segunda-feira, 29 de abril de 2013

Links Úteis: Luthier

          Eu ia postar os links para o luthier Adriano (que fez os corpos de telecaster) no final do último post, mas achei que tava na hora de um update de vários dos meus principais links.
Então, na sequência, os links valiosos com breves comentários:

Primeiro - e não poderia deixar de ser - a minha musa inspiradora, a querida luthier Paula Bifulco, de São Paulo (clique no logo para visitar o site):



Olha que guitarra maravilhosa feita pela Paula:




TANAKA GUITAR TECH (SOROCABA/SP)

Em seguida, meu grande amigo, luthier e excepcional pessoa, Mauro Tanaka, de Sorocaba:

tanakaguitartech@gmail.com Telefone: 15 3021-8399




Entre outras coisas, o Tanaka é autorizado da Buzz Feiten para instalação do infalível "Buzz Feiten Tuning System"
É o tipo do cara que a gente veste a camisa - literalmente!:



ADRIANO RAMOS (BH/MG)

E, pra quem tava perguntando onde eu comprei aqueles corpos de Telecaster, segue o link para o Facebook do luthier Adriano Ramos de Belo Horizonte:


Máquinário CNC, madeiras nacionais e preços justos (só não vou dizer que é barato porque senão ele aumenta :)). Comprei recentemente dois corpos de tele, um clássico e outro Cabronita. É uma mão na roda pra quem quer se aventurar num "monte você mesmo sua guitarra".



Se quiseres fazer uma guitarra com o Adriano usando madeiras importadas, fale com o:
ou ligue: (11) 9287-4090. Foi com ele que comprei os blanks de Ash e Alder das minhas Teles project. Além disso, a Music Tools é uma loja de suprimentos para luthier. Todo guitarrista precisa ter a aprender a usar uma ferramenta chamada "Fret Rocker". Postarei sobre ela em breve.
Compre os blanks com o Miguel (faça o download do catálogo em PDF no site) e envie para o Adriano.

O Adriano tem um link no ML, mas para o pessoal do blog, seguem os contatos diretos:
Celular: 31 9711-1642  E-mail: a.rr@globo.com


GADDINI CUSTOM SHOP (SP)

Uma dica do leitor do blog Von Farah: o sogro dele, Elcio Gaddini,  faz ótimas customizações em guitarras. Vi as fotos, achei bem legal e tô aproveitando pra postar:





Facebook da Gaddini Custom Shop (Clique). Luthieria, customizações e reformas de instrumentos, fabricação e personalização de escudos . Contato: gaddinicustomshop@gmail.com


JOÃO VÍTOR (CEARÁ)

Por último, mas chegando atrasado só porque fui pedir autorização dele pra postar, o magnífico trabalho do João Vítor, do Ceará, na montagem, acabamento e customização de guitarras. Foi dele que comprei aquele maravilhoso braço da minha strato preta. O Vítor faz a coisa meio por hobby/paixão como a gente por aqui, mas o trabalho dele de customização é profissional. O logotipo é o mesmo da Fender e não uma cópia barata. Detalhe: ele só coloca o logo em braços Fender e/ou autorizados da Fender.  É o nosso "Bill Nash", hehehe...

Algumas guitarras montadas e customizadas por ele:

Lindas! Com a mesma (se não mais) qualidade de uma Fender americana e bem mais baratas! Como o Vítor só utiliza partes e peças autorizadas Fender, as guitarras são literalmente "Fender", só que montadas no Ceará! :)

Acesse o link para o álbum dele e divirta-se: https://picasaweb.google.com/107385410797740048367

Olhem o absurdo do acabamento dos braços e headstock (com Tru-Oil, excelente opção):

Normalmente ele vende os braços prontos no ML, mas é só acessar direto pelo e-mail pra dispensar o intermediário :)
          Existem inúmeros outros luthiers fantásticos, mas o objetivo do post não é listar luthier.
Aliás, ainda não sei porque os luthiers brasileiros não têm um site com a listagem de contato. Eles precisam fazer uma associação ou coisa parecida. Sei que isso no Brasil quase sempre vira panelinha, mas não custa tentar, né?

PS: Se alguém quiser acrescentar o link de seu luthier, conhecido e capacitado, fique à vontade e utilize o espaço dos comentários. Por favor, especifique também a cidade e todos os contatos possíveis.

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Porto Alegre:

         Foi aqui que comprei a minha Les Paul 1981. O Solon Fishbone, além de ser um fantástico bluesman, faz captadores excepcionais e fantásticas guitarras, clones das Fender, relicadas no capricho.

Fone (51)3331.3234 ou (51)3061.3247
contato@guitargarage.com.br
De Segunda à Sexta das 13:30hs às 19:00hs
Rua Miguel Tostes, 870 | Bairro Rio Branco | CEP 90430-060 | Porto Alegre/RS


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Ourinhos (SP):

Luthier Adriano Batista
Consertos e Pinturas de instrumentos de Cordas: Guitarra, Violão, Viola, Cavaquinho,Baixo...
(14) 9706-1245 ou 8210-5723
e-mail: adrianoguitarra@hotmail.com

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domingo, 21 de abril de 2013

La Cabronita Custom Golden Leaf

       


         Fanático que sou por Telecasters, não poderia deixar passar em branco a nova versão denominada "La Cabronita" da Fender (as traduções do espanhol divergem, mas à princípio seria uma "rapariga sem pai"... :) ). Iniciou como uma linha exclusiva da Fender Custom Shop, mas agora há uma versão mais barata feita no México.
La Cabronita é uma Telecaster clássica mas com dois captadores humbuckers do tipo Filtertron Gretsch. Geralmente elas vêm com um modelo (Fidelitron) que é uma variação entre o Filtertron clássico que equipava boa parte das Gretsch dos anos 50 e os modernos TV Jones (Thomas V. Jones), algo mais fortes e modernos.

O gatilho para a montagem de uma Cabronita foi uma oferta do meu amigo do fórum da GP, o Yanko, que me conseguiu um corpo de Cabronita USA feito de uma madeira muito leve e macia, chamada de "Sugar Pine". Como eu sabia que muitos experts em Telecasters estavam fazendo Cabronitas com essa madeira, resolvi comprar no ebay. O Sugar Pine (uma variação do nosso Pinus) é levíssimo, de baixa densidade e muito macio, bem mais do que o brasileiríssimo Marupá.
Por que não tentei comprar uma Mexicana? Porque embora curioso pra conhecer e tocar uma Cabronita, nunca botei muita fé (na verdade não gosto mesmo) em Teles com humbuckers, mas os Filtertrons têm uma sonoridade única e talvez...

O corpo chegou com alguns pequenos defeitos, ranhuras provocadas pelo corte CNC na madeira muito frágil. Nem quis perder tempo (pra variar) e reclamar com o fornecedor americano e usei um pouco de massa de madeira para nivelamento. A Cabronita tem várias peças exclusivas, meio caras (pra nós, pobres brasileiros que temos que pagar os absurdos impostos de importação) e difíceis de encontrar, a começar pelos Filtertrons e TV Jones. passando pela ponte hardtail, escudo e placa traseira de controle.

Bem, toquei o barco e o primeiro passo era decidir a cor. Preta como a maioria? Humm... Eu estava a tempos querendo testar uma técnica antiga que utiliza folhas finíssimas de ouro (golden leaf) que deixa a superfície verdadeiramente dourada, com infinitas variações de brilho e cor em cada ângulo que olhamos.

Eu tinha aqui em casa vários pacotes de Golden Leaf da década de 40 e 50, que estavam numa caixa (de charutos Jamaicanos) dessa época, obtida em Nova York em 2001. A caixa em si é uma volta no tempo: também tinha fotos originais, fusíveis e até um compasso. Mãos à obra...


Golden Leaf no top e tinta dourada no restante, tudo coberto com algumas finas camadas de verniz.
O mais chato foram as adaptações: as cavidades eram muito rasas para os Filtertrons (e eu não tenho tupia - tive que me virar, como sempre, com a Dremel) e eles são presos por parafusos longos direto no corpo. A regulagem da altura é obtida por pressão sobre uma espuma retrátil colocada embaixo. Até acertar o jogo de pressão, é foda.

Mas acabou ficando pronta (braço licenciado Fender da Mighty Mite). Quando fui tocar, o corpo de Sugar Pine mostrou suas fraquezas (já imaginava): nem de longe tem a ressonância do alder ou ash, mas como os captadores são Filtertrons, depois de alguns ajustes, consegui tirar um som mais do que decente.

Nem pensar em colocar um escudo por cima desse dourado verdadeiro... :)

         Descobri que Filtertrons são, mais do que qualquer humbucker, extremamente responsivos aos ajustes de altura do corpo do captador e dos parafusos das bobinas. Ambas as bobinas têm parafusos ajustáveis e conseguimos mudar muito a resposta de cada corda fazendo um jogo entre a diferença de altura dos parafusos das duas bobinas e deles em relação às cordas. MUITO interessante...
No atual momento, até entendo porque muita gente tá usando corpos de sugar Pine para Cabronitas (e até Teles clássicas). Depois de duas semanas tocando com ela, posso garantir que aprendi a gostar do som, principalmente dos médios do Tron da ponte. Lindos.

Por via das dúvidas, e agora já conhecendo melhor o Marupá, encomendei um corpo de Cabronita de Marupá (25-40% mais pesado que o Sugar Pine) com o luthier Adriano em Belo Horizonte. Especifiquei as cavidades (agora com a profundidade correta) e ele programou na CNC. O corpo já chegou e é lindo, peça única, muito bem feito. 200 reais, minha gente... No Brasil tem coisa legal, é só procurar.

Se conseguir mais um par de Trons ou TV Jones, monto outra, só por curiosidade :)






quarta-feira, 17 de abril de 2013

Junção braço e corpo de guitarra: tipos.


          Prometi que faria um post sobre esse assunto e já tinha separado várias coisas, mas ontem me deparei com um excelente artigo do luthier Samuel Soares e seria redundância fazer outro. Inclusive a fonte por ele citada (Dave Hunter - GP 2008) é a mesma que eu também citaria, além do Henry Ho (Raio X Da Sua Guitarra - GP 2002).
Segue o link para o artigo do Samuel Soares: "
"Dissecando a guitarra: Parte VI – Junção braço/corpo"

Além das junções citadas, existem outras (geralmente variações) menos comuns. 
Se sacas bem o inglês, recomendo também uma lida nesse artigo do polêmico luthier americano Ed Roman, que adora queimar o filme da Gibson... :)

Não é preguiça, não... O artigo do Samuel Soares/Dave Hunter é bem completo e fácil de entender.

Lembro sempre que não existe um tipo de junção superior/definitiva. Cada uma influencia de forma característica no timbre e todas têm o seu valor. O timbre clássico das Fender deve-se em grande parte à "deficiência" (ou eficiência, dependendo do ângulo que analisamos) da junção parafusada. Tanto é verdade que teles e stratos de braço colado nunca vingaram. O oposto ocorre com as Gibsons.

E, independente do tipo de junção, a sua qualidade sempre deve ser medida pelo grau de contato entre as madeiras do braço e corpo. "Tight"/apertada, justa, como dizem os americanos. Quando o braço encaixa no tróculo como uma "luva", firme e justa, podemos usar até cuspe para colar que a transmissão das vibrações sempre será boa, sem perdas... :) 

sábado, 6 de abril de 2013

Me engana que eu gosto! A invasão das guitarras chinesas

          Eu tenho várias coisas na manga pra postar - tipos de junção braço/corpo, uma série de dicas grátis do meu amigo luthier Inaldo... Mas depois que li a excelente coluna do mestre luthier Jol Dantzig na revista Premier Guitar deste mês (clique para ler) e sua repercussão (clique para ler), resolvi falar justamente sobre isso: até que ponto os grandes (e médios e de boutique) fabricantes de guitarra estão terceirizando a sua produção no oriente (leia: China, Coréia, Indonésia, Filipinas, India, etc.)?

JOL DANTZIG

Em sua coluna, o luthier Jol Dantzig, um dos criadores da Hamer Guitars, menciona que recebe constantemente "ofertas" de grandes fábricas chinesas para produzir guitarras com eles. Eles enviam fotos de pilhas enormes de guitarras de várias marcas conhecidas, lado a lado. Além disso, listam os nomes das empresas para as quais produzem guitarras e baixos.
Jol Dantzig, vendo a lista dos clientes desses chineses, diz: "Ei! Eu pensava que esses caras realmente faziam suas guitarras..."


Quem são "esses caras"? Eu fico pensando... Além dos de praxe, Gibson, Fender, PRS, com suas segundas linhas, será que Fano, Framus, Reverend, Godin, Music Man, D'Angelico, GJ (nova Grover Jackson), Parker, G&L, etc., realmente fazem suas guitarras? Até o nosso velho mestre Tagima sucumbiu à tentação e tem uma linha chinesa. Ontem fui na loja Mensageiro Musical e vi uma nova guitarra da Tagima, modelo Les Paul. Extremamente parecida (peso, detalhes, acabamento, braço) com as Condor CLP. Vi um violão Giannini e outro Strinberg idênticos, só mudavam os logos. TUDO chinês e se bobear, da mesma fábrica.
Pra completar o devaneio patético, o violão Giannini tinha problemas de afinação - parece que eles não conseguem fazer um violão bom nem na china - PQP!

Enfim, virou essa palhaçada que no Brasil beira o ridículo. Tem "fábricas" aqui que não apertam um parafuso sequer. A maioria consiste num escritório de importação e um depósito pra receber a carga chinesa.

Nunca engoli caras como o Bill Nash. Putz, ele só monta e finaliza. Tudo bem que os fornecedores são americanos e bons, mas isso eu também faço aqui em casa. O foda mesmo é ver uma Telecaster montada por ele ser vendida na Two Tone de São Paulo por 7 mil reais.

Eu posso desenhar um modelo de guitarra, inventar algumas alterações simples mas manter grande parte do visual de alguma guitarra clássica, entrar em contato com uma fábrica qualquer na china (como a Shandong Huayun, da foto abaixo) e, com um CNPJ nas mãos, criar uma marca própria. Coloco um anúncio na Guitar Player Brasil e... pronto, virei um "fabricante nacional".
O Jol Dantzig acabou de postar que o pessoal (os montadores de guitarra disfarçados de produtores) já começou a reclamar do que ele postou. Ele devia é ter dado os nomes!


PS1: Não estou criticando a qualidade das guitarras chinesas. As top de linha são muito bem feitas e o processo de automação/CNC nos dias de hoje é quase uma garantia de tocabilidade. Mesmo guitarras vendidas para os nossos "fabricantes nacionais", que às vezes custam menos de 100 dólares completas, podem ser viáveis e úteis para iniciantes. Vários luthiers e pessoas do meio (Tim Shaw, Jol Dantzig, J. T. Riboloff, etc.) já mencionaram que o oriente tem capacidade de produzir excelentes guitarras.
A questão aí é que alguns fabricantes estão omitindo a origem de suas guitarras. Como consumidores, temos direito à essa informação.

terça-feira, 19 de março de 2013

Fender Custom Shop 56 Stratocaster Closet Classic

          Meu grande amigo e guitarrista Faraco aqui de Floripa trouxe essa guitarra pra eu dar uma olhada. Essa maravilha foi comprada (se não me engano) na Two Tone (leia: cara, coisa de 5 dígitos) em SP.
Pra quem não sabe, a Fender volta e meia inventa alguns nomes curiosos para suas linhas Custom Shop. "Closet Classic" seria uma guitarra antiga (no caso 1956) que pouco foi usada e ficou guardada no "armário". Eles imaginam como seria uma guitarra dessas, pegam as especificações de 1956 e...


         Precisava tocar essa guitarra, top das tops,  pra ter certeza de que stratos com escalas de maple e jacarandá/rosewood são de fato dois bichos distintos.
O maple soa mais macio e o rosewood, mais claro, com mais ataque/força. 90% das vezes percebi essas diferenças.
Numa guitarra desequilibrada (corpo ruim, desencontro de ressonâncias entre corpo e braço, etc.), o maple soará sem vida/presença e sustain e o rosewood poderá soar agudo demais, até sibilante.
Strato é f***! Uma coisinha de nada pra lá e ela é magra e estridente. Um pentelho pra cá e os médio graves embaralham tudo e ela fica sem graça, meio morta. Bem... Tele é ainda mais complicada - não tem os extremos da sua irmã mais nova, porém a zona de equilíbrio do seu timbre é ainda mais estreita.

Posso me considerar um cara realizado nesses dois quesitos, pois sempre tive teles excelentes e tenho duas stratos que me satisfazem 100%. As duas com escala de rosewood. Por alguma razão, não sou fanático pelo som do maple, mas essa Closet Classic quase me fez mudar de ideia. Quase. :)


Percebam na foto acima o craquelado do acabamento de nitrocelulose, escudo de apenas uma camada e ajuste posterior do tensor - tudo correto para a época. No case tinha a chave original de 3 posições - atualmente ela está com a de cinco.
Captadores com uma sonoridade vintage (óbvio), bem semelhantes aos CS57/62 e sem o ataque de médios arrogante dos CS54, meus favoritos. Braço GORDO (e eu achava o da SX gordo), pegada cheia, pra mãos pesadas. Nas especificações (essa guitarra me parece ser de 2001) mais recentes, o braço é citado como "soft V", mas esse é um "C" largo.

Não deu tempo de gravar nada, mas achei um vídeo da Two Tone onde uma guitarra igual a essa é demonstrada (outro guitarrista brasileiro que prefere mostrar mais a si do que o instrumento). Talvez até seja a mesma:


O som é bem esse. Pena que o cara não tocou outros grooves, bases e estilos.
Como toda Custom Shop, madeiras selecionadíssimas. Leve e ressonante.
Excelente guitarra, excelente sonoridade. Mas fiquei feliz em constatar que as minhas duas stratos ainda me satisfazem 100%, ou seja, o botão de emergência da GAS não foi disparado... :)





terça-feira, 12 de março de 2013

Onde está o Wally? - Fender Sonic Blue 60's

          Com essa história da Tagima, além de outros pequenos perrengues com guitarras chinesas, ficou óbvio pra mim que o ideal, se eu não quiser gastar muito, é comprar tudo separadamente e montar eu mesmo.
Obviamente foi necessário adquirir conhecimento e sempre que aprendo algo, passo adiante aqui no blog.

Recentemente resolvi montar duas guitarras seguindo esse princípio. Sempre quis uma strato na cor "Sonic Blue" (tipo azul celeste). Pesquisei na internet, ppte no ML, e encontrei um corpo de Marupá por 200 reais (na loja virtual do Érico Malagoli - captadores.com.br). A primeira lei de Murphy pegou pesado: o corpo chegou com uma rachadura que ia do tróculo (pior lugar possível) até quase a metade... Bem, depois eu conto essa história, mas o objetivo era o post - colei com Superciano e comecei o trabalho. Queria exercitar o processo de envelhecimento artificial (Relic), pois já havia conseguido bons resultados anteriormente e dessa vez a ideia era competir com a Fender - não quero passar por pretencioso, mas já vi alguns relics muito ruins deles. A maioria entretanto, é muito bem feita.

Seguem várias fotos de stratos Fender Custom Shop Relic, custando entre 2.500 e 4.500 dólares. No meio delas está a minha (que custou no máximo 450 reais) e uma original, de 1964 (essa obviamente, custa uma fortuna).

Vamos ver quem mata a charada e encontra o Wally de marupá e... Qual será a original de 1964?
Ao posicionar o mouse sobre a foto, o nome (com identificação) dela vai aparecer no link lá embaixo - por favor, não olhe! :)
(Quem conhece bem o blog vai descobrir qual é a minha por um detalhe pessoal, mas tô contando com a distração de vocês :) )








São 6 guitarras - ao dar sua opinião, considere uma numeração, de cima para baixo, de 1 a 6.
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13/03/2013:

         Já que a maioria acertou - e alguns com muita propriedade e conhecimento de causa - vamos lá:
A minha é a 6... Claro, a indefectível ausência do primeiro botão me entregou legal... O Petri percebeu que as bordas deveriam ser mais arredondadas (preguiça minha). O Rodrigo tá correto, esse "Azul Celeste" da Resicolor bate mais com o "Daphne Blue":
O Fernando lembrou bem a questão do tensor - todas teriam que ter acesso por trás. E a Thaís (bem vinda ao blog - já tava achando que isso aqui era o clube do Bolinha :) ) foi esperta ao chamar a atenção para o padrão dos parafusos - só faltou organizar as datas :)
Alguns detalhes técnicos/históricos:
  • A Fender mudou para escudos de 3 camadas por volta de julho de 1959 (quando também passou de 8 para 11 parafusos de fixação). 
  • Em janeiro de 1965, o plástico ABS substituiu o antigo material à base de Celulóide, mas o ABS já era utilizado nos escudos de camada única. Nunca existiu escudo de "bakelite" (poliestireno), mas as capinhas e botões eram desse material.  
  • À  partir de 1958, a escala passou a ser predominantemente de Rosewood (brasileiro até 66, depois indiano) e durante a década de 60, escalas de maple apenas por encomenda direta na fábrica. 
  • Em meados de 1956, TODAS as stratos, exceto as "blonde" passaram a ter corpo de alder.
  • Até 1967: Nitrocelulose.
  • Em 1960 a Fender introduziu 14 cores extras, entre elas, as 3 da imagem acima.
Assim, aquela com braço de maple e escudo single layer com 8 parafusos (imagem 4: Custom Shop 56 Heavy Relic: 4.000 Euros) é uma impossibilidade histórica.
A guitarra real de 1964 é a "5", mas o escudo deveria ser mais amarelado ou esverdeado (detalhe também percebido pelo Rodrigo). Até o final de 1964, as 3 camadas eram de celulóide, que não tinha esse aspecto branco "OMO". Conjecturo que talvez ela seja do final de 64 e a Fender já havia iniciado o uso do ABS/Vinil. Ou o dono trocou o escudo em algum momento depois de 1964.

Interessante ressaltar que a maioria das sonic blue originais da década de 60 que pesquisei tinham paradoxalmente pouco "relic".
Mas aqui tem uma foto da Sonic Blue 1961 de Ike Turner (a foto é dos anos sessenta também) já bem "baleada". Coitada da guitarra - apanhou mais do que a Tina Turner :)

Achei linda a relic "3" (Custom Shop: 4.600 dólares) e horrível a "2" (também Custom Shop: 3640 dólares). Lixar as bordas e deixá-las com esse aspecto regular e com pouca randomização não é relicagem. Parece coisa de amador.
Deixo bem claro que pra mim, fazendo em casa, sem politriz e com spray em lata, é mais fácil o acabamento "relic" que o ultra brilhante e perfeito. Não sou nem muito fã de relicagem, por sinal.

Bem, voltando à strato "classe econômica", ela é hardtail. O corpo não tem a cavidade para o tremolo. Melhor assim, já que a madeira é Marupá. A idéia era fazer uma coisa bem caseira no acabamento do corpo, por isso usei uma lata de tinta à óleo Resicolor "Azul Celeste" e um rolinho de lã (espuma não é bom):

 Nunca pintei com rolo antes (nem parede), mas no processo descobri que é melhor diluir um pouco mais (escorre mais, mas dá pra controlar se prestarmos atenção, ppte nas bordas inferiores) nas primeiras demãos. Acho que foram umas 4 ou 5 passadas com algumas horas de intervalo.

O corpo veio rachado e eu não estava botando muita fé nessa ideia, então não anotei os detalhes do processo, mas é basicamente tinta com rolo, lixa 360 e 600, relicagem - aí usei até cinza de cigarro + corantes amarelo e ocre + óleos+ pó, verniz, lixada irregular e aleatória, mais relic e corante amarelo, verniz novamente, lixas 600 e 1200 com passadas uniformes e um leve polimento final com Grand Prix automotiva. A parte do rolo é meio demorada por causa da tempo de secagem. E olhe que eu procurei tinta spray "azul celeste" - pqp!
Poderia ter misturado um pouco de branco para o azul ficar mais "Sonic" e menos "Daphne". Preguiça de voltar na loja :)


O braço é de uma RX20 (headstock modificado), extremamente confortável com trastes bem nivelados e frequência de ressonância em Ré (D3), que é baixa, mais grave. O corpo estava bem seco e mais agudo que o esperado do Marupá, por isso os dois fecharam bem no timbre final. Coloquei tarraxas chinesas com trava (sim com trava) recentemente compradas no ebay  por 17 dólares (não as recomendo - muito rudimentares). A ponte é uma hardtail Condor. Os saddles são de zinco mas vou colocar de aço, pois o timbre dessa guitarra me agradou demais. O Marupá é relativamente claro e articulado, com mais médios-graves que o alder e até o ash. Soa mais "na frente" e mais forte. A ausência da ponte - elemento crucial da sonoridade strato - torna o timbre algo híbrido de strato e tele. Captadores do braço e meio são Rosar Fullerton (timbre entre o Fender CS 54 e CS 57). O da ponte, um Rosar Custom com 6,7k e fio enamel 42 - cara de Telecaster! :)

A sonoridade dela foi uma surpresa muito agradável, tanto que vai receber tarraxas mais decentes e carrinhos de aço :)

E o corpo rachado?
Chegou assim:
Putz! Mandei e-mail para o Érico Malagoli, que redirecionou para o fabricante (não vou colocar o link agora), muito educado e cordato, que ficou de enviar um outro mas, por alguma razão que me foge à razão, não fez mais contato. Let it be.

Podem falar o que quiserem dos chineses, mas até hoje recebi tudo que comprei deles conforme descrito nos anúncios. Já aqui no Brasil...

PS: E, é claro, depois disso tudo, essa guitarra já tem um nome: Wally. E sobrenome:"Wally de Marupá" KKKK!!


Caso Tagima - Final


 (obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)

    A Tagima/Marutec não aceitou a alegação de dano moral e eu não tenho mais saco pra essa empreitada.

Eles ofereceram o ressarcimento do que foi gasto com a compra da guitarra (500 reais), mais um corpo de strato de ash (pesadão) em duas peças, outro de alder (guitarra montada + bag) com seis (!) peças, e um corpo de cedro peça única. Todos os corpos são padrão "Tagima", ligeiramente diferente do Fender e com rebaixo traseiro. Com a orientação da minha advogada, resolvi aceitar a oferta, porém não acredito que vou ter algum uso para um corpo de cedro e outro paliteiro de alder.

Mas tá legal, a mensagem já foi passada e creio que a Tagima, ao longo desse processo, tenha deixado de vender muita guitarra em função do que foi propagado aqui no blog.

Agradeço, sinceramente, a todos que me deram apoio moral (e até técnico), desde o início dessa história.

E vamos voltar ao que interessa... Guitarra!!! :)

Links para os posts sobre esse assunto:
TAGIMA PARTE 1

TAGIMA PARTE 2

sexta-feira, 8 de março de 2013

Caso Tagima : Julgamento Final (espero) -11/03/2013


         Pra quem não conhece essa história, leia  aqui (Parte 1): E aqui (Parte 2)

Pois bem, segunda-feira, dia 11/03/2013, às 14:00 hs, ocorrerá a audiência de instrução e julgamento da minha ação contra a Tagima/Marutec. Mesmo que não ganhe nada, nem o reembolso da guitarra, acho que o objetivo foi alcançado.

Esse blog provavelmente não existiria se não fosse o imbróglio com a Tagima, pois a frustração e revolta por ter sido enganado foi um motivo de perseverança e estudo. Como dizia a minha avó: "Há males que vêm para o bem" :)

Segunda-feira eu posto o resto (e espero que seja o final mesmo) da história... :)


domingo, 3 de março de 2013

Bloco de ponte de Strato: outra comparação

        O post anterior, do Oscar, sobre pontes de strato, é daqueles pra guardar no HD,  de tão bom.
Um dos leitores do blog, o Carlos Manara, comentou sobre os blocos que ele mesmo faz, de aço brasileiro, do bom.
Conversamos em "off" e ele me enviou dois magníficos blocos de aço para fazer um teste. Um, o mais pesado, com 315g, é de aço "AC"e o outro, com 285g, aço "FN" (Fundido Nodular - tem mais carbono/grafite e parece ser esse o tipo de aço utilizado pela Fender). O Carlos bem que tentou me explicar rapidamente a diferença entre os dois, mas essa missão eu deixo pra ele postar aqui :)
Na foto, bloco de aço AC, mais brilhante e claro, aço FN e por último, um bloco de Zinco de uma ponte Fender Mexicana (o mesmo usado nos testes)


        Os blocos foram feitos nas medidas da ponte de uma SX que ele possui e para uso próprio - já adianto que não sei se haverá a possibilidade (tomara) de comercialização. Como eu tenho várias placas de pontes SX sobrando aqui, foi moleza. Felizmente, o Carlos teve o cuidado de posicionar o ponto de trava das bolinhas das cordas bem na base do bloco, como os originais vintage Fender.

Resolvemos utilizar um setup "chinês barato", onde só o bloco (e os captadores - me nego a usar singles cerâmicos) seria trocado. Escolhi a minha Condor RX20 (a história dela está postada aqui - CLIQUE) e depois de muitas e cansativas trocas, o post finalmente ficou pronto.

Vou postar o link para o vídeo, mas antes quero deixar a minha impressão dos testes, já que toquei bastante a guitarra com cada um dos blocos.
O bloco de aço "AC", o mais pesado, é, de longe, o melhor. O timbre ganhou corpo e grande definição de frequências. Entendi quando o Carlos mencionou que o aço "FN" até poderia soar melhor em algumas guitarras. Sim, concordo. Numa strato muito grave (ou de cedro, com médios bichados), esse pode ser o bloco ideal. Mas, embora não tenha testado o bloco de aço AC numa strato "top", de alder/ash, o equilíbrio de frequências que ele gera é do tipo "não dá mais pra ouvir os outros". Fantástico.
O bloco FN equilibra também (não há aquela friturinha de agudos do Zinco), mas não gera os graves definidos (corpo) do aço AC.
Os blocos de Zinco, como o Oscar Isaka Jr. falou e eu pude constatar novamente, tendem a gerar uma sibilância/aspereza nos agudos. O bloco chinês, fininho e leve de doer, pela pouca massa, tem pouca definição - as frequências soam "embaralhadas" e comprimidas e a impressão que temos é de um timbre mais magro e "lo fi". Numa audição superficial, ele, o de aço FN e o Fender méxico de zinco, soam meio parecidos, mas basta um pouco de atenção para perceber o estrago que a falta de massa/peso faz no timbre.


Tenho inúmeros blocos chineses (SX, Condor, etc.) sobrando por aqui. Um deles (de uma Shelter California, eu acho) pesa 35 gramas. 35 gramas!! Putz!


Tive que desmontar uma ponte Wilkinson  WVPC para pesar o seu bloco de zinco: 210 gramas. Diante dessas novas observações, serei obrigado a passar o selo do blog dessa ponte de ouro para prata! KKK!
O ideal seria a WVPC/WVP-SB (steel block) com bloco de aço.

Aqui, uma foto dos blocos brutos, antes do excelente trabalho do Carlos:

Os blocos de aço da Callaham são considerados o melhores do mundo e garantia de que a ponte de uma strato terá máxima fidelidade, ressonância e sustain. O Oscar utilizou um bloco Callaham no vídeo do post anterior.
Já encomendei um bloco Callaham para substituir o Fender da minha strato principal, mas a razão de ter feito isso é porque vou enviar o bloco Fender original (também de aço, mas...) para o Carlos Manara copiar as medidas/furação e, dependendo da boa vontade dele, fazer um de aço (AC) brasileiro para eu poder comparar. Tenho quase 100% de certeza que vai ser uma briga de igual para igual. :)


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ADENDO 6/3/13

Eu tenho duas stratos fantásticas - uma delas montada recentemente (CLIQUE) e a outra, também postada aqui (CLIQUE), a Standard 97, cujo corpo (com piscinão, hábito pernicioso da Fender entre 1992 e 98), de alder Candy Red, foi trocado por um da WD. O braço dela é um absurdo de bom.
Pois bem, o corpo piscinão (mas nem por isso ruim, pelo contrário) foi usado pra fazer uma terceira strato (CLIQUE).


Coloquei uma ponte Wilkinson WVP  (bloco de Zinco) de dois pivôs - comprei várias dessas pontes Wilkinson por menos de 190 reais há algum tempo.
Depois desse post, após ouvir e captar o DNA do bloco de aço AC, intui que ele provavelmente resolveria o timbre da Candy Red. Ela soa com menos corpo, punch e sustain que as outras duas. O braço de maple - que definitivamente não é o meu preferido para stratos e teles, e cheguei a essa conclusão depois de dezenas de testes - não ajuda nada nesse sentido.
Consegui adaptar uma base/placa de dois pivôs chinesa, prendi o bloco nela e instalei na guitarra. Tomei o cuidado de gravar os mesmos licks com a ponte Wilkinson WVP e seu bloco de zinco e em seguida com o bloco de aço. Os saddles/carrinhos foram os mesmos, da Wilkinson, de aço.

RESULTADO:
"Da noite para o dia", "da água para o vinho"... qualquer clichê serve. A strato renasceu. O aço soou divino, o timbre veio "pra frente", com médios lindos, redondos e autênticos de uma strato. Sem a gravação, é muito difícil perceber porque as frequências são quase as mesmas - o que muda é a amplitude e definição delas. A diferença entre um sample de 16 bits e outro de 24 bits, ou da TVcomum para a HD: clareza, nitidez e definição. Por isso, gravar (e comparar) com o mesmo setup é essencial.
Quem tem TV a cabo (NET, por exemplo) pode ter uma ideia visual da sensação auditiva: fique alternando entre o mesmo filme na versão standard e HD - é a mesma coisa. Posso até estender a analogia: bloco chinês leve: TV standard de tubo de 20 polegadas. Bloco pesado de Zinco: TV LCD definição standard de 40 polegadas. Bloco de aço: LCD/LED HD de 50 polegadas. O filme (guitarra) é o mesmo em todas. :)

Não tenho mais dúvidas: o bloco de aço pesado é o melhor e mais importante upgrade de qualquer strato, até mais importante que os captadores (ou tanto quanto, que seja). Obviamente, blocos de Zinco, mesmo com massa/peso, não chegam nem perto.

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Adendo 24/06/2013: ATENÇÃO***: Já temos disponível no Brasil um bloco de aço com a qualidade de um Callaham! Clique aqui para maiores detalhes.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Malditos SPAMS!


Não sei se é porque o blog está com um volume grande de visitas, mas de uns tempos pra cá tenho recebido vários spams (todos em inglês) que incomodam bastante e confundem os comentários.
Reconfigurei a postagem de comentários para tentar filtrar essa praga.


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ponte de Stratocaster: entrando nos detalhes.

(obs: antes de fazer perguntas e ou postar comentários, leia aqui: CLIQUE)


         Há muito tempo estava pensando em postar sobre pontes de guitarra. Como são construídas, como funcionam e principalmente como influenciam no timbre. Recentemente meu grande amigo Oscar Isaka Jr. publicou no seu blog uma extensa revisão sobre pontes, dividida em 3 posts. Dado o conhecimento do Júnior, seria redundância fazer um post novo, então simplesmente invadi o seu blog e roubei os posts. :)

Os dois primeiros posts do Jr., um sobre as Tune-o-Matic e o outro sobre pontes de Telecaster são fantásticos e muito esclarecedores. Recomendo veementemente a leitura.

O terceiro da série, que vou colocar como primeiro aqui, é talvez o mais interessante porque o pessoal sempre faz muitas perguntas sobre pontes de strato.

Segue então o post do Oscar, com algumas pequenas edições e modificações que acrescentei. No final, usei os áudios comparativos que ele fez e coloquei-os num vídeo no YouTube - é mais fácil acessar do que o 4Shared.

Oscar Isaka Jr. :

         ...Vamos falar da criação mais famosa (e talvez a melhor) de Leo Fender, a Stratocaster. Sem dúvidas a ponte tremolo da Strato é a mais complexa das abordadas até agora. Tem mais partes, requer mais precisão da regulagem e sem dúvida a que contém mais variantes no mundo guitarrístico moderno com vários modelos desde o vintage original até modelos mais modernosos como os Wilkinson VS100 - considero que até a Floyd Rose foi concebida a partir do design inicial da ponte da Strato.


          Falando do que interessa que é o timbre, a ponte da Strato tradicional é composta por basicamente 3 partes chave que são os saddles (carrinhos), o bloco e o plate/placa (onde são fixados os saddles e o bloco). Todos esses três fatores influenciam no timbre de madeira direta ou indireta e contribuem para o resultado final do som, podendo ser modificados de acordo com o que se procura de resultados. Os saddles e o bloco são os mais comuns e fáceis de modificar com resultados mais audíveis. O plate depende mais da qualidade inicial da ponte e eu diria que é a parte que menos influi, mas discutiremos isso abaixo.



Saddles (Carrinhos)

         Os saddles originais da Fender dos anos 50 eram feitos de Aço (Cold Rolled Steel) e produzem um som com ataque rápido, "punch" e um certo brilho que se tornaram característicos da Strato clássica e equipava a Stratocaster até perto dos anos 70. Com a CBS atuando para reduzir custos, e consequentemente o início do "período negro" da Fender nos anos 70, as pontes começaram a ser produzidas com materiais que permitissem uma produção com custo reduzido. Esse material é uma liga metálica conhecida popularmente como ZINCO, mas que possui várias nomenclaturas e composições. No final das contas esse material é incrivelmente fácil de manipular, pois em sua forma liquida é possível usar moldes e fabricar centenas ao mesmo tempo, mas o resultado é um metal que não tem a mesma rigidez mecânica do aço. Com o aço, é preciso usinagem e manipulação manual o que torna o processo todo mais caro o que explica a opção da CBS nesse período. Já nos anos 80, a Fender começou a usar uma liga a base de alumínio como outro material nos saddles, mas eu nunca entendi realmente a razão oficial, porém acredito que seja pelo fato dessa liga ser mais fácil de manipular que o aço e não comprometa tanto a sonoridade quanto o zinco.

         Mas, qual a sonoridade associada a cada material? É difícil colocar em palavras características sonoras de tunagens pontuais pois normalmente é uma soma dos fatores que fazem mais diferença no timbre final, mas é importante ter uma idéia do efeito que elas geram para que possamos buscar nossas necessidades. Vou tentar descrever um pouco baseado nas experiências que eu tive com os 3 tipos de materiais descritos, lembrando que dependendo dos outros componentes da guitarra (madeiras, cordas, bloco e etc) podem haver variações.

  • Saddles de Aço são os mais rígidos mecanicamente e possuem teoricamente as melhores propriedades físicas para transmissão de vibrações de corda. Os graves ficam firmes e os médios ganham definição e corpo com agudos presentes que não soam estridentes. Numa guitarra de Alder parece ser o casamento perfeito e singles soam com punch e resposta rápida ao toque com o estalo definido de uma boa Stratocaster.  São realmente os meus preferidos para Strato.

    • Saddles de Liga de Alumínio tem graves um pouco mais soltos e médios mais retraídos em relação ao Aço com um pouco mais "ar" no timbre. Essa leve atenuação do ataque pode ser interpretada como mais agudos, o que não necessariamente é a verdade. Guitarras com característica sonora mais "seca" e/ou grave podem se beneficiar deles para amaciar um pouco o timbre final. Encontrados nas Squier Std (Indonésia), Fender Am Std (anos 80 e 90) e algumas outras.


    • Saddles de Zinco são os mais comuns nos instrumentos chamados de "entrada" das marcas e também encontrados nos de origem asiática como SX, Shelter, algumas Squier, Cort etc. Sendo o de menor resistência mecânica, o Zinco tende a absorver mais vibrações da corda causando uma transmissão não tão eficiente ao resto do conjunto o que acaba "amaciando" de certa forma o som. Os graves e médios ficam um pouco menos definidos e o agudo parece desconectar do resto das frequências. A percepção que eu tenho é que soa abafado com uma leve sibilância no topo dos agudos. São fáceis de identificar pois norlmanente são cromados e as cordas marcam com facilidade o lugar onde ficam apoiadas.


      Bloco

                 O bloco é responsável por dar massa e resistência mecânica ao conjunto do tremolo e assim fazer com que as cordas vibrem e a ponte transmita isso ao corpo e etc. Por essa razão a resistência mecânica do material utilizado na fabricação e a massa tem um importante papel nesse componente que é um pouco mais complexo do que muitas vezes parece e também sofreram mudanças de acordo com o período da mesma maneira e por razões semelhantes as dos saddles. Os blocos grandes e pesados de aço que equipavam as primeiras Strato dos anos 50 e 60 tinham grande papel sobre sua sonoridade como vamos discutir mais a diante. 

      Já nos anos 70, a CBS passou a utilizar os blocos de zinco já menores e mais fáceis de fabricar, visando redução de custos novamente. 

      Não é a toa que muitos consideram esse (anos 70) o período negro da história de Fender. Nos anos 80 e 90 o bloco é adaptado e otimizado para utilização do tremolo, sofrendo redução de tamanho porém ainda fabricado de uma liga metálica, já melhor que o zinco mas não tão eficiente quanto o aço dos anos 60. Vamos ver as particularidades de cada modelo:

    • Bloco 'Vintage' de Aço é o presente nas primeiras Strato. Eram pesados e grandes limitando a utilização do tremolo mas garantiam uma eficiente vibração das cordas pela alta resistência mecânica. Outra característica importante, é que as bolinhas da corda ficavam rentes à parte inferior do bloco fazendo com que a corda se esticasse por toda a extensão do bloco antes de passar pelo plate e chegar ao saddle. 




    • Blocos Modernos: Nos blocos modernos a bolinha entra no bloco e fica fixada mais perto do meio do mesmo. O efeito disso é que no bloco vintage o comprimento da corda tensionada tem cerca de 5 cm a mais, o que gera uma maior tensão para que ela chegue a afinação. Essa maior tensão deixa os graves mais firmes e definidos, aumenta um pouco o ataque e é considerada uma das razões pelo timbre único das Stratos Vintage:



    • Bloco de Zinco é o que equipa a grande maioria das pontes de origem asiática com custo reduzido. Claramente feito para custar pouco, cumpre seu papel para um instrumento barato que não tem pretensões de soar com as nuances de uma Strato vintage.

    Esses blocos chineses baratos mais prejudicam do que ajudam no timbre. Não cumprem corretamente a função de "bloco de inércia" devido à pouca massa. Nessa foto, a comparação com um bloco "pesado":




    Existem blocos de Zinco do tipo "Big Block". São bem superiores aos fininhos chineses:




    • Bloco de Latão ( liga metálica de cobre e zinco) é uma variante que acredito não tenha chegado a estar presente nas linhas de produção da Fender (por favor me corrijam se esta informação for equivocada), mas consta como um dos possíveis upgrades para a ponte de Strato. O latão tem boa massa e gera um timbre mais macio em relação ao aço. Parece que o ataque não fica tão imediato e rápido, dando uma sensação de "sag" no tocar. É uma boa alternativa caso vc tenha aquela Strato de SwampAsh mais arisca e aguda.
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             Ok, muita teoria bonita mas e o som mesmo? É possível ouvir as diferenças? Eu digo que sim, pois já testei todos os modelos que escrevi nesse post. As diferenças muitas vezes são sutis e dependendo do seu setup de equipamento (Samp, pedais, captadores e etc) mas elas existem e fazem diferença. Me peguei várias vezes durante a pesquisa do timbre de Strato falando sozinho e dizendo:  "O timbre está bom, mas está faltando aguma coisa....". Esse alguma coisa pode justamente ser uma ponte BOA para enfatizar aquele ataque, aquela nuance que você não sabe exatamente o que é, mas sabe que está faltando. Parece papo de maluco, mas você guitarrista que gosta de timbres sabe do que eu estou falando! :-) Basta uma rápida pesquisa no google e nos forums internacionais e nacionais.

            Quando estava pesquisando sobre Strato achei um site muito legal que fala sobre esses upgrades de Strato e etc. O areyouexperienced.net contém várias mods de Strato incluindo uma em que o autor faz o upgrade de Saddles e Bloco em uma de suas Strato, gravando o antes e o depois de maneira bem interessante. O site está em inglês, mas você pode conferir essa matéria aqui.

             Vários fabricantes disponibilizam saddles e blocos para reposição e tunagem de Stratos. A GuitarFetish , já conhecida do público brasileiro pelos captadores GFS, possui uma linha acessível de blocos com especificação vintage em seu site, bem como saddles de aço e conjuntos inteiros de tremolo já com upgrades. Outra empresa muito aclamada nos EUA é a Callaham Guitars ( http://www.callahamguitars.com/ ) que fabrica réplicas de Strato e Tele excepcionais bem como todo o hardware necessário como pontes, tarraxas etc. Eu tenho a ponte de Strato e de LesPaul da Callaham e o produto, embora caro, é de extrema qualidade e o upgrade sonoro foi audível nas minhas guitarras.

    Seguem duas gravações que eu fiz quando dos upgrades, comparando entre um blodo de Zinco e outro de aço:



    ADENDO 01: BLOCO PESADO BRASILEIRO

    O Carlos, leitor do blog, mencionou que ele mesmo faz seus blocos para ponte flutuante: "Paulo, eu mesmo faço esses blocos, artesanalmente em casa, conforme minha necessidade, utilizando materiais específicos, no caso o aço, uso SAE1045, excelente para tempera (tratamento térmico), muita qualidade mesmo, o ferro fundido fofo, como já mencionei anteriormente, dependendo da construção do instrumento (alder), timbra melhor que o aço, em volumes poucos mais altos, na minha opinião é claro. O legal mesmo seria você testar os dois. Pouco mais de meio século de vida e 40a de guitarra a gente aprende algumas coisas. 
    OBS: sou do ramo de usinagem desde garoto."

    Seguem as fotos que o Carlos enviou:






    Nada mal, Carlos. Tô curioso pra ouvir o som deles. Vai atiçar todo mundo aqui. E, por favor, se pensares em comercializar esses blocos, eu sou o primeiro da lista... Bem, depois do Jr... :)
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    Adendo 24/06/2013: ATENÇÃO***: Já temos disponível no Brasil um bloco de aço com a qualidade de um Callaham! Clique aqui para maiores detalhes.