domingo, 21 de abril de 2013

La Cabronita Custom Golden Leaf

       


         Fanático que sou por Telecasters, não poderia deixar passar em branco a nova versão denominada "La Cabronita" da Fender (as traduções do espanhol divergem, mas à princípio seria uma "rapariga sem pai"... :) ). Iniciou como uma linha exclusiva da Fender Custom Shop, mas agora há uma versão mais barata feita no México.
La Cabronita é uma Telecaster clássica mas com dois captadores humbuckers do tipo Filtertron Gretsch. Geralmente elas vêm com um modelo (Fidelitron) que é uma variação entre o Filtertron clássico que equipava boa parte das Gretsch dos anos 50 e os modernos TV Jones (Thomas V. Jones), algo mais fortes e modernos.

O gatilho para a montagem de uma Cabronita foi uma oferta do meu amigo do fórum da GP, o Yanko, que me conseguiu um corpo de Cabronita USA feito de uma madeira muito leve e macia, chamada de "Sugar Pine". Como eu sabia que muitos experts em Telecasters estavam fazendo Cabronitas com essa madeira, resolvi comprar no ebay. O Sugar Pine (uma variação do nosso Pinus) é levíssimo, de baixa densidade e muito macio, bem mais do que o brasileiríssimo Marupá.
Por que não tentei comprar uma Mexicana? Porque embora curioso pra conhecer e tocar uma Cabronita, nunca botei muita fé (na verdade não gosto mesmo) em Teles com humbuckers, mas os Filtertrons têm uma sonoridade única e talvez...

O corpo chegou com alguns pequenos defeitos, ranhuras provocadas pelo corte CNC na madeira muito frágil. Nem quis perder tempo (pra variar) e reclamar com o fornecedor americano e usei um pouco de massa de madeira para nivelamento. A Cabronita tem várias peças exclusivas, meio caras (pra nós, pobres brasileiros que temos que pagar os absurdos impostos de importação) e difíceis de encontrar, a começar pelos Filtertrons e TV Jones. passando pela ponte hardtail, escudo e placa traseira de controle.

Bem, toquei o barco e o primeiro passo era decidir a cor. Preta como a maioria? Humm... Eu estava a tempos querendo testar uma técnica antiga que utiliza folhas finíssimas de ouro (golden leaf) que deixa a superfície verdadeiramente dourada, com infinitas variações de brilho e cor em cada ângulo que olhamos.

Eu tinha aqui em casa vários pacotes de Golden Leaf da década de 40 e 50, que estavam numa caixa (de charutos Jamaicanos) dessa época, obtida em Nova York em 2001. A caixa em si é uma volta no tempo: também tinha fotos originais, fusíveis e até um compasso. Mãos à obra...


Golden Leaf no top e tinta dourada no restante, tudo coberto com algumas finas camadas de verniz.
O mais chato foram as adaptações: as cavidades eram muito rasas para os Filtertrons (e eu não tenho tupia - tive que me virar, como sempre, com a Dremel) e eles são presos por parafusos longos direto no corpo. A regulagem da altura é obtida por pressão sobre uma espuma retrátil colocada embaixo. Até acertar o jogo de pressão, é foda.

Mas acabou ficando pronta (braço licenciado Fender da Mighty Mite). Quando fui tocar, o corpo de Sugar Pine mostrou suas fraquezas (já imaginava): nem de longe tem a ressonância do alder ou ash, mas como os captadores são Filtertrons, depois de alguns ajustes, consegui tirar um som mais do que decente.

Nem pensar em colocar um escudo por cima desse dourado verdadeiro... :)

         Descobri que Filtertrons são, mais do que qualquer humbucker, extremamente responsivos aos ajustes de altura do corpo do captador e dos parafusos das bobinas. Ambas as bobinas têm parafusos ajustáveis e conseguimos mudar muito a resposta de cada corda fazendo um jogo entre a diferença de altura dos parafusos das duas bobinas e deles em relação às cordas. MUITO interessante...
No atual momento, até entendo porque muita gente tá usando corpos de sugar Pine para Cabronitas (e até Teles clássicas). Depois de duas semanas tocando com ela, posso garantir que aprendi a gostar do som, principalmente dos médios do Tron da ponte. Lindos.

Por via das dúvidas, e agora já conhecendo melhor o Marupá, encomendei um corpo de Cabronita de Marupá (25-40% mais pesado que o Sugar Pine) com o luthier Adriano em Belo Horizonte. Especifiquei as cavidades (agora com a profundidade correta) e ele programou na CNC. O corpo já chegou e é lindo, peça única, muito bem feito. 200 reais, minha gente... No Brasil tem coisa legal, é só procurar.

Se conseguir mais um par de Trons ou TV Jones, monto outra, só por curiosidade :)






41 comentários:

  1. Ficou linda, muito legal essa idéia das folhas de ouro!!!!

    Nossa Paulo, eu sou doido pelo som desses captadores, principalmente por causa dos timbres do guitarrista do The Cult, Billy Duffy, e sua Gretsch White Falcon!!!

    Fala um pouco mais da sua impressão desses captadores....

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    1. Muito legais, Rudney. Abri o do braço e tem pinta de ser feito no oriente... É só um palpite, mas as especificações são originais.
      É um captador de baixíssima saída, tem um clean legal porém com pouco headroom - suja rápido. Levei uma semana pra entendê-los...KKK!

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    2. Estou fazendo uma telecaster só com o corpo em cedro e a captação TV Jones clássic sou fã destas captações o som e lindo , ficou lindo as folhas de ouro na telecaster do Paulo may

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  2. Cara, seu blog é muito bom, poderíamos ser blog parceiros? Tem muita matéria que gostaria de replicar para os meus leitores, principalmente o processo contra a Tagima, acredito que todo mundo deveria saber do que realmente estão comprando! me contate bruno.moscan@live.com

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    1. A parceria de blogs correlatos é sempre legal, Bruno. Me passe o seu link que já coloco na minha lista.
      Abraço!

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    2. Olha o meu Blog - ele é novo e muito simples, não repare, www.totaltone.blogspot.com.br - posso replicar a matéria sobre o processo contra a Tagima no meu Blog? Achei um absurdo,,, mais absurdo ainda foi te oferecerem um corpo com "apenas" seis emendas!!!!!!!!!!!! Só isso, porque não fatiaram mais a madeira? kkkkkkkkk Eeeeee Brasil!!!!!

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  3. Parabéns Paulo. Ficou lindona. Acho que a cabronita com corpo de marupá soará melhor ainda. Abraços, Fabiano

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    1. Vamos ver, Fabiano... :) Ainda tô me aprofundando no Marupá, mas definitivamente tem que ser uma peça com mais peso.

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  4. Paulo:
    Um elogio:

    Ficou muito legal essa guitarra, nunca usaria uma dessas,meio extravagante, mas para uma coisa mais ZZTop é bem interessante!

    Um (dois) pedido:
    Conta mais sobre a técnica de aplicação desse acabamento, faço isso com gesso e couro, mas com a madeira não tinha visto ainda...

    Passa o contato desse cara com CNC, preciso de umas peças e ando meio medroso de luthieres que fazem coisas a mão...

    Uma bronca?(ou mais um pedido?):

    Você tinha me prometido um passo a passo para stratos com apenas um volume e tone...E agora eu tô cobrando :)

    Abraços e força!

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    1. Daniel, vou aproveitar que estou com um escudo chinês montado aqui e fazer o post. Breve :)

      Amanhã ou na quinta vou postar as fotos dos corpos do Adriano e todos os contatos dele. Só estou aguardando a autorização final para divulgá-los.

      A técnica das folhas na madeira com certeza é idêntica aos outros materiais. Assisti alguns vídeos na internet e mandei bala :)

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  5. Oi Paulo! Super interessante seu post. Sou de Belém-PA e estou encarando o mesmo processo que você encarou para montar essa guita que ficou muito legal. Parabéns.

    Gostaria de tirar umas dúvidas.

    Qual é a marca dessa hard tail? Você viu algum problema na montagem dela pelo fato do espaçamento dos saddles serem ligeiramente maiores que os espaçamentos dos polos dos filtertron?

    Obrigado! Parabéns aí pelo trabalho!

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    1. Hardtail Condor genérico com saddles de aço GFS. O captador da ponte ficou ligeiramente desalinhado mas o do braço, perfeito. Ele tá desalinhado porque eu estupidamente soldei a capa desalinhada, mas vou arrumar assim que der.

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  6. Caro Paulo, queria um corpo de marupá igual a esse, teria como me passar o contato do luthier de BH ?

    Parabéns pelo blog !!!

    Abs,

    Fábio

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    1. Obrigado, Flávio.
      Amanhã ou na quinta vou postar as fotos dos corpos do Adriano e todos os contatos dele. Só estou aguardando a autorização final para divulgá-los.

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  7. Show de bola Jack!
    Mas você usando marupá??
    Bateu a cabeça no poste?...rs

    Um abraço!

    Velhinho

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    1. Na verdade a impressão algo ruim do Marupá era de uma strato Tagima que toquei há uns 3 anos, velhinho. Mas nunca parei de fato pra testar o Marupá.
      Vou montar uma Tele clássica de marupá com o Rosar Hot T e colocá-la lado a lado com a de alder e ash. Daí, com certeza terei uma ideia definitiva. Pelo menos timbre de tele eu acho que conheço bem... :)

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  8. Olá Paulo, tudo bom?

    O Marupá pode substituir os tradicionais Ash e Alder? Desculpa por fazer uma pergunta tão direta e de (talvez) difícil resposta, mas já estou pensando nisso há algum tempo. Abraços!

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    1. Acho que não, mas gostei do marupá na minha strato hardtail (a Wally).

      Vou montar uma tele clássica com as mesmas configurações de uma de alder e outra de ash que tenho aqui. Com as 3 juntas, vou poder comparar perfeitamente as diferenças. Se tudo der certo, em 2 ou 3 semanas vou ter alguma conclusão.

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  9. Cara fiquei impressionado com o resultado da cor, esses papeis podem ser substituido por outro? Ex. papel laminado dourado... ou outros? Minha pergunta é pq estou montando uma telecaster dourada, até agora tinha só visto tintas, porém vc me abriu o leque de materiais para doura a tele.
    Paulo não esquece de falar dos captadores de telecaster, acho que vou pedir um texas special, que vc acha?

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    1. Essas folhas estão à venda em lojas de artesanato e não são difíceis de encontrar, Jorge. São ideais porque são extremamente finas - não dá nem pra respirar perto que elas já saem voando. Folhas mais grossas criariam um relevo que teria que ser nivelado no verniz - daí a guitarra fica entupida de verniz e o som morre...

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  10. Paulo,

    Como vc compararia o marupá com o poplar e com o pinho? Há algum tempo venho pensando em encomendar com algum luthier uma cópia da danelectro pro. Desde já agradeço!

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    1. Só poderia comparar se tivesse tocado uma guitarra semelhante de poplar e/ou pinho. Dá pra ter uma ideia pela densidade média das madeiras: 0,3-0,6 - são todas similares (e podes colocar o basswood aí tbém), mas o legal é comparar na prática.
      Teoricamente, madeiras com densidade menor que 0,4 kg/m³ (alder: 0,4-0,7) não têm "massa" legal pra ressonância (teles e stratos) e podem soar meio mortas, mas não é uma regra definitiva.

      Já as Danelectro por regra tinham corpo de baixa densidade - um dos fatores influentes na sonoridade, inclusive.
      Portanto, para clones de Danelectros, essas madeiras citadas são ideais...

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    2. Caio,

      tudo bem que não é uma danelectro, mas no tópico Timbres de Tele do Fórum Guitar Player (http://www.guitarplayer.com.br/forum/index.php?/topic/1290-timbre-de-tele), eu postei na última pagina um vídeo do Bill Kirchen onde se tem idéia do que uma Tele de pinho selecionado com bons captadores de alnico é capaz.

      Lógico que a guita na mão de um ótimo músico ajuda muito. rsrs

      Mas como o Jack já cansou dizer, nada melhor que madeiras clássicas para tele e strato.

      Ah e vale apena se cadastrar no Fórum, caso já não esteja cadastrado, tem muita informação útil.

      Marçal.

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  11. Que guitarra linda Paulo!!
    Não achei a cor nada exagerada, muito pelo contrário, bem melhor que os goldtops ainda mais pela diferença de cores geradas pelo "relevo" das golden leafs...

    Parabéns por mais esta linda guitarra, ela me deixou um pouco mais aficionado por telecasters, este blog está mudando muita das minhas opiniões primordiais haha :)

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    1. Eu iria comentar a mesma coisa da cor. Confesso que fiquei apaixonada! Se bem que quando o assunto é Telecaster, sinto o coração bater mais forte.

      Minha v62 Vintage chegou e quando eu não estou com ela, só penso em estar com ela. Loucura?

      Parabéns pelo blog, Paulo!
      Acompanho a algum tempo, me deixou mais crítica. =P

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    2. Puxa... Eu realmente não sabia mais se ficou legal ou espalhafatosa demais. Agora com uma opinião feminina, fico mais tranquilo! KKK!

      Tai, quando a gente se apaixona por Telecaster, é pra sempre. Podemos até deixá-la às vezes um pouco de lado, mas quando voltamos a tocá-la, a sensação de intimidade é inebriante!
      Como diria Jeff Beck: " A telecaster é brutalmente honesta. Ela revela o melhor e o pior de cada guitarrista"

      Mas o que eu achei mais legal é o que o Bruno e a Tai escreveram como última frase... O foco do blog é justamente esse e o que mais me deixa feliz!
      Despertar a análise crítica do guitarrista em relação à estrutura das guitarras é o objetivo primordial aqui... Pelo menos quem lê o meu blog pode entrar numa loja tranquilo - vai saber diferenciar uma guitarra ruim de uma boa, mesmo que ela esteja disfarçada :)

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  12. estava procurando um tipo de acabamento para minha ibanez Jem e acabei de encontrar uma ideia fantastica!!! obrigado!!!!só uma duvida vc deu algum tipo de acabamento por baixo? seladora ou outra tinta base?

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    1. Eu pintei antes com verniz spray dourado (Suvinil, acho). Nem passei seladora. Deixei secar uns 3 ou 4 dias e apliquei as folhas. No final, umas 5 a 6 demãos de verniz spray incolor brilhante por todo o corpo.

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    2. brigadão man!!! vou fazer na minha Ibanez jem assim q fizer te mando resultado mais uma vez obrigado!

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  13. Paulo, não há outra coisa a dizer... essa Tele ficou MUITO LEGAL!!! E é um acabamento bem incomum (pra mim, pelo menos!). Valeu por mais essa dica!!!

    Qdo vc terminar a sua comparação entre alder, ash e sugar pine, no post devem rolar uns áudios/vídeos, né? :-)

    Grande abraço, e obrigado por manter esse blog sempre atualizado!!!

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    1. "Incomum" é um eufemismo pra "espalhafatoso tipo gay", Sid? KKK!
      Não dá pra comparar as 3 madeiras porque Cabronita só terei a de Sugar Pine e se tudo der certo, a de Marupá - essas duas dá pra comparar.

      Entretanto, vou comparar o marupá com o alder e ash numa Tele clássica. Breve. :)

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  14. Muito legal esse acabamento. Você poderia fazer um post explicando em detalhes como fez? Qual cola você usou, como aplicou, etc.
    Valeu.

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    1. Flávio, usei uma cola transparente Scotch que roubei da minha filha :). Dilui com um pouco de água e apliquei-a com uma esponja pra deixar apenas uma camada bem fina. A técnica em si é muito bem explicada em vários sites e vídeos do youtube. Digite: "golden leaf techniques" na busca.
      Uma coisa que não fiz, mas deveria ter feito, é colocar uma fita crepe protetora nas bordas laterais pra deixar o top bem demarcado.
      Boa sorte! :)

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    2. Só duas dúvidas: vi duas técnicas distintas. Uma com folhas inteiras e outra com as folhas meio picotadas. Qual delas vc usou? E sobre o verniz, será que dá para ser umas 4 ou 5 demãos de goma laca, uma boa lixada e polimento para deixar brilhoso?
      Abraço!

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    3. Usei folhas inteiras - na verdade eram pedaços de cerca de 8x8 cm. Essas folhas desmancham ao toque - é complicado...
      Acho que das duas maneiras fica legal.
      Diêgo, aproveite e dê uma lida nesse link:
      http://guitarra99.blogspot.com.br/2014/05/faq-003-orientacoes-para-perguntas.html
      Vai ajudar bastante por aqui :)
      Abraço e boa sorte!

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  15. Fala, Paulo! Outro dia tava dando uma olhada no site da Stewmac e achei uns TV Jones por lá, fica a dica aí, caso já não saiba!

    http://www.stewmac.com/shop/Electronics,_pickups/Pickups:_Guitar,_electric/TV_Jones_Classic_Pickups.html

    Achei um pouco caro só, mas é uma alternativa. Abraço!

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  16. Linda a guitarra. Queria muito conhecer o timbre dos filtertron, bem q vc podia postar uma amostra de som hein :) abração.

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    1. Infelizmente esse corpo não existe mais. Sabia que seria arriscado mas pedi para um luthier colocar frisos e deu tudo errado. Shit happens...

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  17. Boa noite...desenterrando o topico...apaixonei por essa guitarra e necessito de uma...recomenda o marupá ou freijó?

    Tem um site novo...kaiserguitars.com que estao trabalhando com vendas de corpos bem em conta com madeiras brasileiras

    Valewss

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  18. Conheço o Kaiser - é gente boa e competente.
    Quanto à madeiras, se queres uma sonoridade mais macia, marupá. Um pouco mais agressiva, Freijó.

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