Paulo May
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Marupá é uma madeira tipicamente brasileira (América Central e do Sul), de baixa densidade e muito utilizada na fabricação de instrumentos musicais. É relativamente macia, cor clara a levemente amarelada, podendo apresentar estrias cinzas. Textura finamente irregular com poros abertos (geralmente exige nivelamento/filler antes da pintura). A densidade (cerca de 0,38g/cm³) é semelhante a algumas outras madeiras "musicais" estrangeiras, como Basswood, Poplar e Swamp Ash. Alder já é um pouco mais denso (o equivalente em densidade ao Alder no Brasil seria o Cedro-Rosa). Outras madeiras locais utilizadas em corpos de guitarra, como Tauari e Freijó geralmente apresentam uma densidade (e peso) maior, por isso o Marupá provavelmente é a madeira mais utilizada no país para corpos de guitarra tipo strato e tele: leve, de fácil manuseio e boa sonoridade. A Caroba (já postada, clique aqui), que gosto muito, é semelhante ao Marupá (pode até ser mais leve) mas acho que apresenta graves mais definidos. Infelizmente é uma madeira um pouco difícil de encontrar.
Mas a questão é: "O Marupá pode realmente gerar um timbre "Fender"? A resposta é simples: sim, pode. Sua sonoridade é semelhante à do swamp ash e até alder, embora esse último varie muito de peso. Alder leve soa diferente de alder pesado, assim como o swamp ash soa BEM diferente do hard ash. Como regra geral, madeiras mais pesadas tendem a soar com mais médios e graves mais definidos e madeiras leves geralmente apresentam médios algo atenuados e graves mais redondos, eventualmente com leve perda de definição das frequências mais baixas.
O captador do braço é o ideal para percebermos bem essas diferenças. Já toquei em várias stratos e teles de marupá e todas, sem exceção, soaram de bem a ótimas na ponte e meio porém apenas uma ou duas tinham boa definição de graves na posição do braço. Sempre lembro aqui que o meu gosto pessoal é um pouco fora da escala porque tenho alergia a "timbre gordo". Então provavelmente quando eu disser que o timbre do captador do braço é "um pouco gordo", para muitos pode soar perfeito, ok? :). O que eu acho que ninguém gosta é daquele timbre "gordo e sem definição", "embolado"...
Eu tenho uma guitarra muito singular, com corpo Fender/Jaguar de marupá, braço de maple/rosewood, ponte fixa e dois captadores P90. O timbre do captador da ponte é matador: uma parede de médios saborosos com graves e agudos na medida. Saturada, corta qualquer mix de rock, mesmo os mais densos. Foi com essa guitarra que aprendi a respeitar o Marupá (e também que deveria usar filler antes de pintar, hehehe).
Gravamos uma demonstração comparativa entre essa stratocaster de marupá (captadores:Fender CS 54 e Rosar Hot 43 na ponte), uma strato Fender americana com corpo de alder (captadores: Fender CS 54 no meio e braço e Seymour Duncan Alnico II Pro na ponte) e uma strato partscaster com corpo KNE de Ash leve (pode ser swamp mais pesado ou hard mais leve, peso total da guitarra: 3,6kg), braço Mighty Mite autorizado Fender (captadores Sérgio Rosar: Fullerton no meio, True Vintage no braço e Rosar CS Alnico II na ponte). Áudio captado direto via pré Focusrite ISA One + MAudio M-Track C-Series. Amplitube 4.9 com simulação de Marshall JTM e Fender Princeton Reverb em estéreo.
Um detalhe interessante é que as 3 guitarras utilizam um artifício para contornar o (quase sempre) ligeiro excesso de agudos dos single coils de ponte de strato: Nas minhas, utilizo o alnico II (atenua as pontas de agudos e graves) e na de marupá o Jean optou pelo Rosar Hot 43 - esse captador é feito com fio mais fino (AWG 43), que também atenua os agudos excessivos. Os Fender CS 54 são perfeitos no meio e braço, mas eventualmente algo estridentes na ponte. Os Rosar da linha "43" e "44" são muito bons para posições de ponte, inclusive Telecaster e principalmente quando desejamos controlar os agudos e definir médios. Não recomendo fio mais fino que o AWG 42 na posição do braço (quanto maior o valor AWG, menor a espessura do fio).
Pra quem gostou do marupá, gravamos uma demo adicional com músicas conhecidas e com timbres clássicos de stratocaster, pra fortalecer as referências. Só espero que o YouTube não tire do ar por causa de direitos autorais.