quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Stratocaster: festival de timbres (com Alex Arroyo)

Paulo May


(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)




         Se a gente digitar "electric guitar" no google search, acho que mais da metade das imagens será de um modelo Stratocaster. Essa guitarra, criada por Leo Fender e colaboradores em 1954, tornou-se o ícone da própria guitarra elétrica. Sua silhueta é mais arquetípica que a Les Paul ou até sua irmã mais velha, a Telecaster.      
Entre os guitarristas, principalmente depois de Jimi Hendrix, ela pode ser adorada (geralmente) ou odiada (raramente). Hendrix, Clapton, SRV, Jeff Beck, David Gilmour, Rory Gallagher, Blackmore, Malmsteen, John Frusciante... E mais uns 100 que eu esqueci - não podem estar errados - essa guitarra é provavelmente o melhor instrumento para um virtuoso se expressar.

Fender Stratocaster 1955 (original).  
   

        O problema é que existem inúmeras variações de timbre de strato. Portanto, "timbre de strato" é um termo muito genérico. Mark Knopfler (que comprou sua strato por causa do Hank Marvin/The Shadows), em "Sultans Of Swing" foi o primeiro que me chamou a atenção. Até então eu só ouvia stratos saturadas, principalmente Blackmore/Deep Purple e não percebia as sutilezas do timbre "clean".
Acho que cada um tem a sua referência. Hoje há uma legião de guitarristas atrás do "timbre do John Mayer",  outra que investiu em captadores EMG pra ter o "som do Gilmour" (de uma certa época - ele variou bastante) e por aí vai.
Por isso fica difícil caracterizar exatamente o som "clássico" de uma stratocaster. De tanto ouvir. ler e mexer em strato (e olha que eu gosto é de telecaster...), pessoalmente acredito que existem (grosso modo) duas sonoridades clássicas: a primeira, mais cristalina e macia das stratos de ash ou eventualmente alder com braço de maple, típica dos anos 50. A outra sonoridade (minha preferida), mais estalada, com médios mais agressivos, típica das stratos dos anos 60, com escala de jacarandá/rosewood.
Por volta de 1970, com os captadores padronizados ao extremo, já com fios modernos e um certo desleixo generalizado da CBS, acho que o timbre ficou meio feio, quase estridente.

Por incrível que pareça - e podem me xingar - não gosto do timbre do Hendrix e nem do SRV.

        Nosso velho e querido amigo Alex Arroyo, fantástico guitarrista, luthier e apaixonado por stratos, estava me devendo uma visita e pra compensar o atraso de quase um ano (!), trouxe 5 "stratos" com características e timbres distitntos , mas o que mais varia aqui são os captadores - desde clássicos até os ativos EMGs.

Seria muita pretensão mostrar todas as variações de timbres das guitarras, limpos e saturados, nas cinco posições. Optamos por uma abordagem "blues" com uma saturação média.
 As guitarras foram gravadas em linha (interface M-Audio) com simulações do Amplitube: geralmente Orange Rockverb 50 + Fender Pro Jr (com pedal Moller).

Vamos então aos vídeos do Alex, com breve descrição de cada guitarra (pra quem não gosta de strato e morre por uma Les Paul, no final do post tem um aconchego :) ).


1)  - Stratocaster Fender 54 Reissue. Captadores: Sérgio Rosar CBS 64 (meio e braço) e Hot 44 (ponte). O Alex instalou um sistema de mid boost (vídeo 2) muito interessante.
Essa é a guitarra "oficial" do Arroyo. Eu toquei um pouco com ela e de fato é uma strato excelente. Pegada, timbre... Os captadores Rosar casaram perfeitamente aqui. O Hot 44 na ponte é uma estratégia que eu também utilizo (às vezes prefiro o Hot 43, um pouco mais dinâmico). O CBS 64, assim como o Fullerton, já é um sucesso no Brasil e ambos não devem nada aos tops internacionais.


(vídeo 2) - Aqui, com o mid boost acionado:
Esse sistema de mid boost foi modificado pelo Alex. Pra saber mais detalhes, só com ele mesmo (clique aqui)




2)  - Stratocaster Fender. Captadores: set EMG DG20 (David Gilmour). No final do vídeo o Alex explica as modificações que fez no sistema:





3)  - Stratocaster Fender Squier (corpo de alder). Captadores: Fender Noiseless





4) - Stratocaster Fender Contemporary Made In Japan (FujiGen), 1986. Ponte Schaller/Fender. Captadores: originais.





         Não poderíamos deixar de lado uma das preferidas do Arroyo, sua Giannini Supersonic da década de 60, com corpo provavelmente de cedro (talvez mogno?). Não é uma strato Fender, mas é o que tínhamos de similar no Brasil até a década de 70/80. De original, acho que só o corpo mesmo, mas essa guitarra soa rasgada de boa :)
5) - Giannini Supersonic da década de 60. Braço Warmoth, captadores Danelectro.




Pra saideira:
Quem gosta de Strato geralmente só toca Les Paul quando precisa especificamente do timbre. São duas guitarras com "pegadas" totalmente distintas.
Pedi pro Alex dar uma canja (e ele até largou a palheta :) ) na minha Gibson Les Paul CS 59 só para o pessoal sentir a diferença. Os captadores são Jim Rolph Pretenders 58 e os capacitores bumblebee réplica da Gibson foram trocados por dois originais vintage.
Les Paul Gibson CS59:




segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Guitarras Castelli - Entrevista LPG com Tom Castelli

Oscar Isaka


         Quem acompanha o blog já conheçe com certeza o trabalho do Tom e a minha admiração pelas guitarras Castelli. Já postei algumas das guitarras que ele fez não só pra mim mas para outros guitarristas aqui de Curitiba. Isso sem contar reparos, regulagens, pintura e todo tipo de trabalho de luthieria que se possa imaginar. 

Já estava mais que na hora do Tom participar da nossa sessão de entrevistas do Blog e gravamos isso num bate papo muito bacana e descontraído com muita informação sobre a história da Castelli, sobre as novas guitarras e todo o nosso mundo das cordas. 





É realmente um grande prazer fazer essas entrevistas com os grandes profissionais do mundo guitarrístico nacional. Temos encontrado muito profissionalismo e acima de tudo grande paixão e apreço pela profissão com vontade de oferecer sempre o melhor. Tenho a aboluta certeza que temos nos instrumentos, amps e acessórios "made in brazil" produtos de altíssimo nível com  qualidade e capricho encontrados nas grandes e imortalizadas marcas internacionais. Que possamos sempre continuar a evoluir, aprender e torcer para que gente como o Tom prospere e sempre possa nos oferecer produtos e serviços de qualidade por mais 30 anos! 

Como o Tom mesmo disse, perguntas e dúvidas sobre os produtos e guitarras Castelli podem ser tiradas com ele diretamente.

Contato:


Fone: 41 3342.5154
Rua Pedro Collere, 220 . Vila Izabel . 80320-320 . Curitiba . PR
Email: tomcastelli@uol.com.br


















quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Christian Bove Custom Hardware

Paulo May






         Antes de qualquer coisa, olhem isto:


         Sobre o Christian, sua história e detalhes, estamos preparando uma entrevista com vídeo que será postada em breve e já com o selo ouro de qualidade do blog.
Por enquanto, gostaríamos de dizer que essas e outras peças lindas de hardware são fabricadas aqui no Brasil, mais precisamente em Curitiba. Não apenas lindas e com acabamento perfeito, mas totalmente customizáveis e com disponibilidade de vários tipos de material para uma timbragem precisa da guitarra.
         As pontes de telecaster (e outros modelos, exceto stratocaster) Bove estão disponíveis em: latão, aço inox magnetizável e aço inox não magnetizável, todos com 2 mm de espessura (mais massa, ressonância e estabilidade), com furação vintage ou moderna, além de outras facilidades que nem os americanos dispõem. É difícil de acreditar que temos um produto assim, "Made In Brazil".



         Eu tive a oportunidade de testar uma ponte Bove recentemente e por coincidência, numa telecaster que eu estava tendo dificuldade para timbrar. Antes de conversar com o Christian e receber seu hardware, eu já havia (por sorte ou azar, depende) tentado 3 pontes diferentes e todas clássicas:

1 - Wilkinson Vintage, ferrosa com saddles de latão
2 - Gotoh moderna (com furação vintage), toda de latão cromado
3 - Fender Vintage, ferrosa com 6 saddles de aço.

Como vocês podem ver, exceto pela ponte Fender que não foi fotografada montada, as fotos acima comprovam que as pontes foram de fato instaladas. O captador é um Rosar Vintage Hot (protótipo - está sem logo), o melhor captador de tele que já experimentei e o padrão em todas as minhas telecasters.

Quando a Wilkinson soou meio magra e sem vida, imaginei que a Gotoh de latão resolveria o problema, mas foi para o lado oposto: suavizou demais o timbre e os médios ainda ruins, sem punch. Só me restava a Fender com saddles de aço - instalei sem muita fé e, dito e feito, foi a pior das três. Além de gerar uma ressonância anômala muito chata, provavelmente das molas dos carrinhos.


Sempre que o hardware falha dessa maneira, o culpado provavelmente é o braço ou o corpo. O braço, de flamed maple canadense em peça única (escala não é colada), já tinha sido testado com outro corpo de alder e soou bem. Restava o corpo: alder levíssimo e ressonante de duas peças da KNE (USA/California)... Putz! Difícil acreditar que ele não estava falando... Alder não é infalível, mas precisa de muito azar pra pegar uma peça ruim.

Bem, eu já me preparava pra aceitar o fato que essa tele estava condenada à uma sonoridade macia (obs: não era ruim e muita gente do country gosta - típico timbre que ouvi em algumas teles de swamp ash) quando o Christian Bove entrou em contato.


Decidimos por uma ponte com furação vintage (o corpo da KNE já veio furado pra vintage) de aço inox não magnetizável com 6 saddles de latão. Para mostrar seu poder de customização, o Christian fez um neck plate com o logotipo do blog. Ponte, neck plate customizado e control plate, todos de inox. Melhor, estraga. :)




        Quando acabei de montar, a telecaster estava tão linda (tentei vários escudos, mas o branco sempre voltava) que, mesmo que soasse como antes já seria legal. Mas, pra minha surpresa e estupefação, ela cantou lindamente. A sensação que eu tive é que antes estava acorrentada e agora completamente livre. Ressonância, alcance de médios, dinâmica - tudo perfeito!
Isso é que eu chamo de sorte (dupla, por sinal)! O equipo certo na hora certa... :)


         A ponte sempre é um elemento importante na caracterização do timbre de uma guitarra. No caso da telecaster, onde o captador passa a ser um "componente" da estrutura, ela é crucial. Captador é eletromagnético, portanto, sujeito às influências de metais próximos.
Assim, o material da ponte passa a ser também um modulador do timbre. Um metal que interfere no campo magnético (magnetizável) soa bem diferente de um não magnetizável (latão, por exemplo). Além da indutância que a maioria dos metais acrescenta.


Como a sonoridade final de uma guitarra é um conjunto de fatores e a maioria de difícil alteração (escala, madeiras, etc.), a ponte é um dos itens que podemos modificar na timbragem. Geralmente pontes ferrosas (magnetizáveis) tendem a soar com mais punch de médios, eventualmente degradando agudos (que, no caso de várias teles, é algo desejável).
De qualquer forma, é muito difícil saber como ficará o timbre sem instalar determinada ponte e testar o conjunto.

Nunca havia tocado com uma ponte com essas características da Bove. Claramente foi a que soou melhor - embora cada guitarra tenha suas peculiaridades, me atrevo a dizer que a ponte Bove permitiu ao captador soar livremente e reforçou as ressonâncias da guitarra. Pra mim, perfeita... E linda! :)
(PS: pra saber se o metal da sua ponte é ferroso/magnetizável ou não é só encostar um imã de geladeira nele)

       A Christian Bove projeta, fabrica, finaliza e vende seus produtos. Sem atravessador. Uma ponte Bove customizada, feita artesanalmente e de qualidade impecável pode ser adquirida quase pelo mesmo preço que uma Gotoh, produzida em escala industrial. E se a gente quiser só qualidade e funcionalidade, sem muita frescura, uma ponte Bove standard tem custo benefício excelente.

Algumas fotos pra saideira:




Link para a página do Facebook (clique)

Em breve voltaremos com mais informações sobre a Christian Bove Custom Hardware.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Trocando Tarraxas Kluson (Vintage Style) vs Grover (Modern Style)

Oscar Isaka Jr

          Trocar tarraxas já virou prática comum do cotidiano dos guitarristas. Sempre que compramos uma nova guitarra já olhamos o que podemos "melhorar" alguma coisa, seja na parte funcional ou meramente estética e as tarraxas são sempre um dos primeiros alvos de upgrade, pois existem vários modelos de excelente qualidade e custo relativamente acessível. 



         Pois bem, nesse final de semana estava testando alguns timbres com uma Les Paul aqui em casa e estava notando que a afinação não estabilizava. Afinava, tocava um pouco e bastava um único bend ou uma palhetada mais forte e pronto, a coisa já desandava. Eu estava até meio intrigado pois as tarraxas eram Gotoh com trava e isso não deveria estar acontecendo já que as cordas eram novas, nut lubrificado e tudo mais que manda a cartilha, mas algo ainda estava errado.
Olhando um pouco mais perto notei que em uma das tarraxas havia uma "folga" no buraco, como na foto abaixo:

Bucha da tarracha com folga
         Resolvi então retirar as tarraxas pra verificar se havia algo errado na instalação. Quando o fiz encontrei o que eu estava suspeitando, enquanto a furação das tarraxas dessa guitarra era para acomodar tarraxas tipo Grover modernas (10 mm de diâmetro), foram instaladas tarraxas do modelo Kluson da Gotoh, que apesar de serem com travas, têm especificações para o buraco da Kluson vintage tradicional com aproximadamente 9 mm de diâmetro.
Estava bem claro o motivo da instabilidade da afinação, pois o post da tarraxa não fica 100% firme e apoiado com a pressão das cordas. 

Comparação das medidas

      É uma diferença relativamente óbvia, e fica até difícil de acreditar que isso passaria desapercebido por quem instalou uma vez que as buchas da Kluson ficaria frouxa e cairia fora do furo, e realmente a pessoa que instalou percebeu isso e para remediar a situação enrolou pedacinhos de LIXA em torno das buchas a fim de preencher a folga.
A famosa "gambiarra" rsrs. Em alguns casos ela funciona e muito bem, como mostrado várias vezes aqui mesmo no blog, mas as vezes ela compromete o funcionamento correto da coisa toda. 


         Mas então eu não poderia ter uma tarraxa tipo Kluson em uma Guitarra previamente furada para Grover sem ter que gastar os tubos mandando para um luthier tapar os furos e refaze-los com o tamanho adequado? Claro que pode pequeno gafanhoto. :-) Existem buchas próprias para essa adaptação, que possuem todas as medidas para uma tarraxa Kluson/9mm, mas têm maior diâmetro para evitar folgas em um buraco feito para Grovers/10mm. A StewMac tem essas buchas (Clique aqui) e a GuitarFetish também (Clique Aqui). Ambas vem em jogos com as 6 unidades que podem ser usadas tanto para modelos com 6 em linha como 3 x 3.
Como eu tinha um jogo dessas buchinhas aqui, fiz a comparação com a "adaptação". Notem as diferenças de medidas. Isso, claro, sem contar que um pedaço de lixa não tem a mesma resistência mecânica que o metal usado nas buchinhas e a chance dele ceder com o tempo aumentando o problema é ainda maior.

Original, original + lixa e abaixo, a adaptadora
         A lixa até aumentou o diâmetro de maneira que as buchinhas originais não caíssem do buraco, mas não conferem a resistência necessária para estabilizar o eixo da tarraxa. Instalei as buchinhas adaptadoras na guitarra no lugar das "antigas + lixa, dei uma ajustada no tensor e nas oitavas e pronto, a Les Paul estabilizou e estava pronta pra guerra. Não teve mais nenhum problema de afinação. 


segunda-feira, 20 de julho de 2015

Indutor de Wah Smithers Audio - Equipo de Ouro LPG

Oscar Isaka Jr



        Há algum tempo conversei com o Leandro da Smithers Audio (confira aqui o post) e dentre os magníficos transformadores que ele projeta e fabrica estava o pequenino indutor para pedais de WahWah. 



         No meio da conversa o Leandro me explicou o conceito do indutor da Smithers, que era de ter 3 "taps" com diferentes indutâncias para que você possa instalar no seu pedal de Wah e assim obter, através de uma chave, 3 diferentes tipos de "timbres". Segue a lista dos valores do Wah Smithers na foto abaixo. 


Para referência, o Red Fasel tem perto de 620mh e o Yellow 450mh.


     Eu achei a ideia simplesmente fantástica e já me agilizei para pode montar um Wah e experimentar o indutor. Aproveitei uma carcaça de um Wah VOX Chinês, comprei um potenciômetro da Dunlop HotPotzII específico para o propósito e com a placa da MadBean Pedals montei o circuito do Wheener Wah II que nada mais é que o famoso Clyde McCoy dos anos 60. O resultado ficou tão legal que resolvi gravar uma demo rápida pra mostrar os 3 valores e como estava com um famoso Fulltone Clyde Deluxe aqui fiz uma comparação.

Esse indutor pode ser instalado em qualquer WahWah seja Cry Baby ou Vox, somente sendo necessária uma chave rotativa para seleção. O valor do capacitor de filtro que eu usei nessa demo foi 10nf, que é o valor clássico do Clyde também. 

Segue o vídeo:



       O indutor Smithers, assim como os transformadores da marca, é sem dúvida mais um dos produtos de qualidade internacional fabricados aqui no Brasil e merece o nosso selo de Qualidade Ouro LPG, com louvor. Sortudos dos que ganharam o seu no sorteio que fizemos quando postamos sobre a Smihters :-)! 

         Quer dar uma tunada no seu Wah? Entre em contato com o Leandro para obter seu Indutor e faça ou mande para que alguém o instale para você. Satisfação garantida!!!!!

Site da Smithers (clique)
Contato:
Smithers Audio
www.smithersaudio.com.br
www.facebook.com/smithersaudio

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Creation FD - Pedalboard Brazuca! :-)

Oscar Isaka Jr


         Assim que eu larguei minha finada RP2000 e resolvi me aventurar no mundo dos pedais, logo vi que não ia dar pra ficar montando e desmontando o set cada vez que ia tocar. Até usei o case da antiga pedaleira por um tempo mas a coisa era tão ruim e mal organizada que eu tinha até preguiça de usar os pedais por conta do trambolho que aquilo era. 

Creation FD Standard
Comecei a pesquisar as opções que tínhamos e, claro, esbarrei na PedalTrain. Porém o preço era tão absurdamente proibitivo na época que nem cogitei, mas o meu amigo Fernando (da loja Musica World) me apresentou à Creation FD. Ele tinha um board que lembrava muito o Pedal Train que eu via na internet e tinha praticamente os mesmos atributos. Lembro que até achei que era um board importado mas quando o Fernando me disse que era uma empresa aqui mesmo de São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba) eu quase nem acreditei. 




Isso já faz quase 3 anos e desde então uso os boards da Creation quase que exclusivamente (já tive 3 modelos). Pude assistir a grande aceitação do público guitarrístico brasileiro e a explosão da marca em nível nacional.

Modelo Fiber

Também através do Fernando conheci o Fabiano, sócio-proprietário da Creation, e combinei com ele de gravarmos uma pequena entrevista dando continuidade à nossa série de apresentação de fabricantes nacionais. 




Creation NovaBoard RT
         Desde então já tive 3 modelos de boards da Creation. É incrível como desde o pequenino Nano Board (abaixo) como no grande Marisco Board sempre tem um modelo que é do tamanho que você precisa.

O Nova Board que o Fabiano comentou no vídeo é muito bacana pois tem um compartimento interno onde vc pode colocar mais pedais e acioná-los por um switcher ou ainda usar pra colocar cabos e outras coisas com acesso super rápido e prático. 






         O grande guitarrista e endorser da Creation Kleber Kashima fez um review do modelo AM1 com detalhes no vídeo abaixo. Todos os boards da Creation têm essas mesmas funcionalidades e alguns opcionais ainda pra escolher de acordo com o seu gosto, como Led, Jacks, Fontes e etc.


      















         Se mesmo assim vc não achar, a Creation tem um serviço de Custom Shop e desenvolve o Board para suas necessidades, desde tamanhos e formatos variados, até se você precisar embutir aquele foot switch grande do seu amplificador valvulado com 32 canais. Não tem problema: é só contactar o Fabiano e a Creation desenvolve o board de acordo com a sua necessidade.
Foi exatamente o que  guitarrista Filipe Milani de Souza fez e o resultado pode ser conferido abaixo. O board dele ficou tão bom, que foi exposto na ExpoMusic. Notem o Foot Switch do Mark V e um Bogner Extasy Red embutidos.




         Sempre falamos aqui no Blog que nunca estivemos tão bem servidos de produtos nacionais de excelente qualidade como nos últimos anos e no caso de Pedal Boards não é diferente. Falo com propriedade que a Creation hoje não deixa NADA a desejar à PedalTrain e outras grandes do mercado mundial em qualidade e funcionalidade, isso sem mencionar a possibilidade de customização, modelos e opcionais. A quantidade impressionante de usuários e endorsers da marca atesta isso. 

        Vida londa à Creation e que o nosso mercado continue a nos brindar com gente como o Fabiano, Sérgio Rosar, Érico Malagoli, Pedrone, Manara, e muitos outros que acreditam no potencial do mercado nacional sempre com produtos de qualidade extrema.


Contato:



terça-feira, 23 de junho de 2015

1971: Rolling Stones, Deep Purple e Led Zeppelin

PauloMay

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


Portão de entrada da Villa Nellcote, no sul da França, onde os Stones gravaram o Exille On Main Street.
   
         Em 1971 eu tinha 10 anos e não consigo me lembrar se alguma coisa diferente aconteceu nesse período. De fato, aconteceu não aqui no Brasil, mas na Europa (França, Suíça e Inglaterra): 3 discos que hoje são clássicos absolutos, venerados por roqueiros de todas as idades, foram gravados nesse ano.
O que havia em comum entre eles? Todos foram gravados com a "Unidade Móvel de Gravação dos Rolling Stones", um caminhão adaptado para conter um estúdio - top de linha na época.
 

Por volta de 1974/75, já entrando na adolescência, comprei esse 3 discos e até hoje os ouço com prazer, deslumbre e devoção. São eles:


        Alguma dúvida? Gravações lendárias, quase mágicas. Nenhuma feita em estúdio profissional. Todas de 1971, todas cercadas de mistérios e coincidências... Esses álbuns são referências, agora eternas, do rock clássico de extrema qualidade.

Sou fã de carteirinha dos Stones e o álbum "Exille" (com Sticky Fingers um pentelho atrás) sempre foi o meu preferido. Nesse disco (duplo), os Rolling Stones estão no auge, traduzindo à sua maneira, sem compromisso, as influências rock, blues, country e soul. Vários fatores, alguns fortuitos e outros nem tanto, contribuíram para a brutal honestidade e pureza desse disco. Não vou enumerá-los aqui pra não encher o saco do leitor que não é tão chegado nos Stones, mas um dos principais fatores foi a maneira e o local onde o disco foi gravado.

        Em 1971 os Stones abandonaram a Inglaterra para fugir dos absurdos impostos britânicos. Como tinham que gravar um disco e Keith Richards havia alugado uma antiga mansão chamada Villa Nellcote (em Villefranche-sur-Mer, no sul da França), optaram por gravá-lo lá.

Obs: Recentemente descobri que meu cunhado nasceu em Nice (bem perto de Villefranche) e viveu esse período na região. Ele me falou do clima, cultura e peculiaridades dessa parte do sul da França, refúgio de artistas, famosos e milionários há décadas... Tudo MUITO interessante.

Nellcote

         Sticky Fingers já havia sido parcialmente gravado, com sucesso, na casa de campo de Mick Jagger (Stargroves) na Inglaterra, utilizando a unidade móvel da banda. Aliás, muita gente gravou na mansão de Jagger naquele período: Who, Faces, Led Zeppelin (Houses Of The Holy, ppte), etc. Segundo o famoso engenheiro de áudio Eddie Kramer, o ambiente em Stargroves era maravilhoso e a acústica natural, fantástica.

 Stargroves (Inglaterra)


 Stargroves

 Fácil, fácil perder o foco aqui :) Eu estava em 1971, na França... Mas antes de ir para Nellcote, o caminhão dos Stones foi gravar o Led Zeppelin IV em outra casa antiga (1795) da Inglaterra, Headley Grange:

Headley Grange (Led Zeppelin III e IV)

O famoso som de bateria do John Bonham nasceu lá e foi gravado com 3 (talvez 2) microfones por Andy Johns perto daquela escadaria da foto. Em Headley Grange foram gravados o Led Zeppelin III e IV. Page, conhecido como "Led Wallet" estava economizando e não quis alugar Stargroves nessa época - Headley era mais barata... :)

Stairway To Heaven: Jimmy Page visita Headley Grange e a famosa escadaria.

        Finalmente voltamos para Nellcote, uma antiga mansão à beira de um penhasco, construída em 1890 por um banqueiro americano e quartel general da Gestapo durante a ocupação francesa na segunda guerra mundial. O local escolhido para gravar foi o porão (em 1971 ainda havia suásticas pintadas nas paredes), úmido e quase insuportavelmente quente (ouça "Ventilator Blues" pra ter uma ideia). O caminhão (ligado clandestinamente à rede elétrica) ficava do lado de fora e os cabos desciam até o porão:


         Para fãs dos Rolling Stones como eu, Nellcote (atualmente propriedade de um milionário russo) é um monumento, um ícone. Não apenas pelos Stones - ela representa um período no tempo que provavelmente nunca mais vai se repetir em termos musicais e culturais.
Já li vários livros, reportagens e artigos sobre a época, onde o conceito "Sex, Drugs and Rock and Roll" aplica-se literalmente. 1971 estava na ressaca do movimento hippie/flower power, expurgado pelos próprios Stones em Altamont.
As drogas, cada vez mais pesadas, já haviam levado Hendrix, Joplin e Morrison (sem falar no Brian Jones). Especificamente, a heroína, da qual Keith tanto dependia (para compor inclusive) era obtida de várias formas, inicialmente através do "personal drug dealer" de Keith, Tony Sanchez, depois com os próprios traficantes da região.

AS GUITARRAS DE NELLCOTE

...E foram esses traficantes que provavelmente roubaram os 11 instrumentos que estavam em Nellcote. Imagine que facilidade: todo mundo drogado, os caras já frequentavam a casa... Era só entrar e pegar. Entre as famosas "Guitarras de Nellcote" estavam: Dan Armstrong de plexiglass, Gibson ES-355 de 1959, Gibson Flying V (58?), Gibson ES-330, Les Paul Custom 1959, Les Paul Bigsby 1959, 2 Gibson Hummingbirds and um Fender Jazz Bass. Um saxofone preto do Bobby Keys também foi roubado. Até hoje ninguém sabe com certeza quais guitarras foram roubadas e quais foram recuperadas algum tempo depois. Numa entrevista recente Keith diz que pegaram o "cara" e ele recuperou a maioria delas.
Dá pra ver algumas nessas fotos:


         Ainda se discute qual Les Paul 59 foi roubada - se a de Mick Taylor (aquela famosa com Bigsby que foi comprada do próprio Keith Richards) ou uma outra 59 que acabou caindo nas mãos de Taylor de qualquer forma. Essa segunda eu não acredito que seja porque há algumas fotos de Keith fazendo overdubs de Exille em Los Angeles com ela. Um flame bem evidente e característico ("Claw/garra") na região central superior, entre os dois captadores, a identifica:


         Conhecida como "The Claw" (existe outra The Claw famosa, SN 9-1953, que pertenceu a Tom Wittrock). Foi mais tocada por Keith Richards, mas acabou ficando com Mick Taylor. Aparentemente, ele a vendeu em Londres no início dos anos 80, provavelmente em 1982.
Atualmente é mais conhecida como "Exile Burst", mas é bom lembrar que ela provavelmente não foi roubada, embora tenha sido de fato usada nas sessões de Exile.
Abaixo, um vídeo da Exile Burst/The Claw em 2014, tocada por Phil Harris (colecionador, guitarrista, mas não o dono dela):

Exile Burst / The Claw em 2014


A Les Paul 59 com Bigsby, bem mais famosa, foi tocada por Keith, Taylor, Clapton e Page:
A KEITHBURST:

 Les Paul 59 com Bigsby: "KEITHBURST"

          Keith Richards comprou-a em 1962 ou 1963. Originalmente, foi comprada em 1961 na Farmers Music Store em Luton, no Reino Unido, por John Bowen  (guitarista da banda Mike Dean and the Kinsman). Em algum momento, Bowen instalou um vibrato  Bigsby (Selmer's Guitar Shop em Londres). Pouco depois, no final de 1962, ele trocou a Les Paul na Selmer's por uma Gretsch Country Gentleman.

Keith Richards a comprou lá, provavelmente em 1963. Ele a utilizou na maioria das gravações do período, inclusive em Satisfaction. Em 1967 Keith vendeu-a para Mick Taylor, que entrara no lugar de Peter Green (outro com burst famosa) na John Mayall & The Bluesbreakers. Pra quem já percebeu, John Mayall é referência indireta quando falamos de Les Paul clássica... Foram guitarristas de sua banda, em sequência: Eric Clapton (Les Paul Beano), Peter Green (Les Paul Grennie) e Mick Taylor (Les Paul Keithburst).

A Les Paul Bigsby acabou voltando de certa forma para Keith quando Mick Taylor passou a fazer parte dos Rolling Stones em 1969. Daí começa a saga da Keithburst: segundo alguns, ela foi roubada em 1971 durante um show no Marquee Club em Londres, ou, segundo outros, em Nellcote, na França. Independente disso, a keithburst reapareceu em 1972 nas mãos do guitarrista da banda The Heavy Metal Kids, Cosmo Verrico (ele relata que a recebeu de um representante dos Stones, via gravadora/Atlantic, após ter sua própria guitarra roubada... estranho).

Verrico a vendeu em 1974 para Bernie Marsden do (futuro) Whitesnake. Bernie a vendeu novamente (com um lucro de 50 libras...), apenas uma semana depois, para o colecionador/guitarrista Mike Jopp. Mike Jopp vendeu-a num leilão da Christie's em 2003. Em 2005/2006, foi vendida novamente, para um colecionador privado europeu (quem seria?) por, acredita-se, um milhão de dólares!! Foto recente (2005?) da Keithburst:

 Les Paul 59 com Bigsby: "KEITHBURST"


DEEP PURPLE:

          Bem, voltando à nossa unidade móvel de gravação... Assim que as gravações encerraram-se em Nellcote (ppte porque Richards estava pendurado com a polícia francesa e foi para os EUA), o caminhão partiu para Montreaux, na Suíça. Missão: gravar o novo disco do Deep Purple, Machine Head.

A história de Machine Head e Smoke On The Water acho que todo mundo sabe: Frank Zappa, o incêndio, a opção final de gravar (em apenas 3 semanas) num hotel que estava fechado, etc.

Quase o mesmo padrão dos Stones: caminhão do lado de fora e um estúdio improvisado dentro do Grand Hotel.



esq: RS Mobile Unit do lado de fora do Grand Hotel, Montreaux.


Deep Purple - Suíça, 1971

1971 - Que ano!! :)


PS: (20/11/2016) - E não é que saiu um livro sobre 1971?  :)
Em 7 de abril de 2016 houve a primeira publicação do livro " Never a Dull Moment: 1971 The Year That Rock Exploded", do jornalista inglês David Hepworth.

http://neveradullmoment1971.com/


Não li ainda, mas vou, com certeza! :)





domingo, 26 de abril de 2015

Saddles (carrinhos) – o que são e como entendê-los.

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)





         O Mauro Tanaka, grande amigo meu e do Oscar, é luthier e guitarrista. Nos conhecemos no finado fórum da Guitar Player anos atrás e já pedimos várias vezes para ele um post aqui no blog. Enquanto o Tanaka não faz um especial (que tal um sobre o sistema do Buzz Feiten?), aproveitamos e roubamos o post que ele fez pra Santo Ângelo, sobre saddles.
Então, com vocês, Mauro Tanaka!

Mauro Tanaka




          Os saddles, ou carrinhos, são responsáveis em primeiro lugar, pelo principal ponto de apoio das cordas que irão definir junto com o nut, o comprimento da escala do instrumento (é uma longa história esta que deverá ser contada posteriormente em um post específico).

Este comprimento de escala é responsável pela entonação (afinação) do instrumento. Portanto, quando alguém diz que precisa ajustar as oitavas do instrumento, está se referindo à distância entre o nut e o saddle. Como o nut é fixo, a única opção de ajuste é realizada através dos carrinhos da ponte. Alguns violões possuem o rastilho com “dentes”, que são responsáveis pela compensação da entonação do instrumento.

Como ponto de apoio das cordas, é muito comum que as ocorrências de quebras das cordas aconteçam nesse ponto e por isso é necessário estar sempre ligado nas condições do local aonde as cordas irão se apoiar. Verifique sempre se não está afiado (pontudo) ou com excesso de oxidação.





Outra ocorrência comum é a instabilidade da afinação na execução de bends ou alavancadas em pontes do tipo móvel (trêmolo) dada por conta do atrito entre a corda e o saddle. Logo, manter a superfície do carrinho limpa e o mais lisa possível irá prevenir a quebra prematura das cordas e ajudará na estabilidade da afinação.











No mercado existem opções de carrinhos com rolamentos e outros feitos de grafite, que são uma verdadeira revolução na prevenção de quebras e auxilio na estabilidade da afinação. Muitos desses detalhes estão descritos no ebook SANTO ANGELO “A Saúde da Guitarra” que você baixa gratuitamente clicando aqui.





Um fator importantíssimo sobre os saddles, incluindo os carrinhos e o rastilho dos violões, é que eles são responsáveis pela transmissão da vibração das cordas para o corpo do instrumento. Logo, a preocupação com o material de que são fabricados deve ser também levada em consideração.
Um rastilho de plástico irá transmitir a vibração de maneira diferente de um fabricado em osso ou um de Teflon. Um carrinho de guitarra modelo Telecaster fabricado em latão (liga de Cobre e Zinco), terá efeito diferente de outro fabricado em ferro fundido. Assim, podemos ficar debatendo por intermináveis horas de conversa sobre o que é melhor, o que possui o timbre ideal para cada músico.


         Faço aqui o aparte sobre um erro comum que costumo corrigir em minha oficina em relação aos violões e guitarras com pontes do tipo Tune-O-Matic. No afã de tornar o instrumento mais confortável, o músico tem o raciocínio lógico de abaixar as cordas lixando o rastilho, sem atentar que sendo ele responsável pela transmissão da vibração das cordas para o corpo do instrumento e para o captador de rastilho (quando for eletrificado), existe um ângulo entre o rastilho e a fixação das cordas no cavalete que precisa ser respeitado. Caso contrário, haverá uma perda considerável de “pressão” sonora pela falta de tensão aplicada à corda pelo ângulo já citado acima.



Além disso, eles são responsáveis também pelo ajuste da altura das cordas (o ajuste da ação das cordas passa por um conjunto de outras ações além do simples subir e descer dos carrinhos da ponte) e por um ajuste muitas vezes ignorado por muitos, que é o acompanhamento da curvatura da escala.














É comum nos instrumentos, com trastes e cordas, um certo “buzz” (ruído das cordas de metal se chocando com os trastes também de metal). Existem vários ajustes que solucionam 90% desses ruídos e os outros 10% são considerados aceitáveis. Uma das causas comuns desse Buzz em excesso é justamente a falta de observação entre a curvatura da escala (fábricas e modelos de instrumentos diferentes possuem curvaturas ou radius diferentes) e dos saddles. Se tivermos por exemplo uma guitarra como uma Fender Telecaster dos anos 50 cujo o raio é bem acentuado, arredondado e a ponte estiver com os carrinhos arranjados de forma plana, as cordas centrais irão se chocar com a escala e os trastes com facilidade.


Acredito que as informações básicas sobre este importante componente do seu instrumento estão contidas neste texto. Evidentemente que por conta do espaço e do tempo, informações mais avançadas foram deixadas para uma próxima oportunidade, bem como as minúcias sobre os ajustes de cada possibilidade que os saddles nos proporcionam (altura das cordas e entonação) e como reparar saddles danificados.






Tanaka Guitar Tech – Sorocaba – SP
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