terça-feira, 13 de novembro de 2012

Instrumentos musicais ficarão mais caros em janeiro de 2013

Post rápido.
Resumindo, o governo brasileiro pretende, à partir de 2013, aumentar (ainda mais) os impostos sobre instrumentos musicais. Ridículo!
Leia a notícia aqui: CLIQUE
Assine a petição aqui: CLIQUE

Se não fizermos nada agora, o barco vai continuar afundando. Assine a petição e peça para seus amigos assinarem também, por favor!

PS: O Pedro Ditz colocou um link interessante.  É um projeto de lei (de 2004 - ainda não votado!) do senador Morazildo Cavalcanti que sugere a isenção do imposto de importação para músicos:  CLIQUE.




segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Les Paul 1959 - O Mito Revisitado

     

        Inaugurei esse blog em 2010 falando sobre o "Cálice Sagrado" das guitarras: o mito "Les Paul 1959"
Realmente, parece que houve alguma confluência mágica de fatores para gerar uma guitarra que é considerada a melhor de todos os tempos. Essa mágica durou apenas três anos, de 1958 a 1960 e teve o ápice em 1959. Uma Les Paul Sunburst 1959 hoje em dia não custa menos de 200.000 dólares, Pode chegar a 400, 500 mil e se acrescentarmos o fato de ter sido de algum músico famoso, como a Peter Green/Gary Moore, pode chegar (dizem) perto de um milhão de dólares.

Li todos os livros, artigos e fofocas que encontrei sobre as famosas "burst" como são apelidadas, mas recentemente me deparei com uma entrevista do Gary Moore falando sobre suas guitarras, mais especificamente as 59 e me surpreendi quando ele mencionou essa Les Paul 59:


Transcrevo suas palavras:
I had another ’59 Les Paul that I sold in the ’90s and that one sounded like shit,” Moore laughs.
“It’s the one that’s on the cover of the After Hours album, and I only kept it for a year or two. It had a nice light body, looked really good and played really nice, but it wasn’t until I tried it in the studio that I realised it just didn’t sound very good. It sounded very flat and dull and was probably the worst-sounding one that I’d come across in a long time."

Tradução livre: "Eu tive outra Les Paul 59 que vendi nos anos 90 que soava como uma merda, ri Moore. É a que está na capa do album "After Hours" (foto abaixo) e eu fiquei com ela apenas um ou dois anos. Ela tinha um corpo legal e leve, um visual realmente bom e ótima tocabilidade. Mas foi somente quando a ouvi no estúdio que percebi que não soava muito bem. Ela soava muito "flat" (linear) e apagada/sem graça e foi provavelmente o pior timbre de Les Paul que ouvi em muito tempo"


O Gary Moore nunca foi de meias palavras, mas era um cara esperto. Só falou a real da guitarra depois de vendê-la... Bem, vários colecionadores e guitarristas já mencionaram que "nem todas" as burst são excelentes guitarras, mas até então nunca tinha lido alguém falar que era uma "merda"!

Ele vendeu também a "Peter Green", mas manteve essa 59:


Foi com essa Les Paul Sunburst 1959, comprada em 1989, que Moore gravou seus maiores clássicos. A primeira música que ele gravou com ela foi o hit "Still Got The Blues".
Não sei se essa (mais provável)) ou a "merda" é a que teoricamente pertenceu ao guitarrista Ronnie Montrose (roubada em 1972). Montrose entrou com uma ação legal contra Moore em maio de 2009 (a petição está aqui, em PDF). Com a morte do Moore, não sei como ficou a coisa.
(Obs: Ronnie Montrose suicidou-se com um tiro em março de 2012 - ele sofria de câncer de próstata e depressão. Gary Moore morreu em fevereiro de 2011)
Bem, não estou tentando desmistificar um ícone já cristalizado na cultura musical do mundo, mas é interessante confirmar, através de uma fonte legítima, que realmente nem todas soam bem. Quase um alívio :)

Ela também não tem o poder de enfeitiçar os guitarristas de maneira irreversível. Inclusive dois dos guitarristas que iniciaram a hiper valorização das bursts na década de 1960, Keith Richards e Eric Clapton, optaram por simples e mais mundanas Fender... Jimmy Page é uma exceção clara, mas em qualquer lista dos "maiores guitarristas de todos os tempos", veremos que apenas alguns são fiéis às Les Paul clássicas.


Bem, não interessa. Independente de qualquer coisa, clássico é clássico e uma Les Paul sunburst 1959 "boa" ainda é o Cálice Sagrado das guitarras... :)

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Telecaster Castelli Custom




         Quando o meu amigo Oscar Isaka Júnior, outro louco por guitarra, me enviou a foto de uma maravilhosa Telecaster Custom feita pelo mestre luthier Tom Castelli de Curitiba, fiquei de queixo caído, não só pela beleza exuberante mas também pelas especificações. Acho que nunca vi um top de quilted maple tão tridimensional quanto esse... Luxo absoluto! :) 
Ela tem aspectos técnicos muito interessantes e ninguém melhor que o Júnior pra falar sobre essa obra de arte. Pedi pra ele fazer o texto porque eu precisava colocar essa Tele no meu blog! :) Segue:
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OSCAR ISAKA JR.:

        "Sempre que eu encontro algo interessante converso com o Paulo e trocamos muitas figurinhas, e sendo ambos compulsivos por guitarras e tudo o que gira as 6 cordas seria natural que eu roubasse um post ou outro deste que considero um dos mais informativos blogs de Guitarras da Internet. 

        Desde quando comecei a tocar guitarra em meados dos anos 90, o nome DiCatellis tem sido uma constante pra mim. Sendo de Curitiba, ainda mais tendo começado no meio metaleiro, as guitarras Castelli sempre foram sinônimo de qualidade entre músicos e guitarristas. Lembro que tinha um companheiro de banda que havia recém mandado fazer uma réplica do famoso modelo "Kelly" da Jackson, na época utilizada por Marty Friedman. Mais e mais instrumentos DiCastellis apareciam nas mãos de amigos e conhecidos do mundo guitarrístico, mas eu por alguma razão não havia ainda ido lá efetivamente até uns 3 anos atrás, quando voltei a tocar e desde então já fiz algumas guitarras com ele e sempre levo meus instrumentos para regulagens ou vou simplesmente para um (ótimo) papo sobre guitarras e afins.

Sexta Feira passada fui até a Castelli para trocar uma ideia com o Tom, e essa Telecaster estava sentada na bancada depois da montagem e regulagem final. Foi impossível não reparar a beleza e capricho dessa guitarra e questionei o Tom.
O cliente (vou me referir aqui como John :-) ) queria uma guitarra para tocar Rock/Hard Rock, então a clássica combinação mogno/maple foi a escolhida. O formato escolhido para o corpo foi a Tele pelo gosto do próprio John e o braço/escala seria parafusado, de maple. Ponte String Through Body hard tail e escala padrão Fender de 25,5 polegadas garantem o final da composição timbrística da menina. Mas ainda falta a estética.



A combinação de Mogno com top de Maple para o corpo garantem um timbre quente sem perder a definição, acentuado ainda mais pelo braço/escala de maple. 
Como uma Les Paul? Humm, mais ou menos pois a escala longa de 25,5 e a ponte hard tail com String Through Body aumentam o comprimento de corda deixando-a com um pouco mais de tensão, fazendo o ataque aparecer mais rapidamente e secar os graves. Tudo o que se precisa para não embolar em timbres mais distorcidos. 

Mas o braço parafusado não compromete o sustain nessa configuração? Não necessariamente. Nesse caso a junção e fixação são cruciais para garantir uma boa ressonância do conjunto e portanto assegurar boa sustentação. 
O Tom faz uma fixação bem justa no "Neck pocket" (tróculo), assegurando o máximo de contato possível nas paredes no braço e da cavidade no corpo, juntamente com 5 parafusos para garantir a pressão necessária para eficaz transferência das vibrações do braço. Parafusos de INOX, com 3 mm a mais de comprimento e 1 mm a mais na largura do que os tradicionais usados pela Fender. Embora isso remova um pouco do estalo característico de guitarras com braço parafusado, o aumento da pressão proporcionado por esse padrão de 5 parafusos faz com que a sonoridade ganhe corpo de médios e uma sustentação melhor desde o ataque das notas, trazendo-a mais próxima das observadas nas guitarras de braço colado. 


O Tom faz esse tipo de "upgrade" em guitarras de braço de braço parafusado em que essa característica é mais procurada como por exemplo Jackson, Ibanez, etc. com excelentes resultados. O upgrade é simples e consiste em adicionar 2 parafusos sob o neck plate para aumentar a pressão da fixação do braço e corpo. 

Em Strato/Tele clássicas, esse upgrade tira um pouco do estalo e quack característicos dos sons clássicos com single coils, mas os resultados são muito bons com uso de humbuckers. Paul Gilbert já relatou que costumava sentar em suas guitarras na hora de apertar os parafusos dos braços de suas Ibanez a fim de deixar a junção mais firme.
Como a intenção de sonoridade desejada era ter a maior densidade possível sem perder a definição, o pedaço de mogno escolhido para o "back" do corpo é bem denso e com veios bem próximos. Isso gera um som gordo e quente, mas também aumenta consideravelmente o peso da guitarra (a sonoridade e peso desse tipo de mogno é bem conhecida nas Gibson dos anos 80). Para cortar um pouco desse peso, foram feitas câmaras no corpo antes da colagem do top de Maple. A técnica já é utilizada pela Gibson, Tom Anderson e muitos outros e conhecida como "Tone Chambers". Se executada corretamente, além de reduzir o peso do instrumento, aumenta a ressonância geral modificando levemente a resposta sônica do conjunto. Em geral o ataque fica um pouco mais macio, sem comprometer a definição. Nem melhor nem pior, só diferente!



       A parte elétrica estava definida com 2 humbuckers, 1 volume e 1 tone e chave de 5 posições. Os captadores escolhidos foram o Seymour Duncan 59 para o braço e (Seymour) Duncan Distortion para a ponte formando um conjunto bastante versártil, com bastante potência na ponte e algo mais ameno no braço para sons mais suaves. De ultima hora foi adicionado um Seymour Duncan Vintage Rails logo acima do captador da ponte (onde Steve Morse usa um também) para uma versatilidade ainda maior, permitindo a utilização deste sozinho ou em paralelo com os humbuckers.



Com a parte técnica toda delineada chegava a hora de definir os detalhes estéticos. O John fez questão de ter uma atenção redobrada nessa parte do projeto e escolheu a dedo os componentes. O mogno do corpo, foi o brasileiro de um estoque antigo da própria Castellis, de coloração avermelhada e veios bem bonitos. O top, um Quilt Maple de graduação 4A "book matched" e o braço e a escala, Bird's Eye Maple também muito figurados, todos importados dos EUA especialmente para esse projeto. A pintura foi feita utilizando as mesmas técnicas de tingimento que a PRS, Anderson, Suhr, Gibson e etc utilizam para realçar o efeito tridimensional. O resultado pode ser visto nas fotos, que não fazem jus à beleza desse instrumento ao vivo. O 3D do top é algo simplesmente impressionante e a figuração Bird's Eye do braço idem. Sem brincadeira, eu não me lembro de ter visto um top e braço tão figurados e com um 3D tão bonito!!



Tive a oportunidade de tocar por alguns minutos com ela, e a sonoridade ficou incrivelmente equilibrada. O Distortion estava soando forte e preciso sem a estridência às vezes observada. O 59 definido e até mais detalhado do que eu estava acostumado a ouvi-lo e o VintageRails realmente adiciona um Q diferente ao timbre quando combinado com os humbuckers. 
Comparando a sonoridade com uma boa Les Paul, todo o calor do mogno com a definição e mordida do maple estavam presentes, com excelente sustentação. Os graves menos soltos e talvez um pouco mais de extensão e detalhe de agudos e um ataque mais rápido são as maiores diferenças para o clássico modelo da Gibson, o que já era de se esperar dadas as diferenças técnicas já abordadas. Os trastes INOX médio-jumbo fornecem maciez aos bends e permanecem brilhantes e polidos o tempo todo. A pegada do braço é fenomenal. O shape é um "C" médio copiado com exatidão de uma Music Man Axis. Acredito que os objetivos delineados lá na parte do projeto foram plenamente alcançados.

Todos devem estar se perguntando quanto custou esse brinquedo? O valor final ficou em torno de R$8.000,00 com hard case personalizado. O valor é realmente alto, mas dada a qualidade dos componentes e madeiras (só de maple para o top, braço e escala foram quase R$2.000,00 ) o capricho e beleza dessa guitarra, acho que o proprietário ficou extremamente satisfeito com o resultado. "


(Texto de Oscar Isaka Jr.)


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Olha, mesmo sendo um aficionado por Telecaster clássica e captadores vintage, acho que eu seria muito feliz com uma guitarra dessas... :)
O Tom Castelli é um mestre e embora não o conheça pessoalmente, TODAS as guitarras que vi/ouvi/toquei dele são de uma qualidade ímpar. A guitarra que ele fez para o Oscar é absurdamente linda e tecnicamente perfeita. Pedi algumas fotos dela e postarei aqui como complemento em breve.

E o Tom Castelli é aqui do Brasil, ali em Curitiba... :)
Visite o site: Castelli