sexta-feira, 21 de junho de 2013

MANARA : blocos de aço para stratocaster (Selo Ouro LPG) !!

Paulo May & Oscar Jr.
          Quem acompanha o blog já sabia que vinha coisa boa por aí - e chega com o selo Ouro do blog!!
Recapitulando então: Nesse post fantástico do Oscar (clique), vimos a importância que o bloco da ponte tem para o timbre. Crucial, pra dizer o mínimo.
Quase em seguida, publicamos uma comparação entre 3 tipos de blocos (clique) e obviamente o bloco de aço pesado mostrou-se superior em todos os aspectos: clareza, sustain e definição.

O Carlos Manara, guitarrista e com conhecimento de metalurgia, comprou a briga e depois de muitos testes, com blocos voando por sedex pra lá e pra cá, chegamos num modelo perfeito, que reúne a excelente qualidade do aço, com tamanho versátil e funcional e um acabamento de primeira.

Apresentamos-lhes então, o primeiro bloco de aço para ponte de stratocaster feito no Brasil:


Qualquer strateiro que se interessa por timbre sabe - ou pelo menos já ouviu falar - que os blocos de aço sem chumbo feitos pela Callaham nos EUA são os melhores do mundo. Para alguns, a troca do bloco original Fender por um Callaham é a primeira coisa que deve ser feita na guitarra, antes mesmo de pensar em trocar os captadores.
Utilizamos dois blocos Callaham (vintage e moderno) como referência e podemos garantir que NÃO há diferença de timbre entre o bloco Manara e eles (exceto, é claro, o preço... :) ).


Durante o processo, concluímos que aqui no Brasil a maioria dos possíveis interessados na troca do bloco provavelmente tem guitarras chinesas e/ou brasileiras feitas na china. Assim, o Carlos Manara decidiu fazer blocos em versões que coubessem nas placas chinesas genéricas (usou como referência a da SX SST), nas pontes Fender Vintage e American Standard/moderna e nas pontes Wilkinson.

Eu e o Oscar estamos muito orgulhosos de termos participado do nascimento desse  fantástico produto genuinamente brasileiro, com qualidade comparável (se não melhor, e não estamos exagerando) ao melhor do mundo.
Os blocos MANARA estão, a partir de hoje, à disposição de vocês. Por meros 129 reais, (preço equivalente a menos da metade de um Callaham entregue no Brasil), temos a possibilidade de fazer o melhor upgrade em qualquer stratocaster.

         Convém lembrar que as placas chinesas variam um pouco, mas a maioria é no padrão das SX. Quando encomendar, cheque com o Carlos a compatibilidade de sua placa.

Não temos qualquer vínculo comercial com os blocos Manara e, até o momento, a "Manara" é uma empresa de um único empregado/patrão/etc., que faz tudo artesanalmente.
Paulo May
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          Esse é um daqueles upgrades que você nunca bota fé e vai postergando e fazendo outros como captadores, potenciômetros, saddles e etc. No entanto quando você troca e percebe a diferença sonora que ele faz, fica se perguntando por que raios esperou tanto para fazê-lo. Todo aquele post sobre pontes de strato veio da minha luta por encontrar os sons de Strato que eu ouvia nos records nas minhas próprias guitarras, e garanto que o upgrade do bloco deve ser o primeiro a ser feito numa Strato (sim antes mesmo dos captadores como o Paulo falou), especialmente se você está atrás daqueles sons vintage de strato puro! :-)

Tenho 3 blocos Callaham e realmente o Carlos conseguiu no mínimo igualar a qualidade dos mesmos!

Recomendadíssimo, testado e aprovado!!
Oscar Jr.

Para adquirir um bloco, podem falar diretamente com o Carlos Manara pelo e-mail abaixo. Não esqueçam de especificar com ele qual a medida da sua ponte.

Contatos:
Telefone: 0xx-11-4607-0236

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DEMOS:

O Luis Felipe Ramalho, leitor do blog, postou um vídeo comparativo. O áudio não é ideal (câmera), mas dá pra ter uma boa ideia das diferenças.
"Comparativo do som original da Fender Mex Standard Stratocaster e depois de trocar as molas por 5 raw vintage, o bloco por um Manara AC e os saddles por Callaham.
Os captadores (ainda) são os originais cerâmicos.
O amplificador é um Maltrapilho combo 18w, bypass da equalização ativado e falante Vintage 30."



Seguem os comentários do Luis Felipe:

"Minhas impressões pessoais:
1) Pegada. Acho que pelo fato das cordas irem até o final do bloco e pela troca de molas, as cordas parecem mais tensas, como se eu estivesse tocando com um calibre mais pesado, porém os bends continuam igualmente fáceis.
2) Graves. Os graves estão mais percussivos, mais "tights" e na cara. Mas não houve diferença grande de volume, o que foi o caso dos
3) médios e principalmente os agudos. Os agudos perderam a aspereza e com certeza ganhei uns harmônicos, pois o clean está lindo. A guitarra está estalando bonito. Com o ganho de volume nos agudos, a corda mizinha agora está equilibrada com as demais, o que não era o caso antes, problema típico de stratos de entrada.
4) Dinâmica. Houve um ganho geral de volume. No vídeo, toquei com o amplificador nas mesmas configurações e depois da troca eu consigo arranhar um crunch."



Adendo 01/08/2020
O FERNANDO BOARETO fez um vídeo bem legal, inclusive comparando os pesos. Embora a captação de áudio seja de (provavelmente) celular, dá pra perceber a força e definição do ataque, com uma melhora clara do timbre e sustain. Segue o vídeo:


quinta-feira, 13 de junho de 2013

Dallas Guitar Show 2013 - Em busca do Cálice Sagrado (Parte 3)

Oscar Isaka Jr.



          Enquanto estava planejando a minha viagem aos EUA, dei uma vasculhada nos eventos da região pra ver se algo coincidia e me deparei com a feliz notícia que o Dallas International Guitar Festival iria acontecer em um dos finais de semana que estaria em terras americanas. Não hesitei e fiz planos pra visitar Dallas (apenas 3 horas de viagem de carro de Austin) e o festival, já imaginando que tipo de surpresas me aguardavam num evento desses.
Pesquisei um pouco sobre esse festival em fóruns gringos e todos diziam que era muito bacana, muitos instrumentos expostos (stand da PRS, Gibson Bus, etc.) bastante opção para negócios e cheio de shows e artistas (Andy Timmons no último dia). Pensei: "Ok, vamos baixar um pouco a expectativa tupiniquim e ver o evento", mas confesso que estava numa ansiedade danada de ver uma Gibson Les Paul Standard Sunburst dos anos 50 ! Se eu não conseguisse num festival desses, não sei onde mais conseguiria! :-)


         Chegando ao evento no primeiro dia, eu parecia uma criança na fábrica do Willy Wonka. Imaginem um galpão do tamanho de um hipermercado (desses grandes mesmo) LOTADO de stands com guitarras.


Meu plano era ir andando entre os corredores sem pressa, olhar tudo numa primeira andada e depois voltar onde achasse que seria mais interessante. Mas o problema é que TUDO era interessante! Nas fotos que seguem, uma ideia mínima da coisa:

Sim, um TrainWreck Climax!

Gibsons no stand da Fuller's Vintage Guitar
(Ace Frehley Budokan ao centro e Joe Perry à direita)




Tinha até caminhão lá dentro! :)


Um leilão seria realizado no sábado e eis a primeira Burst que vi na minha vida. 1960 100% original. Foi leiloada por USD 125.000,00 nessa mesma noite...

Les Paul 1960 original

Vários instrumentos também constavam no leilão, como essa Les Paul 1958 e os dois itens Fender atrás:


Vi guitarras que eram verdadeiras obras de arte com marcações e pinturas realmente impressionantes. Até as "Crash"que ficaram famosas nas mãos de Eric Clapton ganharam seus devidos tributos:


Guitarras Zemaitis - sempre lindas! 

E finalmente os instrumentos Vintage começam a aparecer. Stratos, Teles, 335 e, claro que elas tinham que dar o ar da graça, Les Pauls!





        Primeira surpresa de sábado: bem no final do salão principal havia um stand cheio de captadores em caixinhas pretas numa pequena mesa. Captadores exercem uma força de atração sobre o japonês aqui então é claro que tive que ver o que era e encontrei essa simpática senhora correndo de um lado para o outro no stand usando óculos no mínimo sugestivos para o evento. Chegando mais próximo, confirmei minhas suspeitas. Essa senhora era nada menos que Maricela Juarez em pessoa e o stand era o da Seymour Duncan Custom Shop.

Maricela Juarez e Oscar Isaka Jr.

Sempre gostei de testar captadores de diversas marcas e modelos e especialmente depois que comecei a estudar os PAFs, minha curiosidade pelas variáveis que captam nosso timbre só aumentou.

MJ é conhecida como "The Mojo Queen" pelos amantes dos timbres e é uma lenda viva tanto quanto o próprio Seymour quando o assunto é captadores. Das mãos dela saíram os captadores que equipam guitarras de ícones como Jimmy Page, Jeff Beck, David Gilmour, Billy Gibbons, entre outros projetos como o último Frankenstein Humbucker que equipou as caríssimas réplicas da famosa guitarra de Eddie Van Halen e o mais novo e ambicioso lançamento da Seymour Duncan: As réplicas dos PAFs da Les Paul 1959 de Joe Bonamassa (mais sobre isso ).

Trocando em miúdos, Maricela é o braço direito do velho Seymour e gerente geral da Seymour Duncan Custom Shop.


         Passei algumas horas olhando os captadores expostos e conversando com MJ e seus assessores sobre os modelos e, claro, acabei trazendo alguns pra mim.
Farei reviews deles aqui no Blog mais pra frente, mas vou adiantar o seguinte: conheço e já testei pelo menos 80% da linha de produtos da Seymour Duncan, mas os captadores da Custom Shop são algo diferenciado. MJ Sabe o que faz quando o assunto é timbre, além de ser a simpatia em pessoa!
Um fato que me chamou atenção foi o de que nem todas as pessoas que paravam para ver os captadores conheciam a Seymour Duncan. Pasmem, mas parece que eles são mais famosos aqui no Brasil do que no próprio território americano...


         Começa domingo, segundo dia do festival. Nesse dia estava determinado a olhar as coisas com calma e tentar tocar de uma vez por todas numa das Les Paul vintage que tinha visto expostas. No sábado havia tocado em algumas re-edições de diversos anos mas nenhuma real ainda. Queria poder confrontar as referências sonoras que estavam na minha cabeça com a coisa real, já que tinha visto pelo menos 5-6 originais em seus cases no primeiro dia, sem poder plugá-las.


         Quando voltei ao stand onde tinha vista 3 lindas "Burst" uma ao lado da outra no dia anterior (uma 58, outra 59 e uma 60 - foto acima) todas com seus devidos nomes, prestei mais atenção e as iniciais TW59 no topo do mesmo me pareceram familiares. Já tinha visto aquilo em algum lugar...
Pois é, foi nisso que vi um cidadão com um case Gibson Lifton (aquele marrom da custom shop) vindo na minha direção para falar com um senhor grisalho que estava tomando um café bem ao meu lado.
Observando, dei um passo atrás e o rapaz com o case o apoiou uma cadeira à minha frente e disse (traduzido): "Tom, eu trouxe a Sandy, vc poderia autografá-la por favor? ". Minhas suspeitas estavam certas, as as iniciais TW59 se referiam a ninguém menos que Tom Wittrock, o lendário colecionador de Bursts com mais de 20 em sua coleção.

Pra vocês terem uma ideia da importância desse sujeito, ano passado a Gibson Custom Shop deu início a um programa chamado  "Collectors Choice", onde seriam eleitas e reproduzidas nos mínimos detalhes Les Pauls icônicas, pertencentes à colecionadores famosos, que ainda estivessem disponíveis hoje para análise. Para a edição de número 4 (Clique aqui) foi escolhida a "Sandy", uma Gibson Les Paul Standard 1959 que pertence a Tom Wittrock.

Durante um papo agradável com Tom (muito solícito e gente fina), conversamos sobre Bursts, sobre "Sandy" e como a Gibson tinha conseguido replicar 100% a guitarra (a ponto dele não conseguir distinguir a original das cópias num teste cego), sonoridade PAF (e como os 57 Classics da Gibson não têm nada a ver com PAFs....), entre outras coisas de Les Paul maníacos, até que ele mencionou que ficaria feliz em me deixar tocar com uma de suas Burst se tivesse alguma maneira conveniente de plugá-las no festival, o que infelizmente não tinha. Cheguei perto mas não foi dessa vez que ouvi uma Burst de verdade pessoalmente. Mais uma grande experiência que tive com uma lenda do mundo das guitarras.

Tom Wittrock e Oscar Isaka Jr.

         Depois de ver bastante instrumentos e alguns shows e clinicas, era chegada a hora de assistir Andy Timmons. Me dirigi ao palco principal do evento do lado de fora do pavilhão e esperei um pouco. Mr Timmons apareceu no backstage e começou a se preparar para o show ajustando sua pedaleira e cumprimentando o povo enquanto os roadies ajustavam seu stack de Mesa Boogies. O show foi espetacular e é realmente incrível ouvir Timmons tocando ao vivo com o mesmo timbre e pegada que escutamos no CD.

Andy Timmons

Electric Gypsy deu fim ao Dallas Guitar Show e a um final de semana de muitas guitarras, experiências e diversão. Foi uma pena não ter conseguido tocar nas Burst depois de ter chegado tão perto, mas pude mais uma vez expandir as referências, conversar com lendas do timbre e me divertir um bocado.
Valeu a pena!!

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PS: Quando o Oscar estava fazendo o post, combinamos de eu acrescentar alguma coisa sobre o mercado (meio underground mas extremamente ativo) especializado de Les Paul (e outras) vintage. Nesse universo, onde fortunas e bursts raríssimas trocam de mãos (algumas de astros do cinema e milionários não menos famosos), muito bem descrito no livro "Million Dollar Les Paul", de Tony Bacon, Tom Wittrock é uma autoridade e referência. 
Mas resolvi deixar esse assunto para um post em separado, mais pra frente, pois aqui tem assunto de sobra pra discutir... :)
Paulo May

terça-feira, 11 de junho de 2013

Telecaster Paisley Custom

  Paulo May        

         Estamos com a terceira parte da saga "Les Paul R9" quase pronta. Enquanto isso, uma pausa para o recreio. Acabei de finalizar a minha mais nova Telecaster: A "Paisley FGP":


Em janeiro desse ano um grande amigo meu do fórum da Guitar Player Brasil, o luthier André Corradi, veio com a família passar alguns dias em Floripa e me trouxe de presente um lindo braço de Roxinho, com frisos e tudo mais. De cara vi que a cor dessa madeira brasileira combinava com o corpo da minha tele vinho/vermelho metálico. Em fevereiro fui montar e sem querer deixei cair uma gota de Super Bonder no corpo. Só vi quando já estava tudo grudado... Depois de muitas reviravoltas, resolvi colar no top uma folha de papel indiano com detalhes metálicos e tentar um efeito "Paisley", que a Fender usou na década de 70 (era papel de parede com motivo Paisley). Deu certo, mas dessa vez enviei para o luthier Inaldo finalizar com verniz e polimento. Ficou linda! As Fotos não fazem jus.


Como já tinha dois caras do fórum envolvidos nessa guitarra, aproveitei e coloquei a linda placa de fixação do braço/neck plate do luthier Tanaka só pra fechar a trinca.


Eis a Paisley FGP, então. O braço de Roxinho (detalhe: braço e escala em peça única) não interfere na sonoridade clássica, pelo contrário, soa muito semelhante a um braço de maple com escala de rosewood.
Um belo presente do meu grande amigo, o luthier André Corradi :)



Especificações:
Corpo: Alder, 2 peças (colagem central)
Braço: Roxinho, quase em "D"
Frequência de Ressonância do Braço: F# (F#3)
Escala: 251/2", Roxinho, Raio: 10". Nut: latão
Tarraxas: Grover Mini Rotomatics
Captador Ponte: Sérgio Rosar Vintage Hot T com pinos de alnico III escalonado - 7,2K
Captador Braço: Genérico rebobinado: 6,5K
Pots e capacitor: Vol: 250K Tonalidade: 500K capacitor 0.047uf.
Ponte: (Ferrosa) GFS com 6 saddles de aço

Essa é a única Telecaster que tenho com pot de volume de 250k e acho que não vou trocar. O alnico III soa mais macio que o V e um pot de 500k pode abri-lo demais. O captador do braço tem o som típico desses captadores com capinha metálica: mais fechado e sem muito estalo. Com exceção do original da minha Tele de 1968, que tem uma saída fora do padrão da época, com 8,5k, nunca gostei desses captadores. Já testei muitos deles, inclusive o Quarter Pound Seymour e o Fender Twisted. Às vezes até soam bem, mas nunca divinos.
Esse corpo já compôs outra Telecaster, essa que tá nesse post e nos vídeos (clique).

Adendo 13/06/2013:
O Fabiano sugeriu e como eu tinha as fotos prontas, vou postar aqui mesmo pra não ter que fazer outro post:

Aqui, o corpo parcialmente lixado e pronto pra receber o papel "artesanal indiano", comprado em livraria. Usei o corpo para delinear o primeiro corte com tesoura. Cortei "por dentro" dos contornos, já que o lápis passa por fora do corpo.


Utilizei rolinho e cola de madeira com uma pequena diluição pra escorregar e posicionar melhor a folha no top. Foi um erro utilizar cola de madeira, sensível à altas temperaturas e umidade - deveria ter pesquisado um pouco mais. Após o verniz final, uma pequena parte perto do control plate descolou. Ainda bem que foi pequena, mas em determinados ângulos de visão, dá pra perceber bem... Vivendo e aprendendo :)

Utilizei um estilete com ponta novinha, posicionei o top pra baixo e cortei o mais rente possível pra evitar sobras nas bordas. Sempre fica alguma coisa sobrando... Na hora pensei que ia complicar, mas dei um jeito depois, após passar a laca indiana.

Após aplicação de goma laca com esponja e pano. A cor do top não podia ficar roxa total porque o restante do corpo é vinho metálico. Já havia testado antes nesse papel e sabia que ao passar a goma laca (também diluída em 1/3 ou 1/4 de álcool) o tom iria mudar e aproximar do vinho. Só não podia ficar muito amarelado...

Até gostei desse ponto e quase parei por aí. Mas comecei a achar muito "over". Mesmo acentuando a laca (outro vidro, com mais corante roxo e vermelho) nas bordas, não conseguia escurecer no ponto desejado.

Aí peguei os dois vidros de tinta PVA cintilante, misturei até chegar num ponto meio vinho (no pote) e apliquei, também com uma esponja.

Agora sim, quase pronto e fazendo uma transição mais uniforme com as laterais. A laca endurece depois que seca e ficou fácil, nesse ponto, retirar algumas sobras do tecido e deixar as bordas bem uniformes, Utilizei lixas (280/320), com muito cuidado pra não arranhar as laterais.

Por coincidência, um dia após acabar e já apavorado pensando em quantas camadas de verniz spray teria que passar pra cobrir tudo isso (o papel cria um relevo), o meu luthier, Inaldo, foi até a minha casa, viu o corpo, gostou e pediu pra finalizá-lo. Como todo cara experiente, conseguiu uma tinta na mesma cor original dela , repintou toda a traseira e laterais e envernizou tudo após. Foi nesse processo que houve o descolamento parcial numa das bordas do control plate. Ele ainda jogou um pouco da tinta original por cima de tudo, pra escurecer e ficar mais discreto. Mesmo com o pequeno defeito, ficou linda. :)

PS: Se eu soubesse disso (clique) antes de todo esse trabalho, talvez optasse pelo adesivo... Mas não teria tanta graça! KKKK!
Visite o site da Custom Guitar Wear aqui do Brasil: http://cgw.iluria.com/index.html?locale=pt-br

domingo, 9 de junho de 2013

Blindagem Caseira - minimizando os ruídos das guitarras


Oscar Isaka Jr.



Ruído... Um grande problema de todo Strateiro, 
Todos os captadores do tipo "Single Coil" (uma única bobina) apresentam o famigerado ruído/zumbido de 60 ciclos/segundo, o famoso "60 Cycle HUM". Não vou aqui entrar em detalhes técnicos do problema, mas o fato é que ele existe e não tem cura. Costumo dizer que ele é parte integrante do som de um bom TRUE SINGLE COIL :P . 

Além do "60 Cycle Hum" outras interferências podem ocasionar vários tipos de ruído e chiado, como rádios, ondas eletromagnéticas oriundas de monitores e/ou TV entre muitos outros que fazem parte da nossa vida cotidiana. Nem Humbuckers (que não apresentam esse ruído de 60 ciclos) escapam dessas interferências externas, mas elas ficam mais evidentes nos Singles, pois esses não possuem qualquer tipo de cancelamento de ruído.

Resumindo, qualquer captador, pela sua estrutura (uma ou mais bobinas com fio condutor enrolado e próxima a um imã) pode funcionar como uma antena e captar desde ondas eletromagnéticas até sinais de alta frequência, como rádio e TV.

O 60 Cycle Hum é chato por si só, mas ter ele e mais a OuroVerde FM tocando no AMP é demais né? :D 

Então, utilizamos um princípio básico de física, conhecido como "Gaiola de Faraday", que isola um corpo de interferências eletromagnéticas externas, para minimizar os ruídos das guitarras. Esse processo é conhecido como "Blindagem". A blindagem diminui as interferências externas, mas obviamente não elimina o "Hum" porque ele é inerente à estrutura do single coil.

Update: O Luthier Edilson Hourneaux propõe em seu blog uma outra abordagem sobre a blindagem. Não tenho o fundamento teórico para dizer o que é "mais correto" tecnicamente mas vale a pena conferir. Fato é que a blindagem diminui ruídos do instrumento, qualquer que seja a razão por trás disso ! :D

Fiz uma conversão da minha Fender há um tempo atrás de HSS pra SSS clássico, e resolvi fazer uma blindagem das cavidades. Utilizei para tal, fita dupla face, papel alumínio de forrar fogão e muita paciência. Tirei umas fotos do processo pra dividir com vocês. 

Eis a srta. antes da cirurgia :

Primeiro fiz o escudo. Colei fita dupla face cobrindo toda a superficie da folha e alumínio afim de ter "cola" em toda ela e cortei o suficiente para cobrir a cavidade dos captadores. É importante que toda a cavidade seja coberta. 


Aqui já com a nova parte elétrica e caps instalados:


O Próximo passo foi blindar a cavidade da guitarra. Essa é a parte que exige paciência e capricho. É muito importante que toda a cavidade seja coberta. Isso vai proporcionar a formação da Gaiola de Faraday que é o objetivo da blindagem. O princípio é o mesmo usado em pedais e outros circuitos, bloqueando interferências externas. Na WikiPedia tem uma explicação bacana da Gaiola de Faraday com termos ténicos

Cavidades da Fender recebendo o alumínio:




Depois de pronta. Notem que eu deixei umas pequenas "abas" nas bordas da cavidade. Isso é para fazer contato com o alumínio do escudo. Alias esse é um ponto importante. Tenha certeza que todos os pedaços colados de alumínio estejam em contato.




Depois é só montar e apreciar o resultado :


Fica a dica!!!

Abraço! 



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PS1: Sim, blindagem de guitarra não é uma gaiola perfeita porque os próprios captadores interrompem a integridade da estrutura. O Edilson está correto. Mas uma coisa é teoria e outra, prática. Na prática, MEIA blindagem é melhor do que nenhuma. 
Imagine os ruídos externos como uma "chuva". Na chuva, até um guarda-chuva pequeno é melhor do que nada...
Tenho teles e stratos e as teles sempre foram menos ruidosas que as stratos. Isso é devido à estrutura metálica da ponte, que isola parcialmente o captador dali e à capa metálica do captador do braço. Há redução de ruído - fato observado há mais de 50 anos - e obviamente a blindagem nem de longe é uma gaiola fechada.

Temos que nos lembrar que captadores geram um sinal baixíssimo, que ao ser amplificado, carrega consigo os ruídos próprios e captados. Quando blindamos uma guitarra, eliminamos uma porcentagem dos ruídos externos captados e as notas soam mais limpas, principalmente no sustain, pois a nota gerada pela corda tem um decaimento, mas os ruídos não. E isso me leva ao próximo item:

Quanto ao mito da blindagem alterando o timbre:

Já falei aqui que a presença de metal nas proximidades de um captador gera um fenômeno físico conhecido como indutância, que por sua vez degrada o sinal captado das cordas, principalmente as frequências mais altas. A blindagem acrescenta uma (muito) pequena indutância e portanto uma (muito) pequena degradação dos agudos. Porém, ao reduzir os ruídos, ela revela harmônicos até então camuflados, aumentando a percepção de "clareza" do timbre. 
Portanto, o resultado final de qualquer blindagem com um mínimo de eficiência é sempre positivo em relação ao timbre.

PS2
O principio do aterramento é importante e deve ser bem compreendido: o aterramento (e não só nas guitarras) visa descarregar o potencial elétrico acumulado nas partes de metal - isso evita que o nosso corpo receba uma (des)carga elétrica/choque (que pode ser desde imperceptível até, muito raramente, mortal) e que essa energia induza ruído/"sujeira" no sinal elétrico gerado pelo captador devido à vibração das cordas. Todas as partes metálicas da guitarra (inclusive a blindagem se existir) devem estar em contato entre si. Por exemplo, as tarraxas com as cordas, essas com a ponte, a ponte, através de um fio condutor, geralmente até a carcaça do potenciômetro de volume (quase todos os pontos de drenagem de aterramento fluem para o pot de volume) e daí finalmente (também através de um fio condutor) para o jack de saída, que joga tudo no condutor terra do cabo.
A eletricidade está em toda parte :)


Paulo May