Oscar Jr.
Lá pelos idos de 1940 Leo Fender trabalhava na concepção de algo que pudesse amplificar o som da guitarra elétrica e continuasse o mais limpo possível mesmo em volumes mais altos. Pensando como engenheiro da época (imagine-se em 1948), seria lógico pegar o circuito amplificador de um rádio valvulado e transformá-lo/adaptá-lo em algo que pudesse pegar o sinal do captador magnético da guitarra e amplificá-lo através de um alto-falante. Nascia aí o primeiro dos amps da famosa "Era Tweed" dos amps Fender, o Tweed Deluxe.
Fender 5E3 Tweed Deluxe |
Meu interesse no 57 Deluxe começou mais ou menos na mesma época dos PAFs quando descobri que o clássico do ZZ Top - Brow Sugar foi gravado com um 5E3, assim como La Grange e outros tantos clássicos do grupo liderado pelo reverendo Billy Gibbons.
Esse timbre, essa resposta dinâmica, a impressão que tenho quando ouço essa música (principalmente a introdução) é que Gibbons tem o timbre sob seus dedos o tempo todo. Altera a palhetada e a pegada a todo momento para conseguir texturas e derives de diversas cores de acordo com o que deseja. Os PAFs e a Pearly Gates são parte da fórmula, mas o amp também é fundamental. A explicação técnica no caso do 5E3 é que se trata de um amplificador com algumas características da arquitetura "Classe A", conhecidos pela extrema resposta dinâmica tanto da palhetada como do volume da guitarra, assim como o VOX Ac-30 por exemplo entre alguns outros. (PS: Na verdade o VOX AC30 não é um "CLASS A" puro, mas sim um híbrido com apontamentos de Class A e Class AB para melhor desempenho. Segundo o John nos comentários, o Deluxe 57 entra também nessa categoria. Eu realmente preciso estudar mais um pouco pra entender 100% o que isso significa )
Controles simples do 5E3 Deluxe |
Pois bem, como conseguir esse timbre nos dias de hoje? O circuito do 5E3 é relativamente simples e fácil de ser copiado, mesmo por que o esquemático é amplamente divulgado e conhecido na internet. Algumas marcas fazem clones idênticos e outras usam a arquitetura básica e adicionam alguma mágica pra extrair novas texturas como por exemplo o Bogner Lafayete , mas aqui no BR era quase impossível encontrar algo parecido com isso (parece que a Serrano amps faz um clone do 5E3). Eu mesmo nunca tinha tido a oportunidade de tocar em um até muito pouco tempo atrás, mas quando apareceu foi amor a primeira vista.
Ano passado o Luciano da Garagem Instrumentos aqui de Ctba me ligou dizendo que havia comprado um lote de "ponta de estoque" da Pride (importadora oficial da Fender no Brasil) e que iriam chegar algumas coisas que eu talvez fosse gostar. Conheço o Luciano há muitos anos. Recentemente ele resolveu abrir sua própria loja e conhecendo o bom gosto dele já sabia que só viria coisa boa por aí. Pois bem, quando fui na loja ele havia acabado de receber o carregamento e dentre as coisas estava simplesmente um Fender Custom Shop 57 Amp.
O impacto visual é impressionante nesse amp, e eu mesmo não conhecia até vê-lo pessoalmente. Fui pesquisar.... Descobri que a Fender relançou o Deluxe em 2007 com dois modelos Custom Shop. Um deles é o original Tweed, com todos os atributos e especificações do original e um segundo modelo "hot rodded" que é o 57 Amp.
O conceito da Fender nesse amp foi tentar imaginar o que Leo Fender faria se fosse idealizá-lo como um amp "Boutique", ou seja, com tudo o que se tem de melhor mantendo as características clássicas. Pra isso, convocaram o designer industrial Shawn Greene que junto com o engenheiro de design Nick D'amato e o diretor de marketing Shane Nickolas desenvolveram e chegaram nesse design maravilhoso. O gabinete é em maple sólido com acabamento de "piano lacquer", a grade frontal tem design baseado nos antigos Cadillacs dos anos 60, a alça de alumínio e o painel cromado com knobs personalizados... São alguns detalhes que já fazem valer o visual do Amp como se pode ver nas fotos.
Nas especificações técnicas, o 57 amp é todo feito manualmente (hand-wired) ponto a ponto, equipado com transformadores Mercury Magnetics especialmente desenvolvidos para o projeto, falante Celestion Alnico Blue, 2 válvulas 6V6 no power, 2 12Ax7 no preamp e uma 5Y3 retificadora garantem ao 57 Amp toda a sonoridade do clássico circuito 5E3 com um toque de modernidade. Tem um pouco mais de ganho e soa mais "na cara" que seu irmão Tweed. Uma verdadeira obra de arte.
Abaixo um vídeo a apresentação dos dois modelos na NAMM de 2007 com Shane Nickolas:
Quando toquei com ele me apaixonei.... Com certeza o amp mais dinâmico e responsivo que já tive/toquei até hoje. Incrível. Não preciso nem dizer que trouxe o amp pra casa e sim vou graver algo com ele pra vc`s ouvirem e atualizo o post aqui. Gravo com LesPaul, Tele e Strato pra terem uma idéia das diferentes respostas do amp. Fiquem ligados que essa semana ainda sai.
PS: Fiz um negócio excelente com o Luciano pois ele pegou esse amp num lote de equipamentos que a Pride estava liquidando como ponta de estoque (esse em especial estava com preço bem abaixo por ter sido usado no stand da importadora na ExpoMusic) e nem deixei ele expor na loja. Quem quiser conhecer a Garagem pode procurá-los no Facebook . Eles sempre postam novidades e volta e meia tem peças como essa de ponta de estoque com preço bom e ótimas condições. Sempre bom conhecer lojas e lojistas qe entendem do que fazem e são tão malucos por instrumentos quanto nós!
Fala Jr! Eu vi um comentário um dia q dizia que muita gente se enganava com o Vox, dizendo q ele é classe A, mas na verdade é AB... eu confirmei a informação nesse site, mas se vc puder esclarecer melhor eu agradeço: http://en.wikipedia.org/wiki/Vox_AC30
ResponderExcluirAbraço! Muito bom o post e o ampli tbm!!
Fala Cícero, na verdade isso é um assunto meio techie, mas no fundo vc está certo.
ExcluirO AC30 não é um TRUE "Class A" mas sem entrar em assunto de Tech, ele tem algumas características dos "Class A" tanto técnicas como sonoras. O fato de ser "Cathode Biased"e não ter um "Negative Feedback Loop" por exemplo, fazem o amp adquirir uma sonoridade mais crua e menos limpa. Na verdade TRUE class A mesmo só os amps chamados Single-ended como o "Fender Champ", nem o 57 se encaixa nessa 100%. Entender esse mundo técnico é coisa pra maluco... Vou até editar o post . :-) Valeu o toque
Eu nunca entendi bem essa história, a única coisa q eu captei é que pra ser single ended, tem q ter apenas 1 válvula na saída/power... mas é um mistério pra mim e não sei se um dia vou descobrir a parte técnica disso, heheh. Valeu Jr!
ExcluirCara se captador é mundo pra maluco, AMP é pra extra terrenos! rsrs. Sim vc está certo, TRUE CLASS A é só single ended com 1 valvula na saída, mas a perda de rendimento é de 50% da potência da valvula em média, e pelo que entendi é a razão pela qual misturaram CLASS AB no power de alguns modelos, pra ter mais rendimento. O AC30 é um desses casos, então não é de todo errado afirmar que ele é Class A! rsrs
ExcluirIsso ditto, eu tenho uns artigos em inglês que explicam numa linguagem um pouco menos técnica (mas ainda BEM complicada) como isso tudo funciona e estou vendo uma maneira de fazer um post educativo tentando explicar esses conceitos sem criar no na cabeça de ninguem. Mas antes disso eu preciso entender 100% os poor ques das coisas rsrs... Vamos ver se rola...
Eu assisti a uma breve explicação sobre o "negative feedback loop" em um workshop q participei, ministrado pelo Andy Serrano (Serrano Amps). O mais legal foi ver os exemplos ao vivo, pq os amps dele estavam lá e pudemos sentir as diferenças enquanto a informação ainda estava fresca na memória. Pra quem quiser dar uma olhada, tem um texto dele bem aqui: http://serranoamps.blogspot.com.br/2010/09/loop-de-negativacao-do-estagio-de.html
ExcluirSid, explicação excelente!! Eu mesmo não sabia de todos esses detalhes!! Valeu
ExcluirOlá Jr.
ResponderExcluirFoi num post do FGP (http://www.guitarplayer.com.br/forum/index.php?/topic/2504-fender-tweed-deluxe-57/) que conheci o Tweed Deluxe, a mágica do funcionamento dos dois volumes para ganho, e gostei demais. Depois vi/ouvi outros vídeos e percebi que se trata de um amp diferenciado mesmo.
Queria eu ter condições de aproveitar volta e meia essas pontas de estoque de lojas como essa, repleta de bons equipamentos.
Parabéns e bela dica!
Marçal, é um tão (ou mais) clássico que o Deluxe Reverb ou que o Marshall Plexi, mas fica meio esquecido pq ninguem ve o Tweed Deluxe de 12W nos palcos por aí. rsrs
ExcluirAproveitando, o Tremolux que foi usado pra graver Layla por mr SlowHand Clapton, é basicamente um Tweed Deluxe com circuito de Tremolo ! :-)
Olá,acho o blog fantástico!!!!!!
ResponderExcluirParabéns
Obrigado, Alex! :)
ExcluirPoxa Jr.
ResponderExcluirPrimeiro meus parabéns pelo ampli.
Segundo, que sons lindos...
Estranho como os fabricantes de amplis de boutique aqui no Brasil, ainda não fazem uma cópia deste ampli que soe convincente... Todos os que ouvi, ou não são dinâmicos ou tem sobra de agudos... Bom talvez seja devido aos transformadores ou ao falante, mas, mesmo assim é complicado...
Novamente parabéns e estou esperando umas demos, kkkkk.
Abraços e bons sons, Jr.
Valeu Mazzuca. Na verdade a Serrano faz clones do 5E3 , mas foi a única que vi no Brasil. O som desse amp é algo realmente incrível.
Excluireu montei um ponto a ponto que nem os riginais eram montados e realmente o som dele é fantástico, para que quem curte sons vintage de Fender não tem coisa melhor
ExcluirPost muito bom (como sempre), e parabéns pelo amp, Jr!!! Sonzeira duca!!!
ResponderExcluirValeu Sid! :-)
ExcluirO Deluxe é um classe AB push-pull, trabalha com tubos em pares. Uma parte do sinal entra em uma válvula e outra parte em outra, aproveita melhor a energia, más perde harmônicos. Tenho um desse handmade, o som é absurdo. Clean quente cheio de vida, coloca volume e tem o melhor tube screamer que existe.
ResponderExcluirO classe A single-ended uma válvula amplifica o sinal todo, não perde harmônicos. É possível ter 2 válvulas trabalhando em paralelo, mantém a arquitetura e dobra a potência. A Serrano amps fabrica assim.
Hmmm isso faz sentido John. Na verdade é uma das melhores e mais simples explicações de Class A que já li. Obrigado pelo toque. Vou atualizar o post.
ExcluirDesde que fiz esse post e ele foi pro ar já aprendi muita coisa com toques da galera.
É uma explicação tosca, más é isso ai. Basicamente amplificar de uma vez só precisa de muita energia e resulta em pouca potência, os trafos são parrudos, caros, economicamente pouco viável. Se faz em estágios usa menos energia e tem mais pôtencia, más vai perdendo hamônicos, classe B, C, D... veja os hi-gain, muito barulho, som feio...
ExcluirClasse A single-ended vai muito bem com humbucker, alias, sempre li que La grange havia sido gravada com Champ. Com single som limpo vai, saturado é bem estranho.
Classe A single-ended tem muito harmônico da dor de cabeça. Honkin on Bobo foi todo gravado com Champ e não consigo ouvir todo de uma vez, Neil Young só usa Deluxe, da uma leve limada nos harmônicos, parece perfeito.
John, obrigado mais uma vez pelos comentários. Eu nunca tinha parado pra pensar nesse motivo pro HonkinBobo soar meio cansativo... Eu amo aquele CD, acho uma AULA de Rock/Blues moderno, mas todo aquele médio agudo cansa mesmo. Faz todo o sentido.
ExcluirTambém achei muito interessante. Não tinha percebido essas nuances.
ExcluirEu que agradeço, com todas as dicas aqui hoje estou fazendo minha primeira guitarra e me divertindo muito com isso.
ExcluirAgora me diz, o Oscar quando procurava aquela Les Paul tocou em um Deluxe Black Face com mod, que tal comparado com esse?
John, sem comparação.. rsrsrs!! Aquele era um Deluxe Reverb 65 reissue , outra arquitetura e DNA sonoro. É um BlackFace gordo e cheio, mas muito mais limpo e "calmo" que o tweed deluxe. Eu adoro aquele amp, inclusive tenho um tbem, mas é como comparar laranjas e abacaxis. :-)
ExcluirKra,eu tenho uma Gianinni GGX 1H ( das novas ) ,e a captação dela é uma tristeza ( cerâmica ) e as tarraxas não seguram a afinação nem com reza braba.você poderia fazer a caridade de me dar pelo ao menos um cap humbucker alnico ? pelo o que eu vejo,você tem isso em abundância,e eu só comprei essa guitarra para poder aprender,e agora que sei tocar não tenho grana pra comprar outra.
ResponderExcluirAbsolutamente, não é esse o objetivo do blog e não é pra isso que estou aqui.
ExcluirReitero as palavras do Paulo
ExcluirOlá Paulo!
ResponderExcluirOlá Oscar!
Eu sei que foge do tema do post, mas acompanho o blog a muito tempo já e de tanto ver o Paulo montar Teles.
Motivado por todos esses posts sobre tele resolvi construir uma do zero e documentar tudo isso no youtube hehehe
Se Vcs puderem assistir, e não for tomar muito tempo de vocês.
Obrigado pela atenção e tempo :D
https://www.youtube.com/watch?v=VEgaSzPSXvY
https://www.youtube.com/watch?v=3mf9rKj9BAo
Muito legal Marcos! Parabens pela iniciativa!
ExcluirBrigadão Oscar!!
ExcluirAssisti o vídeo "0" na íntegra, Marcos. Muito bom!
ExcluirMas já tens as manhas profissionais do trabalho com madeiras - eu nunca me atrevi a mexer numa tupia! KKK
Continue postando os links dos vídeos, por favor.
Seria legal também, se possível, colocares os links nos comentários desses posts, que são mais relacionados:
http://guitarra99.blogspot.com.br/2013/05/telecaster-butterscotch-relic-de-marupa.html
http://guitarra99.blogspot.com.br/2011/03/quanto-custa-uma-boa-telecaster.html
Muito obrigado pelo comentario Paulo!
Excluiré realmente muuito motivante hehehe
a tupia é só questão de um pouco de paciencia e cuidado hehe
pode deixar, vou continaur postando sim
Abraço !
Em um amplificador classe A o elemento amplificador "válvula nesse caso" amplifica o sinal por inteiro, um classe B cada elemento amplificador amplifica um semiciclo do sinal, mais em amplificadores guitarra nunca é usada classe B "pura" e sim AB em que cada elemento amplificador amplifica um pouco mais do que um semiciclo do sinal, por isso a necessidade de se usar válvulas casadas em amplificadores classe AB, pra que cada semiciclo seja amplificado por igual. Abraço qualquer dúvida estou a disposição.
ResponderExcluirDois obrigados, Renan: pela explicação técnica porém concisa e por colocar-se à disposição. Abusaremos quando necessário :)
ExcluirCara, a Alien está comercializando um amp baseado no Tweed Deluxe com circuito 5e3. Vendem por uma linha alternativa denominada "vintage", que não tem recebido muito marketing. O nome do amp é Deluxe e o head tá R$2.000. Achei caro... ah, eles não fazem combo desse amp.
ResponderExcluirAmeríndio, um amp 100% valvulado, ponto a ponto por 2000 reais não está caro não. Se a Gianinni cobra mais por um combinho feito na china? rsrs!
ExcluirAinda não conheço a Alien, mas se os amps deles tiverem metade da qualidade sonora que o visual dos amps tem já vale muito a pena.
eu montei um seguindo as especificações originais e com componentes chineses, porém fazendo medição componente por componente para garantir um resultado legal e mesmo com o falante do meu Meteoro MG30 o resultado foi surpreendente, agora só falta montar uma caixa com o falante original e curtir o som desse fantástico amplificador
ResponderExcluirPessoal, tudo bem? Eu recentemente comprei um amp handmade ponto a ponto nacional, que teoricamente teria o canal clean baseado no Tweed (nao sei qual, mas acho que seria no 5e3). Quando aumentamos o volume ele tem um breakup legal e dinâmico de acordo com a tocada. O problema está que, falta brilho nele, bastante brilho por sinal. Eu acho que ele tem um som anasalado. Esse amp tem outro canal com ganho que também falta brilho. Eu comprei ele usado pela internet e gostei muito da proposta dele, porém acho que precisa de tweeks! Minha dúvida, vocês acham que é possível e vale a pena mexer no amp, e quem poderia fazer isso? Se tivesse no Paraná seria mais fácil, mas eu poderia mandar por transportadora também para outro estado. Ah, e parabéns pelo blog, sempre entro para ver as novidades!! Abraço!
ResponderExcluirDificil Bruno! Eu não conheço ninguém que faça mods assim em amps. Minha dica seria tentar procurar quem o construiu e tentar essa rota.
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