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domingo, 18 de março de 2018

Mosca Branca

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)



          Quando estávamos combinando a gravação da demo da Les Paul Kaiser/LPG, o Jean me disse que, além da sua nova strato com captadores Fishman Fluence, traria uma guitarra muito interessante mas não mencionou qual - seria uma "surpresa"... :)

A segunda guitarra era uma stratocaster japonesa Tokai de 1984. Bem, qualquer um que já leu um pouco sobre a história da guitarra sabe sobre as cópias japonesas de marcas famosas, principalmente Gibson e Fender que proliferaram nos anos 70. Marcas como Ibanez, Greco e Tokai faziam cópias às vezes melhores que as americanas - talvez até porque nos anos 70 a qualidade das Fender e Gibson realmente estava baixa.  Em 1977 a Gibson entrou com uma ação judicial (Lawsuit) e conseguiu a proibição de cópias do seu headstock clássico (open-book-style).

          Por isso hoje em dia usamos o termo "pré lawsuit" para especificar o período anterior à proibição. A Fender só conseguiu proteger os seus headstocks (corpos não são protegidos, Fender ou Gibson) bem mais tarde, por isso em 1984 ainda havia cópias orientais exatas de stratos e teles vintage e essa Tokai é um belo exemplo.

          As cópias Tokai de strato, principalmente entre 1977 e 1987, geralmente são excelentes. Foi uma Tokai de 1981 que provocou pânico na Fender na época - eles não conseguiam fazer uma Fender tão boa quanto aquela Tokai!
Essa Tokai do Jean é o modelo "Goldstar Sound T60" e ele já pesquisou:

Jean Andrade: Essas Tokai de 1984 são cópias das Fender L Series de 1964 (inclusive vêm também com o serial number começando com a letra L)
A minha é uma TST60, com captadores em alnico "E stamped". A principal diferença:  a TST60 e superiores (até TST120) têm captadores de alnico "E stamped" (os melhores e mais caros feitos pela Dimarzio, réplica dos fullerton da Fender). A TST 40 tem captadores cerâmicos, enquanto a TST50 tem os captadores "U stamped", também de alnico, mas com saída um pouco mais alta.
A minha Tokai tem os originais "E stamped" no braço e meio, sendo que o captador da ponte foi substituído por outro dimarzio antigo. A única diferença da TST60 para a TST80 é que esta última tem finish em nitro.
"Most of the good Tokai pickups have grey bottoms with separate pole pieces. The early ones are stamped "U" and they are medium hot, about 6.2K ohms. There are grey bottoms stamped "E" and they are more vintage output, about 5.6K ohms and these were fitted to more expensive models. The top of the range Tokai strat copies were fitted with DiMarzio VS-1 pickups and they have black bottoms.
Se bobear, o da ponte da minha pode ser um desses VS-1...hehehe.



A tentativa de deixar a palavra Tokai semelhante à Fender é quase cômica, mas tive que rir do "Oldie But Goldies" no lugar do clássico "Contour Body", hehehe...

... Mas parei de rir e tive um calafrio na espinha depois de tocar apenas cinco notas no captador do braço... Foi um daqueles momentos raros, raríssimos, onde percebemos que estamos diante de alguma coisa definitivamente superior, única. Toquei mais alguns acordes e, confirmado: eu estava diante de uma "Mosca Branca". A segunda sensação que tive, depois da estupefação, foi de frustração - essa guitarra não era minha! PQP! Guitarra leve, super ressonante, extremamente bem feita, peças e madeiras de primeira. A minha melhor strato (Fender 97 modificada) é a única que pode ser comparada com ela (e não é melhor, só chega perto). Todas as outras perdem feio, independente dos captadores e madeiras...
E quando eu falo "mosca branca" não estou me referindo às Tokais Goldstar Sound de 1984, mas à essa guitarra especificamente. Pela minha própria experiência, sei que posso pegar 10 Tokais do mesmo modelo e ano e provavelmente nenhuma soará como essa.

O corpo é de alder muito, muito leve, braço de maple com uma camada fina, quase um veneer, de rosewood - e esse é um detalhe que é igual ao da minha telecaster: rosewood fino e curvado com a escala - não é "slab". Capacitor cerâmico grande, bons pots, ponte e tarraxas clássicas, bem no padrão Fender de 1964.
E por falar em Fender 1964, nesse vídeo abaixo, da Norman's Rare Guitars, o Mark Agnesi conta em detalhes a história das Fender "L" series - muito legal. Cheque o ícone "legendas" para entender melhor o inglês.



         Não vou perder tempo tentando explicar e descrever a razão do timbre dessa Tokai ser tão excepcional, mas ela tem a mesma mágica da minha Tele 68: a dinâmica ampla, complexa, multidimensional. A mesma nota tocada 10 vezes soará diferente 10 vezes, cada uma com sua cor e sabor. Impressionante.
E também não vou contar essa história agora, mas se eu fosse um pouquinho mais sociável e menos rabugento, poderia ter tido contato com essa guitarra ANTES do Jean colocar os olhos nela, hehehe...
Mas terei o consolo que ela estará por perto e poderei tocá-la de vez em quando :)




No próximo post vou convidar o Oscar e discutiremos mais profundamente essa questão das moscas brancas, com exemplos, fatos e declarações de grandes mestres da luthieria, mas por enquanto vocês ficam com o vídeo da Tokai do Jean em ação:


PS: E aquela outra strato do Jean, com os captadores Fishman Fluence? Excelente guitarra, gostei muito dos captadores. ultra silenciosos, timbre clássico, típicos de uma strato. Mas... do lado dessa Tokai, o timbre dos captadores Fluence soou linear demais, bonito demais, hi-fi demais... Ou seja, falta aquela sujeirinha mágica, imprevisível, que raramente ouvimos. E, só ouvindo para vislumbrar a dimensão da coisa...


PS1: Contribuição do leitor "unknow" - especificações dessas séries da Tokai:

ST-42 (1977 - 1979) – U-shaped neck, chrome hardware, non-Kluson type tuners, ceramic pickups, 3- or 4-piece sen ash body with poly finish
ST-45 (1980 - 1981) – U-shaped neck, chrome hardware, non-Kluson type tuners, ceramic pickups, 3- or 4-piece alder body with poly finish
ST-50 (1977 - 1984) – U-shaped neck, nickel hardware, Kluson-type tuners, alnico “E,” “U,” “V” or “VI” pickups, 3-piece alder or sen ash body with poly finish
ST-60 (1977 - 1984) – V shaped neck, nickel hardware, Kluson-type tuners, alnico “E,” “U,” “V” or “VI” pickups, 2-piece sen ash or alder body with poly finish
ST-70 (1982 - 1983) – U-shaped neck, nickel hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS-1 alnico pickups, 2-piece sen ash or alder body with poly finish
ST-80 (1979 - 1983) – V-shaped neck, nickel or gold hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS-1 alnico pickups, 2-piece sen ash or alder body with nitro finish
ST-100 (1979 - 1983) – V-shaped neck, gold hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS1 alnico pickups, 1- or 2-piece sen ash body with nitro finish
ST-120 (1982) – V-shaped neck, gold hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS-1 alnico pickups, 1-piece ash body with nitro finish





segunda-feira, 10 de abril de 2017

... E a Roland G-707 virou uma Cabronita :)

Paulo May


(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)

         Em 2014 fiz um post sobre a excelente guitarra Fender/Roland e o novo sistema digital da Roland. Ainda tenho as duas guitarras e cada vez gosto mais do sistema, mas esse post é um vapt-vupt pra mostrar onde foram parar os "restos mortais" da G-707. Transcrevo parte do que escrevi naquele post:
"... Eu não sou e nunca fui aquele guitarrista do tipo "solista técnico/virtuoso". Sempre gostei mais de bases e arranjos, da procura do groove perfeito entre guitarra base, bateria e baixo - e eventualmente piano. Durante a época (1983-1994) que tive banda e estúdio de gravação, onde compunha jingles e trilhas, sempre busquei maneiras de ampliar os limites dos sons de guitarra. Não foi à toa, portanto, que adquiri uma guitarra "midi", uma Roland G-707 em 1986 (ou 87). A guitarra tinha um visual futurista e uma estranha barra de carbono numa segunda junção braço/corpo para minimizar as vibrações do braço e estabilizar a captação dos sinais pelo captador hexafônico...
         O "tracking" das notas era complicado, tínhamos que tocar de forma bem diferente de uma guitarra normal, evitando bends, ruídos e slides desnecessários. Aquela barra realmente incomodava e pra completar, era um porre pra tocá-la sentado. Ela ficou largada até por volta de 2000, quando resolvi serrar a barra de estabilização e usá-la como guitarra normal (a G-707 era feita na mesma fábrica da Ibanez, com corpo de alder). Quando perguntavam que guitarras eu tinha, ficava até engraçado: "duas teles vintage, uma 1968 e outra 1974 e uma Roland G-707!!" KKK! Em 2004, joguei tudo dessa guitarra fora e só fiquei com a ponte (interessante - nunca vi outra igual) e o braço"

 A guitarra parece interessante, né? Moderna, etc., mas a real é que era MUITO chata pra tocar. Tinha que ser em pé e aquele estabilizador do braço incomodava demais - parecia que tinha um outro cara tocando contigo! :)
Quando postei no finado fórum da revista Guitar Player Brasil, que havia desmontado toda a guitarra e jogado o corpo fora, meu amigo, luthier/jornalista/músico Jaques Molina queria me matar! KKKK
Na época ele estava num batalha para restaurar uma G-707 e adorava esse modelo. Cada um na sua, né? :)

         Gosto muito da pegada desse braço - é semelhante ao da minha tele 68, com poucos ombros, tipo um "C" mais profundo, quase "soft V". Não gosto do headstock invertido e é chato também porque na hora de afinar o cérebro inverte a ordem das tarraxas :)

E a ponte... Guardei também porque era muito interessante. Algo baseada na Kahler, mas um design único e que nunca mais foi utilizado pela Roland ou Ibanez. O inconveniente é que esse tremolo, assim como o Kahler, exige uma cavidade específica no corpo.

        Daí, no final do ano passado, decidido a reunir ponte e braço novamente e aproveitando as habilidades, disposição e excelentes preços do luthier Otto Schmidt Jr. de São Paulo, encomendei um corpo de marupá, estilo Cabronita, pra colocar as partes... Tive que enviar a ponte para o Otto medir e programar na CNC o padrão da cavidade, mas ficou perfeita. Mesmo de saco cheio de pintura, fiz um acabamento meio heavy relic (afinal, ela deve corresponder a uma guitarra de 1986... :) E a guitarra ficou ótima. Ainda utilizei um botão de volume original, que estava guardado "just in case" :)


         Captador Gretsch Filtertron original, levinha, braço ultra confortável, ponte... Bem, ponte rara e exclusiva, imagino :)



         Antes que perguntem por que optei pelo marupá para o corpo, respondo: em quase todas as teles que testei, o marupá tende a soar muito bem na posição da ponte. Tenho uma Telemaster com P90 que soa mais poderosa e nervosa que a própria Gibson LP Jr. Esse captador foi usado numa Cabronita de american sugar pine e com certeza soou melhor no marupá. O timbre é muito similar ao da minha Cabronita Fender de alder (caps Fidelitron), talvez com um pentelho a mais de graves.


PS: O Otto não tem site e/ou loja. Eu o encontrei no ML, onde ele vende os corpos que produz. Gente finíssima. Para acessar os produtos dele no ML, é só clicar no logo abaixo:
Link para o Mercado Livre




quarta-feira, 15 de março de 2017

Inclinação do Captador da Ponte... Mais uma vez :)

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)
 


         Agora no início de março a Fender lançou um documentário sobre os 30 anos da sua Custom Shop. Pra quem não viu ainda, é esse aqui:


         Michael Stevens e John Page foram os dois primeiros mestres em luthieria da CS, e embora eu já tenha mencionado que as guitarras John Page atuais são versões de certa forma "aprimoradas" da strato e da tele (e ambas com a inclinação invertida dos captadores da ponte), não pude deixar de perceber que a Telecaster Esquire feita pelo Michael Stevens para homenagear os 30 anos da Custom Shop também tem o captador da ponte invertido.

Michael Stevens e sua Esquire 30th Anniversary

 Ouça o teste da "telecaster" do John Page (Classic AJ) aqui:

         Bem, eu não sou luthier mas toco Telecaster há mais de 30 anos e sempre, desde o primeiro momento, me incomodei com o (leve, mas evidente) desequilíbrio entre as cordas agudas e graves (a história da quarta corda/D também soar inexplicavelmente mais fraca eu deixo pra depois).
Toda vez que olhava pro captador da ponte eu pensava: "acho que é só inverter o ângulo"...
Não sei porque demorei tanto pra fazer uma tele invertida, mas a primeira (vide post anterior) já soou exatamente como eu imaginava.

Telecaster de Timburi invertida.

O corpo de Telecaster de Timburi feito pelo meu amigo e luthier Eduardo Kaiser, da KAISER GUITARS, ficou perfeito (como sempre) e adorei o timbre do Timburi. Me parece uma excelente madeira para Teles e muito provavelmente, Stratos. Talvez a melhor até agora, na frente do cedro (bem, qualquer uma ganha dessa), marupá, tauari, mogno e freijó.

Amanhã devo receber outro corpo de telecaster do Kaiser, dessa vez de pinho, também com a inclinação invertida. Eu queria testar o pinho há tempos e sei que não deveria inverter o captador pra fazer um teste mais justo, mas essa inversão ficou tão legal que eu não quero perder a chance de matar dois coelhos com uma cajadada! :)

Inverti também o captador da ponte de uma Strato (HSS usando um escudo "Hendrix") excelente que eu tinha e tomei o cuidado de gravar um "antes e depois". No caso da strato não notei melhora - soou diferente, mas não melhor como na tele.



Nesse último pedido para a Kaiser Guitars, aproveitei e encomendei também um corpo de strato hardtail HSS (a cavidade humbucker é pra poder escolher/mudar a inclinação do captador single da ponte) e dessa vez a madeira é a "Garopa", com densidade próxima do alder... Vamos ver... :)

Aqui estão as duas:

http://www.kaiserguitars.com/

          A tele de pinho está com 2,3 kg e a strato de garopa com 1,8 kg. A regra geral é que o corpo não deve ter mais que 1,9 kg (under 4 pounds / 1,85 kg) pra guitarra ficar "leve", com peso total abaixo de 3,6 kg. Mas tá na boa - guitarra com menos de 3,4 kg, na minha experiência, tende a soar pior do que as com mais de 4 kg. Acredito que as melhores guitarras têm peso entre 3,4 e 4,4 kg.
... E meu "limite de carga" é 4,3 kg. Acima disso não dá pra tocar mais do que meia hora sem sentir dores nos ombros... :)




domingo, 22 de maio de 2016

SOLLO Amps - Mais Brazucas!

Oscar Isaka




Nos últimos anos temos presenciado uma verdadeira revolução no mercado nacional de instrumentos, e principalmente no nosso ramo das cordas. Tivemos empresas tradicionais se reformulando, hand-makers se profissionalizando, algumas surgindo e muitas novidades em praticamente todos os ramos, guitarras, amps, acessórios, pedais etc. Nessa empreitada toda conheci o pessoal da Sollo Amplificadores apresentados pelo meu amigo Frankly Andrade. Na época ele testou o Mini8, único amp da empresa até então, e entrevistou o Filipe, um dos sócios da Sollo para o seu canal do YouTube (Entrevista Parte 1 , Parte 2).


O Filipe então me contactou e conversamos um pouco a respeito dos amps e conceito da marca, até que acordamos de tentar que ele me enviasse um amp para testes. Nesse meio tempo eu acabei conhecendo também o Rafael, o outro sócio da Sollo. Eu acho muito interessante (pra não dizer indispensável) conversar com os idelizadores da empresa. Conhecendo muitas vezes a origem das idéias, propostas dos produtos e objetivos conseguimo entender melhor onde querem chegar e com isso estabelecer melhores expectativas sobre o nosso próprio objetivo e o que nós podemos extrair de um amplificador/guitarra/pedal. Foram alguns meses de conversas, mas eu tentei resumir os pontos que considerei principais em algumas perguntas num bate papo muito legal com eles.


A Empresa!

LPG: Primeiro de tudo muito obrigado pela presença aqui no blog e pelo tempo. Como começou a Sollo? Da onde veio a idéia, "Vamos fazer valvulados para guitarra"?

Sollo: Opa Oscar! É um grande prazer poder bater esse papo aqui contigo, nós que agradecemos a oportunidade. A Sollo começou de um sonho, um impulso... éramos engenheiros e na época já trabalhávamos com desenvolvimento de hardware de ponta, em uma empresa de rastreamento veicular chamada Autotrac. Na época a gente sabia muito de engenharia e quase nada de empreendedorismo, mas a essência do que viria a ser a Sollo já estava ali: a busca incessante pela qualidade, a busca por fazer as coisas direito (a Autotrac no ensinou muito nesse aspecto!).
 Com o tempo trabalhando juntos, nos tornamos grandes amigos, e nessa amizade a gente conversava muito sobre trabalhar com alguma coisa que a gente fosse apaixonado. Até que um dia o Renato me convidou pra abrir a Sollo. Eu, claro, topei na hora! (ia ser fantástico pertencer a uma empresa que estivesse envolvida com música \o/)
 Quem já abriu empresa sabe que o início é sempre muito difícil, a gente discordava de várias coisas... mas uma coisa sempre foi unânime na Sollo: a gente faria amplificadores de nível mundial. O nosso plano é (e já era na época) conquistar não só o guitarrista brasileiro mas também guitarristas pelo mundo todo.
 Hoje em dia, com a experiência que a gente tem, teríamos feito tudo com mais planejamento e cautela. Mas a verdade é que aquele ímpeto foi essencial para que o sonho não ficasse no papel para sempre.

LPG: Em nossas conversas iniciais me chamou atenção o fato do Solo Mini8 não ter sido "baseado" em algum outro amp já existente. Isso é relativamente incomum num mercado que há mais de 60 anos tem muito de re-leituras e pouco inovações. Pode falar um pouco sobre isso? Como a Sollo foi pensada no quesito mercado sendo que temos alguns outros nacionais já consagrados até como Pedrone e etc? Como competir com tanta qualidade num mercado bastante saturado?


Sollo: O nosso plano nunca foi competir por um espaço já ocupado pelos players que estão no mercado há tanto tempo... por isso sempre nos posicionamos em um lugar de mercado diferente do “hand-maker”. Os grandes nomes já conquistaram um espaço próprio no mercado e fizeram um ótimo trabalho para estar lá, não vimos sentido em tentar lutar por esse espaço com competidores que já estão há décadas se especializando em amplificadores hand-mades.

 A gente resolveu ir por um caminho que tivesse mais a ver com a gente mesmo, com o nosso DNA enquanto pessoas e enquanto empresa. É importante entender aqui que lá no fundo da gente residem nerds de laboratório que adoram calcular correntes e tensões em circuitos elétricos, hehehe. Desenvolver projetos próprios era o nosso sonho na Universidade de engenharia (o Renato é formado em Engenharia Elétrica pela UnB e eu sou formado em Engenharia Mecatrônica e com mestrado em Sistemas Mecatrônicos, também pela UnB). Surgiu naturalmente a vontade de criar amplificadores do nosso jeito, com o nosso timbre e com os recursos que achamos essências.
 Não pensamos nas outras marcas como competidores, na nossa visão tem espaço para todo mundo se você souber se diferenciar. O lugar que a Sollo busca é de qualidade de nível mundial mas com personalidade brasileira. Nessa ideia, não só o nosso produto precisar ser de altíssima qualidade como nosso atendimento tem que ser eficiente e ao mesmo tempo ter o tempero brasuca: irreverente, caloroso e prestativo.
 Isso é um ponto importantíssimo para entender a Sollo, a qualidade dos nossos produtos é importantíssima, mas não é tudo. Nos preocupamos muito com a experiência do nosso cliente, antes, durante e depois da compra.

LPG: Falando dos amps, eu tive a chance de testar o Mini8 e o Mini50 e de cara percebe-se que as diferenças vão além da potência. São amplificadores com sonoridade distintas porém ambos tem um viés moderno onde os timbres limpos são cristalinos e realmente limpos e o canal de drive fala bem mesmo com ganho médio pra alto. Poderia falar um pouco do conceito de ambos e como foi o processo de "CHEGAMOS, é ESSE SOM"?

Sollo: Cara, excelente pergunta! (e bem difícil de responder, hehehehe)
 Vou começar pelo processo de “CHEGAMOS, é ESSE SOM”. O timbre em é muito uma questão de senso estético e referências de cada um, não existe timbre certo ou errado. Sabemos o som que queremos e vamos atrás de esculpir o circuito até chegar lá. Por isso é tão importante o fato de termos um músico-engenheiro como projetista: você precisa saber onde quer chegar (músico) e como chegar lá (engenheiro).
 Quando o projeto toma forma, vamos para o palco testar ele na mix com a banda. Aí entramos em uma fase de ajustes com muitas idas e vindas. É um processo de tentativa erro que pode levar de 1 mês a 100 meses. Só finalizamos o projeto quando ficamos 100% satisfeitos com o resultado.
Agora vamos aos amps: acho que você mesmo definiu muito bem a estética geral dos nosso amps: canais limpos e cristalinos e drive moderno com definição mesmo em alto ganho.
O Mini8 foi o nossos primeiro projeto, e nasceu para ser nosso “pequeno e abusado”. O Mini8 nasceu para quebrar algumas ideias consolidadas no mercado: amplificador pequeno não tem alto ganho, não tem loop de efeitos, só tem um canal, equalização só por tone... Porque tem que ser assim?

A gente tinha a expertise necessária para fazer um amp que contrariasse esses pontos e decidimos encarar o desafio. Aí nasceu o Mini8, um amp MUITO compacto e leve mas com um timbre absurdo e recheado de recursos que consideramos essenciais: 2 canais, loop de efeitos e equalização em 3 faixas. Uma característica importante do Mini8 é que ele é Single Ended (Classe A), o que traz uma característica bem interessante: um timbre mais macio (mesmo no alto ganho). Isso já explica parte da diferença que existe entre o Mini8 e os outros dois: Mini20 e Mini50.
Os mais recentes Mini20 e Mini50 nasceram juntos. Eles mantiveram a identidade de timbre da Sollo, mas foram além: com 4 válvulas no pré ao invés de 2 a gente teve novas possibilidades: mais grave, mais ganho e mais controles (principalmente a equalização no canal limpo). Além disso, a topologia do power mudou também para push-pull (Classe AB), o que deu a esses amps uma característica ainda mais rock’n’roll. São amplificadores mais encorpados e mais “nervosos”, com um timbre único.


A principal diferença entre os amps são:
- Os Mini20 e Mini50 tem equalização no canal limpo, o Mini8 não;
- O timbre do Mini8 é mais macio (com uma pitada de blues) enquanto o Mini20 e Mini50 tem um timbre mais pesado;
- O Mini20 e o Mini50 tem mais presença de graves e bem mais recursos (saída de linha, boost de volume e redutor de potência).




LPG: Futuro? O que podemos esperar ainda da Solo nos próximos meses?

Sollo: Novidades! E prometo que vão ser novidades bombásticas, hehehehehe.
Estamos com dois projetos em fase final. Um é o já anunciado amplificador assinatura do Marcelo Barbosa (que, como todo mundo sabe, toca no Angra e no Almah atualmente), que vai ser um amplificador com a cara dele: 100W de potência, 2 canais e um timbre pesado. Vai ser o amplificador perfeito pra quem curte rock progressivo e metal.
O outro é um amplificador que tem como foco principal o timbre (a qualquer custo). Vai ser o primeiro amplificador que vamos fazer nessa linha, sem que estejamos concentrados no tamanho, peso, custo ou potência, mas sim focando no timbre.



Foi um grande prazer poder participar dessa entrevista com você Oscar! Espero que as perguntas tenham sido respondidas direitinho =D


Os Amps!



O Mini8 foi o primeiro que liguei. Ele vem numa bag muito bacana e o tamanho e peso impressionam. Bem pequeno e leve e com a bag e todos os acessórios( Cabo Speaker, Foot) é realmente fácil de levar pra qualquer lugar. Usei o falante Celestion V-Type do meu Deluxe Reverb ao invés do gabinete da Sollo por questòes de logístisca, mas a resposta do V-Type não vai fugir muito do Eminence GB128 que acompanha a CX 1x12 fornecida pela empresa, já que ambos são de DNA Greenback. O canal clean tem só o botão de Volume e logo no primeiro acorde já da pra notar a voz do circuito com um bonito brilho e faixa de médios que lembra o clean do famoso Hotrod Deluxe da Fender. Claro que um amp de 8W com uma 12AX7 no power não vai produzir graves extensos e profundos como uma valvula pentodo tradicional como uma 6L6 mas achei a resposta do amp equilibrada. É um clean clássico bem plug'n play e é uma pena a falta de uma EQ complete de graves médios e agudos tenha sido preterida em função do tamanho do amp, que era realmente o foco do projeto.

Fica claro que o foco principal do Mini8 é no canal de drive, este sim comportando a EQ de tres bandas tradicional. Sempre testo canais de drive com ganho perto de zero e vou timbrando e aumentando gradativamente pra entender bem os estágios. Fica claro que o Mini8 não foi pensado pra uso em baixo ganho pois o volume e o timbre ficam meio magros nessas configurações mais brandas. No entanto a medida que o ganho passa de 11-12 horas a coisa muda e o amp encorpa bastante e adquire uma característica mais britânica tradicional sem ser ríspido. Com uma LesPaul e o ganho perto de 2hrs deu pra chegar em sonoridades HardRock muito bonitas. O Loop de efeitos e efetivo e transparente deixando o DD-7 sonado bem e sem mudar o timbre. Da pra passer horas brincado com o Mini8 nessa configuração e com a grande vantagem do não precisar atrapalhar ninguém na casa. 8W sào mais altos do que vc possa imaginar, mas o amp timbre bem a volumes bem razoáveis para estudas depois das 22:00hrs tranquilamente sem o famoso "Abaixo isso P***" .




O Mini50 já tem outra pegada e com um par de EL34 empurrando 50W em push-pull tudo muda. Aqui ambos os canais tem EQ completa além de uma função Boost separada e acionável pelo Foot. O Mini50 ainda tem um Line-Out com volume independente direto do Pre-Amp para gravação ou mesmo ligação direta pra mesa. Vale ressaltar que essa função não tem emulação de falante embutida e nem o load nescessário para evitar danos nos trafos de saída caso não se tenha falantes conectados. Mesmo assim tal saída é útil caso você possua uma DI Box específica para guitarra com simulação de gabinete para mandar o som para a mesa sem precisar depender do microfone no amp. A chave de redução de potência conta com 3 nívels, 5W, 20W e 50W e funciona relativamente bem sem alterar muito o timbre do amp e o loop também provou ser bem transparente dentro do que eu pude testar com o mesmo DD-7 do teste do Mini8.


O canal clean mostra logo de cara a que veio com um timbre bem na praia dos monstros modernos como MESA BOOGIE com uma dose cavalar de graves, médios mais "scooped" e agudos bem cristalinos . É um som bem limpo mesmo e com bastante "headroom", ideal pra guitarras com captadores bem encorpados e ativos por exemplo que já tem muito médio por natureza, deixando dedilhados e arpejos muito definidos. Com um ajuste de EQ eu consegui fazer minha Strato soar muito gorda e definida e com um toque de drive (Um TS808 por exemplo) se conseguem bons sons low gain, apesar de claramente não ser essa vocaçào do Mini50. O canal drive invoca a modernidade Americana clássica com um drive brutal e bastante agressivo. Não é a toa que guitarristas como Marcelo  Barbosa (Angra, Almah) gostaram tanto do timbre dos Sollo! Diferente do Mini8 flerta com os sons britânicos classicos, a versào 50W é pura agressão e ronco. O grave é presence mas bem apertado, médios e agudos bem agressivos sem soar magros fazem do amp uma bela plataforma de estilos de Rock mais pesados deixando mais uma vez bem escancarada a proposta de sonoridade mais moderna da empresa.

domingo, 13 de março de 2016

Status Quo e a Telecaster


Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)

 



      Eu estava coletando material para um post sobre padronização de pontes de strato e principalmente o espaçamento entre as cordas, mas comecei a assistir o documentário "Hello Quo" da BBC e o meu TOC destrambelhou total. Passei longas horas colocando subtítulos em português no documentário. Que trabalhão... Por que? Bem, primeiro porque o Status Quo foi uma das bandas que mais me influenciou na adolescência, segundo porque é imensamente subestimada nas américas e terceiro porque eles talvez sejam a principal razão de eu ter me apaixonado por Telecasters, logo depois do Keith Richards e do Wilko Johnson (Dr. Feelgood).

E, por último, coloquei subtítulos porque quero retribuir um pouco. Assim fica mais fácil para os brasileiros conhecerem a banda.

Obs: Já fiz um vídeo com alguns dos melhores e mais famosos timbres de telecaster que conheço e foi postado aqui no blog,mas vai um repeteco:

"O Som da Telecaster"



         Esse é mais um post quase pessoal, mas pra quem gosta dessa banda e rock básico, vai ser interessante. Deve ficar no máximo 10 dias no ar. O Oscar e o Chico fizeram uma excelente demo do amp Pedrone Overdone que será postada em seguida.

Meu primeiro disco do Status Quo foi o "Hello", de 1973, que devo ter comprado em 1975 ou 76. "Caroline" eu ouvi até gastar o vinil. Tirava tudo de ouvido naquela época. Assim como os Stones, eles também usavam afinações abertas e a gente nem sabia o que era isso.
"Down Down" do disco "On The Level" é em sol aberto com capo na quarta casa, mas isso eu só descobri depois da internet...

Francis Rossi e Rick Parfitt sempre usaram telecasters. A branca do Rick Parfitt me deixava maluco. A primeira guitarra que tive foi, portanto, uma telecaster branca. Infelizmente, uma nacional, da marca FINCH, que não afinava, tinha o braço desalinhado com o corpo e o pior: sem aterramento na ponte (fizeram o captador da ponte sem base de metal, então deveriam ter aterrado a ponte - coisa de brasileiro que nem copiar sabe). Ruído insuportável. Pior guitarra que já tive na vida.

Na época, eu não tinha a mínima ideia de como resolver esses problemas e era impossível tocar com ela. Daí tive que me virar com uma Giannini SG preta, que também era uma dureza pra tirar som. Por isso que eu às vezes fico p da cara com esse pessoal que venera o vinil e essas guitarras brasileiras "vintage", feitas à facão nos anos 60 e 70. Gostam porque nunca tiveram que depender delas ou ouvir música com estalos, chiado de fundo e agulha pulando. Pouquíssimas guitarras eram boas e o vinil...putz! Fita (de rolo) é interessante e as bem gravadas são fantásticas, mas vinil não, pelamordedeus.

     A telecaster do Rick Parfitt é de 1965 e a do Rossi, quase certo que é de 1959  (se não, 57). Pra ser mais prático, coloquei subtítulos também num vídeo recente onde eles falam sobre elas:



         Ambas têm corpo de ash e modificações nas pontes que eu jamais faria. A do Rick Parfitt não deveria afinar bem as oitavas, pois ele colocou um stop tail no lugar da ponte/saddles, mas seu técnico de guitarra diz ele teve sorte e ela afina bem. Fico pensando também na questão da curvatura, pois o raio do braço é de 7.25 polegadas e do stop tail deve ser 12, se for Gibson... Mas ele diz que é uma maravilha e tudo bem... :)

Outro detalhe interessante é que Parfitt usa cordas .14!! Pesada! Rossi usa .09. Ambos usam amps Marshall JCM 800 sempre junto com um Vox AC30.



        A telecaster verde do Francis Rossi foi definitivamente aposentada em 2014. Como vemos no vídeo, ele diz que sempre teve uma relação de "amor e ódio" com ela. Não entende porque a sexta corda às vezes desafina sem causa aparente e não a utiliza para gravações há mais de 25 anos. Mas continuou utilizando-a nos palcos porque sente-se "inseguro" sem ela. Afinal, é sua marca registrada :)

         O Status Quo vendeu mais de 128 milhões de discos porém é solenemente ignorado fora da Europa. A maioria dos críticos cai de pau neles, mas o legal é que eles se divertem com isso. Lançaram até um disco com o título "À procura do Quarto Acorde". KKK!

         O documentário "Hello Quo", foi lançado em 2012. Conta a história da banda, com entrevistas, etc. Acho difícil ser lançado no Brasil, por isso achei necessário fazer a tradução. É um pouco longo pra quem não é fã rasgado, então eu cortei a parte "Coronation Street" e acrescentei uma música, no final, do show de 2013 da tour de reunião dos membros originais. Hello Quo:

"HELLO QUO"
OBS: em fevereiro  de 2018, recebi um comunicado (na verdade uma advertência**) do YouTube dizendo que o vídeo "HELLO QUO" foi retirado do ar por infringir direitos autorais. PQP - fiz o favor de traduzir o documentário para a língua portuguesa pois ele não foi (e acho que nem será) lançado aqui. Perderam (mais) uma oportunidade de divulgar a obra do Status Quo no Brasil... Até entenderia se fosse o vídeo anterior, do show de 1989, mas um documentário? Bah!

** Hi Paulo May:
Due to a copyright takedown notice that we received, we had to take down your video from YouTube: 
Video title: Hello Quo (portuguese subtitles)
Video url: http://www.youtube.com/watch?v=Lc0yafPqLT4
Takedown issued by: LeakID
This means that your video can no longer be played on YouTube. 
You received a copyright strike
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Também subtitulei esse documentário sobre a gravação do projeto acústico da banda. "Aquoustic":



    Bem.. Parece que a minha obrigação de fã brasileiro foi cumprida. Perdoem-me os fritadores e roqueiros refinados, mas adoro rock de 3 acordes! :)


terça-feira, 23 de junho de 2015

1971: Rolling Stones, Deep Purple e Led Zeppelin

PauloMay

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


Portão de entrada da Villa Nellcote, no sul da França, onde os Stones gravaram o Exille On Main Street.
   
         Em 1971 eu tinha 10 anos e não consigo me lembrar se alguma coisa diferente aconteceu nesse período. De fato, aconteceu não aqui no Brasil, mas na Europa (França, Suíça e Inglaterra): 3 discos que hoje são clássicos absolutos, venerados por roqueiros de todas as idades, foram gravados nesse ano.
O que havia em comum entre eles? Todos foram gravados com a "Unidade Móvel de Gravação dos Rolling Stones", um caminhão adaptado para conter um estúdio - top de linha na época.
 

Por volta de 1974/75, já entrando na adolescência, comprei esse 3 discos e até hoje os ouço com prazer, deslumbre e devoção. São eles:


        Alguma dúvida? Gravações lendárias, quase mágicas. Nenhuma feita em estúdio profissional. Todas de 1971, todas cercadas de mistérios e coincidências... Esses álbuns são referências, agora eternas, do rock clássico de extrema qualidade.

Sou fã de carteirinha dos Stones e o álbum "Exille" (com Sticky Fingers um pentelho atrás) sempre foi o meu preferido. Nesse disco (duplo), os Rolling Stones estão no auge, traduzindo à sua maneira, sem compromisso, as influências rock, blues, country e soul. Vários fatores, alguns fortuitos e outros nem tanto, contribuíram para a brutal honestidade e pureza desse disco. Não vou enumerá-los aqui pra não encher o saco do leitor que não é tão chegado nos Stones, mas um dos principais fatores foi a maneira e o local onde o disco foi gravado.

        Em 1971 os Stones abandonaram a Inglaterra para fugir dos absurdos impostos britânicos. Como tinham que gravar um disco e Keith Richards havia alugado uma antiga mansão chamada Villa Nellcote (em Villefranche-sur-Mer, no sul da França), optaram por gravá-lo lá.

Obs: Recentemente descobri que meu cunhado nasceu em Nice (bem perto de Villefranche) e viveu esse período na região. Ele me falou do clima, cultura e peculiaridades dessa parte do sul da França, refúgio de artistas, famosos e milionários há décadas... Tudo MUITO interessante.

Nellcote

         Sticky Fingers já havia sido parcialmente gravado, com sucesso, na casa de campo de Mick Jagger (Stargroves) na Inglaterra, utilizando a unidade móvel da banda. Aliás, muita gente gravou na mansão de Jagger naquele período: Who, Faces, Led Zeppelin (Houses Of The Holy, ppte), etc. Segundo o famoso engenheiro de áudio Eddie Kramer, o ambiente em Stargroves era maravilhoso e a acústica natural, fantástica.

 Stargroves (Inglaterra)


 Stargroves

 Fácil, fácil perder o foco aqui :) Eu estava em 1971, na França... Mas antes de ir para Nellcote, o caminhão dos Stones foi gravar o Led Zeppelin IV em outra casa antiga (1795) da Inglaterra, Headley Grange:

Headley Grange (Led Zeppelin III e IV)

O famoso som de bateria do John Bonham nasceu lá e foi gravado com 3 (talvez 2) microfones por Andy Johns perto daquela escadaria da foto. Em Headley Grange foram gravados o Led Zeppelin III e IV. Page, conhecido como "Led Wallet" estava economizando e não quis alugar Stargroves nessa época - Headley era mais barata... :)

Stairway To Heaven: Jimmy Page visita Headley Grange e a famosa escadaria.

        Finalmente voltamos para Nellcote, uma antiga mansão à beira de um penhasco, construída em 1890 por um banqueiro americano e quartel general da Gestapo durante a ocupação francesa na segunda guerra mundial. O local escolhido para gravar foi o porão (em 1971 ainda havia suásticas pintadas nas paredes), úmido e quase insuportavelmente quente (ouça "Ventilator Blues" pra ter uma ideia). O caminhão (ligado clandestinamente à rede elétrica) ficava do lado de fora e os cabos desciam até o porão:


         Para fãs dos Rolling Stones como eu, Nellcote (atualmente propriedade de um milionário russo) é um monumento, um ícone. Não apenas pelos Stones - ela representa um período no tempo que provavelmente nunca mais vai se repetir em termos musicais e culturais.
Já li vários livros, reportagens e artigos sobre a época, onde o conceito "Sex, Drugs and Rock and Roll" aplica-se literalmente. 1971 estava na ressaca do movimento hippie/flower power, expurgado pelos próprios Stones em Altamont.
As drogas, cada vez mais pesadas, já haviam levado Hendrix, Joplin e Morrison (sem falar no Brian Jones). Especificamente, a heroína, da qual Keith tanto dependia (para compor inclusive) era obtida de várias formas, inicialmente através do "personal drug dealer" de Keith, Tony Sanchez, depois com os próprios traficantes da região.

AS GUITARRAS DE NELLCOTE

...E foram esses traficantes que provavelmente roubaram os 11 instrumentos que estavam em Nellcote. Imagine que facilidade: todo mundo drogado, os caras já frequentavam a casa... Era só entrar e pegar. Entre as famosas "Guitarras de Nellcote" estavam: Dan Armstrong de plexiglass, Gibson ES-355 de 1959, Gibson Flying V (58?), Gibson ES-330, Les Paul Custom 1959, Les Paul Bigsby 1959, 2 Gibson Hummingbirds and um Fender Jazz Bass. Um saxofone preto do Bobby Keys também foi roubado. Até hoje ninguém sabe com certeza quais guitarras foram roubadas e quais foram recuperadas algum tempo depois. Numa entrevista recente Keith diz que pegaram o "cara" e ele recuperou a maioria delas.
Dá pra ver algumas nessas fotos:


         Ainda se discute qual Les Paul 59 foi roubada - se a de Mick Taylor (aquela famosa com Bigsby que foi comprada do próprio Keith Richards) ou uma outra 59 que acabou caindo nas mãos de Taylor de qualquer forma. Essa segunda eu não acredito que seja porque há algumas fotos de Keith fazendo overdubs de Exille em Los Angeles com ela. Um flame bem evidente e característico ("Claw/garra") na região central superior, entre os dois captadores, a identifica:


         Conhecida como "The Claw" (existe outra The Claw famosa, SN 9-1953, que pertenceu a Tom Wittrock). Foi mais tocada por Keith Richards, mas acabou ficando com Mick Taylor. Aparentemente, ele a vendeu em Londres no início dos anos 80, provavelmente em 1982.
Atualmente é mais conhecida como "Exile Burst", mas é bom lembrar que ela provavelmente não foi roubada, embora tenha sido de fato usada nas sessões de Exile.
Abaixo, um vídeo da Exile Burst/The Claw em 2014, tocada por Phil Harris (colecionador, guitarrista, mas não o dono dela):

Exile Burst / The Claw em 2014


A Les Paul 59 com Bigsby, bem mais famosa, foi tocada por Keith, Taylor, Clapton e Page:
A KEITHBURST:

 Les Paul 59 com Bigsby: "KEITHBURST"

          Keith Richards comprou-a em 1962 ou 1963. Originalmente, foi comprada em 1961 na Farmers Music Store em Luton, no Reino Unido, por John Bowen  (guitarista da banda Mike Dean and the Kinsman). Em algum momento, Bowen instalou um vibrato  Bigsby (Selmer's Guitar Shop em Londres). Pouco depois, no final de 1962, ele trocou a Les Paul na Selmer's por uma Gretsch Country Gentleman.

Keith Richards a comprou lá, provavelmente em 1963. Ele a utilizou na maioria das gravações do período, inclusive em Satisfaction. Em 1967 Keith vendeu-a para Mick Taylor, que entrara no lugar de Peter Green (outro com burst famosa) na John Mayall & The Bluesbreakers. Pra quem já percebeu, John Mayall é referência indireta quando falamos de Les Paul clássica... Foram guitarristas de sua banda, em sequência: Eric Clapton (Les Paul Beano), Peter Green (Les Paul Grennie) e Mick Taylor (Les Paul Keithburst).

A Les Paul Bigsby acabou voltando de certa forma para Keith quando Mick Taylor passou a fazer parte dos Rolling Stones em 1969. Daí começa a saga da Keithburst: segundo alguns, ela foi roubada em 1971 durante um show no Marquee Club em Londres, ou, segundo outros, em Nellcote, na França. Independente disso, a keithburst reapareceu em 1972 nas mãos do guitarrista da banda The Heavy Metal Kids, Cosmo Verrico (ele relata que a recebeu de um representante dos Stones, via gravadora/Atlantic, após ter sua própria guitarra roubada... estranho).

Verrico a vendeu em 1974 para Bernie Marsden do (futuro) Whitesnake. Bernie a vendeu novamente (com um lucro de 50 libras...), apenas uma semana depois, para o colecionador/guitarrista Mike Jopp. Mike Jopp vendeu-a num leilão da Christie's em 2003. Em 2005/2006, foi vendida novamente, para um colecionador privado europeu (quem seria?) por, acredita-se, um milhão de dólares!! Foto recente (2005?) da Keithburst:

 Les Paul 59 com Bigsby: "KEITHBURST"


DEEP PURPLE:

          Bem, voltando à nossa unidade móvel de gravação... Assim que as gravações encerraram-se em Nellcote (ppte porque Richards estava pendurado com a polícia francesa e foi para os EUA), o caminhão partiu para Montreaux, na Suíça. Missão: gravar o novo disco do Deep Purple, Machine Head.

A história de Machine Head e Smoke On The Water acho que todo mundo sabe: Frank Zappa, o incêndio, a opção final de gravar (em apenas 3 semanas) num hotel que estava fechado, etc.

Quase o mesmo padrão dos Stones: caminhão do lado de fora e um estúdio improvisado dentro do Grand Hotel.



esq: RS Mobile Unit do lado de fora do Grand Hotel, Montreaux.


Deep Purple - Suíça, 1971

1971 - Que ano!! :)


PS: (20/11/2016) - E não é que saiu um livro sobre 1971?  :)
Em 7 de abril de 2016 houve a primeira publicação do livro " Never a Dull Moment: 1971 The Year That Rock Exploded", do jornalista inglês David Hepworth.

http://neveradullmoment1971.com/


Não li ainda, mas vou, com certeza! :)





domingo, 22 de março de 2015

GUITAR SHOW BH

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


          Com MUITO atraso estamos publicando o post sobre o evento que ocorreu em Belo Horizonte no dia 13 de dezembro de 2014...



Embora sejam comuns nos EUA, eventos desse tipo são raros aqui no Brasil. Exposição de guitarras raras, interessantes e vintage com encontros para discutir as peculiaridades de cada uma... Êta coisa divertida - só falta cerveja e nem precisa de mulher!! KKK!






        A exposição foi criada/patrocinada pela Beggiato Instrumentos Musicais e teve como expositores ilustres o nosso grande amigo (que já foi assunto nesse blog - CLIQUE) Tiago Castro e Felipe Nacif.

Ambos possuem vasto conhecimento sobre guitarras e afins e durante a exposição fizeram palestras sobre diversos e interessantes assuntos mas principalmente sobre suas guitarras em exposição.




















Para nossa sorte, alguém filmou as palestras do Felipe e Tiago e postou no YouTube. São 6 vídeos onde história, detalhes, curiosidades e, o mais importante, "informações pessoais, privilegiadas", sem nenhum viés de interesse comercial são divididas com o público.




Guitarras Fender e Gibson vintage originais, obras de arte modernas como a Zemaitis (que por sinal foi colocada à venda recentemente pelo Tiago - contato: stoneagemusica@hotmail.com ) e Suhr, uma Les Paul do já lendário israelense Gil Yaron, Bill Collings, enfim, só coisa de primeira.
Recomendamos que assistam os vídeos na sequência - muito, muito legal! :)