quinta-feira, 23 de junho de 2011

A Les Paul que não era Les Paul: "Slash 1959 Derrig 9 0607"

Devido à queda nas vendas, no final de 1960 a Gibson decidiu não produzir mais o modelo Les Paul. Criou a SG, uma guitarra mais simples e fácil de construir, para substituí-la. Em meados dos anos 60, o inglês Eric Clapton (ppte no disco "Beano" dos Bluesbrakers) chamou novamente a atenção para ela e a Gibson reiniciou a produção em 68 (inicialmente igual à original, mas que foi piorando/degenerando com o tempo). Porém, antes que todo mundo percebesse, Jimi Hendrix apareceu com uma Stratocaster e a LP voltou para o limbo.

A década de 80 nasceu marcada por um guitarrista - Eddie Van Halen e uma guitarra - a Frankenstein. Todos e todas queriam ser como eles, e marcas como Ibanez, Kramer, Jackson estavam batendo feio na Gibson e Fender.
Mas o destino ainda tinha uma carta na manga para a Les Paul em 1987: Slash e o disco "Apettite For Destruction" do Guns n' Roses!

Era impossível ignorar aquela fantástica e reluzente Les Paul sunburst nos clipes da banda. De uma hora para outra, todo mundo queria uma guitarra igual a do Slash.
No headstock havia um "Gibson" e ela claramente era idêntica a uma original de 1959. Então, Slash e sua Les Paul sunburst 1959 iniciaram o renascimento dessa obra de arte. De uma hora para outra, as LP com acabamento sunburst (58, 59 e 60) quadruplicaram de preço. Em 1983 toquei numa 58 que valia cerca de 4.000 dólares (no Brasil). Depois de 1990, não se comprava uma dessas por menos de US$ 20.000.

A Gibson deve muito ao Slash e certamente na época foi uma das primeiras a perceber que aquela "59 Burst" era na verdade, uma cópia. Segundo consta nos livros, Slash não estava satisfeito com suas guitarras durante a gravação e o manager Alan Niven conseguiu uma réplica da 59 do Joe Perry feita pelo luthier (e cabeleleiro e fissurado por carros) Robert Kristin Derrig (1954-1987):


Os captadores eram Seymour Duncan Alnico II e foram usados por Kris porque eram os únicos disponíveis no momento na LA MusicWorks, onde ele trabalhava (e morava num trailler no estacionamento).
Antes dessa, Slash teve outra réplica, a "Hunter Burst", feita pelo não menos famoso, controverso e ainda vivo Peter "Max" Baranet (numa foto mais recente, com Slash):


Essa questão "underground" das réplicas das burst é destrinchada no livro "Million Dollar Les Paul". Hoje em dia com Les Pauls 59 valendo até mais de US$ 500.000, falsificar essas guitarras virou um grande negócio.
Mas a verdade é que a Les Paul 59 que trouxe a Gibson de volta para o centro do palco era, ironicamente, uma réplica. Até hoje, Slash só grava com ela:


A Gibson tentou várias vezes criar uma "Slash Signature" mas, orgulhosa como sempre, só no ano passado decidiu fazer uma "réplica da réplica" e lançou a LP "Apettite". É pra rir mesmo... :)
E Slash era chegado numa réplica. Aqui as suas 3 principais. Da esquerda para direita: Derrig 59 (adquirida em 1996 - braço trocado) Derrig 9 0607 (a do disco AFD) e uma 1960 MAX (Baranet)



Kris Derrig faleceu em 1987 (aparentemente, de leucemia) e não pode aproveitar a fama. Ele era fã dos Allman Brothers e em especial da "tobacco burst" do Duane. Suas réplicas foram todas baseadas na tobacco burst 59 do Joe Perry, que ele teve contato.
Por falar nela, Joe Perry a vendeu baratinho no início dos anos 80 porque estava falido. Ela passou por vários guitarristas, inclusive Eric Jonhson. Slash comprou-a no final dos anos 80 e acabou devolvendo-a para Joe.

Achei esse post (The Les Paul Forum) de um cara que já possuiu a guitarra. Muito interessante:

"Joe bought 9 0663 at George Gruhns in the mid 70's. Aerosmith sound engineer Nitebob and guitar tech Neil Thompson were with him at the time. I think Joe paid about $2,000.00 for it. I bought it off NMCINC at his shop in '81. Neil was repairing at NMCINC's shop and he told me that the wear mark was there before Joe had it. Nitebob, who I met a few years later at a session I was playing on that he was producing, told me the same thing. The wear mark was already there. BTW, I had the guitar with me at the session. Joe and his wife Billy came to a gig of my bands, and again I had the guitar, "yeah my rings did that". A little Billy Gibbons/show biz reality stretch. That mark looked many years old! It took a lot longer to make that than the time 4-5 years Joe had it. I was trying to sell it and I offered it back to him for the same amount ($4300) as I paid. But he wasn't interested and Aerosmiths big comeback hadn't happened yet, so money was still tight. I sold it in March of '87 in a trade deal. It took me 2.5 years to get rid of it. Within a week it had passed thru 2 dealers into Eric Johnsons possession thru Alan Wills. It was sold a short time after that because Eric didn't like it. Forum member Mr. Beano ended up with it for a few years. After MrBeano sold it, it went to Slash and finally full circle back to Joe."

Vou colocar a foto da Joe Perry 59 (do livro "The Beauty Of The Burst") só pra gente ver uma de verdade... :)


O assunto é muito amplo e o submundo das réplicas mais ainda. Recomendo o livro "Million Dollar Les Paul" e a própria internet para quem deseja aprofundar-se.

PS: Parece que o Slash não gosta de falar muito sobre sua Derrig 87/59, mas aqui ele entrega o jogo:

domingo, 19 de junho de 2011

JR Guitar Parts

Eu sabia! :)
Quando conheci o Oscar Isaka Júnior, em pouco tempo percebi que havia finalmente encontrado alguém mais fanático por guitarras e afins do que eu! Hahahá!
Além de ser um cara excepcional, ele tem excelente bom gosto para timbres. Refinado, amplo e criterioso. 

Quando o Sérgio Rosar se dispôs a desenvolver um single baseado no Fender Custom Shop 54 e um humbucker tipo "PAF", baseado no Jim Rolph 58, não tive dúvidas: o Júnior era o cara ideal para fazer um double check nos testes.
Juntos, desenvolvemos com o Sérgio os single "Fullerton" e os humbuckers "Mojo".
Em breve postarei toda essa história, mas o post agora é pra anunciar que o Jr., de tanto lidar com captadores, resolveu criar uma loja virtual, preenchendo um vácuo no mercado brasileiro:
A JR Guitar Parts (clique no logo para uma visita):


A princípio, a JR Guitar Parts venderá apenas captadores Sérgio Rosar (terá exclusividade esse ano nos Fullertons e Mojos) e geralmente a preços mais acessíveis que os de loja. Com o tempo, outros fabricantes e peças e componentes de guitarra.
 Quando o Jr. me falou que pretendia montar essa loja virtual, achei que ele ia acabar incomodando-se, mas eu é que tenho aversão a negócios... :) Afinal, vai trabalhar com o que gosta e tem paixão - nada mais divertido e compensador!
O Jr. sabe tudo e mais um pouco sobre captadores (os Rosar, então, nem se fala): quais, como e em qual guitarra usar, estilos, variações, comparações... Enfim, até agora nenhuma loja fornecia tal qualidade de suporte e informação.
O site entrou no ar essa semana e ainda está parcialmente em construção. Detalhes mais específicos dos captadores, demos, etc. virão em breve.

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COMUNICADO 20/10/2013:

"Por absoluta falta de tempo e dificuldades para administrar de forma produtiva a loja virtual, a JR Guitar Parts encerrou suas atividades no segundo trimestre de 2013".

sábado, 4 de junho de 2011

Cort KX Custom - Ser ou não ser, eis a questão...

            Essa é a minha Cort KX Custom, excelente guitarra da Cort, de mogno com top (escavado) de maple, braço colado de maple, captadores Seymour Duncan JB/59, tarraxas com trava, ponte Tone Pros, enfim, uma guitarra com specs que me chamaram a atenção quando estava procurando uma com madeiras próximas da Les Paul. Comprei-a no início de 2009, por pouco menos de 2.000 reais.
Especificações direto do site da Cort:

  • CONSTRUCTION: Set-in
  • BODY: Mahogany with flame maple veneer & solid maple top
  • NECK: Maple, 3pc Modern "C" Shape
  • BINDING: Natural
  • FRETBOARD: Rosewood, 12" Radius(305mm)
  • FRETS: 24 / Large (2.7mm)
  • SCALE: 25 1/2" (648mm)
  • INLAY: V shape grey pearl
  • TUNERS: Locking
  • BRIDGE: Tone Pros Lic. Locking bridge (CAVR) with string-through body
  • PICKUPS: Seymour Duncan SH1('59) & SH4(JB) (H-H)
  • ELECTRONICS: 1 volume, 1 tone (w/push pull), 3way toggle
  • HARDWARE: Black Nickel
  • STRINGS: D'Addario USA
Link para a página da Cort (aproveite e assista o vídeo):
 Cort KX custom - site
Video Oficial Cort KX Custom

Pra quem tá curioso com o som original dela (com os Seymour) seguem dois vídeos que selecionei do you tube, um blues com o 59 e um solo com o JB:





           De 1978 até 2008, 30 anos portanto, evitei as Les Paul - provavelmente porque as que eu ouvi nos anos 80 e 90 não me impressionaram. Mas foi só começar a estudar e pesquisar (e ouvir) mais atentamente pra perceber que a Les Paul é... Bem, essencial! :)
Tinha uma certa bronca com o braço gordo e o timbre do captador do braço, mas eram impressões primárias que não foram bem avaliadas. De fato, a arrogância, presunção, além do fabuloso timbre das minhas Telecaster me cegaram para essa divindade.
Novamente, a minha presunção me fez supor que eu não precisaria gastar tanto para comprar uma original e que uma guitarra com construção semelhante teria um timbre semelhante. Além disso, ainda estava evitando o braço da LP. Assim, caí nessa Cort depois de pesquisar várias guitarras. Era a mais óbvia, dentro daquele raciocínio obtuso da época...

Porém, desde a primeira nota que toquei nela, senti falta de alguma coisa. Subjetivo isso, mas basicamente ela sempre me soou algo "sem vida". Troquei várias vezes de captadores (tentei até a dupla EMG 81/85), mas a sensação persistia. Comecei a achar que era baixa ressonância e o "string-through body", paradoxalmente estava bloqueando. Nesse momento, deveria tê-la vendido, mas sou péssimo negociante e a minha curiosidade falou mais alto. O luthier Inaldo colocou uma ponte "wraparound" (sim, tive que mudar os furos dos pivôs). Ela ficou mais clara, um pouco mais dinâmica, mas à essa altura eu já estava com a minha fabulosa Les Paul 81 com os captadores Rolph e Tim Shaw e a Cort, mesmo soando melhor do que antes, não chegava nem perto da LP (claro que testei os Rolph nela, mas a diferença da qualidade do timbre persistiu).

Recentemente encontrei os captadores ideais para ela: Rosar Hot Mojo na ponte e Heartbreaker II no braço. Por coincidência, são versões mais vivas e dinâmicas que a dupla JB/59.
O problema é que, se a vocação dela é pra soar próxima de uma Les Paul, ainda falta um bocado. Se ao menos soasse "diferente", mas não, ela insiste em ser uma LP... :)
Resultado, é uma guitarra excelente, timbre muito bonito (agora), braço extremamente confortável pra mim, mas eu nunca toco com ela. Sempre pego a Les Paul... :)
É provavelmente a minha guitarra menos tocada e mais mexida.

Mas a razão desse post não é pra me lamentar. É pra saber se me arrisco a "cometer" o que anda pela minha cabeça: retirar todo o verniz dela!! Deixá-la peladinha, com as madeiras respirando. Não acredito que isso vá mudar tanto o timbre, mas pode dar aquele empurrãozinho que falta.
Retirar verniz é um trabalho sujo (uso a técnica de remoção química) e jurei que não faria mais, mas estou sinceramente tentado... :)
Até porque quero checar de perto esse "mogno". No RX (abaixo), dá pra ver as duas emendas do top de maple e, me parece, apenas uma emenda do mogno (a linha horizontal mais superior).
Também quero checar aquela "folha" de flamed maple do top. Talvez até retirá-la, ou tingi-la de outra cor. Deixar a guitarra meio "punk" - quem sabe ela tá é precisando de uma sacudida :)


Já que fui até aqui, e pelo jeito não vou vender essa Cort, talvez arrisque. Tudo pelo conhecimento! Hahahá! :)
Então, fazer ou não fazer, eis a questão... O que vocês acham?



Versátil? Moderna? Bons timbres? Sim pra tudo, mas ainda falta aquela coisinha... :)
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UPDATE 08-08-2011

Eis a KX Custom "peladinha" :) 

Bem, depois de uma aventura que decididamente não vou repetir, retirei todo o verniz e pintura (e folha de maple) da KX. Já havia retirado com sucesso o verniz de outras duas guitarras com um removedor químico em pasta. No máximo duas passadas, limpeza e um pouco de lixa no final e tudo beleza, mas nessa aqui não foi bem assim. O verniz inicial até que saiu bem, mas parei quando percebi que não conseguiria retirar a cola folha de maple - teria que lixar (um bocado) e no apartamento, já vi que só lixação leve :) Além disso, havia uma camada extra de resina na parte posterior, do mogno, bem estranha. Graças a deus existem os luthiers nessas horas, hehehe... Enviei para o luthier Inaldo e ele me entregou a KX sem nenhum resquício de resina/PU ou o que quer que fosse aquilo. Ainda por cima, fez um belo top de pinus para o headstock (havia uma placa de plástico e ao retirá-la, ele ficou fino demais). Ele passou apenas um leve camada de nitrocelulose e assim vai ficar. A idéia era essa mesmo: deixar "na madeira" pra ver se o timbre mudava.
Retiramos por volta de 430 gramas (quase meio quilo!!!) de substâncias químicas... :)
Aqui, a etapa inicial:
Na foto de baixo, dá a impressão que já saiu todo o verniz de PU, pois o mogno aparece. Mas ainda havia mais uma camada - e bem grossa - de resina.

Aqui, a folha de maple  (até achei que fosse uma folha de plástico, mas o Inaldo garantiu que era maple mesmo, bem fino). Parte se desprendeu, mas a que ficou, tava muito aderida ao top de maple.

O mais interessante é que a camada de maple era ainda mais grossa do que eu pensava. Eles usaram a tinta preta pra dar a impressão que tinha mais mogno, mas essa guitarra foi bem definida pelo meu amigo Oscar Isaka Jr.: "É uma guitarra de maple com base de mogno!" :)
Eu a comprei como uma guitarra com "corpo de mogno com top de maple", mas essa relação de madeiras está longe da Les Paul. Falta volume de mogno e é exatamente por isso o timbre característico: bonito, até que equilibrado, mas definitivamente com menos corpo, ressonância e "dinâmica" que uma LP.
Embora seja uma experiência subjetiva (nem tanto, porque eu tenho gravações de licks com e sem o verniz), eu diria que houve uma melhora perceptível na qualidade do timbre, mas pequena, no máximo 25%. Ela está falando um pouco mais "alto" e não me parece tão comprimida quanto antes, mas suas frequências básicas permanecem. Mesmo com um Rosar Mojo 13 no braço, ainda falta estalo (se bem que a posição do captador do braço nessa KX não é a ideal e é uma característica estrutural, por isso não gosto do som de humbuckers de braço em guitarras de 24 trastes...). Mas o Rosar Heartbreaker II na ponte tá tão bom que já vale todo o trabalho.

Pois vejam bem - como falei antes, essa guitarra foi seguidamente modificada, com inúmeras trocas de captadores, etc., porque eu não ouvia realmente uma guitarra de MOGNO + MAPLE nela. Se não tivesse retirado o verniz e descoberto que a camada de maple era tão grossa, alterando a relação mogno/maple que eu imaginava, não aprenderia nada... Vejam a primeira foto dela no post - eu imaginei que o mogno fosse toda aquela parte preta. Não era...

Bem, é isso. Coloquei um "selinho" pra não ficar sem nada no headstock... :)