sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Guitarra LPG-Kaiser (ou, a Saga da Roland G707..hehehe)

Paulo May


(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


Veja esse post antes: CLIQUE.

          A ponte e o braço da finada Roland G-707 pareciam ter encontrado o seu destino final, mas alguma coisa ainda estava errada... Talvez porque na verdade eu não goste muito de misturar padrões estéticos clássicos com modernos. É uma questão puramente visual, já que modificações ergonômicas e funcionais eu acho legal.
...Então, eu tive a G-707 nos anos 80 (1985) e como já falei, detestava aquele corpo estranho e absolutamente incômodo. Sempre gostei do visual "moderno retrô" dos anos 50/60 e também sempre achei o visual os anos 80 muito bizarro, pra dizer o mínimo... :). Como unir 50/60 e 80 num conceito? Complicado...

        Mas há uns dois meses fiz um desenho bem rudimentar num papel. No outro dia olhei e me pareceu interessante... Dei uma ajeitada no photoshop e enviei para o Kaiser... Discutimos alguns detalhes de viabilidade como local do jack, chanfro superior, tróculo... Daí ele passou para 3D, programou a CNC e em menos de 10 dias eu estava com o corpo em casa... Novamente, a eficiência e agilidade do alemão lá de Nova Petrópolis foram de cair o queixo! :)
Na foto abaixo, um resumo das duas semanas, da ideia até o corpo entregue:

Por incrível que pareça, a forma que mais me inspirou foi a daquela cadeira de balanço...:)

Mais uma semana e a guitarra tava pronta:


  O mais legal é que não precisei ajustar nada. Tudo se encaixou perfeitamente, desde a simetria do braço/captadores/ponte até o ângulo do braço - e olha que esse tipo de problema acontece até em montagem de peças originais da Fender, por exemplo.
Muito, muito legal!! O corpo está com o peso muito bem distribuído (equilíbrio/balanço horizontal), e leve: peso total de 3,4kg (corpo de mogno sólido!)


         Dá pra ver que o braço era todo preto e eu retirei a tinta... Tá muito irregular, mas isso foi bem no começo das minhas aventuras com guitarra, hehehe. Preferi deixar assim e como essa guitarra "deveria" ter 33 anos, fiz um leve relic (mais desgastes que machucados) no acabamento. O fato é que eu adoro a pegada desse braço - sempre foi extremamente confortável.

          O interessante é que, por um lapso de comunicação, acabamos fazendo cavidades de humbucker (a minha ideia era colocar Filtertrons Gretsch), mas, de vez em quando a sorte vem dobrada e esse é um caso - o timbre dessa guitarra com humbuckers tá o bicho. Lindo de morrer.


         O captador da ponte é um T-Top Gibson de 1981 rebobinado pelo Sérgio Rosar com as especificações do Rolph e o do braço é um Rosar Mojo. Pots de 500k - um de volume ou outro de corte de graves (bass roll off/high pass filter). Esse sistema de corte de graves é muito legal e não entendo por que não o utilizei antes - tinha o esquema guardado há pelo menos 3 anos.
Dessa vez, devido à minha história com mogno brasileiro (quase sempre gera um timbre fechado, gordo, meio sem graça - parece praga), eu já armei essa elétrica antes. E olha que a sorte com esse mogno foi grande - os graves dele já soam bem legais, sem muito excesso.
Sem corte de agudos (função clássica do pot de tonalidade) e com corte de graves... Esse deveria ser o padrão em boa parte das guitarras com humbuckers.
O corte de graves, na configuração que utilizei, com resistor de 1 mega + capacitor de 4,7 uF (o potenciômetro deveria ser de 1 mega, mas o que eu tenho tem haste muito curta) pega apenas os graves mais baixos, aqueles que a gente quase não houve mas os sente embolando o timbre. Como eu nunca havia utilizado o sistema, optei por um corte bem sutil. Mas ficou bem musical e mais perceptível no captador do braço. Ainda preciso aprender um pouco mais sobre isso - há uma fórmula para calcular a combinação capacitor/resistor/ponto de corte.
Vou testar amanhã com um corte um pouco mais alto (79 Hz), trocando o capacitor para 2,2 uF.
Enquanto escrevo isso, tô pensando em pelo menos umas 5 guitarras aqui que precisam urgente dessa mod :)

Mas esse esquema merece um post à parte. Nas próximas semanas o Alex prometeu que vem aqui pra gente gravar várias demos e vou incluir as duas LPs e essa LPG-Kaiser. Daí a gente mostra o corte de graves em ação e eu posto as ilustrações da mod - não é complicado, mas precisa ter alguma experiência com solda :)

Bem, é isso aí - a guitarra na minha opinião ficou linda (obviamente há gosto pra tudo e respeito quem achá-la feia, hehehe), tá com um timbre maravilhoso, é ergonômica (dá pra tocar sentado e no sofá numa boa) e resolveu o dilema do braço e ponte órfãos da G707.
Como é um protótipo, acho que precisamos mudar a posição do jack de saída (inicialmente era no final da curvatura posterior e talvez esse seja realmente o melhor local) e fazer um chanfro/rebaixamento extra no início do tróculo, pra deixar o acesso (já excelente) às casas mais altas 100%. Também imagino que o headstock ficaria mais harmônico esteticamente se fosse curvado para baixo... Mas antes ainda preciso decidir onde colocar os pinos da correia... :)

Lembrando, antes que perguntem: tróculo e escala estão no padrão Fender, ou seja, qualquer braço Fender cabe aí (atenção porque o de tele tem final reto e o de strato é curvado). Obviamente o Kaiser pode adaptar o projeto para um padrão Gibson, com escala mais curta (e até braço angulado e colado, se for o caso), mas a escala mais longa geralmente dá mais estalo e médios pela tensão extra - é a minha preferida :)

PS1: Estamos aceitando sugestões de nomes para esse modelo de corpo. Não vale "Fishtail" e nem "Shark", kkkk! Como o nome da minha banda (e da minha cidade natal) nos anos 80 era "Tubarão" (TB para os íntimos), por enquanto eu a tenho chamado de "TB-1" :)

PS2: Alguns dias depois de iniciarmos o projeto, procurando pelas palavras "Fishtail + Car" pra ver as cores dos carros, me deparei com essa guitarra na internet:

Essa é de fato uma "Fishtail" e o(s) cara(s) que fez isso realmente caprichou, bah... Eu não me lembro de tê-la visto ANTES do meu esboço mas, coincidências à parte, o importante é que a nossa guitarra ficou legal também :)