Oscar Isaka
Nos últimos anos temos presenciado uma verdadeira revolução no mercado nacional de instrumentos, e principalmente no nosso ramo das cordas. Tivemos empresas tradicionais se reformulando, hand-makers se profissionalizando, algumas surgindo e muitas novidades em praticamente todos os ramos, guitarras, amps, acessórios, pedais etc. Nessa empreitada toda conheci o pessoal da Sollo Amplificadores apresentados pelo meu amigo Frankly Andrade. Na época ele testou o Mini8, único amp da empresa até então, e entrevistou o Filipe, um dos sócios da Sollo para o seu canal do YouTube (Entrevista Parte 1 , Parte 2).
O Filipe então me contactou e conversamos um pouco a respeito dos amps e conceito da marca, até que acordamos de tentar que ele me enviasse um amp para testes. Nesse meio tempo eu acabei conhecendo também o Rafael, o outro sócio da Sollo. Eu acho muito interessante (pra não dizer indispensável) conversar com os idelizadores da empresa. Conhecendo muitas vezes a origem das idéias, propostas dos produtos e objetivos conseguimo entender melhor onde querem chegar e com isso estabelecer melhores expectativas sobre o nosso próprio objetivo e o que nós podemos extrair de um amplificador/guitarra/pedal. Foram alguns meses de conversas, mas eu tentei resumir os pontos que considerei principais em algumas perguntas num bate papo muito legal com eles.
A Empresa!
LPG: Primeiro de tudo muito obrigado pela presença aqui no
blog e pelo tempo. Como começou a Sollo? Da onde veio a idéia, "Vamos
fazer valvulados para guitarra"?
Sollo: Opa Oscar! É um grande prazer poder bater esse papo aqui
contigo, nós que agradecemos a oportunidade. A Sollo começou de um sonho, um impulso... éramos
engenheiros e na época já trabalhávamos com desenvolvimento de hardware de
ponta, em uma empresa de rastreamento veicular chamada Autotrac. Na época a
gente sabia muito de engenharia e quase nada de empreendedorismo, mas a
essência do que viria a ser a Sollo já estava ali: a busca incessante pela
qualidade, a busca por fazer as coisas direito (a Autotrac no ensinou muito
nesse aspecto!).
Com o tempo trabalhando juntos, nos tornamos grandes
amigos, e nessa amizade a gente conversava muito sobre trabalhar com alguma
coisa que a gente fosse apaixonado. Até que um dia o Renato me convidou pra
abrir a Sollo. Eu, claro, topei na hora! (ia ser fantástico pertencer a uma
empresa que estivesse envolvida com música \o/)
Quem já abriu empresa sabe que o início é sempre muito
difícil, a gente discordava de várias coisas... mas uma coisa sempre foi
unânime na Sollo: a gente faria amplificadores de nível mundial. O nosso plano
é (e já era na época) conquistar não só o guitarrista brasileiro mas também
guitarristas pelo mundo todo.
Hoje em dia, com a experiência que a gente tem, teríamos
feito tudo com mais planejamento e cautela. Mas a verdade é que aquele ímpeto
foi essencial para que o sonho não ficasse no papel para sempre.
LPG: Em nossas conversas iniciais me chamou atenção o fato
do Solo Mini8 não ter sido "baseado" em algum outro amp já existente.
Isso é relativamente incomum num mercado que há mais de 60 anos tem muito de
re-leituras e pouco inovações. Pode falar um pouco sobre isso? Como a Sollo foi
pensada no quesito mercado sendo que temos alguns outros nacionais já consagrados
até como Pedrone e etc? Como competir com tanta qualidade num mercado bastante
saturado?

Sollo: O nosso plano nunca foi competir por um espaço já ocupado
pelos players que estão no mercado há tanto tempo... por isso sempre nos
posicionamos em um lugar de mercado diferente do “hand-maker”. Os grandes nomes
já conquistaram um espaço próprio no mercado e fizeram um ótimo trabalho para
estar lá, não vimos sentido em tentar lutar por esse espaço com competidores
que já estão há décadas se especializando em amplificadores hand-mades.
A gente resolveu ir por um caminho que tivesse mais a ver
com a gente mesmo, com o nosso DNA enquanto pessoas e enquanto empresa. É
importante entender aqui que lá no fundo da gente residem nerds de laboratório
que adoram calcular correntes e tensões em circuitos elétricos, hehehe.
Desenvolver projetos próprios era o nosso sonho na Universidade de engenharia
(o Renato é formado em Engenharia Elétrica pela UnB e eu sou formado em
Engenharia Mecatrônica e com mestrado em Sistemas Mecatrônicos, também pela
UnB). Surgiu naturalmente a vontade de criar amplificadores do nosso jeito, com
o nosso timbre e com os recursos que achamos essências.
Não pensamos nas outras marcas como competidores, na
nossa visão tem espaço para todo mundo se você souber se diferenciar. O lugar
que a Sollo busca é de qualidade de nível mundial mas com personalidade
brasileira. Nessa ideia, não só o nosso produto precisar ser de altíssima
qualidade como nosso atendimento tem que ser eficiente e ao mesmo tempo ter o
tempero brasuca: irreverente, caloroso e prestativo.
Isso é um ponto importantíssimo para entender a Sollo, a
qualidade dos nossos produtos é importantíssima, mas não é tudo. Nos
preocupamos muito com a experiência do nosso cliente, antes, durante e depois
da compra.
LPG: Falando dos amps, eu tive a chance de testar o Mini8 e
o Mini50 e de cara percebe-se que as diferenças vão além da potência. São
amplificadores com sonoridade distintas porém ambos tem um viés moderno onde os
timbres limpos são cristalinos e realmente limpos e o canal de drive fala bem
mesmo com ganho médio pra alto. Poderia falar um pouco do conceito de ambos e
como foi o processo de "CHEGAMOS, é ESSE SOM"?
Sollo: Cara, excelente pergunta! (e bem difícil de responder,
hehehehe)
Vou começar pelo processo de “CHEGAMOS, é ESSE SOM”. O
timbre em é muito uma questão de senso estético e referências de cada um, não
existe timbre certo ou errado. Sabemos o som que queremos e vamos atrás de
esculpir o circuito até chegar lá. Por isso é tão importante o fato de termos
um músico-engenheiro como projetista: você precisa saber onde quer chegar (músico)
e como chegar lá (engenheiro).
Quando o projeto toma forma, vamos para o palco testar
ele na mix com a banda. Aí entramos em uma fase de ajustes com muitas idas e
vindas. É um processo de tentativa erro que pode levar de 1 mês a 100 meses. Só
finalizamos o projeto quando ficamos 100% satisfeitos com o resultado.
Agora vamos aos amps: acho que você mesmo definiu muito
bem a estética geral dos nosso amps: canais limpos e cristalinos e drive
moderno com definição mesmo em alto ganho.
O Mini8 foi o nossos primeiro projeto, e nasceu para ser
nosso “pequeno e abusado”. O Mini8 nasceu para quebrar algumas ideias
consolidadas no mercado: amplificador pequeno não tem alto ganho, não tem loop
de efeitos, só tem um canal, equalização só por tone... Porque tem que ser
assim?
A gente tinha a expertise necessária para fazer um amp
que contrariasse esses pontos e decidimos encarar o desafio. Aí nasceu o Mini8,
um amp MUITO compacto e leve mas com um timbre absurdo e recheado de recursos
que consideramos essenciais: 2 canais, loop de efeitos e equalização em 3
faixas. Uma característica importante do Mini8 é que ele é Single Ended (Classe
A), o que traz uma característica bem interessante: um timbre mais macio (mesmo
no alto ganho). Isso já explica parte da diferença que existe entre o Mini8 e
os outros dois: Mini20 e Mini50.
Os mais recentes Mini20 e Mini50 nasceram juntos. Eles
mantiveram a identidade de timbre da Sollo, mas foram além: com 4 válvulas no
pré ao invés de 2 a gente teve novas possibilidades: mais grave, mais ganho e
mais controles (principalmente a equalização no canal limpo). Além disso, a
topologia do power mudou também para push-pull (Classe AB), o que deu a esses
amps uma característica ainda mais rock’n’roll. São amplificadores mais
encorpados e mais “nervosos”, com um timbre único.
A principal diferença entre os amps são:
- Os Mini20 e Mini50 tem equalização no canal limpo, o
Mini8 não;
- O timbre do Mini8 é mais macio (com uma pitada de
blues) enquanto o Mini20 e Mini50 tem um timbre mais pesado;
- O Mini20 e o Mini50 tem mais presença de graves e bem
mais recursos (saída de linha, boost de volume e redutor de potência).
LPG: Futuro? O que podemos esperar ainda da Solo nos
próximos meses?
Sollo: Novidades! E prometo que vão ser novidades bombásticas,
hehehehehe.
Estamos com dois projetos em fase final. Um é o já
anunciado amplificador assinatura do Marcelo Barbosa (que, como todo mundo sabe,
toca no Angra e no Almah atualmente), que vai ser um amplificador com a cara
dele: 100W de potência, 2 canais e um timbre pesado. Vai ser o amplificador
perfeito pra quem curte rock progressivo e metal.
O outro é um amplificador que tem como foco principal o
timbre (a qualquer custo). Vai ser o primeiro amplificador que vamos fazer
nessa linha, sem que estejamos concentrados no tamanho, peso, custo ou
potência, mas sim focando no timbre.
Foi um grande prazer poder participar dessa entrevista
com você Oscar! Espero que as perguntas tenham sido respondidas direitinho =D

O
Mini8 foi o primeiro que liguei. Ele vem numa bag muito bacana e o tamanho e peso impressionam. Bem pequeno e leve e com a bag e todos os acessórios( Cabo Speaker, Foot) é realmente fácil de levar pra qualquer lugar. Usei o falante Celestion V-Type do meu Deluxe Reverb ao invés do gabinete da Sollo por questòes de logístisca, mas a resposta do V-Type não vai fugir muito do Eminence GB128 que acompanha a CX 1x12 fornecida pela empresa, já que ambos são de DNA Greenback. O canal clean tem só o botão de Volume e logo no primeiro acorde já da pra notar a voz do circuito com um bonito brilho e faixa de médios que lembra o clean do famoso Hotrod Deluxe da Fender. Claro que um amp de 8W com uma 12AX7 no power não vai produzir graves extensos e profundos como uma valvula pentodo tradicional como uma 6L6 mas achei a resposta do amp equilibrada. É um clean clássico bem plug'n play e é uma pena a falta de uma EQ complete de graves médios e agudos tenha sido preterida em função do tamanho do amp, que era realmente o foco do projeto.

Fica claro que o foco principal do Mini8 é no canal de drive, este sim comportando a EQ de tres bandas tradicional. Sempre testo canais de drive com ganho perto de zero e vou timbrando e aumentando gradativamente pra entender bem os estágios. Fica claro que o Mini8 não foi pensado pra uso em baixo ganho pois o volume e o timbre ficam meio magros nessas configurações mais brandas. No entanto a medida que o ganho passa de 11-12 horas a coisa muda e o amp encorpa bastante e adquire uma característica mais britânica tradicional sem ser ríspido. Com uma LesPaul e o ganho perto de 2hrs deu pra chegar em sonoridades HardRock muito bonitas. O Loop de efeitos e efetivo e transparente deixando o DD-7 sonado bem e sem mudar o timbre. Da pra passer horas brincado com o Mini8 nessa configuração e com a grande vantagem do não precisar atrapalhar ninguém na casa. 8W sào mais altos do que vc possa imaginar, mas o amp timbre bem a volumes bem razoáveis para estudas depois das 22:00hrs tranquilamente sem o famoso "Abaixo isso P***" .

O
Mini50 já tem outra pegada e com um par de EL34 empurrando 50W em push-pull tudo muda. Aqui ambos os canais tem EQ completa além de uma função Boost separada e acionável pelo Foot. O Mini50 ainda tem um Line-Out com volume independente direto do Pre-Amp para gravação ou mesmo ligação direta pra mesa. Vale ressaltar que essa função não tem emulação de falante embutida e nem o load nescessário para evitar danos nos trafos de saída caso não se tenha falantes conectados. Mesmo assim tal saída é útil caso você possua uma DI Box específica para guitarra com simulação de gabinete para mandar o som para a mesa sem precisar depender do microfone no amp. A chave de redução de potência conta com 3 nívels, 5W, 20W e 50W e funciona relativamente bem sem alterar muito o timbre do amp e o loop também provou ser bem transparente dentro do que eu pude testar com o mesmo DD-7 do teste do Mini8.

O canal clean mostra logo de cara a que veio com um timbre bem na praia dos monstros modernos como MESA BOOGIE com uma dose cavalar de graves, médios mais "scooped" e agudos bem cristalinos . É um som bem limpo mesmo e com bastante "headroom", ideal pra guitarras com captadores bem encorpados e ativos por exemplo que já tem muito médio por natureza, deixando dedilhados e arpejos muito definidos. Com um ajuste de EQ eu consegui fazer minha Strato soar muito gorda e definida e com um toque de drive (Um TS808 por exemplo) se conseguem bons sons low gain, apesar de claramente não ser essa vocaçào do Mini50. O canal drive invoca a modernidade Americana clássica com um drive brutal e bastante agressivo. Não é a toa que guitarristas como Marcelo Barbosa (Angra, Almah) gostaram tanto do timbre dos Sollo! Diferente do Mini8 flerta com os sons britânicos classicos, a versào 50W é pura agressão e ronco. O grave é presence mas bem apertado, médios e agudos bem agressivos sem soar magros fazem do amp uma bela plataforma de estilos de Rock mais pesados deixando mais uma vez bem escancarada a proposta de sonoridade mais moderna da empresa.