domingo, 10 de junho de 2018

Timbre gordo, abafado, sem definição? Que tal um filtro de graves?


Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)




        "Deus do céu - por que eu não sabia disso?" PQP, mais de 20 anos me incomodando com timbres gordos e sem definição e a resposta (pelo menos pra 90% deles) é um simples circuito com um capacitor e um resistor que custa menos que 5 reais... PQP!
Novamente, a culpa é do meu velho e mau hábito de generalizar minhas conclusões - como eu não gosto de equalização ativa, principalmente em guitarra, generalizei e passei a repudiar também a EQ passiva, que é outro universo.  

        O próprio controle de tonalidade nas guitarras é um circuito de EQ passiva, pois "filtra" os agudos, ou deixa passar os graves (low pass filter). Quanto maior o valor do capacitor, mais baixo inicia o corte de agudos, por isso singles, que são mais agudos, geralmente utilizam capacitores de 0,47 uF e humbuckers, 0,22 uF. Simples, mas nunca usei o corte de agudos nas minhas guitarras. O potenciômetro de tonalidade da minha telecaster 68 não é girado há mais de 20 anos, hehehe...
Sempre acreditei que guitarra boa e captadores bons não precisam de equalização porque a sonoridade essencial já é boa e um dos fundamentos desse blog é tentar entender como funciona esse processo que chamamos de "timbre". 

Assim, um dos maiores problemas que sempre enfrentei foi o de guitarras com timbre "gordo", "abafado", "embolado". Por que algumas guitarras soam assim? Seriam as madeiras, o circuito elétrico, captadores, hardware? Anos e anos nessa labuta e ainda sei muito pouco, infelizmente. Mas tenho 99% de certeza de que a estrutura da guitarra (madeiras + tipo de construção) determina a "alma" dela: gorda/grave, normal ou magra/aguda. Os captadores têm pouca influência nesse padrão, para pior ou melhor. Ou seja, se uma guitarra tem a alma grave, ela sempre soará grave. E acreditem, pelo menos 90% das guitarras abafadas não sofrem de falta de agudos, mas sim de excesso de graves, que entopem o input dos amps, pedais e obviamente, nossos ouvidos. 

Em relação às guitarras de alma gorda/grave, a minha abordagem estava completamente errada - durante anos eu tenho tentado artifícios para aumentar os agudos nessas guitarras, mas o pulo do gato aí é "CORTAR OS GRAVES". Simples e óbvio, entretanto o idiota aqui não viu isso... 

Bem, ao longo desses anos eu li vários artigos sobre circuitos passivos de corte de graves (high pass filter ou filtro de passa alta - deixa passar as frequências altas e filtra as baixas, a partir de um ponto de corte definido). A Fender Jaguar tem uma chave de high pass e o Leo Fender aprimorou esse conceito nas G&L com o sistema "PTB" (Passive Treble/Bass). Sim eu lia, mas infelizmente passava batido porque como falei, a ideia de "equalizar" o timbre me soava artificial demais. Já doei algumas guitarras por causa dessa "alma gorda/grave", mas hoje sei que facilmente resolveria esse problema com uma simples modificação no pot de tone, que transforma o tradicional filtro de agudos em um filtro de graves.

Então é isso, quase todas as guitarras têm um filtro de passa baixas (low pass), que é o controle de tonalidade, mas pouquíssimas tem um filtro de passa altas (high pass). Que coisa louca - a não ser que você seja um cara muito fã do "woman tone" do Eric Clapton ou fanático por aquele timbre obeso, geralmente com fuzz, como às vezes o do Dan Auerbach, tipo "proto-modern-white-nerd-cool-blues", provavelmente um filtro de high pass/bass cut será muito mais útil. 

        Quando resolvi testar o circuito, na Roland Fishtail, um post no blog do americano Aaron Lum foi fundamental (clique). Os esquemas que estão aqui são dele e eu modifiquei o de Les Paul para colocar o bass cut em ambos os captadores. Como falei no post da fishtail, existe um site com uma calculadora automática dos valores do capacitor e resistor (sempre ligados em série) para se obter um corte de graves numa frequência específica. Já coloquei esse sistema em 4 guitarras e posso adiantar que um ponto de corte entre 60 e 110 Hz é o ideal (mais musical) para a maioria delas. O que percebemos na real é um aumento da clareza e definição do timbre - as notas embolam menos e sobra mais espaço para os médios e agudos no espectro da percepção sonora. Ainda não precisei utilizar o filtro em captadores singles comuns, de tele e strato, mas em humbuckers ou P90 de braço, o efeito é fantástico - limpa tudo. 
Especificamente, devo "travar" em duas combinações: 
1) Resistor 680 kohms (kilohms) + Capacitor de 2.2 nF (nanofarads), com ponto de corte de 106 Hz 
2) Resistor 470 kohms (kilohms) + Capacitor de 4.7 nF (nanofarads), com ponto de corte de 72 Hz e 
O valor do capacitor é o que mais influencia aí: quanto menor, mais alto é o ponto de corte de graves. Atenção para os valores dos capacitores - quando for comprar especifique "NANO" farads (nF) ou faça a conversão para micro farads (uF).

(OBS 26/10/18: depois de colocar esse circuito em mais de 10 guitarras, cheguei à conclusão que a combinação Resistor 680 kilohms + Capacitor 2.2 Nanofarads é a que mais funciona, a mais musical. Raramente preciso diminuir muito o nível de corte do potenciômetro - na maioria das vezes, deixando entre 6 e 9 os graves feios e obstrutivos são domados.)


O filtro pode ser colocado em vários pontos do circuito: através de uma chave liga/desliga, direto na saída do jack ou no hot do captador específico ou, se quisermos mais controle sobre a intensidade do filtro (ideal), acoplado ao pot de tonalidade (que obviamente perderá então a sua função clássica de corte de agudos). Em 3 guitarras coloquei no pot de tonalidade e recomendo pots 500k "B" (lineares). Os "A" (logarítmicos) são chatos para localizar o ponto. 


Obs: Nesse esquema coloquei um resistor de 1 mega ohm. O ideal seria o de 680 kilo ohms - um pouco menor.


Em uma delas, direto no hot do captador do braço, logo antes de ligá-lo na chave:



A ligação básica é essa de baixo: o sinal que vem do captador entra por uma perna do capacitor que está ligada à uma das pernas do resistor - esse ponto é a saída do sinal já filtrado, é ali que ligamos ou no seletor ou direto no jack de saída. A outra perna do resistor é ligada no terra, kkk - é por ali que as gorduras sairão... :). Esse é o famoso "Circuito RC de Passa Altas", coisa básica pra quem conhece eletrônica mas complicada pra guitarristas.  


Seguem os esquemas para guitarras com fiação tipo Les Paul:

Estilo LP, com master tone para corte de agudos e outro master tone para corte de graves




Estilo LP, com ambos os pots para corte de graves, sem corte de agudos. Nessa opção podemos especificar valores diferentes e/ou a intensidade de corte para cada captador.

          Quando o circuito é acionado, a diminuição dos graves gera uma percepção auditiva de "diminuição de volume",  que de fato ocorre já que há perda da energia das frequências baixas. Nada dramático e é só uma questão de aumentar o volume do amp se realmente necessário. O mais importante é que muitas guitarras que soam gordas e sem definição podem ter agudos e médios bonitos que não se manifestam devido ao excesso de graves. Se a guitarra não soar bem com essa manobra, é bem possível que ela seja ruim de fato, hehehe. 

         A única coisa que lamento é não ter aprendido/aplicado isso antes. Esse post deveria ser um dos primeiros do blog...


domingo, 18 de março de 2018

Mosca Branca

Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)



          Quando estávamos combinando a gravação da demo da Les Paul Kaiser/LPG, o Jean me disse que, além da sua nova strato com captadores Fishman Fluence, traria uma guitarra muito interessante mas não mencionou qual - seria uma "surpresa"... :)

A segunda guitarra era uma stratocaster japonesa Tokai de 1984. Bem, qualquer um que já leu um pouco sobre a história da guitarra sabe sobre as cópias japonesas de marcas famosas, principalmente Gibson e Fender que proliferaram nos anos 70. Marcas como Ibanez, Greco e Tokai faziam cópias às vezes melhores que as americanas - talvez até porque nos anos 70 a qualidade das Fender e Gibson realmente estava baixa.  Em 1977 a Gibson entrou com uma ação judicial (Lawsuit) e conseguiu a proibição de cópias do seu headstock clássico (open-book-style).

          Por isso hoje em dia usamos o termo "pré lawsuit" para especificar o período anterior à proibição. A Fender só conseguiu proteger os seus headstocks (corpos não são protegidos, Fender ou Gibson) bem mais tarde, por isso em 1984 ainda havia cópias orientais exatas de stratos e teles vintage e essa Tokai é um belo exemplo.

          As cópias Tokai de strato, principalmente entre 1977 e 1987, geralmente são excelentes. Foi uma Tokai de 1981 que provocou pânico na Fender na época - eles não conseguiam fazer uma Fender tão boa quanto aquela Tokai!
Essa Tokai do Jean é o modelo "Goldstar Sound T60" e ele já pesquisou:

Jean Andrade: Essas Tokai de 1984 são cópias das Fender L Series de 1964 (inclusive vêm também com o serial number começando com a letra L)
A minha é uma TST60, com captadores em alnico "E stamped". A principal diferença:  a TST60 e superiores (até TST120) têm captadores de alnico "E stamped" (os melhores e mais caros feitos pela Dimarzio, réplica dos fullerton da Fender). A TST 40 tem captadores cerâmicos, enquanto a TST50 tem os captadores "U stamped", também de alnico, mas com saída um pouco mais alta.
A minha Tokai tem os originais "E stamped" no braço e meio, sendo que o captador da ponte foi substituído por outro dimarzio antigo. A única diferença da TST60 para a TST80 é que esta última tem finish em nitro.
"Most of the good Tokai pickups have grey bottoms with separate pole pieces. The early ones are stamped "U" and they are medium hot, about 6.2K ohms. There are grey bottoms stamped "E" and they are more vintage output, about 5.6K ohms and these were fitted to more expensive models. The top of the range Tokai strat copies were fitted with DiMarzio VS-1 pickups and they have black bottoms.
Se bobear, o da ponte da minha pode ser um desses VS-1...hehehe.



A tentativa de deixar a palavra Tokai semelhante à Fender é quase cômica, mas tive que rir do "Oldie But Goldies" no lugar do clássico "Contour Body", hehehe...

... Mas parei de rir e tive um calafrio na espinha depois de tocar apenas cinco notas no captador do braço... Foi um daqueles momentos raros, raríssimos, onde percebemos que estamos diante de alguma coisa definitivamente superior, única. Toquei mais alguns acordes e, confirmado: eu estava diante de uma "Mosca Branca". A segunda sensação que tive, depois da estupefação, foi de frustração - essa guitarra não era minha! PQP! Guitarra leve, super ressonante, extremamente bem feita, peças e madeiras de primeira. A minha melhor strato (Fender 97 modificada) é a única que pode ser comparada com ela (e não é melhor, só chega perto). Todas as outras perdem feio, independente dos captadores e madeiras...
E quando eu falo "mosca branca" não estou me referindo às Tokais Goldstar Sound de 1984, mas à essa guitarra especificamente. Pela minha própria experiência, sei que posso pegar 10 Tokais do mesmo modelo e ano e provavelmente nenhuma soará como essa.

O corpo é de alder muito, muito leve, braço de maple com uma camada fina, quase um veneer, de rosewood - e esse é um detalhe que é igual ao da minha telecaster: rosewood fino e curvado com a escala - não é "slab". Capacitor cerâmico grande, bons pots, ponte e tarraxas clássicas, bem no padrão Fender de 1964.
E por falar em Fender 1964, nesse vídeo abaixo, da Norman's Rare Guitars, o Mark Agnesi conta em detalhes a história das Fender "L" series - muito legal. Cheque o ícone "legendas" para entender melhor o inglês.



         Não vou perder tempo tentando explicar e descrever a razão do timbre dessa Tokai ser tão excepcional, mas ela tem a mesma mágica da minha Tele 68: a dinâmica ampla, complexa, multidimensional. A mesma nota tocada 10 vezes soará diferente 10 vezes, cada uma com sua cor e sabor. Impressionante.
E também não vou contar essa história agora, mas se eu fosse um pouquinho mais sociável e menos rabugento, poderia ter tido contato com essa guitarra ANTES do Jean colocar os olhos nela, hehehe...
Mas terei o consolo que ela estará por perto e poderei tocá-la de vez em quando :)




No próximo post vou convidar o Oscar e discutiremos mais profundamente essa questão das moscas brancas, com exemplos, fatos e declarações de grandes mestres da luthieria, mas por enquanto vocês ficam com o vídeo da Tokai do Jean em ação:


PS: E aquela outra strato do Jean, com os captadores Fishman Fluence? Excelente guitarra, gostei muito dos captadores. ultra silenciosos, timbre clássico, típicos de uma strato. Mas... do lado dessa Tokai, o timbre dos captadores Fluence soou linear demais, bonito demais, hi-fi demais... Ou seja, falta aquela sujeirinha mágica, imprevisível, que raramente ouvimos. E, só ouvindo para vislumbrar a dimensão da coisa...


PS1: Contribuição do leitor "unknow" - especificações dessas séries da Tokai:

ST-42 (1977 - 1979) – U-shaped neck, chrome hardware, non-Kluson type tuners, ceramic pickups, 3- or 4-piece sen ash body with poly finish
ST-45 (1980 - 1981) – U-shaped neck, chrome hardware, non-Kluson type tuners, ceramic pickups, 3- or 4-piece alder body with poly finish
ST-50 (1977 - 1984) – U-shaped neck, nickel hardware, Kluson-type tuners, alnico “E,” “U,” “V” or “VI” pickups, 3-piece alder or sen ash body with poly finish
ST-60 (1977 - 1984) – V shaped neck, nickel hardware, Kluson-type tuners, alnico “E,” “U,” “V” or “VI” pickups, 2-piece sen ash or alder body with poly finish
ST-70 (1982 - 1983) – U-shaped neck, nickel hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS-1 alnico pickups, 2-piece sen ash or alder body with poly finish
ST-80 (1979 - 1983) – V-shaped neck, nickel or gold hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS-1 alnico pickups, 2-piece sen ash or alder body with nitro finish
ST-100 (1979 - 1983) – V-shaped neck, gold hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS1 alnico pickups, 1- or 2-piece sen ash body with nitro finish
ST-120 (1982) – V-shaped neck, gold hardware, Kluson-type tuners, DiMarzio VS-1 alnico pickups, 1-piece ash body with nitro finish





domingo, 25 de fevereiro de 2018

Projeto Les Paul - Final


Paulo May

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


Obs: link para o primeiro post sobre a guitarra: CLIQUE AQUI


Finalmente!! :)


          No dia 13 de fevereiro o Copetti me ligou avisando que a guitarra estava pronta. Como de costume, peguei uma carona com o Faraco e fomos até lá. Só faltava o plástico/placa de suporte do jack (que eu havia esquecido em casa) mas improvisamos com uma fita crepe para poder ligar a guitarra. E por falar nisso, a primeira pessoa a tocar nela não fui eu, foi o Faraco. Assim como o Jean, ele também estranhou o braço no início (ninguém espera um soft V numa Gibson, hehehe), mas em menos de 5 minutos já ficou confortável -  e já lascou "Se um dia fores vender, eu sou o primeiro da fila", hehehe. Como a manezada de floripa costuma falar: "Mofas com a pomba na balaia, Faraco" KKKK!

Faraco e Copetti aplicando a tecnologia da "fita crepe" :)

        Então, depois dos impressionantes trabalhos do Kaiser e da finalização do Copetti, chamei o Jean pra conhecer pessoalmente a guitarra e daí já aproveitamos pra gravar a demo.

          Ter uma Les Paul boa é o sonho de boa parte dos guitarristas (até de strateiros como o Jean - sacaram a tatuagem no braço esquerdo dele? :). Eu tenho 2 Les Paul Gibson (1981 Standard e CSR9 2013) maravilhosas, mas os braços Gibson são um pouco desconfortáveis pra mim. Aliás, quanto mais guitarras eu tenho e mais aprendo sobre elas, mais chato eu fico em relação aos braços, hehehe. O braço da minha Telecaster 68 é, definitivamente, o mais confortável que já toquei.

Dito isso, e considerando que eu já tenho duas Gibsons, decidi fazer com o Kaiser um braço fora das especificações da Les Paul. Esse aí tem formato "soft V, quase V" - muito pouco volume nos ombros, volute e a angulação do headstock é menor, entre o padrão PRS  (11°?) e  Gibson (17º). Resultado prático: some esses detalhes à escala menor da Gibson (24,75 polegadas), essa Les Paul LPG/Kaiser é a guitarra mais fácil de tocar que eu tenho aqui. Cordas 0.10 parecem 0.09 e os bends exigem mínimo esforço. Pra mim, que pratico pouco, é uma mão na roda, mas o Jean teve problemas pra gravar as demos - acostumado com mais tensão nas cordas e braços mais gordos, levou uma boa meia hora pra controlar os bends - a maioria tava passando do ponto, kkkk!
Mas depois de acabar as gravações ele me disse: "já tô me acostumando com esse braço" :)
Ainda não tive coragem de fazer os furos pra colocar o escudo, mas acho que em breve... :)

          Gravar demos legais e que sejam realmente úteis para o discernimento dos leitores não é fácil... Achamos que teríamos tempo de gravar também as demos da Les Paul DeLuxe e da Roland-TB, mas bah!... Não deu...

Mesmo assim, utilizamos a última meia hora para gravar uma demo (ainda em edição) de uma strato TOKAI absolutamente fantástica que o Jean comprou recentemente. Um dos melhores, senão o melhor, sons de strato que já ouvi. Tokai de 1984, alder levíssimo, braço com escala curvada fininha (veneer) de jacarandá... mágica... E não é Fender! Postaremos em breve :)

Comentário do Jean sobre a guitarra:
"Fiquei impressionado com o resultado! O braço realmente não tem o formato mais adequado ao que eu, especificamente, estou acostumado... a minha impressão é que o formato ficou mais para um V pronunciado, que para um soft V.
Mas isso é justamente uma das coisas mais legais dessa guitarra, o Kaiser construiu praticamente sob as medidas e especificações solicitadas pelo Paulo, sendo que o braço ficou perfeito pra ele. Ainda assim, a guitarra é muito fácil de tocar (o braço mais fino dá melhor acesso ao final da escala), super confortável e macia, não é pesada, o timbre e o visual são matadores!!!!Parabéns ao Paulo pelo empreendimento e pelo acabamento, ao Kaiser pela construção e ao Copetti pela ajuda final!"



sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Guitarra LPG-Kaiser (ou, a Saga da Roland G707..hehehe)

Paulo May


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Veja esse post antes: CLIQUE.

          A ponte e o braço da finada Roland G-707 pareciam ter encontrado o seu destino final, mas alguma coisa ainda estava errada... Talvez porque na verdade eu não goste muito de misturar padrões estéticos clássicos com modernos. É uma questão puramente visual, já que modificações ergonômicas e funcionais eu acho legal.
...Então, eu tive a G-707 nos anos 80 (1985) e como já falei, detestava aquele corpo estranho e absolutamente incômodo. Sempre gostei do visual "moderno retrô" dos anos 50/60 e também sempre achei o visual os anos 80 muito bizarro, pra dizer o mínimo... :). Como unir 50/60 e 80 num conceito? Complicado...

        Mas há uns dois meses fiz um desenho bem rudimentar num papel. No outro dia olhei e me pareceu interessante... Dei uma ajeitada no photoshop e enviei para o Kaiser... Discutimos alguns detalhes de viabilidade como local do jack, chanfro superior, tróculo... Daí ele passou para 3D, programou a CNC e em menos de 10 dias eu estava com o corpo em casa... Novamente, a eficiência e agilidade do alemão lá de Nova Petrópolis foram de cair o queixo! :)
Na foto abaixo, um resumo das duas semanas, da ideia até o corpo entregue:

Por incrível que pareça, a forma que mais me inspirou foi a daquela cadeira de balanço...:)

Mais uma semana e a guitarra tava pronta:


  O mais legal é que não precisei ajustar nada. Tudo se encaixou perfeitamente, desde a simetria do braço/captadores/ponte até o ângulo do braço - e olha que esse tipo de problema acontece até em montagem de peças originais da Fender, por exemplo.
Muito, muito legal!! O corpo está com o peso muito bem distribuído (equilíbrio/balanço horizontal), e leve: peso total de 3,4kg (corpo de mogno sólido!)


         Dá pra ver que o braço era todo preto e eu retirei a tinta... Tá muito irregular, mas isso foi bem no começo das minhas aventuras com guitarra, hehehe. Preferi deixar assim e como essa guitarra "deveria" ter 33 anos, fiz um leve relic (mais desgastes que machucados) no acabamento. O fato é que eu adoro a pegada desse braço - sempre foi extremamente confortável.

          O interessante é que, por um lapso de comunicação, acabamos fazendo cavidades de humbucker (a minha ideia era colocar Filtertrons Gretsch), mas, de vez em quando a sorte vem dobrada e esse é um caso - o timbre dessa guitarra com humbuckers tá o bicho. Lindo de morrer.


         O captador da ponte é um T-Top Gibson de 1981 rebobinado pelo Sérgio Rosar com as especificações do Rolph e o do braço é um Rosar Mojo. Pots de 500k - um de volume ou outro de corte de graves (bass roll off/high pass filter). Esse sistema de corte de graves é muito legal e não entendo por que não o utilizei antes - tinha o esquema guardado há pelo menos 3 anos.
Dessa vez, devido à minha história com mogno brasileiro (quase sempre gera um timbre fechado, gordo, meio sem graça - parece praga), eu já armei essa elétrica antes. E olha que a sorte com esse mogno foi grande - os graves dele já soam bem legais, sem muito excesso.
Sem corte de agudos (função clássica do pot de tonalidade) e com corte de graves... Esse deveria ser o padrão em boa parte das guitarras com humbuckers.
O corte de graves, na configuração que utilizei, com resistor de 1 mega + capacitor de 4,7 uF (o potenciômetro deveria ser de 1 mega, mas o que eu tenho tem haste muito curta) pega apenas os graves mais baixos, aqueles que a gente quase não houve mas os sente embolando o timbre. Como eu nunca havia utilizado o sistema, optei por um corte bem sutil. Mas ficou bem musical e mais perceptível no captador do braço. Ainda preciso aprender um pouco mais sobre isso - há uma fórmula para calcular a combinação capacitor/resistor/ponto de corte.
Vou testar amanhã com um corte um pouco mais alto (79 Hz), trocando o capacitor para 2,2 uF.
Enquanto escrevo isso, tô pensando em pelo menos umas 5 guitarras aqui que precisam urgente dessa mod :)

Mas esse esquema merece um post à parte. Nas próximas semanas o Alex prometeu que vem aqui pra gente gravar várias demos e vou incluir as duas LPs e essa LPG-Kaiser. Daí a gente mostra o corte de graves em ação e eu posto as ilustrações da mod - não é complicado, mas precisa ter alguma experiência com solda :)

Bem, é isso aí - a guitarra na minha opinião ficou linda (obviamente há gosto pra tudo e respeito quem achá-la feia, hehehe), tá com um timbre maravilhoso, é ergonômica (dá pra tocar sentado e no sofá numa boa) e resolveu o dilema do braço e ponte órfãos da G707.
Como é um protótipo, acho que precisamos mudar a posição do jack de saída (inicialmente era no final da curvatura posterior e talvez esse seja realmente o melhor local) e fazer um chanfro/rebaixamento extra no início do tróculo, pra deixar o acesso (já excelente) às casas mais altas 100%. Também imagino que o headstock ficaria mais harmônico esteticamente se fosse curvado para baixo... Mas antes ainda preciso decidir onde colocar os pinos da correia... :)

Lembrando, antes que perguntem: tróculo e escala estão no padrão Fender, ou seja, qualquer braço Fender cabe aí (atenção porque o de tele tem final reto e o de strato é curvado). Obviamente o Kaiser pode adaptar o projeto para um padrão Gibson, com escala mais curta (e até braço angulado e colado, se for o caso), mas a escala mais longa geralmente dá mais estalo e médios pela tensão extra - é a minha preferida :)

PS1: Estamos aceitando sugestões de nomes para esse modelo de corpo. Não vale "Fishtail" e nem "Shark", kkkk! Como o nome da minha banda (e da minha cidade natal) nos anos 80 era "Tubarão" (TB para os íntimos), por enquanto eu a tenho chamado de "TB-1" :)

PS2: Alguns dias depois de iniciarmos o projeto, procurando pelas palavras "Fishtail + Car" pra ver as cores dos carros, me deparei com essa guitarra na internet:

Essa é de fato uma "Fishtail" e o(s) cara(s) que fez isso realmente caprichou, bah... Eu não me lembro de tê-la visto ANTES do meu esboço mas, coincidências à parte, o importante é que a nossa guitarra ficou legal também :)