA do bloco de aço AC, intui que ele provavelmente resolveria o timbre da Candy Red. Ela soa com menos corpo, punch e sustain que as outras duas. O braço de maple - que definitivamente não é o meu preferido para stratos e teles, e cheguei a essa conclusão depois de dezenas de testes - não ajuda nada nesse sentido.
Consegui adaptar uma base/placa de dois pivôs chinesa, prendi o bloco nela e instalei na guitarra. Tomei o cuidado de gravar os mesmos licks com a ponte Wilkinson WVP e seu bloco de zinco e em seguida com o bloco de aço. Os saddles/carrinhos foram os mesmos, da Wilkinson, de aço.
RESULTADO:
"Da noite para o dia", "da água para o vinho"... qualquer clichê serve. A strato renasceu. O aço soou divino, o timbre veio "pra frente", com médios lindos, redondos e autênticos de uma strato. Sem a gravação, é muito difícil perceber porque as frequências são quase as mesmas - o que muda é a amplitude e definição delas. A diferença entre um sample de 16 bits e outro de 24 bits, ou da TVcomum para a HD: clareza, nitidez e definição. Por isso, gravar (e comparar) com o mesmo setup é essencial.
Quem tem TV a cabo (NET, por exemplo) pode ter uma ideia visual da sensação auditiva: fique alternando entre o mesmo filme na versão standard e HD - é a mesma coisa. Posso até estender a analogia: bloco chinês leve: TV standard de tubo de 20 polegadas. Bloco pesado de Zinco: TV LCD definição standard de 40 polegadas. Bloco de aço: LCD/LED HD de 50 polegadas. O filme (guitarra) é o mesmo em todas. :)
Não tenho mais dúvidas: o bloco de aço pesado é o melhor e mais importante upgrade de qualquer strato, até mais importante que os captadores (ou tanto quanto, que seja). Obviamente, blocos de Zinco, mesmo com massa/peso, não chegam nem perto.