Oscar Isaka Jr.
Num dos posts falando sobre Les Paul e PAFs, o Dalton deixou um comentário sugerindo que fizéssemos um comparativo entre alguns modelos populares de captadores feitos atualmente e que prometem entregar a sonoridade "PAF" clássica. Com essas comparações, poderíamos ter uma referência e poder assim escolher um deles com mais confiança.
O Dalton me enviou gentilmente um pedaço a sua coleção de captadores para que junto a alguns dos meus pudéssemos traçar um comparativo e ouvir as diferenças. É claro que eu não pude recusar a oferta e depois de muita solda e troca de caps chegamos a um quadro comparativo muito bacana que vamos dividir em 3 posts para manter o foco.
Vai um PAF aí?
PAF "Double White"
A história do captador "PAF" é a própria história do humbucker.
Em 1955, Seth Lover, engenheiro da Gibson, criou o primeiro captador sem ruído, formado por duas bobinas (e não uma, como era até então) com polaridades magnética e elétrica invertidas (a inversão das fases provoca cancelamento do hum). Ele não apresentava o "Hum"(ruído interno de 60 Hz) inerente aos captadores de bobina simples.
A Gibson batizou-o de "Humbucker" e, para evitar cópias, no final de 1957 colocou um adesivo na base
escrito "Patent Applied For" (Patente Pendente). Abreviado, "P.A.F."
À partir de 1957, esses humbuckers passaram a equipar quase todas as guitarras da Gibson. Em 1959 a patente foi aceita e, à partir de meados de 1962, o adesivo mudou para o número da patente ("Patent Number"), que por sinal não era o número correto, numa tentativa de confundir a concorrência, talvez.
Por volta de 1964, a Gibson "modernizou" a fabricação dos captadores, com máquinas automáticas e fios
modernos. A partir daí, esses humbuckers passaram a ser conhecidos como "T-Tops" (por causa de uma marca "T" na bobina de plástico). Nesse momento, a fórmula mágica perdeu-se para sempre.
Por uma coincidência do destino, os captadores feitos entre 1956 e até meados de 1964 entraram para a
história por causa de sua sonoridade única. As máquinas, materiais e o processo de fabricação utilizados
entre 1956 e 1964 não foram perfeitamente documentados, por isso o PAF original nunca pode ser 100%
replicado...
Mas esse captador só ficou famoso mesmo nas últimas décadas, quando os guitarristas perceberam que ele era um dos principais responsáveis pelo timbre mágico das Les Paul do período. Foi aí que ele ganhou o apelido de "PAF".
A sonoridade PAF é um mito e todos sabemos disso. Seus segredos e originalidade são ainda um mistério e até hoje ninguém conseguiu reproduzir totalmente a sonoridade que carimbou o timbre do Rock nos anos 60 em gravações de ZZ Top, Eric Clapton , etc. e persiste até os dias de hoje.
A dinâmica, explosão ("bloom") o conteúdo harmônico, o ataque e complexidade do humbucker PAF original são ainda perseguidos por fabricantes de captadores do mundo todo pela dificuldade de se balancear as variáveis da equação.
Seth Lover determinou que um captador "Humbucker" (cancelador de ruído) tivesse duas bobinas, cada uma com 5 mil espiras (metade das 10 mil do P90) ligadas em série com fases elétricas opostas e campo magnético oposto. No entanto a imperfeição do processo dos anos 50 e o constante corte de custos praticados pela Gibson como empresa, randomizou as unidades dos captadores. A capacitância interna gerada pela bobina, as correntes parasitas das partes metálicas, o isolamento do fio, quantidade de material ferroso no imã de alnico, o tipo de alnico, seu grau de impurezas, tudo isso tem influência no som e é um verdadeiro desafio conseguir entender e/reproduzir.
Quem já testou e ouviu vários PAFs originais afirma que uns não soam tão bem assim e outros são mágicos. Provavelmente tem a ver com o tempo. Alguns não envelheceram bem.
PIF, PAF, BUM!
É isso mesmo. :) Hoje existem dezenas, centenas de fabricantes de captadores que alegam ter conseguido fazer uma cópia perfeita do PAF. Alguns inclusive adquiriram as máquinas originais da Gibson, outros conseguiram fio enamel da época que estava estocado em algum depósito antigo e a maioria alega que seu "PAF" é resultado de intensas pesquisas científicas de engenharia reversa.
Como a percepção é individual e tão randômica quanto o próprio PAF vários fabricantes produzem o que consideram a "sua" própria versão desse timbre histórico e por isso escolhemos alguns modelos "famosos" para essa comparação.
Espalhados no blog, há vários vídeos com sons de PAFs originais e uma breve pesquisa no YouTube pode lhe fornecer mais algumas dezenas de exemplos.
Não vamos perder tempo com "PAFs" modernos que são inferiores, alguns de marcas menores como GFS e também não vamos incluir os captadores Gibson (Burstbuckers, 57, etc.). Vamos direto para os "top":
Participantes do desafio:
- - Jim Rolph Vintage Pretender 58 Set (Sem capas)
- - Jim Rolph Vintage Pretender 59 Set (Com capas)
- - Lidy Fralin PURE PAF Set (Sem capas)
- - Lollar Imperial humbucker Low Wind Set (Com capas)
- - Seymour Duncan Custom Shop "Greenie Model" Set (Com capas)
- - Sérgio Rosar Mojo 13 Neck (Sem capa)
- - DiMarzio 36th Aniversary Bridge (Sem capa)
- - Bare Knuckle Stormy Monday Neck (Com capa)
A plataforma de testes foi a minha Gibson Les Paul R9. Cada captador foi instalado, teve sua altura regulada para o melhor som possível na guitarra e gravado nas mesmas condições. Separamos os caps de ponte e de braço para que possamos compara-los melhor. Os de braço gravados limpos para ouvirmos bem as nuances e detalhes do timbre enquanto que os de ponte achamos por bem gravá-los com saturação pois é onde eles realmente brilham.
Primeiro os de braço (a trilha inicial é do Clapton com os Bluesbrakers, o som da guitarra é de uma Les Paul 59 original com PAFs):
Conversei ontem com o Paulo e chegamos mais ou menos às mesmas conclusões, as quais vou compartilhar com vcs pois além de gravar eu toquei com eles no amp em diversas situações. Lembrando sempre que são as minhas impressões pessoais e intransferíveis de cada modelo. Todos soaram muito bem (acima da média) e se tratam de produtos especializados, mas quando comparamos uma Ferrari com um Corvette por exemplo, teremos opiniões para os dois lados! :-)
Esse nós já conhecíamos de algum tempo e no teste provou sua fama. Muita dinâmica!! Cada nota tocada tem personalidade própria adquirida pela força e jeito da palhetada. Ataque preciso com o famoso "Bloom" e complexidade 3D nos médios. É o mais fraco e detalhado de todos os modelos mas se comporta muito bem com drives leves e moderados. O meu T Miranda Overdrive 35 S falou tão bonito com ele que quase não quis mais desligar o amp.
Uma novidade que o Rodrigo encomendou e me deixou testar para fazer comparações. Tem praticamente todas as qualidades do modelo 58 com um pouco menos de dinâmica e um pouco mais de ganho. Fiz a colocação que é como se fosse um 58 com um pedal de compressor ligado o tempo todo, o que tira um pouco da complexidade de dinâmica, mas deixa o ataque mais rápido e enche mais os drives.
OBS: Pra saber mais sobre o Jim Rolph, leia esse post (clique)
Estava entusiasmado para ouvir os PURE PAFs devido a sua fama e prestígio no mundo dos PAFs. Sempre é citado pelos experts gringos e não é pra menos. Talvez os humbuckers mais "claros" e definidos que já tive a oportunidade de testar. Os médios no entanto soam meio "vazios" em comparação aos Rolphs, deixando menos evidente o bloom 3D mas o grande mérito de Lindy Fralin, foi conseguiu tuná-lo a ponto de soar preciso e definido, com uma excelente dinâmica e sem sobras de sibilância ou agudos. São o remédio exato pra uma Les Paul (ou qualquer outra guitarra) mais grave!
Macios e precisos, os Imperials Low Wind tem um som pronto e pau pra toda obra com os médios mais cheios e meio "honky" e agudos mais comprimidos com uma personalidade bem própria. Aos meus ouvidos faltaram um pouco de dinâmica e os médios soaram um pouco entupidos e macios demais pra mim. O próprio Jason afirma que os Imperials não tem a pretensão de ser um clone de PAF, mas sim oferecer o que ele considera um BOM SOM DE HUMBUCKER.
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Seymour Duncan Custom Shop "Greenie Model" Set (Com capas):
Seymour Duncan Custom Shop "Greenie Model" Set (Com capas):
Estava muito curioso com esse set e confesso que adorei o resultado. Instalei o Greenie de braço ao contrário (com os parafusos virados para a ponte) conforme instruções e o resultado foi muito legal. Seu forte não é o som limpo (vou fazer um post dedicado a eles depois), mas mesmo assim gravei para compararmos com os outros e ele não ficou atrás, os médios são mais cheios e mais presentes, acredito até devido a posição invertida, mas o ataque preciso, complexidade sonora ë até um certo "bloom" estão presentes. Adorei esse set!
Os Greenies foram criados para replicar os famoso set de captadores da Les Paul de Peter Green/Gary Moore.
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Tinha de novo grande expectativa nesse set devido a fama que a marca inglesa carrega. No entanto confesso que dentre os modelos aqui testados, o Stormy Monday foi o que menos me impressionou. Em comparação aos demais soou meio "flat", sem a profundidade e complexidade dos médios presente nos outros.
A dinâmica também se mostrou um pouco mais limitada, mas ele mantém muito do ataque e presença característicos dos PAF, coisa difícil de se encontrar em outros modelos que se vendem como PAFs por aí.
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E vocês? Quais são os seus preferidos?
Grande abraço!
(Paulo May):
Interessante como as nossas opiniões sobre humbuckers - PAFs em particular - têm coincidido. O Jr me enviou os áudios sem falar nada e depois observamos praticamente as mesmas impressões.
A primeira coisa que eu observo é a dinâmica - cada intensidade tem que ter uma nuance própria.
Todos são muito bons ou excelentes, mas vamos aos detalhes:
Eu achei o Greenie excelente, mas falta um pouco de complexidade nos médios. O Fralin neck é um pouco desequilibrado nos médios, mas foi o melhor na ponte (próximo post), com uma saturação leve. O Lollar é exatamente o que ele próprio fala: mais "smooth", macio. Tem um tipo de sonoridade que agrada uma parcela bem representativa de guitarristas, mas pra mim é um captador previsível e obediente demais - tá longe de um PAF. O Bare Knuckle, tão famoso nos fóruns e undergrounds da vida, foi uma decepção - linear demais. Os Rolph são nitidamente superiores, mais nervosos, mais complexos e agradavelmente imprevisíveis. O 58 tem um pouco mais de dinâmica.
A surpresa ficou por conta do Rosar Mojo 13, que, como bem disse o Jr., é praticamente 95% idêntico ao Rolph 59. É a prova de que santo de casa também faz milagres!! :)